“Voar é uma emoção.” É assim que a especialista em vendas e estudante de química Suyan Campos Barros, 27, descreve seu trabalho na Dron Drones, uma startup cearense especializada em inspeções e monitoramento aéreo. Mesmo sem tirar os pés do chão, ela e o marido, o publicitário Márcio Régis Galvão, 50, experimentam a adrenalina de pilotar um veículo aéreo quase toda semana. Os dois são de Fortaleza e a startup começou a operar em 2015.
O negócio surgiu na vida deles ao acaso, quando um amigo chegou de viagem da China com três drones e propôs que abrissem uma empresa de imagens aéreas. Na época, o casal administrava a própria agência de marketing, mas sofria com a queda no número de clientes. A crise serviu como impulso para decolarem.
É difícil imaginar, mas há dois anos o uso de drones no mercado publicitário brasileiro era muito menor, ainda que no exterior já fosse tendência a captação de imagens com tomadas diferentes e até mesmo na entrega de brindes usando os robozinhos voadores. Suyan e Márcio se animaram com a novidade e passaram a oferecer o serviço de captação de imagens aéreas para publicidade e comerciais. Faltava, primeiro, ganhar intimidade com as máquinas. “Nessa brincadeira de aprender a pilotar, nosso amigo quebrou dois dos três equipamentos que havia comprado”, conta Suyan.
Com apenas um drone “sobrevivente”, e com a saída do amigo que incentivara a criação do negócio, o casal decidiu seguir em frente. Ao mesmo tempo em que tocavam também a agência de marketing, em paralelo eles passaram a estudar melhor o mercado de imagens drones — que consideram mais inovador e mais promissor.
CORAGEM PARA APOSTAR NO NOVO
No ano seguinte, em 2016, o casal estava pronto para dar o salto: decidiram pivotar o modelo de negócios da Dron Drones. Em vez de atuar na área de publicidade, iriam oferecem um serviço mais técnico: a inspeção e monitoramento — muito útil em setores como telefonia, energia e infraestrutura. Para tanto, investiram 150 mil reais, do próprio bolso, na aquisição de um “super drone”, tecnicamente mais robusto, além de cartões de memória (para armazenar as imagens) em profusão e muitas baterias (já que cada uma dá uma autonomia de voo de apenas 20 minutos).
Um drone é capaz de fazer muito mais do que voos panorâmicos e imagens bonitas. Suyan conta que, com softwares específicos, os aparelhos da Dron Drones conseguem fazer: mapeamento de obras (com o Laser Scanner 3D, que vai sobre um carro, ou com o Laser Scanner Móvel, que é um drone), fornecendo medidas exatas do estágio de determinada construção; avaliação da temperatura em torres eólicas e painéis solares; auxílio na busca e salvamento de animais perdidos; ronda de segurança em fazendas; inventário patrimonial e até mesmo ajudar em ações de reflorestamento. Ela conta sobre este último uso, quando a startup foi contratada para um projeto da Secretaria de Meio Ambiente de Itapipoca (CE):
“No projeto de reflorestamento, um dispositivo acoplado no drone aspergia sementes, como se fosse um pássaro, em um terreno onde o homem não chega”
Outro cliente é a distribuidora Enel, para quem a startup realiza inspeções de torres de energia usando drones que têm acoplados a si sensores capazes de detectar falhas, checar a temperatura das torres e coletar outros dados relevantes. De acordo com os sócios, o trabalho feito pelos drones evita riscos operacionais e a necessidade do cliente contratar profissionais escaladores ou engenheiros para fornecer relatórios, gerando uma economia de 75% nas inspeções de torres, se comparado ao custo dos métodos tradicionais.
O casal também começou a prestar consultorias, indicando para indústrias interessadas em adquirir drones qual a melhor plataforma de hardware e software para as especificidades de seu setor, o que já é algo conhecido no mundo como DaaS (Done as Service). Cada vez mais especializado em algo que tem demanda crescente, o CEO da Dron Drone se tornou, também, palestrante e facilitador de cursos sobre o os robozinhos voadores.
OS DESAFIOS DE ESTAR NO AR
A startup cresceu. Hoje, opera com cinco drones, já atendeu mais de 120 clientes (Ibama, Toyota, Makro, Uol, Mercedes-Benz, Instituto Chico Mendes e outros) e Márcio contabiliza também 11 palestras e 18 consultorias sobre o tema. Tudo isso só foi possível, na visão de Suyan, porque ela e o sócio souberam obedecer regras técnicas de segurança antes mesmo delas existirem. A Anac regulamentou o uso desses veículos apenas em maio do ano passado. Sem referências brasileiras, desde o início do business, os empreendedores se basearam nas normas existentes nos Estados Unidos e na Europa.
Com a popularização desses aparelhos, relatos de imprudência são cada vez mais comuns. Em novembro do ano passado, por exemplo, um drone invadiu o espaço aéreo do aeroporto de Congonhas, o mais movimentado da capital paulista e forçou o desvio e cancelamento de vários voos durante duas horas. “A colisão de um drone em um avião é pior do que os impactos causados por aves”, diz Suyan.
Além da regulamentação, que deverá ficar mais rigorosa, ela aposta também no surgimento de dois novos profissionais: os pilotos e os observadores de drones. Este último, diz a sócia, serve para vigiar o espaço aéreo e dar segurança ao piloto, “impedindo que terceiros cheguem perto e distraiam sua atenção, além de verificar a proximidade de prédios ou pássaros que possam causar alguma interferência”.
COMO MOSTRAR O VALOR DE ALGO QUE PARECE LAZER
Uma das maiores dificuldades dos empreendedores, porém, não está na parte técnica. Eles contam que penaram muito para fazer o mercado compreender o valor do serviço prestado. Suyan diz que, apesar de trabalharem em algo que “não tem margem para erros”, ainda é comum serem questionados sobre o preço cobrado — que começa em 1 500 reais e varia bastante, conforme a complexidade do projeto.
“Cada drone custa pelo menos 30 mil reais. Além disso, há o gasto para homologar e registrar, o pagamento dos seguros e, dependendo do voo, o custo dos pedidos de autorização ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo”, afirma ela, que é a CFO da startup.
Além dessas exigências, há a preocupação de contratar pilotos e observadores parceiros de confiança (hoje a Dron Drones tem dez colaboradores para essas funções), entregar as imagens gravadas em um CD, fazer relatórios e, dependendo do tipo de projeto e do conhecimento técnico do cliente, expor as conclusões das inspeções.
Suyan, que no geral exerce a função de observadora, conta que quando pilota as máquinas suas mãos logo começam a suar e só depois de uns cinco minutos ela relaxa e passa a curtir o trabalho: “Há sempre aquele medo de derrubar o drone, além da preocupação com a segurança das pessoas ao redor”.
O CÉU É O LIMITE
No momento, o objetivo da Dron Drones é consolidar as parcerias estabelecidas ao longo de 2017, como o contrato firmado com a montadora dinamarquesa de turbinas eólicas EU Montage, sediada na capital cearense, e que pretende instalar mil torres eólicas na região. Os sócios dizem não ter concorrentes no Ceará, mas “da Bahia para baixo já há uma boa disputa de mercado”. Apesar disso, diz que já atenderam clientes de São Paulo e Rio Grande do Sul.
O objetivo do negócio a curto prazo pode até parecer singelo mas, para o futuro, a startup quer se tornar referência no mercado eólico de inspeção, além de trazer novas tecnologias do exterior para desenvolver o setor no país. Voltar a trabalhar na publicidade não está totalmente descartado, e eles contam que ocasionalmente ainda fazem um ou outro voo com esse objetivo, para clientes antigos. “Afinal, foram esses projetos que deram início à Dron Drones, essa fênix que fez a gente ressurgir das cinzas da crise no marketing”, diz Suyan, que aprendeu a voar, mas gosta de manter os pés no chão — e o controle dos drones nas mãos.