O primeiro papo do Draft com os fundadores da Forebrain, startup carioca pioneira em neuromarketing no Brasil, aconteceu há pouco mais de um ano. Foi quando falamos pela primeira vez sobre ser possível “entrar na mente” do cliente. Isso porque Neuromarketing é uma técnica de pesquisa que utiliza recursos da neurociência para avaliar reações emocionais e fisiológicas das pessoas, explorando desejos e intuições, e a startup analisa e reverte esses dados em recomendações e análises importantes para determinar campanhas e, mesmo, o desenvolvimento de produtos.
Eles usam eletroencefalografia, eye-tracking, sudorese da pele, parâmetros cardiovasculares, eletromiografia facial, atividade neuroimunoendocrinológica e psicometria. Tudo para indicar emoções positivas ou negativas, nem sempre verbalizadas, que poderão determinar o sucesso ou o fracasso de determinada campanha que está sendo avaliada.
De fevereiro de 2016 para cá, o interesse nesse assunto só cresceu no mundo, principalmente a associação de softwares de análise de dados (como o da Forebrain) com AI (Inteligência Artificial). Apesar da crise por aqui, o mercado interno também acompanhou essa tendência.
Atualmente o Ibope Inteligência e a britânica Neurosense são parceiros da Forebrain. Ana Carolina Souza, co-fundadora e co-CEO da startup ao lado de Billy Nascimento, afirma que eles seguem com poucos concorrentes no mercado brasileiro. Conta, também, como tiveram que “fazer o dever de casa” para equacionar os bons ventos do setor à recessão econômica brasileira do ano que passou:
“Discutimos muito e revimos nossa estrutura de custos para enxugar ao máximo, mas sem abrir mão da equipe nem da qualidade dos serviços”
Quando a empresa começou a crescer eles logo perceberam a necessidade de estruturar melhor os processos internos. Neste último ano, conta a CEO, investiram em treinamentos, mentoria, alinhamento de valores e também na concepção da própria cultura organizacional.
“O mais interessante foi poder fazer isso com a participação da nossa equipe, que nos ajudou a chegar até aqui e criar a empresa que temos hoje. Esse trabalho gerou até uma nova área, que chamamos de Team Success”, diz ela.
A missão do Team Success é fazer com que os colaboradores se sintam “cada vez mais realizados, saudáveis e performando bem”, além de cuidar das festas e eventos internos. Ela conta que, com a casa arrumada, e com o interesse cada vez maior do mercado, a Forebrain resolveu seguir sua aposta no que estava funcionando. O modelo de negócios continuou o mesmo, oferecendo os serviços ad hoc e também o BRAIN, que ela diz ser o primeiro modelo SaaS (software as a service) de neuromarketing do mundo.
SEGUIR NO QUE FUNCIONA, APRESENTAR ALGO NOVO
Além disso, eles criaram uma novidade, o BRAIN Club, que funciona como um pacote de assinatura no qual os clientes recebem insights regulares a respeito das principais estratégias de comunicação, mostrando o que é mais ou menos eficiente na hora de comunicar sua marca, produto e serviço ao consumidor.
Este conteúdo pode ser entregue de várias formas: relatórios, webinars ou por acesso direto à plataforma analítica BRAIN. Em um ano, a Forebrain produz seis “ondas” de conteúdo, enviadas aos assinantes, no que Ana Carolina diz ser atualmente o produto de neuromarketing mais barato do mercado mundial. Há diferentes planos, iniciando a partir de 2.000 reais mensais.
O novo produto e o esforço de engajamento do time resultaram em um crescimento de 140% em relação a 2016. Ana Carolina diz que, a seu ver, manter a equipe unida em um ano difícil e ainda conseguir crescer foi sua maior realização como empreendedora.
“Dissemos, há um ano, que seria preciso remar juntos para atravessar a turbulência que se iniciava. Quando vimos que tínhamos conseguido, levamos toda a equipe para fazer um rafting, no início de 2017”, conta.
Nos próximos meses todos terão um novo desafio: a inauguração de um escritório em São Paulo, onde funcionará a nova unidade de operações (realização das pesquisas) e que também servirá de apoio para equipe comercial.
Por conta disso, ainda este ano parte da equipe deverá se mudar de cidade. No Rio continuarão apenas as áreas administrativas, de pesquisa e de TI.
Uma mudança dessa magnitude sendo tratada com muito cuidado por Ana Carolina. Ela conta que vem se especializando em Neurociência Organizacional, área que estuda os processos cerebrais que estão por trás do comportamento humano em contextos organizacionais.
“Desde a fundação da Forebrain, tínhamos a meta de criar um ambiente de trabalho justo e agradável, onde as pessoas poderiam ser o seu melhor e se sentir realizadas”, diz ela, e prossegue: “Sempre me considerei sortuda por amar o que faço e achava estranho a maioria das pessoas só buscar retorno financeiro no trabalho. Quero criar um modelo cada vez mais humano de empresa, na busca constante pelo equilíbrio pessoal e profissional”.
Olhando para trás, ela entende que 2016 foi um ano de amadurecimento. O ano de 2017, com a abertura da sede em São Paulo, trará desafios em uma escala até então desconhecida. Em paralelo a isso tudo, o mercado todo está mudando muito rápido e isso sempre cria instabilidade.
No setor da Forebrain há desde institutos de pesquisa tradicionais passando por grandes reestruturações até agências de publicidade (os principais parceiros e clientes da startup) também sofrendo com a retração econômica. Apesar disso, Ana Carolina diz como tem feito para viver em um cenário instável:
“Temos mantido nosso espírito startup bem vivo, para nos ajudar a sobreviver. E eu gosto de um conselho que ouvi da minha mãe: ‘Esta é uma corrida de resistência. Tenha calma, esteja atenta, seja flexível e criativa que, aos poucos, tudo se resolve”.
Taí uma mensagem boa para se fixar no cérebro.
Enquanto a Neuralink, de Elon Musk, investe em chips cerebrais, a Orby, de Duda Franklin, aposta em outro caminho. Ainda em busca de regulamentação, a startup de Natal sonha em inovar na reabilitação física com uma tecnologia não invasiva.
A neurociência pode ajudar a destravar o potencial dos alunos. Virgínia Chaves conta como a startup Athention usa aparelhos portáteis de eletroencefalograma (entre outros recursos) para incorporar a tecnologia de dados na educação.
Como fazer os novos funcionários se sentirem “em casa”? A Workverse aposta em tecnologia imersiva e desenvolve videobots que prometem agilizar o processo de admissão e estreitar os laços entre empresas e colaboradores.