“Nunca tive vontade de ter meu próprio negócio”, diz Lígia Massabki, 35. “Mas quando cheguei aos 30 anos, tive uma crise e comecei a pensar que não queria ficar a vida inteira trabalhando para alguém, batendo ponto e tendo horário.”
Lígia é arquiteta de formação. Antes de empreender, atuou em escritórios e construtoras de Curitiba e Balneário Camboriú (SC). Hoje, ela é dona da Pablita, uma marca curitibana que se apoia no conceito de upcycling (a reutilização criativa de produtos que já estão no mercado) para produzir anéis, brincos e colares a partir de revestimentos descartados pela construção civil, principalmente pastilhas de vidro.
A marca nasceu em 2018. Lígia já sondava o funcionamento de e-commerces e foi pesquisar que tipo de produto poderia vender pela internet. Chegou assim à ideia dos acessórios, algo que ela já consumia e que poderia “conversar” com a linguagem da arquitetura.
O nome foi inspirado no cachorro da arquiteta, o Pablo, um pug de 2 anos. “Eu o chamo de Pablito. Como queria algo forte, marcante e com significado pra mim, cheguei em Pablita, que tem tudo isso e ainda tinha domínio e redes sociais disponíveis.”
SEM QUERER, O UPCYCLING SE TORNOU UM VALOR FUNDAMENTAL
Lígia busca a matéria-prima em obras da cidade, a partir do contato com arquitetos que ela conhece, e no setor de mosaico das lojas de material de construção, que vendem a preços baixos pastilhas de mostruário e itens que apresentam pequenos defeitos.
“As pastilhas de vidro são comercializadas em telas de 10×10 metros. Se uma peça da tela estiver lascada ou riscada, já não é usada pelos arquitetos. Para mim funciona porque posso descartar a pastilha com defeito e usar todas as outras.”
Os colares, brincos e anéis são criados a partir do material que ela tem em mãos. A combinação de formas e cores resulta no estilo geométrico e escultural da Pablita, que Lígia criou para se aproximar da sua área de formação. O preço das peças varia de 49 reais (anel) a 89 reais (colares).
O reaproveitamento de materiais surgiu porque as primeiras peças foram feitas usando pastilhas de mostruários antigos e restos de obras que a arquiteta já tinha em casa.
“A marca não nasceu porque eu queria fazer upcycling. Isso veio quando eu já estava criando as peças e acabou se tornando um valor fundamental e nosso principal conceito”
Lígia acabou estendendo o conceito às embalagens, que podem ser reaproveitadas pelos clientes: uma caixa de MDF personalizada com o logotipo da marca e uma ecobag, usada para embalar as peças nas feiras.
EMPREENDER EXIGIU FOCO E A AQUISIÇÃO DE NOVOS APRENDIZADOS
Para lançar a Pablita no mercado, Lígia precisou de seis meses de planejamento, período em que se dividiu entre o emprego e a construção da marca.
O investimento inicial foi de 10 mil reais, que ela usou para construir o site, comprar material para as primeiras peças e ter uma consultoria especializada em marketing digital e e-commerce. “Precisava organizar as minhas ideias, que estavam muito largadas.” Um mês depois de lançar o site, Lígia teve de deixar o emprego para se dedicar integralmente ao novo negócio:
“Achei que com o e-commerce rodando, o negócio ia andar sozinho e eu poderia continuar com as minhas funções de arquiteta por um tempo. Mas tudo aconteceu rápido demais e eu precisei escolher onde focar para não fazer as duas coisas mal feitas.”
Trabalhando sozinha, ela corria atrás de matéria-prima, produzia as peças, fotografava, colocava no site, vendia, emitia nota fiscal e ia ao correio.
“Como meu trabalho como arquiteta sempre foi mais técnico e eu ficava atrás do computador, aprender a vender, negociar e me relacionar com os clientes foi, e ainda é, o maior desafio dessa jornada”
Ela diz que está curtindo a experiência de trabalhar por conta própria, sem carteira assinada: “Acordo muito mais motivada por estar correndo atrás de uma marca que eu inventei. É diferente de correr atrás do sonho de outra pessoa, de uma empresa. E as coisas estão dando certo, o que me motiva a continuar”.
EXPONDO OS ACESSÓRIOS EM FEIRAS, LOJAS E MUSEUS
Em 2018, Lígia levou a Pablita para feiras de produtos artesanais em Curitiba. Foi uma forma de ter um contato mais próximo com os clientes, ouvi-los e entendê-los.
Este ano, porém, ela mudou a estratégia. O foco, agora, é colocar os produtos em lojas conceito. Em Curitiba, as peças são vendidas nas lojas do Museu Oscar Niemeyer e da Ópera de Arame, dois dos principais pontos turísticos da cidade, e também no Espaço Moko, no Shopping Estação, e na Balaio de Gato Brechó, no Centro.
Agora, a empreendedora busca estabelecimentos parceiros em outras cidades, principalmente São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, mercados que pretende conquistar ainda este ano.
“Já estou nos principais pontos de Curitiba. Agora tenho o desafio de estruturar uma operação para levar a Pablita a outras capitais”
Para atender à nova demanda, Lígia contratou três pessoas que trabalham de casa e são remuneradas por peça produzida. Com isso, das 70 peças mensais que ela fabricava sozinha, a produção saltou para 200 unidades por mês. “E ainda não estamos operando com a capacidade toda. Podemos produzir mais, gradualmente.”
COMO CRESCER SEM ABRIR MÃO DO VALOR CENTRAL DA MARCA
A jornada empreendedora de Lígia mostrou que o e-commerce, sua ideia inicial, não era o melhor canal para o seu negócio. Hoje, as vendas pelo site representam pouco para o faturamento do negócio (de 7 mil reais por mês, em média).
Em 2018, a maior parte das transações se deu em feiras. Hoje, cerca de 80% do faturamento vem das parcerias com lojas de Curitiba. Estar em dois pontos turísticos importantes, o Museu Oscar Niemeyer e a Ópera de Arame, espaços conhecidos pela arquitetura arrojada (com a qual a marca se identifica), contribui para o sucesso das vendas.
Por outro lado, um obstáculo para a comercialização online é justamente a dificuldade de se produzir peças iguais, devido ao uso de matéria-prima reaproveitada.
“Isso é um diferencial, mas é também um dos motivos pelos quais minha loja virtual não é a principal fonte de receita. É demorado e trabalhoso colocar a foto das peças no e-commerce e não compensa muito porque não tenho estoque. Então, a maioria dos acessórios não está online, mas nas lojas.”
Essa limitação imposta pelo upcycling é um ponto a ser avaliado quando Lígia pensa em como escalar o seu negócio. A empreendedora quer que a Pablita cresça, mas sem abrir mão da sua essência:
“Vai chegar um momento em que não vai ter tanta peça de reaproveitamento para suprir a minha demanda. Se eu começar uma mini fábrica para produzir pastilha de vidro, perco o meu conceito.”
Nossa vida ultraconectada gera uma montanha de lixo eletrônico. Diante desse cenário, Rodrigo Lacerda criou a Händz, que produz cabos, carregadores, fones e caixas de som com materiais como algodão, bambu, cortiça e grãos de café.
Os irmãos Bruno e Thiago Rosolem queriam levar mais brasilidade ao mercado plant-based, mas não sabiam como. Até que um hit de Alceu Valença trouxe a resposta: aproveitar uma matéria-prima desprezada pela indústria, a fibra do caju.
Ligia Aquino era a paciente; Mayara Boaretto, a obstetriz e herbalista. Hoje, as duas são sócias à frente da Iamaní, que cria blends de chás orgânicos para ajudar na amamentação, na TPM e na menopausa (e a melhorar o sono e o metabolismo).