“Uns dois anos atrás, eu comecei a questionar onde iríamos parar, já que tudo hoje é compartilhado e faz parte da economia colaborativa. E percebi que a nossa empresa poderia estar morta em dez anos”, diz Fernando Ribeiro dos Santos. Até então, ele diz, a Netza, da qual é sócio, era uma agência tradicional de publicidade com contas parrudas como Volkswagen, Vivo, Mercedes, Nestlé e Boticário. Mas até quando? “Eu não tinha algo diferente para oferecer aos clientes nas concorrências. Em dez anos, a Netza não seria uma agência atraente.”
Fernando criou a Netza em 2000, junto com sua irmã Fabiana Schaeffer, diretora de operações. Ao enxergar esse futuro sombrio, e analisando as movimentações do mercado de publicidade na Europa e nos Estados Unidos,sentiu que precisava sair um pouco do dia a dia da agência e investigar o ecossistema de startups, até então desconhecido para ele. “Passei a frequentar eventos em espaços de inovação como o Cubo e o Oxigênio Aceleradora, e a participar de Demo Days.”
Do mergulho nesse “admirável mundo novo”, Fernando e Fabiana começaram a identificar e apostar em oportunidades paralelas. Conversando com especialistas da área de eventos, em que o Brasil ganhou alguma expertise com as recentes Copa e Olimpíadas, os sócios decidiram investir na Tezva, especializada em cenografia.
A Tezva começou a operar em março de 2018 e, em poucos dias, beneficiando-se da conexão com a Netza (que trabalha com a indústria automobilística há 12 anos), ganhou sua primeira concorrência para montar os estandes da Mitsubishi e da Suzuki no Salão do Automóvel. Realizado em novembro, o evento atraiu 742 mil visitantes em 11 dias no São Paulo Expo. Fernando explica:
“A Tevza ganhou porque entregou mais do que um orçamento de projeto de estande. Entregou, também, conteúdo e a ideia de uma coletiva de imprensa interativa. E isso só aconteceu pois fizemos em conjunto com a Netza”
Por conta desse trabalho, a agência de publicidade voltou a trabalhar com a Mitsubishi após um hiato de cinco anos, assumindo a campanha de lançamento da nova versão do Pajero Sport.
Outra ideia que fez brilhar os olhos dos irmãos em 2018 foi trazida por Yuri Saiovici, um primo que voltara da Espanha empolgado com um conceito que conhecera lá. E assim surgiu, em abril do ano passado, a Popspaces, uma espécie de Airbnb de espaços comerciais ociosos, conectando donos de lojas físicas com clientes de curto prazo. Eles tiraram ainda do papel uma terceira startup, a Let’z Content, que funciona como um braço da Netza para desenvolvimento de conteúdo.
OS DEPARTAMENTOS DERAM LUGAR A TIMES MULTIDISCIPLINARES
Paralelamente, a dupla de sócios-irmãos implementava um “terremoto” na Netza. O modelo de squads celebrizado pelo Spotify teria sido a inspiração para colocar abaixo o formato tradicional de departamentos (atendimento, planejamento, criação e operação). Eles derrubaram essa estrutura e criaram cinco unidades independentes, multidisciplinares, que trabalham por projetos.
São dois grupos especializados em eventos (devido à grande demanda nessa área), um grupo focado em conteúdo, uma equipe de gerenciamento e análise de dados e, por fim, um time focado em prospecção e novos clientes. Cada equipe tem no máximo 20 pessoas e autonomia para fazer contratações (de pessoas e serviços) e disparar pedidos e propostas de orçamento — inclusive para agências concorrentes.
Os únicos pontos de interseção são o departamento financeiro e o “centro de tecnologia”, que dá suporte de desenvolvimento de softwares e de inovação — e deve se tornar, também, uma unidade de trabalho independente até o fim deste ano.
A reestruturação ocorreu em março. Mudanças foram implementadas para impulsionar a transição: 35% do time foi trocado e o número de colaboradores cresceu 10%. No início, diz Fernando, houve ciúme e estranhamento entre funcionários que atendiam determinadas contas.
“Entendemos que o cliente não é uma propriedade. É um objeto vivo que vai mudando a cada dia”
Fernando diz que as mudanças trouxeram eficiência e agilidade, permitindo às equipes estudar o cliente com mais profundidade e trazer um olhar do que vem sendo feito de inovador lá fora. Um resultado desse novo modelo seria a conquista de uma concorrência para realizar eventos ligados aos dois principais lançamentos de caminhões e vans da Mercedes em 2019. “A Mercedes é um cliente antigo, mas fazia anos que não trabalhávamos para o segmento de caminhão e vans do grupo.”
O NOVO PASSO: CRIAR UMA ACELERADORA PARA FOMENTAR STARTUPS
A Netza estima crescer 25% em 2019, sobre um faturamento de 60 milhões de reais no ano passado. As startups também vão bem (os irmãos têm uma participação de 15% a 20% em cada negócio). A Tezva faturou 6 milhões de reais em 2018 e Fernando estima um aumento em 35% este ano. A Let’z Content faturou 2 milhões de reais em 2018 e deve fechar 2019 com 3,8 milhões de reais.
A Popspaces, por sua vez, prevê faturar 600 mil reais. Seu grande case ocorreu na edição da Parada do Orgulho LGBT deste ano. A startup idealizou e organizou o casamento de quatro casais em um escritório do WeWork, onde um cartório pop-up foi montado. Na sequência, a festa rolou em cima do trio elétrico, ao lado da drag queen Tchaka, da apresentadora Fernanda Lima, madrinha da parada deste ano, e diante dos milhões de participantes.
A ação começou pela Popspaces, que engajou a WeWork e acionou a Netza para pensar em estrutura de cenografia, assessoria de imprensa, DJ etc. “É isso que nós queremos fazer: conectar pessoas e negócios, cada vez mais”, diz Fernando.
O grupo acaba de dar um grande passo nessa estratégia de afinar conexões entre negócios e potencializar o cross-sell. Com um investimento de 1,5 milhão de reais, os irmãos estão lançando a Circle, híbrido de aceleradora e coworking que engloba a Netza e as três startups (totalizando 150 pessoas) em um imóvel de 1 000 m², no Morumbi. E a expectativa é que o espaço abrigue em breve novas empresas — a ideia é acelerar até dez startups no primeiro ciclo, sempre com foco na indústria do marketing.
O programa de aceleração da Circle está previsto para começar em agosto. Os valores de investimento por startup serão os mesmos recebidos pelas três empresas que já estão “dentro de casa” (de 200 mil reais a 250 mil reais, cada). Os projetos terão assessoria administrativa, financeira, fiscal e jurídica, além de mentorias e oportunidades para networking. O apoio à gestão dessas novas empresas é crucial, diz Fernando:
“Nos Estados Unidos, uma startup pode demorar cinco anos para dar retorno. No Brasil, não. Ela precisa dar retorno em um ano. O custo do nosso dinheiro é muito alto. Por isso, decidimos entrar na gestão também, pois não temos chance de errar”
Na outra ponta, o empreendedor afirma que os clientes precisam entender esse novo formato.
“Eles gostam da ideia, mas querem ver isso ocorrer na prática. Eles estão acostumados com concorrência que entrega um pacote. E eu quero que eles entendam que, aqui, é uma espécie de prateleira que eles podem escolher, também, só um braço: só conteúdo, só montagem, só tecnologia ou só vendas.”
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