Os 50 fecham a tampa em relação a quem você é, quem você foi, quem você poderia ter sido e quem você jamais chegará a ser.
É isso.
Aos 30, você deixa de ser júnior. Vira gente grande. Goste você disso ou não.
Aos 40, você amadurece. Vira um dos adultos na sala. Seus gestos ficam um pouco mais comedidos. Sua voz ganha algum peso. Busque você isso ou não.
Aos 50, você envelhece. Você já passou pela metade da vida. É fato estabelecido: há mais tempo e vida atrás de você do que à sua frente
E não há nada que você possa fazer a respeito.
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Aos 20 e aos 30, de modo geral, você está subindo o morro. São anos de formação. Em que você absorve, experimenta, escolhe.
Aos 40 e aos 50, você alcança o platô, passa a caminhar na reta. Você está no seu auge, qualquer que seja ele. O tabuleiro está posto e você desenvolve o jogo que conseguiu montar para si.
Depois é descer o morro. Aos 60 e 70, imagino eu, trata-se de curtir o último ciclo. De usufruir daquilo que você construiu – família, patrimônio, relacionamentos, liberdades
Você vai se aposentando dos projetos. Dos compromissos. Vai abrindo mais tempo para dedicar àquelas coisas que realmente são importantes para você – às quais durante muito tempo você talvez não tenha conseguido dar a devida atenção, em nome de ganhar a vida. Agora é hora – a última chance – de curtir a vida.
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Prestes a completar 50, do que sinto mais falta é poder fantasiar um pouco mais com o futuro. Você tem menos alternativas em seu caminho. A vida fica mais reta e previsível.
Não dá mais para acalentar grandes projetos. Os objetivos agora são mais práticos, concretos, próximos, de curto prazo: fazer 150 abdominais e alongar todo dia, para não entrevar de vez. Passar mais tempo com seus filhos, antes que eles caiam no mundo de vez. Conviver mais com seus pais, porque eles não estarão aqui para sempre.
Não que aos 20 ou 30 você exercesse aquelas opções grandiosas que batiam asas dentro do seu peito. Não que você ficasse saindo da estrada para checar todas as possibilidades que enxergava pelo caminho. Mas era bom poder sonhar – com o lastro de um recurso que você tinha à disposição: décadas de vida à frente
Tudo era possível. Ao menos no plano onírico.
Depois dos 50, não é mais assim. Nem mesmo no terreno da imaginação.
O que implica decidir o que fazer com todas essas ideias que você guardou no coração e que continuam surgindo na sua cabeça.
Escolher alguns projetos para tocar no último quarto da partida?
Enterrar em definitivo todos os outros desejos? Desistir dos planos que você tinha para o futuro?
Eis o ponto: não há mais futuro. O longo prazo acabou.
Ou você faz agora ou é melhor esquecer. (Esse não deixa de ser um chamado interessante que a vida faz – e que a gente em geral ignora.)
(Digo isso, mas não posso deixar de considerar que, tanto para meu pai quanto para minha mãe, os 50 representaram exatamente o contrário disso: um ponto de inflexão importante – e dinâmico, vitorioso – na construção da vida que ambos desejavam ter. Ou seja: a curva nem sempre acontece do mesmo jeito para todo mundo.)
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Das coisas que sonhei fazer, é improvável que vá dirigir um filme. (Muito menos ganhar um Oscar. Há uns anos, eu tinha até o discurso preparado.)
Dificilmente escreverei um roteiro. Ou me dedicarei ao audiovisual como minha principal linguagem.
Nenhuma das boas canções que compus com meu parceiro Emerson Ramos será gravada e distribuída profissionalmente.
Não aprenderei a jogar capoeira.
Não conseguirei nem mesmo voltar a jogar futebol, meu esporte preferido. (A decadência física generalizada virá antes do dia em que a minha lombar me permitir outra vez correr sem sentir dor.)
Talvez consiga morar um tempo em Paris e em Roma.
E morrer perto do mar. Ou no meio do mato, escondido no alto de uma montanha.
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Mesmo entre as coisas que ainda farei, nos projetos que conseguir abraçar daqui para frente, há um assentar de expectativas.
Aos 50, você deixa de se iludir a seu próprio respeito. Ou em relação ao tipo de farinha que você tem no saco. É hora de reconhecer o que você pode e o que não pode fazer.
(Sempre houve coisas que eu não queria fazer, mas tive ao longo da vida grande dificuldade de admitir que houvesse algo que eu não pudesse fazer.)
Chega uma hora em que é preciso encarar seus próprios limites. Sem engano.
Eu sou muito feliz com a minha escrita. E acho que tenho conseguido tocar algumas pessoas com algumas coisas que tenho escrito… Mas é possível que eu não vá produzir um best-seller. E nem uma obra literária relevante, que me transcenda no tempo
Estou satisfeito com a carreira que consegui desenvolver na indústria da Comunicação, primeiro como executivo, depois como empreendedor. No mundo dos negócios, creio que consegui construir algumas obras relevantes. Tenho sido recompensado por isso e acho que consegui distribuir um pouco de felicidade e de ganhos para outras pessoas também.
Mas é muito provável que não vá expandir minhas empresas de modo a construir uma corporação. Continuarei sendo um empreendedor. Não me tornarei um empresário.
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E não é só o olhar para frente que muda aos 50 – também o passado ganha contornos mais definidos.
A gente faz um balanço mais apurado do que construiu, dos caminhos que trilhou. E é inevitável a pergunta: então é isso que eu sou? Então é isso que eu fui? Foi isso que fiz da vida?
Quando tínhamos o futuro pela frente, era possível também sonhar com o legado que íamos deixar. Quando o passado está construído, não é mais possível projetar como terá sido nossa passagem pelo mundo – ela já é. Ou já foi.
Você é o que você conseguiu ser. E não o que você gostaria de ter sido
Da mesma forma, você dificilmente será, daqui para frente, algo muito diferente do que tem alcançado ser até agora.
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Talvez fazer 50 seja cair na real. Encarar a morte dos sonhos – a primeira das várias mortes com que teremos de lidar daqui para frente.
E perceber que o número de dias com sol que temos adiante é pequeno. E que os verões que ainda veremos são insuficientes. E que são escassos os orgasmos que ainda nos restam. E que já não poderemos conhecer todos os lugares que um dia demos por certo que visitaríamos.
Em certo sentido, isso tudo sempre foi assim. Mera quimera. Evanescendo num quinhão miserável de tempo.
Mas agora percebemos isso com mais clareza. E dureza.
E, talvez, com alguma beleza.
Adriano Silva é fundador da The Factory e Publisher do Projeto Draft, Founder do Draft Inc. e Chief Creative Officer (CCO) do Draft Canada. É autor de nove livros, entre eles a série O Executivo Sincero, Treze Meses Dentro da TV e A República dos Editores.
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