Há poucas semanas, Juliette Freire, vencedora do Big Brother Brasil 2021, relatou que sofre ataques xenofóbicos na internet por conta do seu sotaque.
Natural de Campina Grande, na Paraíba, a advogada, influenciadora, sócia de um estúdio de maquiagem e, mais recentemente, cantora pop recorreu a um stories do Instagram (rede em que ela tem 33 milhões de seguidores) para desabafar: “vão escutar sotaque nordestino em grandes publicidades, sim!”.
O desabafo bem que poderia ser o slogan da Creators Brasil. Fundada em 2020, a startup cearense é uma plataforma de marketing de influência regionalizada que conecta marcas e criadores de conteúdo nordestinos para a criação de campanhas nas redes sociais.
Vinicius Machado, 36, CEO e fundador da Creators, afirma:
“As marcas precisam entender as nuances e particularidades dos consumidores. A Creators Brasil fomenta e mostra um Nordeste plural, criativo, tecnológico e de riqueza econômica”
Um case que resume o trabalho da Creators foi o serviço de amplificação de uma campanha online da XP, criada pela TV Jangadeiro, em 2021. A empresa havia lançado uma plataforma de cursos online (como “O Beabá Financeiro” e “MBA em Ações e Stock Picking”).
No briefing, o mote era democratizar a educação financeira, usando linguagem acessível e descomplicada, e ganhar clientes em cidades do Nordeste. Para fazer isso, entraram em cena os influenciadores da Creators.
“Brincamos com o nome XP e criamos a campanha Xispa Liseira, que significa ‘vai embora pobreza’. Os influenciadores usaram o bom humor para explicar, de um jeito bem real, como e porque fazer um curso da XP”
Coca-Cola, O Boticário, Vivo e Riachuelo são outras marcas já atendidas pela Creators, que conta com 10 mil microinfluenciadores mapeados. Eles atuam no Instagram, YouTube, TikTok e Twitch (nessa ordem, em termos de relevância comercial para a Creators hoje).
A empresa gera receita ao reter uma porcentagem sobre os contratos intermediados. No ano passado, a Creators Brasil faturou 6 milhões de reais. Em 2022, a expectativa é dobrar as receitas.
Vinicius divide a história do mercado brasileiro de marketing de influência em quatro fases. A primeira delas se deu ainda antes da internet, quando atores, cantores e esportistas influenciavam via propagandas na TV, rádio, revistas e jornais.
A segunda fase veio no início dos anos 2000. Jovens criavam blogs para falar sobre música, moda ou qualquer outro tema. Com o tempo, foram se tornando referência e ganhando status de formadores de opinião.
Mais tarde, os blogueiros migraram para as redes sociais – e assim teve início a terceira fase. Embora ainda ligados a temas, como exercícios físicos e nutrição, os influenciadores passaram a usar e abusar do Instagram para compartilhar seu “estilo de vida”.
Alavancados por uma comunicação ágil e direta, e um caminhão de milhões de seguidores, esses influencers viraram celebridades da internet e donos de cachês polpudos (uma expoente dessa fase foi a influenciadora fitness Gabriela Pugliesi, que, em 2017, segundo estimativas, faturava 200 mil reais por mês). Segundo Vinicius:
“Com o boom do mercado de marketing de influência, surgiram muitos influenciadores, com conteúdo dos mais diferentes tipos, formatos e formas. O movimento permitiu a criação de uma cauda longa de conteúdo na internet”
A quarta e atual fase está diretamente ligada a essa cauda longa. Hoje, diz Vinicius, vivemos a era dos produtores de conteúdo (os creators que dão nome à empresa), que criam peças mais simples – mais autênticas, talvez? –, e de forma descentralizada.
Nesse rol dos produtores de conteúdo há os microinfluenciadores, aqueles com 10 mil a 100 mil seguidores – a quantidade exata varia entre empresas e institutos de pesquisa. Mas não se engane: esse patamar mais modesto de seguidores não significa baixo impacto.
Dados da empresa de marketing de influência Markerly sugerem uma correlação interessante: a taxa de engajamento diminui à medida que a quantidade de seguidores cresce.
Por exemplo: contas com menos de 1 mil seguidores geram em média, segundo a empresa, comentários em 0,5% dos posts; naquelas com mais de 10 milhões, esse índice cai para 0,04%.
“Os microinfluenciadores são pessoas ‘comuns’, gente da gente, e ganham seguidores na base da criatividade. Devido a relação de empatia, a audiência é extremamente fiel e engajada”
O casal Carol Mendonça e Cláudio Jedai, de Aracaju, capital do Sergipe, são um exemplo do potencial dos microinfluenciadores. Eles narram suas viagens a bordo de um fusca na página Fusconautas, com 25 mil seguidores no Instagram.
No Dia Nacional do Café, comemorado em 24 de maio, o casal criou uma animação que atrelava a bebida a pontos turísticos de Fortaleza, Recife e Manaus. O conteúdo foi encomendado pela marca Santa Clara, da 3 Corações, que publicou o vídeo com exclusividade na sua própria página.
Esse post do casal de microinfluenciadores já soma quase 40 mil curtidas. Para fins de comparação: três semanas depois, a Santa Clara publicou um vídeo com o cantor João Gomes, ícone nacional do piseiro com mais de 12 milhões de seguidores – por enquanto, a peça teve cerca de 11 mil likes.
A Creators Brasil tem dois anos de estrada. Mas a trajetória de Vinicius no empreendedorismo é mais longa.
Aos 15, ele deixou Fortaleza para estudar cinema em Nova York. De volta ao Brasil, ingressou na graduação em audiovisual na Fundação Cásper Líbero, em São Paulo. Porém, dificuldades financeiras da família o fizeram voltar ao Ceará aos 18 anos.
Inquieto e apaixonado por comunicação, ele e um amigo de Fortaleza criaram a revista de estilo de vida Invoga.
“Naquela época, as redes sociais não eram tão populares… Ia de loja em loja apresentar a revista para os donos das marcas e vender anúncios”
A Invoga cresceu e se tornou referência em publicação sobre luxo, com distribuição em todo o Nordeste.
Vinicius, então, se jogou no mercado publicitário para entender as necessidades das marcas. Criou a agência Invoga, de estratégias de comunicação e relações públicas. Em paralelo, a revista migrou para o digital e hoje funciona como ferramenta de inbound marketing.
Enquanto a pandemia dava uma desacelerada brusca nos negócios da Invoga, Vinicius pescava algumas tendências e insights das redes sociais.
Por exemplo: perfis com conteúdo nichado possuem comunidades com necessidades bem delimitadas, o que facilita o engajamento; levantar bandeiras é uma boa forma de posicionamento de marca; novas plataformas de vídeo, como Tik Tok e Twitch, deverão crescer de forma exponencial.
Era hora de pivotar de novo. Assim, em meados de 2020, ele tirava do papel a Creators Brasil.
Hoje, dois anos depois, a startup tem 30 funcionários. Um terço desse time foi contratado no último mês, para fortalecer as áreas de atendimento, tecnologia e marketing.
Parte da equipe se dedica exclusivamente a mapear diversos tipos e perfis de influenciadores. Todos trabalham de forma presencial no escritório da Creators Brasil em Fortaleza.
A região Norte é o próximo mercado na mira da startup. Segundo Vinicius, há bastante potencial de crescimento, devido à cobertura publicitária ainda tímida e à existência de pautas específicas (como saberes indígenas e a defesa da fauna e flora amazônicas) que podem ser trabalhadas por marcas e criadores.
Para o futuro próximo, há outros dois desafios. Está em desenvolvimento uma plataforma de recrutamento de microinfluenciadores e geração de insights voltada ao mercado publicitário (a ferramenta vai consumir o restante do investimento inicial da startup, de 300 mil reais).
Antes, a empresa lançará a Escola de Creators, um canal de qualificação para pessoas que desejam ingressar e crescer na profissão de produtor de conteúdo.
“Há muitos jovens inteligentes e criativos produzindo conteúdo relevante na internet, mas sem saber como e quando vão conseguir monetizar suas páginas e viver da profissão”
Atualmente, a startup mantém somente um grupo no Telegram para orientações aos parceiros. Com a Escola de Creators, a ideia é entregar esse conhecimento de forma mais organizada e multiplicar as oportunidades para esses criadores de conteúdo.
“A nossa bandeira é fazer com que eles cresçam e sejam valorizados pelas marcas.”
A pandemia destravou o trabalho remoto, mas recrutar colaboradores ainda é um desafio. Saiba como a Ollo usa tecnologia e curadoria de talentos para encontrar em até 48 horas o profissional que a sua empresa precisa.
Em um mercado de trabalho cada vez mais complexo, a formação universitária muitas vezes é insuficiente. Saiba como a DNC combina cursos online e parcerias com empresas para aumentar a empregabilidade e a qualidade da mão de obra.
A mão de obra nas áreas de tecnologia e marketing está cada vez mais disputada. Conheça a Growyx e saiba como a plataforma faz a conexão entre freelancers e empresas com demanda urgente de bons profissionais temporários.