O uso de alumínio pelas montadoras do setor automotivo já é consolidado em diversos países e essa solução começa a ganhar mais espaço no mercado brasileiro. Isso porque o mundo vem vivendo uma evolução do ecossistema de mobilidade e novas soluções são demandadas para atender às questões de sustentabilidade e segurança.
Entretanto, o uso do alumínio no setor não é novidade: o material surgiu como possibilidade de aplicação desde o início dos anos 1900. Em 1907, estava presente nos carros nobres e, mais para frente, passou a compor o capô do Lincoln com produção em larga escala. Em países como Estados Unidos e Alemanha, se consolidou e foi potencializado. Se no início era uma alternativa para algumas peças, com o passar do tempo foi se tornando a principal escolha para uma produção mais sustentável de muitos componentes, do motor à carroceria.
A evolução do material por automóvel é notável na América do Norte, por exemplo. Em 1975 eram aplicados 38 kg de alumínio por carro e, em 2022, esse número subiu para 227 kg.
“Porém, no Brasil, estamos próximos de 60 kg até hoje. Ou seja, há uma enorme oportunidade por aqui”, aponta o engenheiro Oliver Toribio, da Novelis, empresa líder na produção de alumínio plano laminado e a maior recicladora de alumínio do mundo.
Ainda olhando para fora, nas últimas décadas, com as normas de emissão de carbono cada vez mais rigorosas, muitas montadoras passaram a buscar alternativas que cumprissem as exigências sem comprometer o desempenho e a segurança dos veículos. Nesse sentido, a Ford saiu à frente, redesenhando sua picape mais vendida, a F-150, com a troca dos painéis e da carroceria de aço por alumínio leve fornecido pela Novelis.
Na mesma esteira, a inglesa Jaguar Land Rover incorporou o alumínio em seu design e processo de fabricação, reduzindo a massa da carroceria, melhorando a eficiência do combustível e minimizando o impacto ambiental. E, para se tornar ainda mais sustentável, recorreu ao material de alto teor reciclado da Novelis.
A demanda vem crescendo por diversos motivos: automóveis montados com alumínio são mais leves, mais seguros e sustentáveis. Em relação ao peso, a aplicação do alumínio deixa o carro mais leve, o que gera ganhos em eficiência energética e redução de emissões de CO2.
Na comparação com o aço, na substituição de 1kg desse material, o alumínio proporciona uma redução de até de 16 kg de CO2.
“E a cada 10% de peso reduzido, há um ganho de aproximadamente 6% de eficiência”, explica Oliver.
Isso sem contar que o alumínio tem um enorme potencial de reciclagem por ser um material infinitamente reciclado. A Novelis utiliza maior teor do material reciclado em suas ligas especiais, cumprindo uma agenda de sustentabilidade. Para se ter uma ideia, 1 tonelada de alumínio reciclado economiza 95% de energia elétrica em relação à produção de alumínio primário e reduz em 70% as emissões de GEE.
“Já na questão da segurança, ensaios de impacto comprovam que o alumínio é capaz de absorver até duas vezes mais energia em caso de batida, transmitindo menos impacto ao cockpit”, aponta Solange Akiama, gerente de Excelência Comercial e Marketing da companhia.
No contexto nacional, as montadoras já usam o alumínio nos blocos e cabeçotes de motor, rodas e trocadores de calor, por exemplo, e estão começando a olhar para aplicações estruturais e de segurança, pensando no menor consumo de combustível e redução de peso.
Entretanto, os desafios da transição para o alumínio incluem a necessidade de inovação e tecnologia na cadeia produtiva. Isso porque, para que as indústrias consigam mover a produção e se adaptar para a entrada do alumínio, será preciso mexer na linha de produção, na ferramentaria e trazer conhecimento aos profissionais.
Para tanto, é fundamental contar com incentivos. Substituindo o antigo Programa Inovar-Auto, o Governo Federal trabalha atualmente o Programa Rota 2030 – Mobilidade e Logística, parte da estratégia para desenvolvimento do setor automotivo no país. Tendo em vista as profundas mudanças no setor, um dos pilares do programa é a sustentabilidade.
As propostas caminham no sentido do incentivo à inovação, com políticas que estimulem aspectos fundamentais como o aumento da eficiência energética, emissões e segurança, elevando a competitividade do nosso mercado com os mais desenvolvidos.
“O Brasil vai entrar nessa transformação. Com a exigência maior por eficiência e menos emissões, certamente vai haver a transição para os modelos mais populares”, justifica Solange.
Em muitos países, essa transformação aconteceu com a exigência legal, mas no Brasil o tema ainda está em discussão, uma vez que a legislação está em fase de implementação e definição das metas.
“Entretanto, muitas montadoras estão atentas e já vêm nos procurando para começar a aprender e se preparar para o futuro”, comenta Solange.
Nesse sentido, a Novelis atua como um parceiro na estratégia de sustentabilidade dos clientes e também vem exercendo um papel importante, jogando luz sobre o tema, oferecendo palestras, participando de simpósios, seminários e contribuindo para os debates que levam conhecimento sobre o uso do alumínio no setor automotivo.
“Estamos fazendo um trabalho de sensibilização para que a indústria esteja preparada para o que virá, como o que aconteceu lá fora. Estamos mostrando que é preciso se antecipar, se preparar, treinando junto com sistemistas e montadoras para esse momento. Estamos nesse caminho”, afirma o engenheiro.
Os especialistas comentam que, com a chegada da eletrificação no Brasil, espera-se uma grande mudança de cenário. Os motores elétricos devem revolucionar a produção dos carros nacionais e o alumínio vislumbra uma enorme oportunidade nesse contexto.
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