Dois anos atrás, o Draft contou pela primeira vez a história do Pulse. Na época, o hub de inovação da Raízen, gigante produtora de açúcar, etanol e bioenergia, contabilizava 38 startups e 54 projetos-piloto.
De lá para cá, o hub integrou mais duas dezenas de startups — agora são 58 — e o número de projetos-piloto chegou a 93, um salto de mais de 70%. Um indício de que a pandemia não parou o Pulse (ainda que tenha impedido, por um tempo, a operação presencial).
Segundo a Raízen, o hub localizado em Piracicaba – cidade paulista com a fama de “Vale do Silício do agronegócio” – movimentou 17,5 milhões de reais em retorno financeiro apenas no último ano-safra, totalizando 35 milhões de reais em impacto.
Diretor de TI e digital na Raízen, José Massad afirma que o hub vem tendo papel central na consolidação de negócios voltados para agtech dentro do contexto brasileiro:
“A gente conseguiu contribuir para a evolução e desenvolvimento do ecossistema como um todo. Não só startups, mas também universidades e investidores”
O Pulse, diz Massad, já é parte essencial dos negócios e da infraestrutura da empresa, que distribui combustíveis tanto para clientes B2B quanto no varejo pela rede de postos Shell. Agora, a Raízen busca diversificar os ramos de atuação do hub.
Engenheiro de formação, Massad está na Raízen desde 2011. Ao longo de uma década, viu de perto o desenvolvimento do Pulse, primeiro como gerente e, a partir de 2018, como diretor de tecnologia, liderando projetos como o Shell Box (aplicativo de pagamentos de postos Shell) e o próprio hub.
O foco do Pulse é direcionado para a inovação incremental (aquela que vem para remediar as principais dores da empresa), mas Massad diz que a Raízen não fecha os olhos para startups com propostas mais disruptivas, sobretudo quando alinhadas à estratégia da companhia de “redefinir o futuro da energia no país”.
“Parte da estratégia do Pulse é garantir que a gente de fato esteja acompanhando as disrupções do mercado, assim como as necessidades da Raízen de algum tipo de disrupção para conseguir fazer esse match”
Ao longo dos últimos dois anos, o Pulse expandiu para além do agro, levando sua atuação para outras frentes de negócio.
“Somos uma empresa integrada de energia, que vai do campo ao posto de combustíveis. Temos o setor agro, mas também a indústria e toda a parte logística”, diz Massad. “Chegamos ao consumidor final com a parte de energias renováveis e o Shell Box.”
Nesse período, o hub fez chamadas específicas para atrair startups de sustentabilidade, energias renováveis e, mais recentemente, novas empresas com inovações em logística.
Um case que Massad destaca, dentre as startups sediadas no Pulse, é o da ARPAC, especializada em mapeamento por drones.
Inicialmente, a empresa oferecia seus serviços a outra companhia que atuava no Pulse. Nesse meio tempo, foram evoluindo sua solução de mapeamento, até que a própria ARPAC passou a integrar o Pulse num projeto piloto que usava drones para monitorar o plantio de cana. Hoje, os drones estão presentes em várias unidades da Raízen pelo Brasil.
O legal do case, explica Massad, é ser uma solução de tecnologia, o uso de drones no campo em locais de difícil acesso, onde o caminhão não chega.
“Em vez de mandar uma pessoa, o drone gera uma economia na quantidade de insumos e defensivos aplicados, em eventuais perdas do processo, e ainda consegue direcionar bem nossos esforços para onde existe um problema”
Outra parceria é com a Checklist Fácil, startup que gera checklists e automatiza planilhas e formulários que ainda estejam no papel. Nesse caso, a aproximação começou não pelo agro, mas na área industrial da Raízen, se expandindo internamente para atuar na logística de combustíveis da companhia.
Em 2018, a Raízen tinha adquirido os direitos da marca Shell Argentina, que passou a ser Raízen Argentina. Por lá, a solução da Checklist Fácil também criou raízes e vem sendo usada até hoje.
“Quando a inovação faz sentido e a tecnologia é aplicada para um resultado de negócio, ela consegue se espalhar”, diz Massad. “O Pulse tem o papel de ajudar nesse processo, podendo até levar uma startup brasileira a ter presença internacional.”
Em tempos de ESG, o Pulse vem ajudando a Raízen a diversificar seu grupo de colaboradores. Nesse caso, a parceria se dá com a Laboratoria, startup que também integra o hub (e também já foi pauta no Draft).
A empresa especializada na recolocação de profissionais mulheres dentro da área de tecnologia tem trabalhado em parceria com a Raízen num trabalho de seleção e treinamento de jovens profissionais. Depois de passarem por todas as etapas de preparação, elas passam a integrar o time da companhia de energia.
“Tem aquele estereótipo de que tecnologia é uma coisa muito masculina, o que não tem nada a ver. Já temos várias mulheres em posições de liderança no setor. Muitas vezes são pessoas que não tiveram uma formação em tecnologia, acabaram indo para outras áreas e hoje trazem um olhar diferente para dentro da empresa”
O programa começou em 2019 e trouxe mais de 20 colaboradoras à Raízen. A iniciativa foi um sucesso, segundo a companhia, que buscou (com apoio também de outras empresas de recolocação) incorporar mais mulheres ao setor de tecnologia, somando um total de mais de 40 funcionárias que hoje integram a estrutura.
Para Massad, o caso é um exemplo de como o hub tem conseguido ampliar sua presença em outras áreas e formas de atuação dentro da empresa. Nesse ponto específico, ele viria para auxiliar numa estratégia de maior diversidade que já estava no radar da Raízen.
“A gente acredita na conexão da diversidade de pensamento, não só de gênero e raça, que ajuda muito na inovação. São olhares diferentes, um ambiente colaborativo em que pensamentos diversos ajudam a gente a ir mais longe e inovar mais.”
Com a pandemia, o hub, antes 100% presencial, passou a operar à distância e mais recentemente estabeleceu um modelo híbrido, com várias startups marcando presença apenas de maneira virtual.
Hoje, o hub passa por um processo de retomada caso a caso da operação presencial.
“Acreditamos que nosso papel é gerar conexão, então o olho no olho e o calor humano são sempre importantes”
Mesmo com essa visão, o diretor de tecnologia afirma que a relação com algumas startups passou a funcionar melhor com a mudança.
Além disso, em 2022 (e com a vacinação já avançada), o Pulse abriu um novo escritório na capital paulista. “Não chega a ser uma filial, mas uma casa para podermos estar próximos do ecossistema de decisão dos negócios”, diz Massad.
O hub segue com uma equipe enxuta, de oito funcionários. Segundo Massad, “se o time do Pulse é pequeno, o da Raízen é gigante e acaba compensando”. Ele estima essa teia de conexões, formada pelas startups parceiras mais o time da Raízen, em cerca de 40 mil pessoas.
Recentemente, o Pulse abriu uma chamada para startups de supply chain que consigam atuar na complexa estrutura logística da Raízen.
Operando com tanques em postos de combustível por todos os estados do Brasil, a companhia ainda tem como um de seus principais desafios otimizar a distribuição desse combustível – por via rodoviária, ferroviária e marítima.
Segundo Massad, a Raízen já atraiu algumas soluções tecnológicas para lidar com essa questão, com a instalação de sensores em caminhões e o uso de inteligência artificial na análise de dados de transporte.
“É um espaço em que cabem startups se conectando a esse ecossistema de tecnologia que a gente tem desenvolvido, com evoluções em várias frentes do mercado de logística”
Outra aposta são as energias renováveis, com a expansão das atividades para além da energia elétrica, com painéis solares e biogás. Futuras chamadas para startups devem focar nessa frente.
“Acreditamos no Pulse como parte do nosso movimento de transformação digital, evolução e mudança de mentalidade interna para algo mais aberto, inovador e colaborativo. Mas é um processo longo: você não muda a mentalidade da noite para o dia.”
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