A profusão de aplicativos de comida traz facilidade na hora de pedir um jantar — e se tornou uma alternativa crucial para os restaurantes em meio à pandemia, que sufoca o setor.
Porém, gerir todos os pedidos que piscam ao mesmo tempo nas telas (um tablet para cada app: iFood, Rappi, UberEats) e equacionar isso com o estoque e a disponibilidade dos motoboys pode ser enlouquecedor.
A Go2Go atende essas e outras dores do varejo. Entre outras funcionalidades, a plataforma funciona como um integrador de pedidos que insere tudo em uma interface única, no PDV do estabelecimento.
Ernesto Bitran, 40, é um dos sócios à frente do negócio:
“O Go2Go é o motor do processo de ‘deliveryzação’ dos restaurantes. É como se a gente trocasse a turbina do avião durante o voo: em vez de mudar o modelo de negócio, nós apenas trazemos os benefícios do universo digital para dentro da operação”
Fundada em 2018, a startup vem sendo impulsionada pelo aumento da demanda na pandemia. “Hoje processamos perto de 100 mil pedidos por dia.”
A STARTUP NASCEU A PARTIR DE UM DELIVERY DE COMIDA JAPONESA
A Go2Go nasceu com um spin-off da Sushichic, franquia de comida japonesa que tem Ernesto entre os sócios. A empresa chegou ao mercado em 2015, apostando já num modelo de ghost kitchen, ou seja, cozinhas sem salão.
“Esse negócio nasceu com a premissa de ter um atendimento centralizado, e que a operação da cozinha fosse o mais ‘industrial’ possível. A gente não queria que o cliente ligasse perguntando o status do pedido dele, ou que a cozinha parasse para falar com o motoboy que não encontrou o endereço…”
Para viabilizar essa premissa — e na falta de uma solução no mercado –, os sócios contrataram uma software house para construir um OMS (Order Management System), que permitisse que o call center disparasse os pedidos e acompanhasse seu status em diversas cozinhas simultaneamente.
NA HORA DE MONTAR A FRANQUIA SURGIU A IDEIA DE FAZER O SPIN-OFF
Leandro Rossi, hoje sócio da Go2Go, estava à frente da software house. A ferramenta passou a conectar também com os apps de delivery e embalou a expansão da Sushichic.
Em 2017, os empreendedores decidiram transformar a marca em franquia e recorreram ao consultor André Friedheim (hoje presidente da Associação Brasileira de Franchising), que ficou três meses desenvolvendo o projeto.
“O André olhou para o nosso negócio, falou: ‘legal, vamos fazer franquia, mas me interessei por esse software aí. Porque sei que ele pode resolver as dores do varejo de food para muita gente’…”
Desse estalo veio a ideia de fazer o spin-off, conta Ernesto. “Fomos para uma grande rede de fast food e os caras entenderam que tinha um fit enorme com os problemas deles…”.
O passo seguinte foi tornar aquela ferramenta customizada para o Sushichic mais genérica, abarcando outros tipos de operação do segmento.
O SISTEMA REDUZ A MARGEM DE ERRO E A PERDA DE TEMPO
Quanto tempo você topa esperar pela sua comida? Segundo Ernesto, o brasileiro em geral entende que 50 minutos é um tempo bom de entrega.
“No delivery, cada minuto é precioso. Se a gente pensar que o raio de atendimento médio é de quatro, cinco quilômetros, o cara perde uns 22, 25 minutos [no deslocamento]. Essa é a jornada logística”
Ou seja, sobram uns 25 minutos para a cozinha preparar a comida. A questão é que os pedidos apitam o tempo todo nos tablets de cada marketplace de comida, que não “conversam” com o sistema instalado no estabelecimento:
“Fica um operador que precisa olhar para o computador, para cinco tablets, não consegue fazer mais nada. Muitas vezes ele erra na hora de redigitar no sistema dele, perde pedidos…”
Ao integrar tudo em seu sistema, a Go2Go ajudaria o restaurante a reduzir a margem de erro e dispensa o atendente de ter que saber se o pedido vem do UberEats, do iFood ou do Rappi.
A FERRAMENTA AJUDA TAMBÉM NA GESTÃO FINANCEIRA
Ernesto diz que cada um desses canais de venda tem regras comerciais diferentes, com seus próprios meios de pagamento, políticas de cancelamento…
“Acaba sendo uma bagunça. E muitas vezes, o dono do restaurante não tem ideia do que vendeu, onde vendeu, qual é o seu marketplace mais rentável…”
A Go2Go facilita essa gestão mais voltada ao back-office do negócio. A ideia é simplificar a vida do dono do restaurante, integrando seu sistema ao do estabelecimento e dando transparência à operação.
“O pedido chegar dentro do PDV do restaurante como qualquer outro, e ele pode organizar a história de entregas na tela dele, ou numa tela nossa muito simples. Pode ver sua jornada fiscal, de estoque, do mesmo jeito de sempre.”
OUTRA VANTAGEM É A SINCRONIZAÇÃO AUTOMÁTICA DE CARDÁPIOS
Um ponto-chave quando se fala em operação de restaurante é que os produtos podem sempre acabar no meio do dia.
Essa é outra dor de cabeça quando o restaurante está conectado a iFood, Rappi etc: entrar em cada sistema e atualizar o cardápio.
“Se acabou a Coca-Cola, o cara tem que ir no tabletzinho do ‘marketplace 1’ e pausar a Coca-Cola, tem que ir no 2 e pausar a Coca-Cola, no 3… Metade das vezes o cara erra ou então esquece depois de ‘despausar’, ou pausa em dois e esquece o terceiro…”
Ernesto explica que a sincronização de cardápios do Go2Go dispensa ter que atualizar um a um.
“Imagine uma rede de fast food que vai ter uma promoção: ‘compre o Combo 1 e ganhe um milk-shake’. Para fazer isso em 400 lojas no modelo tradicional, teria de pegar essas 400 unidades vezes a quantidade de marketplaces… É insano. A gente automatiza esse processo: ele seleciona ‘publicar cardápio na data tal’ — e pronto”
Outro exemplo é quando o estabelecimento trabalha com um cardápio no almoço, e outro no jantar, algo frequente em redes de padarias. A automatização resolve isso:
“São experiências comuns no mundo físico, mas que eram muito difíceis no digital.”
A PLATAFORMA ENCURTOU O TEMPO DE ENTREGA DA BRÁZ PIZZARIA
Restaurantes físicos, diz Ernesto, operam por uma lógica de first in, first out: o primeiro pedido que entra é o primeiro que sai.
“No delivery, a gente entende que isso não é verdade: faz muito mais sentido olhar o negócio pela fila de saída dos pedidos.”
A questão é a disponibilidade dos motoboys: dependendo de quando o seu pedido for retirado pelo entregador, pode ser melhor segurar um pouquinho o preparo da sua pizza para garantir que ela chegue mais fresca à sua casa.
Ernesto explica que a Bráz Pizzaria, cliente da Go2Go, tem um tempo máximo para que uma pizza seja retirada pelo motoqueiro — se exceder esse tempo, ela vai para o lixo.
“No caso da Bráz, conseguimos encurtar em oito minutos o tempo médio de entrega dos pedidos. Mais legal do que isso foi que reduzimos a quase zero o desperdício deles”
Esse ganho de eficiência estaria atrelado à transparência da plataforma, que permite visualizar o tempo de chegada dos motoboys e inverter a prioridade dos pedidos, se necessário.
O PERFIL DE CLIENTES VARIA, E COM ELE O USO DAS SOLUÇÕES
A startup tem ainda soluções de business intelligence, que ajudam a mapear o desempenho dos restaurantes por produto e por canal de vendas, por exemplo, e a oferta de ferramentas whitelabel, com a marca e o visual do estabelecimento, para quem não quer ficar tão na mão dos marketplaces:
“A omnicanalidade é importante, mas você também precisa ter uma relação com seu consumidor no fim do dia. A gente provê canais whitelabel para os estabelecimentos: WhatsApp, aplicativos Android e iOS, e e-commerce. E aí o cara consegue ter uma gestão de CRM, fazer ofertas personalizadas…”
Ao todo, a Go2Go tem hoje 400 clientes. O espectro é bem amplo (idem o grau de interesse pelos diferentes tipos de solução):
“Tenho uma cliente, por exemplo, que é uma senhora que faz comida árabe em casa, e só queria ter um meio de pagamento para organizar a vida dela… E tenho clientes que são grandes redes de fast food, que usam a ferramenta como um todo”
A startup cobra uma mensalidade a partir de 89 reais, além de centavos por transação (o custo unitário cai na proporção inversa ao número de pedidos).
“O ticket médio hoje é por volta de 350, 400 reais…São soluções em geral muito baratas. Nosso negócio é escala.”
A COVID-19 IMPULSIONOU O PORTFÓLIO E O CRESCIMENTO DO TIME
A pandemia, previsivelmente, acelerou a demanda dos pedidos de comida por delivery.
“De 1 milhão de restaurantes no Brasil, estima-se que 150 mil tinham delivery naquele momento [no começo da Covid-19 no Brasil]”, diz Ernesto. “E para a maioria desses 150 mil, o delivery era absolutamente marginal à operação.”
As restrições e o distanciamento social mudaram dramaticamente esse cenário, e ajudaram a alavancar a Go2Go.
“A gente cresceu seis, quase sete vezes o ano passado. Começamos [2020] com 300 estabelecimentos, acabamos o ano com 2 100. E hoje temos perto de 3 mil já conectados, além de mais de 6 mil em processo de roll-out”
Na prática, o total de estabelecimentos é ainda maior, pois a cifra de 3 mil não computa outras frentes em que a Go2Go já opera. A ferramenta hoje é usada também por uma rede de farmácias e outra de lojas de conveniência (e já começou sua internacionalização, com clientes na França e em Portugal).
Para acompanhar esse movimento, o time também cresce. Hoje são 45 funcionários (a maioria são desenvolvedores), e a previsão é quase dobrar essa equipe — há cerca de 30 vagas abertas.
Por conta da Covid-19, o escritório na Zona Oeste de São Paulo anda vazio.
“Contratamos várias pessoas nesse último ano que eu não conheço pessoalmente, só pelo Zoom”, diz Ernesto. “E agora estamos trazendo gente de outras cidades [para trabalhar em home office].”
O PRÓXIMO PASSO: PEDIR UMA PIZZA DIRETO PELO WHATSAPP
A startup já dobrara o investimento inicial com uma captação de 2 milhões de reais junto a um family office. Agora, está se encaminhando para uma rodada de Series A, com a intenção de captar 10 milhões de reais.
Esse aporte permitirá atacar alguns desafios de negócio. O mais urgente é uma ferramenta de inteligência artificial para que o consumidor possa pedir comida por mensagens dirigidas a plataformas de mensageria ou assistentes virtuais (como Alexa e Siri), sem recorrer ao iFood ou disque-pizza.
“A experiência do canal falado será um disruptor de modelo de compra. Poder falar para o seu WhatsApp ‘me mande uma pizza de mussarela às oito da noite’ é mais fácil do que entrar em um marketplace… Só que do outro lado precisa ter uma tecnologia que entenda [essa mensagem]”
Desenvolvida internamente, a ferramenta está em fase de testes, num projeto-piloto com uma rede de supermercados. A expectativa é turbinar a coleta de dados e possibilitar ofertas mais assertivas, customizadas.
“A gente acredita em criar canais para que os clientes dos nossos clientes comprem de maneira mais simples”, diz Ernesto. “Assim, vamos populando o mar de dados — em vez de data lake, falamos em ‘data ocean’ — e elevando o grau de relacionamento desses estabelecimentos com seu consumidor.”
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