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A Cardim Arquitetura Paisagística aposta em plantas nativas para criar projetos mais sustentáveis

Maisa Infante - 9 out 2017 Ricardo Cardim é apaixonado por plantas nativas desde criança e acredita que o paisagismo sustentável pode trazer inúmeros benefícios ambientais para a cidade e para as pessoas.
Ricardo Cardim é apaixonado por plantas nativas desde criança e acredita que o paisagismo sustentável pode trazer inúmeros benefícios ambientais para a cidade e para as pessoas.
Maisa Infante - 9 out 2017
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A cidade do século 21, na visão do botânico Ricardo Cardim, 39, é aquela onde homem, natureza e modernidade convivam em harmonia. “Sou contra o pensamento ambientalista de que a gente tem que viver na miséria, sem abundância e com dor. Precisamos continuar com todos os confortos que a humanidade conquistou, mas em harmonia com a natureza”, diz.  E a missão da sua empresa, a Cardim Arquitetura Paisagística, é ajudar a construir essa cidade mais sustentável e moderna, onde homem e natureza convivam bem, sem disputar espaço.

Ricardo desenvolve projetos paisagísticos focados na sustentabilidade, com plantas nativas da região onde são implantados, em um esforço para reequilibrar o ambiente urbano. Em São Paulo, por exemplo, ele usa apenas espécies nativas da Mata Atlântica, como o Cambuci, o Araçá, o Ingá, a Embaúba e a Aroeira, que faziam parte da paisagem original da cidade.

Com isso, os projetos ajudam a resgatar serviços ambientais, como a diminuição da temperatura, o aumento da umidade do ar e a retomada da diversidade da fauna, e ainda têm um custo de manutenção muito mais baixo porque as plantas crescem mais rápido, são mais adaptadas ao clima local, exigem menos podas e menos regas, o que ajuda a economizar água. “Acredito que a minha empresa tem a missão de uma ONG com a competitividade e a eficiência de uma empresa privada, o que, a meu ver, é o futuro”, fala.

No mercado há um ano, a Cardim Arquitetura Paisagística atende clientes de médio e grande porte, a maioria deles corporativos, mas não funciona na lógica industrial. Pelo contrário: é como se fosse um ateliê de projetos paisagísticos.  Além de Ricardo e da sua esposa, a arquiteta Alessandra Cardim, o escritório tem apenas três funcionários. “Somos um escritório pequeno por opção. Eu quero ter o controle sobre todas as etapas dos projetos”, diz. “E só aceito projetos que estejam em sintonia com o que acredito. Não faço só porque vão me pagar bem”, completa.

Alguns de seus principais clientes são grandes construtoras que levam para os empreendimentos esse conceito de paisagismo sustentável e nativo. Ele se diz orgulhoso por ter conseguido quebrar o paradigma de que planta nativa não dá dinheiro. Ricardo conta:

“A gente consegue levar Mata Atlântica e biodiversidade para as grandes construtoras e ser muito bem remunerado por isso”

Grandes empresas também são clientes de Ricardo. Desde 2014, por exemplo, ele presta consultoria para a Votorantim, ajudando na criação e manutenção do viveiro de plantas que há dentro do Legado das Águas, a maior reserva privada de Mata Atlântica do país. “Sempre acreditei que para mudar é preciso entrar no sistema. Não adianta ficar na borda gritando, que ninguém vai me ouvir”, fala.

UMA LONGA TRAJETÓRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM SONHO

Filho de advogados, Ricardo cresceu em um apartamento no bairro de Moema, em São Paulo, e nunca foi estimulado a ter contato com plantas. Mas no livro do bebê feito por sua mãe está registrado que as plantas, flores e sementes estavam entre seus brinquedos preferidos. Na escola particular onde estudou, havia um pedacinho de Mata Atlântica que foi suficiente para fazer esse gosto crescer ainda mais, embora não houvesse estímulo algum da escola para isso, como conta. “As professoras diziam que aquilo era coisa de quem vivia no mundo da Lua.”

Ainda assim, ele pegava sementes naquela floresta e plantava no copinho de plástico que tirava do lixo. Levava tudo para a varanda do apartamento da família. Para não ser zoado pelos amigos, quando queria pegar uma semente do chão ele fingia que ia amarrar o tênis e colocava a semente no bolso. Com 13 anos e 200 mudas plantadas no terraço do apartamento, recebeu um ultimato do pai para resolver a situação. Conseguiu, então, um espaço no sítio de um tio, para onde levou boa parte das plantas. Ali, em dois anos, cresceu uma pequena floresta, que se tornou uma espécie de primeiro portfólio de Ricardo.

Na hora de escolher uma faculdade, ele pensou em cursar Biologia, mas quando viu o estado de degradação em que estava o prédio de Biologia da USP, acabou desistindo, como conta:

“Decidi fazer Odontologia porque eu não queria trabalhar com carteira assinada. O plano era ganhar dinheiro, comprar uma fazenda e ir para o interior”

Dois anos depois de formado, — já com consultório, que foi o seu primeiro empreendimento — ele resolveu que era hora de fazer o que realmente queria: lidar com o meio ambiente. Mas descobriu que os preços de uma fazenda eram proibitivos para a sua realidade e que no interior não teria abertura para as inovações que gostaria de fazer. Foi quando ele começou um longo caminho — que durou 12 anos — em busca da realização de um sonho.

Sem conhecer ninguém na área, Ricardo pegou um papel e listou 60 empresas, ONGs e pessoas com trabalhos na área ambiental. Usou como portfólio o reflorestamento que havia feito no sítio do tio e começou a entrar em contato com as pessoas. Para a sua surpresa, ao final daquele ano (2005), havia feito 60 reuniões. “Eu tinha três possibilidades: ser aluno ouvinte no curso de Botânica da USP, montar um viveiro com uma empresa de engenharia ambiental, ou atuar na SOS Mata Atlântica”. E, nesse meio tempo, Ricardo permanecia com o seu consultório odontológico.

Ele optou por ser aluno ouvinte do curso de Botânica da USP, mas ficou bem desanimado quando os projetos que tentava por em prática não emplacavam. Um dos primeiros baques foi a derrocada de um, com a empresa Melhoramentos, para plantar uma floresta de eucaliptos. A falta de experiência como empresário pesou. “Percebi era muito complexo e tinha demandas que eu não teria como cumprir. Então, achei melhor pular fora, mas foi uma frustração”, conta. Nesta época, Ricardo viu sua renda cair 1/3 porque não conseguia se dedicar integralmente à odontologia enquanto corria atrás do sonho da botânica.

Quando criou, em 2007, o blog Árvores de São Paulo, Ricardo ganhou certa visibilidade e virou fonte da imprensa local. Em 2008, ele se juntou a um sócio e montou uma empresa, a Sky Garden, que fez mais de 500 projetos de telhados e paredes verdes na época em que essa técnica ainda não era muito conhecida no Brasil. Neste meio tempo, a vida de dentista ficava cada vez mais sem segundo plano, ainda mais quando em 2009, Ricardo começou um mestrado em Botânica na USP. “Tive que tirar a segunda maior nota porque todo mundo desconfiava: o que esse dentista está fazendo no meio dos biólogos?”, conta.

Foi só em 2011 que a Sky Garden começou a se pagar. Em 2012, a empresa começou a dar algum lucro e ele decidiu, finalmente, fechar o consultório. Ele conta que a história do próprio pai pesou para tomar a decisão. Quando novo, seu pai era escultor e ganhou o Festival de Inverno de Ouro Preto de 1973, mas acabou cedendo às pressões e foi trabalhar como advogado, profissão a qual acabou se dedicando. “Ele trabalhou a vida inteira e chegou ao topo dessa carreira. Mas eu pensava: se meu pai tivesse sido escultor, teria sido um artista de mão cheia. Não posso deixar a minha vida. Ou me rendo ou vou para guerra. Se der errado, viro caminhoneiro.”

Foi com a experiência da Sky Garden que Ricardo lidou com um faturamento mais robusto — a empresa chegou a faturar 5 milhões de reais — e aprendeu que é preciso ter cautela para o lucro não ir para o ralo. “Chegamos a ter 33 funcionários. Aprendi que é melhor oferecer menos serviço com mais qualidade”, conta.

NASCE A CARDIM ARQUITETURA PAISAGÍSTICA

Com a experiência anterior, Ricardo se viu pronto para abrir sua própria empresa, a Cardim Arquitetura Paisagística, que nasceu praticamente sem investimento inicial. O negócio da Cardim são projetos personalizados e, até por isso, os preços variam bastante. Em média, começam em 20 mil reais, mas há uma variação grande dependendo da complexidade, da área e até da distância. Ele explica que por usar plantas nativas, a implantação dos projetos é mais barata. Para se ter uma ideia, uma palmeira estrangeira custa 800 reais, enquanto uma palmeira nativa do mesmo porte custa 90 reais. Um dos principais ativos da empresa, aliás, é uma lista de 60 produtores de plantas nativas que Ricardo demorou anos para conquistar.

Projeto encomendado pela Bayer com Floresta de Bolso no centro e sobre o rio Pinheiros.

Projeto encomendado pela Bayer com Floresta de Bolso no centro e sobre o rio Pinheiros (foto: Tiago Silva).

Ele não revela o faturamento da empresa, mas diz que teve crescimento de 100% no último ano e tem no portfólio 60 projetos (incluindo paisagismo, consultorias e florestas de bolso) feitos em parceria com grandes empresas como Rede Globo (Verdejando), Gamaro, LG etc.

O principal diferencial da empresa — o paisagismo sustentável com plantas nativas — é, também, um dos grandes desafios. Afinal, é preciso vender um conceito relativamente novo para esse mercado. Embora o Brasil seja um dos países mais ricos em natureza no mundo, 90% da vegetação usada nos projetos de paisagismo por aqui é estrangeira. Por estarem acostumadas a esse tipo de vegetação, as pessoas ainda desconhecem o potencial das plantas nativas e isso faz com que reuniões de projetos se transformem em aulas sobre plantas nativas. “Gastamos bastante energia nisso, dá trabalho, mas vale a pena”, conta.

Em 2013, Ricardo entrou no mercado de varejo e abriu uma loja de plantas nativas. Investiu 100 mil reais em um negócio que não deu certo (a loja fechou em 2015). “Em um país que tem 50 mil espécies de plantas, a gente usa as mesmas 20. A loja só vendia alguma coisa quando eu ia para o balcão. Foi aí que eu aprendi que planta nativa depende de história para vender.”

FLORESTAS DE BOLSO: UMA NOVA TÉCNICA

A menina dos olhos de Ricardo, que tem até marca registrada, são as Florestas de Bolso. É uma técnica que ele desenvolveu para restaurar a Mata Atlântica na cidade, usando uma composição e espaçamento entre as plantas que proporciona um crescimento mais rápido, menor índice de perdas, baixo consumo de água e menos manutenção. Pode ser implantada em espaços a partir de 15 m² e custa a partir de 20 mil reais. Até agora, já foram feitas 21 florestas, a maior parte delas em áreas públicas, como praças, parques e canteiros centrais. Algumas tiveram empresas patrocinadoras, como a multinacional TATA, outras foram feitas usando recursos próprios e de parceiros, como a do Largo da Batata, em São Paulo, onde foram plantadas 400 mudas de 90 espécies.

Bosque da Batata: Floresta de Bolso que foi plantada no largo da Batata: 400 mudas de 90 espécies diferentes.

Floresta de Bolso que foi plantada no largo da Batata: 400 mudas de 90 espécies diferentes.

O papel da floresta de bolso é restaurar a biodiversidade dentro da escala urbana e fazer com que haja uma harmonia entre a paisagem ancestral e a cidade moderna. E o resultado pode ser visto muito rapidamente: em três anos ela vai de um metro para 8 metros. A maior parte dos plantios é feito com voluntários, que têm a oportunidade de aprender mais sobre a Mata Atlântica. E isso, ele acredita, é parte fundamental do seu trabalho. “Quando penso no futuro da empresa, vejo que o que quero é ajudar a mudar esse estado de coisas na relação entre homem e natureza nas cidades”, diz, e prossegue: “Minha luta, minha missão de vida é fazer as pessoas entenderem que a gente está no lugar de maior patrimônio natural do mundo e que isso pode conviver com a nossa vida cotidiana.”

DRAFT CARD

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  • Projeto: Cardim Arquitetura Paisagística
  • O que faz: Projetos de paisagismo que resgatam a vegetação nativa
  • Sócio(s): Ricardo Cardim e Alessandra Cardim
  • Funcionários: 3
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: setembro de 2016
  • Investimento inicial: não houve
  • Faturamento: NI
  • Contato: [email protected]
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