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A concepção, o crescimento e os planos do FemiTaxi, um serviço de transporte exclusivo para mulheres

Cristine Gentil - 13 ago 2018 Charles-Henry Calfat Salem é meio francês, meio brasileiro e há dois anos empreende no país.
Charles-Henry Calfat é meio francês, meio brasileiro e há dois anos empreende no país.
Cristine Gentil - 13 ago 2018
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Pode-se dizer que o franco-brasileiro Charles-Henry Calfat, 28 anos, é um empreendedor nato. Do tipo que não pode ouvir a palavra “problema”, que passa a se dedicar obsessivamente a oferecer uma solução. A escuta atenta de uma reclamação frequente entre amigas (além da percepção da maior conscientização da sociedade brasileira sobre o que é assédio e como as mulheres são vítimas frequentes disso) o levou a criar o FemiTaxi, um serviço de transporte individual de passageiros exclusivo para o público feminino – ou seja, tanto motoristas quanto clientes são mulheres.

Lançado em São Paulo em dezembro de 2016, o sistema começou com 40 motoristas cadastradas. Hoje, são 7 mil, em sete cidades – São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Campinas (SP), Santos (SP), Belo Horizonte e Goiânia. Ao todo, 60 mil mulheres baixaram o aplicativo. O salto foi exponencial. “Logo no início, o negócio chamou muita atenção. Foi um boom”, conta.

Além do serviço de mulheres transportando mulheres, o FemiTaxi inaugurou este ano o de transporte de crianças desacompanhadas (para a escola, por exemplo).

Com o tema assédio em evidência, o FemiTaxi passou a ser uma escolha para mulheres que não desejavam mais correr o risco de ser importunadas.

Segundo uma pesquisa encomendada pela empresa, antes do lançamento do aplicativo, 56% das entrevistadas relataram que escolheriam motoristas mulheres se fosse possível. O motivo? Olhares indiscretos pelo retrovisor, piadas, cantadas e até mensagens pelo celular depois de chegarem ao destino. Motoristas mulheres também costumam ser assediadas por passageiros. Por essa razão, no FemiTaxi homens só estarão a bordo se estiverem acompanhados de uma mulher usuária do serviço.

Com foco em segurança e público garantido, Charles conseguiu captar investimentos no total de 500 mil reais para o negócio e registrar crescimento de 25% ao mês no número de corridas. O FemiTaxi cobra um percentual de 11% para taxistas e 18% para motoristas particulares.

Mas o empreendedor não quer parar por aí. Planeja levantar um aporte de 4 milhões de reais ainda este ano, e terminar o período com um faturamento de 2 milhões de reais — no ano passado, bateu os 500 mil reais. Para garantir a meta agressiva de 2018, pretende ampliar um novo serviço do FemiTaxi: o transporte de crianças desacompanhadas, na faixa etária de 7 a 16 anos. “Por enquanto, está disponível somente em São Paulo. A ideia é expandir aos poucos. A segunda praça deve ser Brasília. É um serviço muito exclusivo, especializado, não se compara com o transporte escolar normal, por isso é mais caro também”, diz o empreendedor.

Segundo Charles, para o transporte de crianças desacompanhadas, as motoristas são selecionadas de forma ainda mais criteriosa do que o serviço convencional, destinado a passageiras adultas – apenas 10% das candidatas inicialmente foram aprovadas. Elas também são treinadas nos mínimos detalhes, como para saber de que lado do carro é melhor transportá-las.

Nesta opção de serviço, os pais ou responsáveis conseguem acompanhar todo o trajeto por vídeo, a partir de um link privado via YouTube. Pode-se optar por planos mensais, semestrais ou anuais. Também é possível escolher uma única motorista para acompanhar a criança, desde que seja um passageiro frequente.

O MAIS DIFÍCIL DE EMPREENDER É LIDAR COM AS PESSOAS

O CEO da FemiTaxi explica que todas as funcionalidades foram desenvolvidas aos poucos, à medida que apareciam as demandas. “Meu perfil psicológico é de empreendedor. Não posso ver um problema que quero achar uma solução inovadora. Não consigo ficar parado. A cada dois anos, tenho de fazer uma coisa nova”, diz.

Foi essa inquietude de Charles que o trouxe ao Brasil. Filho de pai brasileiro e mãe francesa, ele morou na França até os 20 anos, quando largou a faculdade de direito e veio passar uma temporada no Brasil a convite do pai. Chegou em 2011. Ele conta:

“Quando saí da França, estava totalmente perdido, odiava fazer Direito. Comecei a trabalhar no ramo imobiliário. Um ano depois, montei uma imobiliária especializada na parte comercial”

A CSNegócios, aberta em sociedade com o pai, ainda existe. Opera na venda e aluguel de prédios comerciais para hotéis e shoppings e atende muitos grupos estrangeiros.

A interface do aplicativo é simples, semelhante à de outros serviços do ramo.

Apesar de permanecer como sócio, Charles está mais afastado da operação por causa do FemiTaxi, que exige mais tempo. Também já foi dono da iFunding, plataforma de crowdfunding, que teve as atividades suspensas para que ele pudesse se dedicar ao FemiTaxi.

Ter a própria empresa deu um gás para que retomasse os estudos. Formado em administração de empresas pela FAAP, Charles dedica-se hoje à parte financeira, administrativa e estratégica do FemiTaxi. Outros dois funcionários dão suporte às demais atividades. A parte de marketing e tecnologia são terceirizadas, assim como outros serviços.

Seu foco, agora, é aperfeiçoar o serviço. Segundo ele, o objetivo principal do FemiTaxi, transportar mulheres com segurança e conforto, foi atendido. Eventualmente, falta de simpatia ou atrasos eram registrados como reclamações. Mas o principal problema a resolver era o tempo de espera. Ele conta o porquê: “Quanto menor o número de motoristas, mais espera. E a frota feminina é 10% do tamanho da masculina. Mas já conseguimos reduzir bastante o tempo de espera”.

Outro problema, segundo Charles, é a concorrência por vezes agressiva. “Todo negócio novo vem com o medo da concorrência. Experimentei isso agora com as peruas, que reagiram mal ao lançamento do serviço de transporte de crianças para a escola”, afirma.

No início de abril, o FemiTaxi realizou um workshop, para a primeira equipe de motoristas, em Brasília. Hoje, o serviço está em sete cidades do país.

Para ele, o mais difícil de empreender é lidar com pessoas, e não se refere aos próprios funcionários e colaboradores, mas também ao mercado de forma geral. “Quando você começa a ganhar dinheiro, tentam te derrubar a todo custo. Por outro lado, se o mercado ganha com você, quer te abraçar.” Apesar de reconhecer as dificuldades de se empreender no Brasil, ele se mostra bem adaptado ao mercado e ao modo de viver local. “Ficar de camiseta o ano inteiro não tem preço”, brinca.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: FemiTaxi
  • O que faz: App de transporte individual exclusivo para mulheres
  • Sócio(s): Charles-Henry Calfat
  • Funcionários: 2
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2016
  • Investimento inicial: R$ 500.000
  • Faturamento: R$ 500.000 (em 2017)
  • Contato: [email protected]
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