“Despanelizar” o recrutamento. Ou seja: acabar com a “panelinha”, dando oportunidades, na busca por um emprego, a candidatos que não têm alguém que os indique para aquela vaga dos sonhos. É assim que o CEO Tiago Yonamine, 34, define a proposta do Trampos, que nasceu no Twitter em 2008 e virou negócio em 2012.
Na época da primeira reportagem do Draft, em 2015, o Trampos havia acabado de receber um aporte da gestora de fundos de investimento Evolution Partners, mas o mercado de recursos humanos ainda era dominado por players tradicionais, como Catho e Robert Half.
“Nossa missão ainda era convencer as empresas de que vale a pena investir para conseguir novos talentos e de que a nossa abordagem descolada funciona”, lembra Tiago.
O modelo de geração de receitas do Trampos funcionava então de forma bem parecida com o dos classificados de jornais: a empresa contratante simplesmente comprava um espaço — no caso, um espaço online, que ficava no ar durante 30 dias e depois sumia. Assim, não havia previsibilidade de receita ou garantia de que os clientes retornariam.
“Havíamos chegado num platô. Mesmo que conquistássemos novos clientes, não conseguíamos aumentar o nosso impacto no mercado”
De lá para cá, as novidades foram muitas. O Trampos mudou seu modelo de negócio, criou um braço de educação com aulas presenciais, firmou parcerias e aumentou os números de empresas e de profissionais em sua base, que cresceram respectivamente 90% e 120%. Atualmente, há mais de 5 300 companhias utilizando a plataforma e 398 mil candidatos cadastrados.
“Hoje, já estamos estabelecidos. Inclusive, não temos mais apenas agências de publicidade e comunicação como clientes, mas também grandes companhias tradicionais, como Bradesco, Ambev e Danone.”
O SISTEMA DE ASSINATURAS AJUDOU A ALAVANCAR O FATURAMENTO
A ascensão dos millennials — aquela turma nascida entre o início da década de 1980 e o fim dos anos 1990 — e sua chegada ao mercado de trabalho são, na visão de Tiago, a principal força por trás da mudança de mentalidade das empresas em relação às contratações. “Como o perfil dos candidatos mudou, o modo de buscá-los também teve que mudar.”
Para aproveitar essa onda e potencializar seu impacto, o Trampos transformou seu modelo de negócio, implementando um sistema de assinatura mensal que dá às empresas clientes o direito a funcionalidades como publicação de vagas, busca ativa de talentos e páginas de carreiras customizadas e integradas com o site institucional da companhia.
O preço muda de acordo com o número estimado de contratações no período e começa em 350 reais mensais (para pequenos negócios). “O investimento varia de acordo com o perfil de cada empresa. Nossos especialistas fazem um diagnóstico do processo de recrutamento dos clientes e sugerem o plano que melhor se adequa a cada um deles”, diz Tiago. Os pagamentos recorrentes ajudaram a alavancar o faturamento, que hoje cresce em média 20% ao mês.
O cadastro de profissionais na plataforma é gratuito; há a opção de assinar o serviço Prime (R$ 14,99 mensais) em troca de maior relevância nos resultados da busca ativa e do Caesar, o sistema de gerenciamento de candidaturas do Trampos.
Assinantes do Prime têm ainda 5% de desconto no Trampos Academy, braço criado em 2016 para oferecer aulas presenciais de comunicação e tecnologia para os profissionais cadastrados no serviço. A plataforma responde hoje por 30% das receitas do Trampos.
“A ideia é ajudar os candidatos a se adequarem às vagas que gostariam de ocupar”, diz Tiago. Mais de 1 500 alunos já assistiram às aulas. O portfólio inclui 19 cursos, como “Jornalismo de dados” e “Business Intelligence para Marketing e Publicidade”. Os valores variam. O curso de “Storytelling para marcas”, por exemplo, com três aulas no inovabra habitat a partir de 25 de junho, custa 780 reais.
Uma estratégia que ajudou a impulsionar os números de empresas e profissionais cadastrados foi estabelecer parcerias com órgãos públicos e coletivos independentes (caso do Afroguerrilha, composto por jovens negros que usam a comunicação como instrumento de resistência).
Uma dessas parcerias foi firmada no fim do governo Michel Temer com o Ministério da Cidadania. “É uma iniciativa para inserir no mercado de trabalho alunos brilhantes da rede pública que recebem Bolsa Família”, diz Tiago.
ENCARANDO O RECRUTAMENTO COMO UM PROCESSO CONSTANTE
Um desafio hoje é convencer as empresas de que o recrutamento deveria ser encarado como um processo permanente (em vez de pontual). Essa abordagem permitiria inclusive um conhecimento maior sobre a média salarial e o perfil dos profissionais contratados pela concorrência.
“Geralmente, as empresas só pensam em recrutamento quando entra um novo projeto ou algum funcionário é desligado. E aí os recrutadores precisam correr contra o relógio para encontrar o profissional desejado”
Nesse contexto de urgência, diz Tiago, não é incomum realizar contratações equivocadas, que podem gerar um alto custo mais tarde. O empreendedor sugere que a melhor tática é manter o monitoramento constante do mercado e realizar seleções periódicas para formar um pool de talentos. “Assim, quando for necessária uma contratação, o recrutador já tem profissionais que podem ser acionados para uma conversa.”
Para o futuro, Tiago vislumbra aproveitar a experiência com profissionais da áreas de Comunicação e Tecnologia para ajudar empresas de outras áreas nas suas transformações digitais. “Atualmente, até um profissional de contabilidade precisa saber de banco de dados, de comunicação. Com os negócios, é a mesma coisa”.
As mudanças na vida de Tiago também foram grandes no plano pessoal. Nos últimos anos, ele se casou e mudou para mais perto do trabalho. “Costumava perder mais de duas horas por dia no trânsito. Agora, moro no Centro de São Paulo e tenho mais tempo para tudo.”
Quatro anos atrás, na época da primeira reportagem, ele ainda “estava aprendendo a ser empreendedor”. Acredita, hoje, ter amadurecido um bocado no período. Perguntado sobre o que faria diferente se pudesse voltar atrás, Tiago hesita um pouco antes de responder:
“Às vezes, penso que deveria ter feito um milhão de coisas de outra forma. Mas, ao mesmo tempo, foram as decisões que tomei que me trouxeram até aqui. Então, não mudaria nada.”
Produtividade tem tudo a ver com saúde mental, e isso ficou ainda mais claro em tempos de pandemia e burnout. Saiba como a MindSelf ajuda grandes corporações e seus colaboradores através de meditação e mindfulness.
A Covid-19 acelerou a adoção do home office, mas o conceito de trabalho remoto vai muito além. Saiba como a Officeless prepara empresas para se tornarem “remote first”, com times mais produtivos e satisfeitos.
A digitalização é um caminho sem volta, e o setor de cosméticos não é exceção. A Sallve aposta na cocriação com os consumidores para o desenvolvimento de produtos – e quer cativar as gerações Y e Z na briga pela liderança no setor de beleza.