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A mineira Solides criou uma inteligência artificial pioneira para melhorar a gestão de recursos humanos

Marília Marasciulo - 22 jul 2019
Os fundadores da Solides: Mônica Hauck e Alessandro Garcia.
Marília Marasciulo - 22 jul 2019
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A timidez, de certa forma, ajudou o mineiro Alessandro Garcia a encontrar o amor e o propósito profissional — nessa ordem. Formado em Estatística pela UFMG, conheceu em 2002 a historiadora Mônica Hauck por meio do ICQ, um dos primeiros programas de troca de mensagens na internet e um dos poucos ambientes em que ele conseguia interagir com desconhecidos. Tinham, então, 25 e 23 anos. Dez meses depois, estavam casados.

Alessandro, hoje com 42 anos, e Mônica, 40, são os fundadores da Solides, plataforma que usa inteligência artificial para automatizar a gestão de recursos humanos e se anuncia como uma das poucas do país a integrar todos os processos de RH, da contratação ao acompanhamento de funcionários. Baseada em Belo Horizonte, a startup tem 140 colaboradores, 1 500 clientes e faturou 16 milhões reais em 2018. Alessandro explica:

“Com a inteligência artificial, os processos não são mais feitos às cegas. É possível saber exatamente o que fazer e como acompanhar

O empreendedor diz que, mais do que agilizar processos internos, a Solides busca usar dados para ajudar pessoas e empresas a se conhecerem melhor e, com isso, encaixar os profissionais certos nas posições idem. A lógica é que assim todos ficam satisfeitos, aumentando a produtividade.

O software da Solides foi inspirado no DISC, um teste de personalidade desenvolvido em 1928 pelo psicólogo americano William Moulton Marston, conhecido por ser o inventor do detector de mentiras e também o criador da Mulher-Maravilha (sua vida, em versão romanceada, virou filme em 2017).

A partir de adjetivos que alguém usa para se definir e que acredita que outros usariam para descrevê-lo, o DISC identifica padrões de comportamento com base nos quatro eixos que compõem sua sigla: dominância (ou como a pessoa lida com desafios); influência (como ela reage aos outros e influencia quem está à sua volta); estabilidade (do inglês stability, que aborda a resposta a mudanças); e conformidade (referente a como ela lida com regras).

O TESTE DE PERSONALIDADE AJUDOU O EMPREENDEDOR A DEFINIR SUA CARREIRA

Alessandro conheceu o DISC nos anos 1990, durante uma entrevista de emprego em um banco. Em poucos minutos, o teste traçou seu perfil e descortinou uma vantagem naquilo que o rapaz considerava então seu maior defeito: o perfil de analista planejador, naturalmente mais tímido, limitava-o em empreitadas que exigiam mais extroversão, mas o favorecia naquelas que em que foco e atenção eram necessárias.

“Conhecer isso foi fundamental para meu desenvolvimento pessoal e profissional, pois pude direcionar minha carreira para áreas que não demandavam muita interação social”, diz.

Além da Estatística, de olho nessas funções que demandavam menos interação, Alessandro começou a aprender programação por conta própria, o que viria a calhar na hora de empreender com softwares de inteligência de dados. Antes da Solides, ele e Mônica criaram a Procreare, que fazia um software para a gestão de agropecuária.

Ela, por sua vez, estudou História porque se interessava pelo comportamento humano, mas nunca chegou a atuar na área, pois logo conheceu Alessandro e empreendeu junto com ele. Quando conheceu melhor a sua história, quis se aprofundar na metodologia que tinha ajudado seu marido a lidar com a timidez .

Os dois passaram quatro anos estudando DISC e outras metodologias comportamentais, meio como um hobby, meio com vontade de transformar aquilo em um produto que poderia ser comercializado. Acabaram criando um novo teste de comportamento, voltado para o perfil de brasileiros. Por exemplo: no inglês, “agressividade” pode ser entendida como “assertividade”, mas brasileiros costumam associar a palavra a “brigas e desaforos”. Mônica diz:

“Os modelos que encontramos eram muito americanos e europeus, o que prejudica um teste que leva em consideração o significado que as pessoas dão às palavras em diferentes culturas”

Em 2007, o protótipo de teste foi analisado pela UFMG, que indicou 97% de acurácia. Era o incentivo que precisavam para levar o produto ao mercado. Alessandro e Mônica começaram a vendê-lo a empresas que queriam traçar o perfil de seus funcionários. Logo, a solução começou a gerar mais lucro do que a própria Procreare, e assim, em 2010, o casal vendeu a empresa voltada ao agronegócio para se focar totalmente na Solides.

UM CURSO EM STANFORD FOI O INCENTIVO PARA A EMPRESA DESLANCHAR

De 2010 até 2015, cresceram 40% ao ano. Mônica queria mais. Ao contrário de Alessandro, que como estatístico não acreditava em crescimento exponencial, ela tinha ambição de “crescer 200%”, como lembra, rindo. Decidida, matriculou  a si mesma e ao marido a Universidade Stanford, em 2014, para um curso de extensão em empreendedorismo, com dois módulos presenciais (no Brasil e na Califórnia) e um online.

No curso, eles conheceram a fórmula T2D3 para escalar startups SaaS: triple triple, double double double, ou “triplicar triplicar, dobrar dobrar dobrar” o faturamento anual. “Levei um tapa na cara ao descobrir que crescimento exponencial era exatamente o que se espera de uma startup”, diz Alessandro. Foi também graças à fórmula que resolveram transformar a solução que tinham em um produto SaaS mais completo para a gestão de recursos humanos.

Em 2015, o casal reformulou a startup. “Voltamos com a mentalidade de ‘ou vai ou racha’. Empreender é se jogar do abismo e construir um avião durante a queda”, diz Alessandro. Primeiro, eles construíram a nova plataforma, que integraria as informações obtidas dos testes com dados internos das empresas. O empreendedor explica:

“Um problema comum é que as pessoas são contratadas por currículo e demitidas por comportamento. Nós usamos a metodologia para traçar o perfil comportamental das pessoas que já estão na empresa e, com isso, melhorar a escolha de candidatos”

A inteligência desenvolvida avalia tanto “hard skills”, capacidades técnicas evidenciadas no currículo, como formação, domínio de línguas estrangeiras e de informática, quanto os “soft skills”, o perfil comportamental do candidato, por exemplo, timidez, estilo de liderança e preferências no modo de trabalho.

MELHORAR A SATISFAÇÃO E O ENGAJAMENTO É UM DOS DESAFIOS DO SETOR

A maioria dos setores de Recursos Humanos já tenta fazer isso, de forma manual, com entrevistas ou dinâmicas de grupo. Além de demandar muito tempo, o processo nem sempre é objetivo, sujeito ao viés do avaliador. Com o algoritmo da Solides, o tempo para realizar processos de RH (como recrutamento e seleção) é reduzido em 70%.

Hoje, um dos principais desafios da área é melhorar a satisfação e o engajamento dos funcionários — segundo a Gallup, apenas 15% das pessoas empregadas em tempo integral estão realmente engajadas no seu trabalho. Pesquisas de clima dentro da empresa, avaliação de desempenho, desenvolvimento de carreira e treinamentos específicos estão entre as ações da área que podem reverter esse quadro.

Telas de perfis da Solides: analisado pela UFMG, o teste da Solides tem 97% de acurácia.

“Todas as empresas têm dados, o desafio é levantar os dados certos e integrá-los”, diz Mônica. A integração e a possibilidade de personalização seriam alguns dos diferenciais da Solides. Segundo os sócios, há outras soluções para a gestão de recursos humanos no mercado, mas elas focam nos processos de forma separada, enquanto a ferramenta da startup seria mais eficaz se interligar tudo, do momento da contratação ao acompanhamento contínuo das equipes.

O ACOMPANHAMENTO CONTÍNUO É ESTIMULADO PELO MODELO DE ASSINATURA

O próximo passo para se adequar ao modelo SaaS e estimular as empresas a apostarem no acompanhamento contínuo foi trocar os testes individuais pela venda de assinaturas. Os preços variam de acordo com o número de funcionários, começando com mensalidades de 480 reais para empresas de até 50 funcionários. para isso, precisaram lidar com prazos de retorno mais longos e se virar com o fluxo de caixa acumulado até então — o custo de aquisição de cada cliente levava até um ano para se pagar.

Externamente, o desafio foi educar as empresas para o potencial que o uso da ferramenta traria a longo prazo para a produtividade da equipe. Para treinar as equipes de RH a usarem e lidarem com as novas ferramentas, a startup disponibiliza cursos e materiais gratuitos para os profissionais.

O “match” perfeito melhora o engajamento e diminui a rotatividade. Um dos clientes da Solides, a cooperativa de crédito Sicoob Credip, economizou 300 mil reais por ano em custos com rotatividade. Outro, a Cedro Têxtil, aumentou em 50% o comprometimento de seus mais de 3 mil funcionários e em 30% o engajamento de seus líderes.

O crescimento agora se mantém estável em 10% ao mês. A previsão é elevar o faturamento a 40 milhões de reais até 2020. Alessandro não descarta uma expansão para o exterior (o software é preparado para inglês e espanhol, e eles já têm 15 clientes fora do Brasil), mas diz que por ora o foco permanece no mercado brasileiro. Timidez? Não, “pé no chão” mesmo. “A inteligência artificial em RH é o futuro, mas ainda há muito para evoluir.”

 

DRAFT CARD

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  • Projeto: Solides
  • O que faz: Inteligência artificial para gestão e recrutamento de talentos
  • Sócio(s): Alessandro Garcia e Mônica Hauck
  • Funcionários: 140
  • Sede: Belo Horizonte
  • Início das atividades: 2010
  • Investimento inicial: R$ 800 mil
  • Faturamento: R$ 16 milhões (2018)
  • Contato: [email protected]
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