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A Nutrebem pivotou para virar uma fintech e gestora de alimentação saudável em cantinas escolares

Priscilla Santos - 8 maio 2019
Além de manter os responsáveis antenados sobre a qualidade nutricional do que os filhos comem no recreio, Henrique quer que a Nutrebem ajude os estudantes a gerenciarem o dinheiro do lanche.
Priscilla Santos - 8 maio 2019
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O engenheiro mecânico Henrique Mendes, 47, trabalhou por 16 anos na Ambev, sete deles no exterior, quando esteve responsável por instalar a operação de vendas da empresa na República Dominicana e no Equador. Mas foi durante um período sabático que os alimentos e bebidas se tornaram de verdade o negócio da sua vida — e agora com um olhar atento para o tema da nutrição.

Após deixar a Ambev, Henrique tornou-se investidor-anjo de startups. Uma delas (que hoje atende por Nutrebem, mas na época tinha outro nome) oferecia um sistema de gestão de cantinas escolares com o uso de cartão para registro de consumo — similar ao encontrado em padarias com catraca, em que uma comanda é retirada e depois depositada em uma urna, liberando a saída após o pagamento.

O negócio estava à beira da falência quando, em 2014, o fundo de investidores Confrapar convocou Henrique para tocar a startup, que havia começado com um aporte de 350 mil reais. “Foi aí que conheci o conceito de pivotar”, diz.

“Levantamos uma grana para manter a startup rodando por mais um ano e mudamos o modelo de negócios, focando em tecnologia e nutrição”, conta o empreendedor, que a essa altura já era pai de dois filhos (hoje com 6 e 11 anos) e se preocupava com o que as crianças comiam em casa e na escola.

MUDANDO O RUMO PARA FOCAR EM NUTRIÇÃO E EDUCAÇÃO FINANCEIRA

A Nutrebem passou, então, a se posicionar com uma fintech e gestora da qualidade da alimentação infantil. O negócio está presente em 200 colégios privados do país (a maioria em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais).

O sistema da Nutrebem promete menos filas nas cantinas na hora das crianças comprarem os lanches.

Cerca de 150 mil alunos usam o cartão pré-pago da empresa em que os pais colocam crédito em dinheiro para os filhos fazerem suas compras na cantina da escola.

Em um terminal próprio, o estudante passa o cartão e um menu aparece com as opções de lanche. O valor da refeição é debitado e o usuário retira a ficha para pegar o alimento na cantina.

Mesmo se estiver sem o cartão, o aluno pode digitar o login e senha na tela do totem de vendas e fazer a compra normalmente. “Cada vez mais nos tornamos uma conta virtual”, diz Henrique, que prevê chegar a 300 escolas (um aumento de 50% na base de clientes) até o fim de 2019.

Os pais podem limitar o gasto financeiro diário dos filhos e acompanhar o que eles comem “em tempo real”, via site e aplicativo. É possível bloquear ou restringir o consumo de produtos (por exemplo, liberando o bolo de chocolate somente às sextas-feiras). Henrique afirma:

“O dinheiro da cantina é o primeiro recurso financeiro que a criança vai lidar na vida. Às vezes o pai dá 40 reais para o lanche, mas ele quer que o filho gaste na cantina da escola, e não no jornaleiro ou no baleiro”

Pelo lado das cantinas, a primeira vantagem seria a redução do tempo nas filas. Como a maior parte das lanchonetes em escolas ainda trabalha com dinheiro em espécie, o processo de compra de um lanche duraria, em média, 45 segundos.

Com a ficha retirada diretamente no totem da Nutrebem, esse tempo cai, segundo Henrique, para 12 segundos, fazendo a fila andar quase quatro vezes mais rápido. “O que as crianças também adoram, pois sobra mais tempo para brincar no recreio.”

ANÁLISE DE DADOS A FAVOR DE UM LANCHE FELIZ

Para além dessa questão logística, há uma “dor” dos pais com as cantinas escolares que a Nutrebem quer ajudar a resolver: a qualidade dos produtos oferecidos.

Por isso, Henrique montou uma equipe de nutrição interna e criou um sistema de catalogação de produtos comumente oferecidos nesses estabelecimentos.

“Usamos como base o Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, e diretrizes internacionais para criarmos uma nota para cada produto. Publicamos a classificação por nível: baixo, médio e alto teor nutritivo”

Atualmente esses sistema encontra-se automatizado. O trabalho é feito por algoritmos a partir das informações dos nutrientes nos rótulos dos produtos.

Com o objetivo de incentivar as cantinas a escolher alimentos que sigam essa proposta, a startup dá acesso exclusivo para os clientes a uma plataforma com 5 mil produtos já classificados pela própria Nutrebem com o teor nutritivo.

Ao entrar no app, a primeira coisa que o pai vê é a chamada roda nutritiva, um gráfico no formato circular que permite visualizar rapidamente se o filho anda comendo alimentos pouco, muito ou medianamente nutritivos.

Segundo Henrique, a ideia não é gerar repressão, mas sim conversa em casa. E educar as crianças para fazer as escolhas alimentares certas:

“O aluno deveria saber decidir melhor. Pois quando sai da escola, está na padaria, na loja de conveniência. Então precisa aprender a escolher em um ambiente de diversidade e não de restrição”

De certa forma, o apetite por informação também precisa ser comedido. O empreendedor conta que a Nutrebem chegou a criar um boletim supercompleto com a análise nutricional de tudo o que o aluno havia consumido naquele mês, item por item, para enviar aos pais. Parecia uma boa ideia, mas não deu certo:

“Tinha cerca de 85 informações e a taxa de abertura foi de apenas 7%. Foi a maior decepção, então pensamos: não é possível que os pais não queiram saber essas coisas. Mas era informação demais.”

Agora, a empresa envia um e-mail mais comedido, um informativo semanal sobre o consumo na forma de um gráfico. Se o pai quiser saber mais, basta clicar para, aí sim, visualizar as informações de maneira mais minuciosa. “Nossa taxa de abertura foi para o céu e ainda se mantém nos 45%.”

UM CRESCIMENTO SAUDÁVEL TAMBÉM PARA A EMPRESA

A Nutrebem acaba de receber 5 milhões de reais da Kviv Ventures, que se junta à Confrapar e Barn como acionistas da empresa. Essa é a terceira rodada de investimento recebida pela startup, que já captou ao todo 15 milhões de reais.

O faturamento mensal, cerca de 300 mil reais, vem de três fontes: aluguel dos terminais de vendas para as cantinas; taxas (de 2,25% a 2,9%) sobre comercialização de alimentos; e taxa de serviços para os pais (para colocar valores no cartão da criança usando cartão de crédito ou boleto é cobrada uma porcentagem de 5,75%).

Pelo app da Nutrebem, os pais podem conferir o que os filhos estão consumindo no recreio.

Existe ainda a opção de recarregar o cartão usando dinheiro, o que é feito de forma gratuita. A criança ou o pai acerta o valor em espécie com o operador da cantina que libera o crédito na conta digital do aluno.

O repasse das vendas para as cantinas é feito semanalmente, mesmo que a Nutrebem ainda não tenha recebido o dinheiro da operadora do cartão. “Não quero levar essa variável para a cantina, se não vão querer voltar a usar só dinheiro.” 

E explica: “As coisas se compensam. Pois, ao mesmo tempo em que um pai paga com cartão de crédito, outro coloca 100 reais em dinheiro e só consome 25 reais naquela semana. Então, fico com 75 reais de custódia.”

O empreendedor diz lidar bem com as férias escolares, quando o faturamento vai a zero:

“Todo negócio tem o lado cheio e vazio do copo. O e-commerce, por exemplo, no primeiro dia de cada mês sai do zero. Precisa reconquistar todos os clientes — quem já comprou, por que vai recomprar naquele mês?”, diz Henrique. “O meu negócio, não. Tem recorrência. Não tenho que ficar ‘laçando cliente’ diariamente. Meu esforço vai para o atendimento, ter uma operação rodando bem e conquistar clientes novos.”

Os terminais de compra da startup foram desenvolvidos pela equipe de tecnologia da Nutrebem para reduzir custos, inclusive de repasse para as cantinas. “No Brasil os terminais são muito caros. Esses de check in em aeroportos custam cerca de 15 mil reais ou são alugados por 2 mil reais mensais. Nenhum operador de cantina pagaria isso.”

A empresa também mantém uma equipe própria para manutenção dos aparelhos (“estragou, trocamos na hora”). O aluguel cobrado pela Nutrebem, que tem hoje 315 terminais espalhados por cantinas, é de 449 reais mensais. Os aparelhos funcionam on e offline. Assim, se a internet cair, não há prejuízos para as vendas.

O empreendedor afirma que a Nutrebem está no caminho de se tornar uma conta digital – e não apenas um cartão pré-pago. Além de já ser possível fazer a compra no terminal digitando apenas o login e senha, a empresa está lançando agora outra novidade: o uso do celular para adquirir produtos na cantina.

O aluno irá escolher o alimento por um aplicativo no celular, que irá gerar um QR Code. Depois é só passar no terminal próprio (outro desenvolvido pela Nutrebem) e escanear o código para pegar o ticket. O processo, promete Henrique, levará três segundos, tornando-se ainda mais rápido do que hoje. “Além disso, o aluno passará a ter acesso via app à classificação nutricional do que está comendo, o que hoje só está disponível no aplicativo para os pais.”

O aprimoramento de produtos é possível na Nutrebem, em parte, devido à equipe de nutrição e tecnologia ser interna. Mas nem sempre foi assim. Uma das principais dificuldades no início da empresa foi acertar no recrutamento.

“Tudo termina passando por gente. Tem um ditado americano que diz: ‘Quer resolver um problema grande? Tem que ter neurônios e recursos’.”

Com a equipe afinada e os 5 milhões de reais recebidos na última rodada de investimento, Henrique quer fazer jus ao ditado. A fome por inovação, ao menos, é constante.

DRAFT CARD

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  • Projeto: Nutrebem
  • O que faz: Cartão pré-pago e conta digital para compras em cantinas escolares
  • Sócio(s): 6 sócios atuantes; 10 sócios externos (sendo 3 fundos de investimento)
  • Funcionários: 24
  • Sede: Rio de Janeiro
  • Início das atividades: Abril de 2014
  • Investimento inicial: R$ 350.000
  • Faturamento: R$ 300.000 mensais, em média
  • Contato: [email protected]
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