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A Insecta Shoes, de sapatos veganos, não sentiu a recessão. Mas seu desafio conceitual é até maior

Bibiana Maia - 28 jan 2017
Barbara Mattivy na loja paulistana da Insecta Shoes.
Bibiana Maia - 28 jan 2017
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Com mudança de sócio, uma nova loja em São Paulo e com pontos de venda em Zurique, na Suíça, Los Angeles e Nova York, nos Estados Unidos, além de pop up stores pelo Brasil, a marca de sapatos veganos Insecta Shoes cresceu e já olha para o passado recente com carinho. “Na época, abrir uma loja em São Paulo era apenas um sonho, hoje ela é uma realidade e já é responsável por 30% das vendas. Outra importante conquista para nós foi a parceria com o Instituto Inhotim, em Minas Gerais, levando nossos calçados para as lojas da instituição”, conta Bárbara Mattivy, uma das idealizadoras da empresa gaúcha.

A Insecta Shoes apareceu no Draft pela primeira vez em 2015 (clique na imagem para ler a reportagem)

A Insecta Shoes apareceu no Draft pela primeira vez em 2015 (clique na imagem para ler a reportagem)

Como em 2015, a Insecta segue com três sócios, mas com uma substituição. A sócia-fundadora Pamella Magpali deixou a empresa e foi morar no interior do estado. Kento Kojima, administrador e diretor de operações, entrou no time que já contava com Laura Madalosso.

Se no início a marca funcionava como uma startup, sem departamentos definidos e com muita dependência dos sócios, agora a Insecta já tem processos organizados. Com o e-commerce indo bem — responsável por 65% do faturamento — chegou a hora de expandir e abrir a segunda loja física, em São Paulo.

A decisão juntou o útil ao agradável, pois Bárbara realizou o desejo de voltar para a cidade onde morou até os sete anos, ao mesmo tempo em que representou um passo estratégico para a empresa. Todos os novos projetos da Insecta seguirão usando apenas capital próprio. “Não tivemos investimento externo”, diz Bárbara. A empresa segue com sete funcionários, além dos sócios, e viu sua receita anual crescer nos dois últimos períodos. Em 2015, diz a fundadora, o faturamento foi de 1 milhão de reais. Em 2016 chegou a 1,7 milhão:

“Não sofremos tanto na crise porque estamos na contramão do cenário mundial”

Isso porque a Insecta é uma empresa que fabrica sapatos que não usam couro nem nada de origem animal (usam sobras de tecido, o que gera peças únicas e exclusivas). Não segue o ritmo de produção e renovação das fast fashion. E a preocupação dos sócios com os impactos socioambientais de toda a operação ainda vai além. Eles investem no desenvolvimento de produtos para que eles sejam cada vez mais sustentáveis. Deste cuidado eles conseguiram, por exemplo, chegar a uma palmilha feita de material reciclado — e que pode ser reciclada.

SER SUSTENTÁVEL É BOM, MAS TAMBÉM É UM GARGALO

Mas, da mesma forma que é um diferencial, a sustentabilidade da cadeia tornou-se um gargalo. A Insecta produz sapatos a partir de roupas de brechó, o que diminui drasticamente a disponibilidade daquele modelo. Como sair da armadilha que o seu próprio conceito de marca o colocou? Para a Insecta, a solução foi partir ampliar o leque de produtos, com outros tipos de materiais.

Uma das dificuldades da Insecta Shoes era, acredite, produzir uma grade completa de tamanhos com uma mesma estampa.

Uma das dificuldades da Insecta Shoes era, acredite, produzir uma grade completa de tamanhos com uma mesma estampa.

“Agora temos uma linha que usa um tecido ecológico, feito de garrafa PET. Com o reaproveitamento da roupa, eu só conseguia fazer cinco ou seis pares de sapato por vez”, diz Bárbara. A mudança foi necessária para que eles pudessem ter uma grade completa (ou seja, toda a numeração de um mesmo modelo).

Com a estratégia, a Insecta agora desenvolve as próprias estampas, que são impressas neste tecido, usando tinta à base de água.

Com isso, a marca consegue ter mais reposição de produtos, além de produzir mochilas, que também possuem versões de jeans reciclado, com alças de cinto de segurança, e forro de guarda-chuva reciclado. Bárbara conta que a solução também abriu portas para colaborações com outras marcas e profissionais que “compartilham dos mesmos ideais”, como a coleção feita com a designer Flavia Aranha.

Em dois anos de operação, a Insecta Shoes também já consegue olhar para trás e quantificar a sua gestão gestão sustentável. Ao todo, foram reaproveitadas 3 000 peças de roupas, 900 kg de tecido e 2 000 garrafas PETs para a produção de aproximadamente 15 mil pares de sapato, comercializados a um preço médio de 269 reais. Mas eles querem ir além.

VOCÊ JOGA SAPATO NO LIXO? NÃO DEVIA

Agora, Bárbara diz, o desafio é fechar totalmente o ciclo, incluindo uma destinação aos sapatos já descartados pelos clientes. Ela conta que desde a criação da Insecta há esssa preocupação com a cadeia produtiva, “do início ao fim”.

“Criamos um produto que não gostaríamos que virasse lixo. Entendemos que a nossa responsabilidade também é fechar este ciclo”

A solução para isso, neste momento, é receber o sapato de volta, nas lojas. Ali, é feita uma avaliação. “Se o sapato ainda puder ser usado, para aumentar a vida útil dele, damos uma recauchutada e o colocamos em um brechó parceiro, onde as vendas são destinadas a uma causa socioambiental. Se ele estiver muito prejudicado, encontramos parceiros que consigam reciclar”, conta. Ela diz que, no futuro, a ideia é que os sapatos reformados sejam vendidos em brechós parceiros, mas no futuro é ter um brechó da própria Insecta. No início desse ciclo, ela diz, os clientes terão de pagar o frete do envio do produto, “mas receberão como agradecimento uma ecobag”.

Além dessa logística reversa do consumo, também está nos planos da Insecta adotar outras propostas inovadoras, como ter as contas abertas. Ao mesmo tempo em que olha para a frente, a empreendedora tem de manter um esforço permanente de comunicar o que está fazendo, mesmo aos mais incrédulos. “Muita gente pergunta ‘Ah, mas se é um sapato feito de lixo, porque é tão caro?’ A gente quer ser transparente, mostrar que não é tão fácil e o porquê deste preço, que não é uma vontade de ter uma margem de lucro absurda”, afirma.

EMPREENDER É ACEITAR A INCERTEZA

Barbara acredita que a política de contas abertas irá ajudar a marcar a crescer no Brasil e internacionalizar, pois a seu ver fora do país há um grande mercado consumidor consciente e com maior poder aquisitivo. A mais longo prazo, está nos horizontes dos sócios a criação de uma fundação da Insecta, que “serviria como uma escola que trabalharia na conscientização da sustentabilidade”. Ela fala sobre a vida de empreendedora:

“Em um mês a gente vive um ano. Achamos que vai acontecer algo, não acontece, mas surge outra coisa que pode ser melhor. É saber lidar com a inconstância”

Ela conta que eles viram isso na loja de São Paulo, “achamos que não ia vender tanto, vendeu”, e também no sonho de internacionalizar “que resolvemos segurar porque queríamos estar mais maduros”.

Até este momento, ela conta, as decisões de negócio foram tomadas “com bastante cautela”, ouvindo quem tem mais experiência, dando um passo para traz quando necessário e estudando muito o cenário. Ela conta que fez um curso na Academia Draft sobre Negócios Sociais, que estudou branding e também pós-capitalismo. Tudo para investir mais na gestão da marca. “Desde que resolvi empreender, aprendi a praticar o desapego sobre o futuro.”

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