A pandemia vem acelerando a adesão ao trabalho remoto e transformando o dia a dia das empresas. Os gestores perceberam, porém, que não basta fornecer equipamentos (como cadeiras e computadores) aos funcionários. É preciso repensar a forma de gerir os times — e entender sua produtividade.
A métrica “horas de expediente” não serve mais. No mundo do trabalho remoto, o desempenho deve balizar, cada vez mais, a avaliação dos colaboradores. É nisso que aposta a Gamefic, plataforma de gamificação para aumentar o engajamento e a produtividade de equipes.
Nos últimos meses, a Covid-19 impulsionou o número de usuários da startup, que saltou de 4 mil para 13 mil. São colaboradores de centenas de empresas, algumas delas parrudas, como BNP Paribas, Cargill, Rodobens, Syngenta e Vedacit. A previsão é fechar 2020 faturando 1 milhão de reais.
ANTES, A STARTUP GAMIFICAVA SÓ AS TRANSAÇÕES; AGORA, QUALQUER INDICADOR
Apresentamos a startup no Draft pela primeira vez em 2017, quando a Gamefic (na época, “Gamific”, com i) tinha um ano de operação. De lá para cá, o escopo de atuação se expandiu e a empresa incorporou ferramentas de realidade virtual e aumentada — além de um novo sócio.
Hoje, Rubens Melo, fundador e CEO, tem a seu lado Lendel Faria Batista (o antigo sócio, Leonardo Guilherme, deixou o negócio). Os dois se conheceram por meio da One Investimento, escritório de investimentos do qual Rubens era cliente e Lendel, o fundador. Ele vendeu sua participação na empresa para assumir o departamento comercial da Gamefic.
Antes, a startup gamificava apenas transações de vendas. Hoje, atende qualquer operação que tenha indicadores — seja no administrativo, no financeiro ou no departamento de qualidade de uma empresa. O CEO conta:
“Depois que conseguimos reduzir o tempo das aprovações de crédito no financiamento de carros e aumentamos as aprovações por mês no Safra, percebemos que existia um horizonte muito mais amplo para atuar”
Outros bancos também passaram a procurar seus serviços durante a pandemia, mas devido à necessidade de acompanhar os funcionários no trabalho remoto.
COMO PREMIAR O COLABORADOR EM HOME OFFICE USANDO REALIDADE AUMENTADA
Para dar conta da demanda, a startup passou a realizar integrações com plataformas de controle de processos (como Pipefy e Trello) e está se valendo de novas tecnologias para bonificar o funcionário em trabalho remoto, “longe dos olhos” do gestor.
O time de P&D da Gamefic, formado por 15 pesquisadores em parceria com a Universidade Federal de Uberlândia, desenvolveu um recurso de bonificação por meio da realidade aumentada. A ferramenta, afirma a empresa, será disponibilizada aos clientes em setembro. Lendel explica:
“Quando o funcionário bater uma meta, vai receber o prêmio na sua própria residência. A tecnologia é similar à do Pokemón Go, em que os usuários tinham que capturar Pokemóns. No caso, fechamos parcerias com grandes esportistas para fazer a entrega desses prêmios”
O modelo, segundo Lendel, funciona à semelhança do sistema de projeção 3D de animais lançado recentemente pelo Google. Por enquanto, a startup mantém sob sigilo os nomes das celebridades esportivas incumbidos da entrega dos prêmios, que por sua vez variam de acordo com o porte da empresa — pode ser desde um jantar até mesmo um carro.
Para engajar os times, a startup também ampliou o número de jogos. Antes a Gamefic contava apenas com uma versão de corrida automobilística; agora, também disponibilizará um jogo de surfe e outro “galáctico”.
“A ideia é que as companhias utilizem um jogo diferente por mês justamente para elevar ao máximo o engajamento, a performance e a motivação dos colaboradores”, diz Rubens. “Descobrimos que, quando se muda o jogo e a interface, aumenta-se a performance.”
COM MOEDAS VIRTUAIS, A STARTUP QUER ENGAJAR AINDA MAIS AS PESSOAS
Para manter o interesse pelos jogos (e, claro, para que o funcionário possa evoluir em suas metas através da gamificação), os pesquisadores da startup se basearam em um elemento viciante usado em jogos de sucesso explosivo, como Fortnite.
Trata-se do estímulo não-financeiro com moedas virtuais, ou Gamefic Coins, relata Rubens.
“O colaborador não vai ter acesso a todos os avatares ou elementos disponíveis no jogo, mas poderá comprá-los e avançar na jogada conforme ‘perfomar’ na companhia — e receber nossas moedas virtuais”
A ideia é trabalhar com estímulos não financeiros como reconhecimento, uma forma de empresas que não possuem recursos premiarem mais colaboradores. “Imagine um call center com 100 pessoas”, diz Rubens. “Quem tem um carrinho [no jogo de corrida] ou um avatar diferente mostra sua reputação dentro daquele ambiente.”
As Gamefic Coins serão usadas para mudar de avatar ou adquirir elementos no jogo. A empresa diz que a versão para Android está em fase final de testes e deve ser lançada ainda nesta semana; para o sistema iOS, a previsão é disponibilizar na Apple Store em até 30 dias.
MAS AFINAL, COMO UM JOGO PODE AJUDAR O FUNCIONÁRIO A BATER METAS?
Rubens diz que, no geral, os funcionários acham que é o jogo que está dando feedbacks para eles, quando na verdade é o gestor. Isso acontece porque os jogos da Gamefic são desenvolvidos e customizados de acordo com as metas, previamente definidas pelo gestor, que os colaboradores devem atingir. “O que fazemos é adaptar a cultura de uma empresa para o contexto de jogo”, diz Lendel
Ao adaptar um jogo para uma companhia, a startup leva em conta quatro verticais: tecnologia (customização da plataforma caso haja necessidade), marketing (ações internas para divulgar o jogo dentro da empresa cliente), compliance (estudo de toda a parte do sindicato daquela categoria e do modelo de trabalho para não gerar nenhum problema trabalhista) e inteligência de negócios (análise de quais indicadores a empresa avalia entre seus colaboradores e quais destes são importantes para o jogo).
É essa última vertical que faz a startup entender quais métricas são importantes — ou seja, têm mais peso na pontuação — e devem ser aplicadas dentro dos jogos para avaliar a evolução de um colaborador e passar feedbacks com um coaching individual e personalizado.
Mas como os funcionários recebem essa proposta de gamificação, levando em conta que nem todo mundo tem um perfil gamer? Rubens explica:
“A gente entende que esses elementos conquistam principalmente os millennials, mas também despertam o interesse de um funcionário mais sênior, que já está cansado do modelo de relatório e CRM. Quando você entra com algo lúdico, o nível de estresse é muito menor”
Segundo os sócios, o aumento de engajamento com a Gamefic depende de como a empresa usa a plataforma, “mas é de 20% ou mais”.
DE OLHO NOS EUA, A GAMEFIC JÁ TEM UMA VERSÃO EM INGLÊS (E QUER MAIS IDIOMAS)
Para ter acesso à Gamefic, o cliente paga uma assinatura mensal. O valor varia: R$ 2´4,90 (até 10 usuários), R$ 19,90 (de 11 a 40 de usuários) ou um valor a ser negociado, conforme o segmento do negócio, para empresas com 41 usuários ou mais. “Se for um call center, a gente consegue trabalhar com um ticket um pouco menor, por exemplo”, diz Rubens.
A plataforma tem uma versão em inglês e um funcionário na Califórnia “agilizando processos” para que a Gamefic entre em breve no mercado dos Estados Unidos. Os planos de expansão, porém, não param por aí. Lendel afirma:
“Estamos redesenhando todo o User Experience do nosso painel e já queremos traduzir nosso sistema para outros 23 idiomas, os mesmos que existem hoje dentro do Trello, para facilitar a integração”
No ano passado, segundo os sócios, a plataforma chamou atenção de investidores estrangeiros ao participar, no ano passado, do Tech Crunch Disrupt, no Vale do Silício, onde lançou sua versão 3.0. Segundo eles, uma negociação em andamento com um smart money, VP da Apple global, deve facilitar a internacionalização.
Para passar de fase no mundo empreendedor, a dupla ainda espera acumular mais pontos, ou melhor, investimentos, como conta Lendel: “Nosso foco é pegar um cheque lá fora de 20 a 50 milhões de dólares para escalarmos a Gamefic a nível global”.
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