Aos 21, ainda na faculdade, Rafael Rodeiro já tinha em mente um formato de ferramenta (aplicativo), a vontade de fazer algo ligado a filantropia e causas sociais, e um público-alvo: os millennials. O jovem convocou dois amigos, Carlos Menezes e João Moraes, e juntos construíram um plano de negócios.
Era 2016. Início da Ribon.
A startup conecta pessoas a causas por meio de uma plataforma mobile e uma moeda virtual (o nome vem de ribbon, “fita” ou “laço” em inglês). Detalhe: os usuários que doam não tiram sequer um tostão do bolso. Rafael, 24, o CEO, afirma:
“Os millennials não se identificam com aquele tipo de filantropia das gerações passadas. Entendemos que, mais do que um dever, deveria haver prazer nessa atitude. Então, criamos uma experiência diferente e prazerosa de doação”
Funciona assim: você baixa o aplicativo e tem acesso a histórias positivas, inspiradoras, garimpadas em sites de notícias (um ser humano da equipe responde por esse filtro).
Um clique num botão abaixo de cada história garante 100 ribons, a tal moeda virtual; dá para turbinar o saldo engajando-se em campanhas que estimulam a postar stories no Instagram ou a convidar amigos a baixar o app.
Daí, basta doar a uma ONG cadastrada: patrocinadores realizam a “mágica” de transformar ribons em dinheiro de verdade, destinado à instituição escolhida.
OS SÓCIOS LIDERAVAM EMPRESAS JUNIORES NA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Rebobinando a fita: no começo, todos eram alunos da Universidade de Brasília, mas cada um no seu respectivo curso — Rafael fazia engenharia de produção, Carlos estudava ciências da computação e João, design.
Focado em gestão de negócios, Rafael chegara a flertar com a hipótese de ser sócio de um restaurante. Ao mesmo tempo, pensava:
“Se é para criar algo do zero, tem que fazer sentido. Empreender não é algo que merece fogos de artifícios. Há muitas dificuldades, mas também muito aprendizado”
Essa vontade era partilhada pelos colegas. Em comum, todos eram jovens líderes de empresas juniores da UnB que atendiam por Grupo Gestão (Rafael), CJr (Carlos) e Lamparina (João). Conheceram-se em encontros promovidos para integrar talentos empreendedores, como o Movimenta Brasil.
Os três trabalhavam em projetos diferentes, tinham atividades paralelas, mas descobriram habilidades complementares. E decidiram embarcar juntos nessa jornada.
Daí em diante, passaram a madrugar às 5h, dedicando-se exclusivamente ao projeto até as 9h. Estruturado o plano de negócio, um amigo de Carlos fez o papel de investidor-anjo e injetou 10 mil reais para o desenvolvimento do app.
EM MÉDIA, O APLICATIVO TEM 500 DOWNLOADS E 7 600 DOAÇÕES POR DIA
Ainda em 2016, a Ribon foi selecionada pela aceleradora Cotidiano e conseguiu 100 mil reais em investimentos. A essa altura, os sócios já se dedicavam em tempo integral. Carlos e João atuam, respectivamente, como CTO e CDO [Chief Data Officer].
Desde sua fundação, a Ribon conquistou 50 mil usuários ativos. Obviamente não se trata de uma ferramenta “millennials-only” (qualquer um pode baixar o app), mas eles respondem por 89% dos usuários da plataforma, que contabiliza uma média de 500 downloads diários e 7 600 doações por dia.
“Setenta por cento das pessoas que doam pela plataforma nunca tinham feito nenhum tipo de doação. Temos potencial para quadruplicar a nossa base em 2020”
Um acerto, diz Rafael, foi aliar um mercado de investimentos sustentáveis globais, que atingiu 30 trilhões de dólares, a um público-alvo que representa hoje 50% da força de trabalho no Brasil, de acordo com a pesquisa “Millennials – Unravelling the Habits of Generation Y in Brazil”, do Itaú BBA.
O PATROCÍNIO BANCA A OPERAÇÃO E FOMENTA PROJETOS SOCIAIS NA ÁFRICA
Empresas como Malwee e o clube de turismo Bancorbrás compraram a ideia. É o patrocínio delas que sustenta o negócio: a Ribon fica com 30% do dinheiro investido pelas marcas e 70% vão para as doações.
Em troca do apoio financeiro, as marcas têm cotas de aparições no app, em banners, e a depender do contrato ganham direito a posts com conteúdo.
Segundo Rafael, por intermédio da plataforma foram doados mais de 1 bilhão de ribons. Mas quanto vale um ribon? A empresa não revela a “cotação” em reais. Rafael explica o porquê:
“Nós estruturamos todo o app dentro da moeda virtual para tirar o foco do valor monetário e enfatizar o impacto gerado em cada doação. O que garantimos é [que se trata de] um valor suficiente para que os usuários consigam transformar vidas diariamente”
Os recursos se destinam a ONGs que trabalham na África. Uma delas é a SCI Foundation, iniciativa que tenta controlar a esquistossomose, doença causada por um parasita. Pelos cálculos da Ribon, o valor já doado seria suficiente para garantir 194 anos de medicamentos a uma comunidade de 100 pessoas.
As demais beneficiadas são a Evidence Action, que promove o acesso à água potável; a Living Goods, voltada a serviços básicos de saúde; e o Project Healthy Children, que combate a desnutrição com fortificação alimentar.
Todas são parceiras da The Life You Can Save, organização que avalia e certifica outras ONGs.
UM APORTE DEVE AJUDAR A STARTUP A IMPLEMENTAR O BLOCKCHAIN
No ano passado, a startup faturou 400 mil reais. Rafael espera fechar mais cinco patrocinadores até o fim de 2020. A plataforma também vem atraindo investimentos. Em 2019, a segunda grande rodada rendeu 1,15 milhão de reais, principalmente do fundo Redpoint eventures.
Essa injeção de grana deve ajudar a viabilizar novas iniciativas, como a implementação de um sistema de blockchain, para dar mais confiabilidade às transações. “Contratamos duas pessoas que estão full-time nessa missão”, conta o CEO.
A Ribon mantém hoje uma equipe de 18 pessoas, entre desenvolvimento, design, growth, comunicação, vendas, business e financeiro. A sede permanece em Brasília, mas Rafael e Pedro Dantas, do time de vendas, ocupam assento no Cubo, em São Paulo, desde 2018.
Estar inserido no hub de inovação traz benefícios óbvios. “Tem sido muito bom, acontecem uns sete eventos por dia.” De vez em quando, diz, outros membros da equipe vão lá para participar desses eventos e incrementar o networking.
EM ABRIL, A RIBON VAI À SUÍÇA PARA UMA COMPETIÇÃO GLOBAL
No fim de 2019, Rafael apareceu na lista de jovens promissores (com menos de 30) da revista Forbes, na categoria tecnologia e inovação. Mais cedo, em maio do mesmo ano, a Ribon já tinha figurado no ranking “100 Startups To Watch”, na categoria “impacto”, da Pequenas Empresas & Grandes Negócios.
Recentemente, eles foram selecionados para fase mundial da Seedstars World Competition, torneio que conecta empresas emergentes e investidores globais. Para chegar lá, a Ribon superou uma etapa brasileira e uma segunda fase, em que 30 startups latino-americanas competiram por seis vagas na final.
O encontro ocorrerá em abril, em Lausanne, na Suíça. O vencedor mundial receberá um prêmio de 500 mil dólares em investimentos. Rafael, porém, diz que o dinheiro em si é o menos importante na equação. “Estou animado para ir à Suíça. Mais do que o prêmio, o que vale é a rede de relacionamentos que você faz com os investidores.”
Desconstruir mitos e fórmulas prontas, falando a língua de quem vive na periferia: a Escola de desNegócio aposta nessa pegada para alavancar pequenos empreendedores de São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo.
Aromática, sensível e difícil de polinizar, a baunilha é cobiçada por chefs de cozinha, mas o quilo pode custar até 6 mil reais. Com capacitação e repasse de parte do lucro aos produtores, a Bauni quer promover o comércio justo da especiaria.
Só indignação e um CNPJ não bastam. Fundada por Alexandre Amorim e Alex Barbosa, a Ago Social abastece empreendedores de impacto com conteúdos online, que ensinam desde a criação do modelo de negócio até como captar recursos.