#FiqueEmCasa é uma hashtag mais que pertinente neste momento. No caso da MRV, tem ainda um duplo sentido.
Ela, a hashtag, reforça a campanha da construtora mineira em torno de sua plataforma de vendas digital, que permite realizar a jornada de compra de um imóvel sem sair de casa — da simulação à análise de crédito, da visita (virtual) ao apartamento à assinatura do contrato, tudo se dá online.
O projeto engajou cerca de 100 profissionais. E rapidamente foi expandido: lançada em janeiro, com oferta de imóveis inicialmente restrita a Belo Horizonte, a ferramenta (acessível pelo endereço web da empresa) foi turbinada em março, na esteira do coronavírus, e agora atende as 160 cidades de 22 estados onde a MRV está presente.
Trata-se da iniciativa mais recente de uma construtora que, nos últimos cinco anos, investiu 250 milhões de reais em Transformação Digital e no codesenvolvimento de produtos e serviços em parceria com startups (por meio, por exemplo, do Órbi Conecta, um hub idealizado pela MRV em conjunto com Localiza, Banco Inter e o San Pedro Valley, comunidade belo-horizontina de empreendedores digitais).
A PANDEMIA ESVAZIOU O LAB, MAS NÃO INTERROMPEU SUAS ATIVIDADES
Em fevereiro, o Draft visitou o LAB, núcleo inaugurado pela MRV em dezembro de 2019 com a proposta de fortalecer a cultura inovadora entre os colaboradores — e, quem sabe, antever (ou conceber?) as próximas tendências da habitação.
Instalado na sede, em BH, o amplo salão de paredes de vidro tem ambiente colorido, despojado, e fica no meio do caminho dos quase 2 mil funcionários que transita(va)m diariamente pelo escritório.
A pandemia obviamente esvaziou o local — mas não interrompeu suas atividades. É o que explica Flávio Vidal, 43, gerente de inovação à frente do projeto:
“Os colaboradores da MRV já têm uma cultura digital bastante madura, então o trabalho em home office não se tornou um obstáculo. Não desaceleramos em nada, pelo contrário, conseguimos manter o andamento dos projetos do LAB”
Ao longo do ano, o LAB abrigará (mesmo que virtualmente) ações de desenvolvimento e treinamentos sobre temas como design thinking e cultura ágil, conduzidos por Flávio e seu time de dez pessoas, além de empreendedores e professores convidados.
“Mesmo antes da pandemia, todos os eventos e apresentações que ocorriam no espaço já eram transmitidos online, então foi relativamente fácil se adaptar a esta adversidade.”
O ORÇAMENTO DE INOVAÇÃO PARA 2020 ESTÁ ESTIMADO EM R$ 80 MILHÕES
Fundada em 1979 por Rubens Menin (fundador do Banco Inter e um dos investidores da CNN Brasil), a MRV se anuncia como a maior construtora e incorporadora residencial do Brasil. Hoje, segundo a empresa, cerca de 1,3 milhão de pessoas “vivem em um MRV”.
Em 2019, a companhia registrou o melhor primeiro trimestre de sua história (lucro líquido de 189 milhões de reais, aumento de 18% se comparado ao mesmo período do ano anterior).
Para 2020, o orçamento em inovação (se não vier a ser reduzido por conta da Covid-19) está estimado em 80 milhões de reais, quase 70% maior do que nos anos anteriores.
Em outros períodos adversos — como a crise do setor de construção civil, na esteira dos escândalos revelados pela Operação Lava Jato –, a construtora, diz Flávio, seguiu apostando em inovação:
“Seguramos o crescimento, mas não deixamos de investir em tecnologia e fomos uma das poucas a entregar resultados aos acionistas, mesmo com a economia em queda”
Em anos recentes, a MRV figurou no ranking de maturidade digital da McKinsey (1º lugar do seu segmento e 12ª colocada no país) e levou pra casa o Prêmio Whow! de Inovação, do Centro de Inteligência Padrão (CIP) em parceria com a DOM Strategy Partners.
PARA COMPETIR NO MERCADO DE LOCAÇÃO, A MRV CRIOU SUA PRÓPRIA STARTUP
Em 2018, a MRV fincou de vez sua bandeira no universo das startups com o lançamento da Luggo, voltada ao mercado de locação.
Para se diferenciar de concorrentes como o QuintoAndar, os apartamentos (erguidos pela própria MRV) oferecem serviços “on demand” de limpeza, reparos, lavanderia, bikes, carros compartilhados e coworking.
Os primeiros prédios, lançados em janeiro de 2019 em Belo Horizonte e Curitiba, estão 100% locados e há lista de espera para os próximos empreendimentos.
Não se limitar a copiar tendências é fundamental para estimular a inovação, diz Flávio. “Não queremos ser ‘uberizados’. Queremos criar o próximo Uber.”
Há 12 anos na MRV, ele começou no departamento comercial cuidando da construção de apartamentos-modelo, aqueles exibidos nos plantões de venda.
Em seguida, migrou para o relacionamento com cliente e depois para a assistência técnica, onde ajudou a criar, há seis anos, uma área interna de inovação — espécie de embrião do LAB.
A área foi ganhando corpo, focando no desenvolvimento de métodos construtivos e materiais cada vez mais eficientes. Até que, há cerca de um ano e meio, Flávio foi convidado pelos co-CEOs Rafael Menin e Eduardo Fischer para se dedicar exclusivamente à área de inovação.
EVANGELIZANDO LIDERANÇAS E COLETANDO INSIGHTS DE COLABORADORES
Para ajudar no esforço constante de consolidar a mentalidade inovadora dentro da companhia, Flávio recrutou e conta com 33 gerentes e diretores de várias áreas.
Esses profissionais atuam como “embaixadores da inovação”, reverberando o tema internamente e evangelizando colegas e subordinados.
“Escolhemos lideranças do jurídico, assistência técnica, administrativo, marketing, comercial, enfim, de todas as áreas. Eles são provocados a pensar de um jeito novo — e têm a missão de estimular seus respectivos times a fazer o mesmo”
Segundo o gerente de inovação, os técnicos e engenheiros da construtora estão acostumados a verem os CEOs pisando no canteiro de obras. Problemas são discutidos ali, na hora; ideias surgem e metas podem ser reajustadas.
Pensando na força da “inteligência coletiva”, ele implementou o Programa Inova, que reúne sugestões de inovação de qualquer área da empresa.
Gerenciada hoje pelo LAB, a iniciativa registra, desde março de 2019, mais de 1 200 participações. O colaborador com a ideia mais inovadora será premiado com uma viagem ao Vale do Silício (eventualmente, quando o mundo pós-Covid-19 se “normalizar”).
“O pré-requisito é que a ideia tenha foco em resultado e que atenda necessidades da empresa”, diz Flávio. “Se não gerar valor não é inovação.”
IDENTIFICANDO TENDÊNCIAS E MONITORANDO PASSO A PASSO A JORNADA DO CLIENTE
Sob comando de Flávio, a equipe do LAB trabalha na identificação de megatendências de consumo e no mapeamento dos vários passos da jornada do cliente, desde o momento que ele ou ela pisa (ou pisava, em tempos pré-coronavírus) no plantão de vendas até depois de ter recebido as chaves.
“Tudo isso é monitorado e estudado. Mapeamos o que deu certo, o que pode ser melhorado e toda a empresa é alimentada com informações precisas sobre o nosso consumidor”
Dados que levaram à criação de novidades como o “My Home Experience”, óculos de realidade virtual que transportam o cliente para um modelo do imóvel.
O Draft testou o gadget e a experiência é de fato realista: na visita virtual, o cliente pode caminhar pelo imóvel, customizar a decoração, trocar acabamentos, pisos, azulejos, louças e ver o espaço sem móveis.
Desde a implantação da tecnologia, no fim de 2018, mais de 2 milhões de reais foram economizados (os óculos de realidade virtual representam uma economia de aproximadamente 35% em relação aos apartamentos modelos tradicionais).
A RELAÇÃO COM O CONSUMIDOR NÃO SE ENCERRA NA ENTREGA DAS CHAVES
Gerar valor no pós-venda, esticando a relação com o cliente para além da entrega das chaves do apartamento novo, é outro esforço da empresa, segundo Flávio.
Alguns exemplos seriam o “Mão na Roda”, app que estimula a conexão entre moradores de um mesmo condomínio para a troca de produtos ou serviços, e a Escola de Síndicos, canal do YouTube que capacita em gestão de condomínios e administração predial.
Há também um clube de vantagens (com acesso restrito pelo Portal de Relacionamento com o Cliente) que reúne parceiros para oferecer, em escala, descontos em produtos e serviços. Estão lá marcas como Magazine Luiza, Electrolux, Petz e Tilibra.
Outra novidade do pós-venda é uma parceria com a Renault: um projeto-piloto com dois carros elétricos de uso compartilhado entre moradores de um dos condomínios da Luggo.
Os veículos são recarregados no prédio com energia gerada em placas fotovoltaicas, e o agendamento é feito por um aplicativo (onde são avaliados o perfil de utilização, faixa etária, principais destinos, horários, tempo médio por reserva e nível de satisfação).
AS MEDIDAS DA EMPRESA PARA SE ADEQUAR À PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
Como toda empresa, a MRV precisou se adaptar ao coronavírus. Funcionários de grupos de risco da Covid-19 foram “liberados de suas atividades temporariamente” ou estão trabalhando em home office.
A construtora afirma tomar medidas como o monitoramento de temperatura e sintomas gripais na entrada e saída dos canteiros de obras, uma “higienização diferenciada” nos refeitórios e escalas para reduzir a circulação nos plantões de venda.
Hoje, a MRV tem 22 mil funcionários em todo o país. No fim de março, anunciou sua adesão ao pacto “60 dias sem demissões”. É um alento e uma garantia (temporária, pelo menos) de estabilidade em meio a tanta incerteza.
No mundo pós-Covid-19 (se é que o “pós” se aplica…), a inovação pode vir a ser um fator ainda mais crucial para a sobrevivência das empresas e a geração de renda e emprego. Assim, vale reforçar a mensagem: instigar os colaboradores a saírem do “piloto automático” é fundamental.
“Qualquer profissional é capaz de inovar”, diz Flávio. “Antes de pensar na tecnologia, as equipes precisam olhar para dentro. Quais são as necessidades? O que é relevante para a área no curto, médio e longo prazo?”
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