Keanu Reeves, Pedro Pascal (astro de The Last of Us, nova série adaptada do game de sucesso), Paul Rudd e Evangeline Lilly (o Homem-Formiga e a Vespa da franquia Vingadores), além de Kevin Feige, o chefão da Marvel, são algumas das celebridades cinematográficas que pisam em solo brasileiro nesta semana. O motivo é a nona edição da CCXP, o megafestival de cultura pop.
Anunciada como “a maior CCXP de todos os tempos”, a edição de 2022 traz o trunfo e o desafio de ser a primeira no formato presencial após dois anos de pandemia. O evento realizado pela Omelete Company espera alcançar seu recorde de público e receber 300 mil pessoas entre hoje (quinta, 1º) até domingo, 4, na São Paulo Expo, zona sul da capital.
Organizar um evento desse porte, com a presença de colossos da indústria como HBO, Netflix e Warner, é uma tarefa insana, infernal. Quem diz é Roberto Fabri, vice-presidente de marketing e conteúdo da Omelete Company e curador das marcas da CCXP.
“Do ponto de vista de conteúdo, é um trabalho que não acaba nunca”, afirma Roberto. “Já estamos começando conversa com estúdio para 2024, ainda sem contrato assinado. Então não tem começo nem fim.”
As dificuldades do contexto “pós-pandêmico” (aspas necessárias, já que o coronavírus continua à espreita), de retomada global da indústria de entretenimento, deve ser o foco do Unlock, conferência de negócios ligados ao entretenimento que integra a CCXP.
Em entrevista ao Draft, Roberto fala sobre o momento atual da indústria, o balanço da CCXP Awards (que em julho premiou destaques da cultura pop brasileira), os bastidores e as expectativas para o festival que começa hoje – e os planos de tornar a CCXP a maior marca de experiências em entretenimento do planeta.
O que de fato faz desta edição da CCXP “a maior de todos os tempos”?
É a edição em que mais teremos estúdios. Antes da pandemia, não existiam tantos streamings quanto hoje. Então quem traz conteúdo não é a Disney, mas a Disney e o Disney+. São mais de 15 estúdios trazendo conteúdo inédito e exclusivo para o Brasil.
O segundo motivo é em termos de público. Tivemos 280 mil pessoas em 2019. Nossa expectativa para este ano é receber 300 mil. E, em horas de programação, nunca tivemos tanto conteúdo
Dois palcos estão extrapolando o horário do evento, o de games e do Omelete, porque o conteúdo não cabe nas horas normais. Temos seis jatos privados vindo de Los Angeles para o Brasil, é muita coisa. São mais de 45 convidados de fora. De executivos, eu nem tenho essa conta…
Estava em uma reunião agora com a Lionsgate que, junto com a Paris Filmes, vai trazer o filme John Wick 4. Das 26 pessoas na call, 20 vêm ao Brasil. Tem muita gente que se anima e confirma a presença só agora. Os produtores executivos da série The Last of Us, confirmaram semana passada porque viram que o brasileiro estava a fim de ver o ator Pedro Pascal.
A San Diego Comic Con para mim foi uma decepção. O stand da Netflix por lá era menor do que meu quarto. Na CCXP, eles vêm com 2 mil metros quadrados, cheios de coisa
Claro que você pode ser um fã maior de Mulher-Maravilha do que de Star Wars – e neste ano não tem Mulher-Maravilha [na CCXP]. Aí entra no intangível. Mas só hoje [22 de novembro, data da entrevista] a gente anunciou Evangeline Lilly, Kevin Feige…
Depois de dois anos de pandemia, deu para notar um interesse maior das marcas em participar de um evento como esse?
De julho para cá, tudo aconteceu e continua acontecendo. Várias gravações atrasaram, outras foram canceladas. Esperávamos que Avatar: O Caminho da Água estaria pronto a tempo para ter conteúdo no evento, mas tivemos a confirmação muito em cima.
Dependemos muito desse calendário dos filmes. Ainda tem a questão da Covid-19, que deixa todo mundo inseguro. Quem estava de fora ouvia falar em protestos e pessoas botando fogo nas coisas… Para nossa imagem como país, é péssimo
Muita gente esperou as eleições para decidir se vinha ou não. Tive até que montar um relatório apontando o “perigo” de um ou outro lado ganhar. Apesar de tudo, os executivos estão vindo muito forte, num ano de eleição, Copa do Mundo e retomada do cenário como um todo.
Qual o maior desafio para voltar a organizar um evento presencial desse porte depois de dois anos online?
O maior desafio é o preço de tudo. Não é só no mercado que o tomate está caro. O segundo é vender a imagem de que o Brasil voltou. No começo do ano, estávamos com essa insegurança. Será que o presencial ia voltar? Graças a Deus, foi um medo superado.
Nosso outro desafio é entender que o mercado mudou. Não adianta comparar a CCXP deste ano com a de 2019. Sei que o público nem sempre é racional, mas é um outro evento. Os games ganharam importância na pandemia. Antes, ninguém conhecia o Twitch. Hoje, até minha mãe conhece
Então os pesos de algumas coisas mudaram, o que se reflete no conteúdo. Na programação da nossa arena de games, temos a presença do streamer Gaules. Ele não existia para o mainstream antes da pandemia; agora é o maior do mundo.
Como você vê o atual cenário do mercado e da cultura de entretenimento?
O cinema vive uma retomada desafiadora para o mundo inteiro, não é só no Brasil. O sucesso da CCXP mostra que o problema não está nas pessoas saírem de casa, mas em entregar uma experiência que vá além do filme.
Ir ao cinema é uma coisa insubstituível. A CCXP e o Omelete ajudam nisso, incentivamos o ano inteiro as pessoas a irem. O streaming é super importante, mas as experiências são complementares.
A retomada vai levar um pouco mais de tempo do que todo mundo gostaria, mas sem dúvida os números estão chegando.
O cinema não acabou. Os estúdios vêm forte. Só que antes tinha uma única janela importante, a do lançamento. Agora, quando a Netflix fala de uma série já lançada, ela quer que as pessoas continuem na plataforma
Se no começo era só a venda de ingressos, agora tem que vender o lançamento e a continuidade.
Haverá algumas concessões ao formato online? Esse modelo mais híbrido deve ser um caminho sem volta?
Estamos investindo muito mais em lives. Se antes a gente tinha o palco do Omelete transmitindo, este ano teremos também a arena de games e um palco só de podcast.
A gente costumava ter só um repórter com link andando pelo evento. Este ano vão ser dois, para passar a sensação de estar no festival por meio de lives.
Se eu falo com 70 mil pessoas por dia na CCXP, quando a gente leva esse alcance para o digital, são 2 ou 3 milhões de pessoas por dia
Os estúdios têm se preocupado inclusive em amplificar esse alcance. Pela primeira vez, um deles pediu para incluir o painel em que vai participar no streaming próprio. Esse pensamento a longo prazo é uma coisa nova para todo mundo.
Vocês contam nesta edição com nomes de peso como Keanu Reeves e Pedro Pascal, além de empresas como Netflix, HBO e Warner. É muito complexo alinhar todas essas participações, stands, a experiência dos visitantes etc?
É um inferno. É muito gostoso, mas existem várias variáveis. Já aconteceu mais de uma vez de a gente querer, o talento querer, o estúdio querer, mas a coisa não acontecer. Atrasa a gravação ou surge alguém com Covid ou a eleição atrapalha.
Eu já tenho certo o primeiro anunciado de 2023. Muito do que não vou conseguir trazer este ano garanto para o ano que vem.
Do ponto de vista de conteúdo, é um trabalho que não acaba nunca. Já estamos começando conversa com estúdio para 2024, ainda sem contrato assinado. Então não tem começo nem fim.
Já a produção do evento em si dura uns oito meses. Mas não vou mentir: é faltando três meses que a coisa pega tração, os roteiros são aprovados e a gente começa a produzir.
Este ano, vocês realizaram pela primeira vez o CCXP Awards, a premiação da CCXP para produções nacionais. Qual foi o saldo do evento?
A gente tinha dois objetivos com o CCXP Awards. O primeiro era jogar luz sobre a produção nacional. Por conta do streaming, ela voltou a ocupar lugar de destaque.
Um objetivo estratégico era que a CCXP atuasse como guardiã, fomentando a cultura pop brasileira. Então a gente bota no mesmo palco um gamer, um quadrinista e um ator de uma série da Amazon
Outra meta foi com a indústria, os grandes estúdios que não tinham pauta no Brasil nesse primeiro semestre. O CCXP Awards vem para gerar conteúdos novos.
Para o primeiro ano, fomos 100% elogios, até porque fizemos toda a parte de curadoria, formação de júri de maneira seriíssima, trazendo todo o mercado para opinar. Da formação do júri até a entrega do prêmio, com participação do governo estadual, botando a cultura pop e a galera de quadrinhos no palco da Osesp.
O saldo é positivo. O mercado de marcas não entendeu no começo, tanto que a gente não teve patrocinador master – mas já começamos a trabalhar na segunda edição.
Como funcionou essa mistura entre vários setores da cultura pop brasileira?
Todo mundo ficou muito feliz. Homenageamos ícones como Mauricio de Sousa e Fernanda Montenegro. A gente entende que o Brasil não é um celeiro de super-heróis, mas cultura pop não é só super-herói.
No fim do dia, é uma celebração da cultura criativa brasileira. Então, diretores, diretores de fotografia, roteiristas, maquiadores… Se tem no Oscar, por que não no Brasil?
Claro que existem outras premiações super importantes. O CCXP Awards não concorre com Gramado ou o Prêmio Jabuti, o propósito é completamente diferente. Queremos um olhar da comunidade de cultura pop sobre a produção nacional
É uma espécie de descida do salto. Na festa, foi muito gostoso ver a galera do Podpah, de cabeça nova, produzindo conteúdo de maneira totalmente diferente, interagindo com diretor de cinema que tem 50 longas na carreira.
O diretor aprende com o Podpah e o Podpah aprende com o diretor. Esse é o principal objetivo do CCXP Awards.
No festival vocês também buscam esse equilíbrio entre as produções nacionais e internacionais?
Temos 600 artistas prioritariamente brasileiros no Artists’ Valley, com uma curadoria 95% nacional.
Nosso homenageado neste ano é o diretor Fernando Meirelles. Um monte de gente quer homenageá-lo, mas ele nunca aceitou, tem um excesso de humildade. Mas são 20 anos de Cidade de Deus, e a CCXP tem o papel de jogar luz nesses assuntos.
Onde mais você vê a Mauricio de Sousa Produções fazendo lançamentos? Isso já é tradicional na CCXP, mas não é comum.
Vamos botar no mesmo palco o Keanu Reeves e o Mauricio de Sousa, que é o Kevin Feige brasileiro, o nosso Walt Disney. Teremos também um painel com o Porta dos Fundos
Onde mais essa galera aparece no mesmo nível do conteúdo gringo? Lá fora é difícil cavar essas oportunidades, ainda mais no palco principal.
Como vai ser a jornada do visitante da CCXP este ano? A tendência dessa variedade de atrações é atrair um público mais diverso?
O nerd na internet costuma ser mais conservador. Ele não é maioria, mas é barulhento. Na CCXP, você vê que esse não é o padrão. O nerd é diverso em gênero e etnia, mas também não é um grupo homogêneo como a torcida de um time.
Das 300 mil pessoas na CCXP, 5 mil vão para ver um quadrinista, outras 15 mil pelo Gaules, 50 mil para os artistas da Disney… É uma mistura absurda. Desde o primeiro dia, fica claro que você não está ali para ser julgado
Muita gente, inclusive com autismo ou alguma limitação, sai de casa uma vez por ano para ir à CCXP. Eu sou baixinho e gordinho, mas na CCXP posso ser um elfo, um Avatar ou a Mulher-Maravilha, e ninguém vai encher meu saco. Faz parte do nosso propósito.
Isso engloba pessoas como a minha mãe, que fica das 10h às 22h por lá, não me pergunte fazendo o quê. Ela volta com a sacola cheia de tranqueiras. Tira foto com cosplayer, com artista. É para todas as idades mesmo.
A demora para anunciar os principais nomes e atrações é uma estratégia do festival? Faz parte deixar o público ansioso?
A CCXP está indo para sua nona edição. Historicamente, vendemos 70% dos ingressos sem anunciar nada. Não sacaneamos nossa audiência, mas é um evento de curadoria.
Às vezes demora mais do que a gente gostaria, mas a CCXP não existe sem conteúdo bom. O que existir de melhor naquele ano a gente traz.
Pode ser até que não tenha: em 2020, todas as produções foram canceladas, então não tivemos celebridades. Mas a CCXP não é só um lugar para tirar foto com artista, é também onde você encontra seus amigos ou descobre um quadrinista novo.
Somos um festival, e não uma feira. A graça é estar aberto a novas experiências.
O que os participantes podem esperar dessa edição do Unlock, depois de dois anos de hiato? Quais devem ser os principais temas de discussão?
O Unlock são literalmente os bastidores do entretenimento nacional. Já anunciamos figuras como Bruna Marquezine e KondZilla num fórum para 300 pessoas. Ali você tem acesso direto. A pessoa desce do palco e você troca ideia, tira dúvidas.
É como se fosse um super intensivo de entretenimento e cultura pop focado tanto em quem está começando quanto profissionais no mercado que pensam em dar uma refrescada no conhecimento.
Quando falamos de cultura pop hoje, estamos falando de cultura jovem. E jovem não só de idade, mas na forma de consumir conteúdo. Como se conectar com o jovem hoje? São grandes debates com acesso direto a cases, conversas e profissionais.
Quais os planos a longo prazo para as próximas edições da CCXP?
Nosso foco no pós-pandemia é a retomada. Durante esses quase três anos, tivemos muitas propostas para internacionalizar o evento. A curto prazo, queremos retomar e, mais para frente, queremos que a CCXP seja a maior marca de experiências de entretenimento do planeta. Já somos, mas só existimos no Brasil e na Alemanha por enquanto.
Existem conversas para ter CCXP no mundo inteiro, como acontece com o Lollapalooza. Quando você vê um Lollapalooza, recebe uma curadoria e sabe que existe um padrão de qualidade
Na Alemanha, mantemos um padrão de conteúdo exclusivo, de artistas que não fazem Comic Con. Você só vê o Kevin Feige nos eventos da Disney, mas ele também está aqui.
É esse nível de conteúdo que a gente quer levar a outros lugares. Mas primeiro precisamos arrumar nossa casa, o que a gente está fazendo este ano.
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