Há muito mais no ato de construção de um brinquedo ou um aparato musical qualquer do que se imagina. É sobre essa ideia que opera o dadalab, um maker space multifuncional localizado em São Paulo que promove oficinas para construção de brinquedos e aparelhos musicais desde o começo, ancorado na ideia do “do-it-yourself” e na intenção de juntar arte e tecnologia.
Formado em Arquitetura, Saulo Lisboa, 34, é a cabeça por trás da concepção de cada projeto, e sua mulher, Gabriela Glette Kastrup, 31, formada em Moda e estudante de Jornalismo, cuida da comunicação e do atendimento. O dadalab é um projeto mesmo de Saulo, mas Gabriela ajuda sempre que pode. Ele ministra oficinas para crianças e adultos focados em diferentes objetos. Depois das oficinas, cada participante ganha um kit com todo o material necessário para montar o mesmo objeto na própria casa. Na modalidade infantil, há cerca de 8 workshops diferentes; para os adultos, são 3.
As oficinas são realizadas no “QG” da dupla, na Santa Cecília, em instituições anfitriãs como o Sesc e o SESI e em eventos como o Festival de Cultura Digital. Os principais itens desenvolvidos nas oficinas com crianças são kits de brinquedo e robótica – são cata-ventos solares, “robozinhos” eletrônicos e grilos que se mexem com energia solar. Durando de 1h30 a 2h, esses eventos contam com 15 crianças em média, podendo chegar a 20, e também com a ajuda dos pais. O produto final, como Saulo e Gabriela gostam de lembrar, nunca tem cara de “brinquedo de loja”.
Já para os adultos, as oficinas geralmente são voltadas a artistas, DJs e produtores musicais e têm foco em instrumentos como sintetizadores ou até impressoras 3D. Nessa modalidade, o número de participantes se reduz para 10 e a duração se estende a até 4 horas. Além dos workshops, Saulo desenvolve protótipos para empresas e no desenvolvimento de kits educacionais.
As oficinas custam em média 250 reais, mas o valor depende da quantidade de pessoas e da carga horaria também. Não há alunos fixos. Os cursos no QG do dadalab duram de um a dois dias, no máximo, e ocorrem sempre com um mínimo de 10 pessoas.
Muito do que Saulo e Gabriela produzem é feito a partir de uma impressora 3D (também há um curso deles sobre isso), mas alguns aparatos eletrônicos são conseguidos por empresas terceirizadas e colaboradores freelancers. Em todo o processo de desenvolvimento dos kit, que pode durar meses, há um cuidado para que os brinquedos venham de materiais comuns, como elásticos e palitos, e que preservem uma “aura” analógica e arcaica. É comum usar, por exemplo, madeira compensada reciclada, apesar de haver sempre tecnologia por trás de cada ideia.
O foco nunca é o produto em si, e nem o trabalho acaba quando acabam as oficinas – a magia toda ocorre depois, eles dizem. “Todos os nossos produtos têm essa cara de experimento. Queremos incentivar as pessoas para que não sejam um produto final, mas que possam ser modificados, desmontados e transformados em outra coisa. A ideia é ser mesmo uma sementinha”, conta Saulo.
A proposta do dadalab tem a ver com o produto, mas também com todo o processo por trás dele: é perder qualquer medo, botar a mão na massa e dar o poder de volta para o indivíduo construir ele próprio o que desejar. O próprio empreendedor conta que, no início, tinha medo de quebrar os objetos: “Você vê aquela coisa sensível, pequena, parece que você vai ligar errado e qualquer coisinha vai queimar e você vai perder tudo o que fez. Mas não deve ser assim. A gente quer falar que no ‘futuro-agora’, que já é o futuro, qualquer coisa que você inventar, você mesmo pode fabricar. Se antes você tinha que ter uma fábrica, hoje o que importa é a ideia. Assim a gente passa a dar valor para um produto sem ser excessivamente capitalista”.
QUANDO TUDO O QUE FALTA É O PRIMEIRO PASSO
Num mundo como o nosso, com uma inesgotável fonte de vídeos e explicações passo a passo na internet para que construia quase tudo que quiser, o dadalab quer apertar o botão de ‘start’ na criatividade das pessoas. O diferencial é que o Lab fornece todo o material necessário com os kits dados durante as aulas. “Às vezes a pessoa quer montar um sintetizador mas nunca montou um eletrônico, tem que ir na Santa Efigênia, e o primeiro passo acaba sendo o maior. Nosso papel é facilitar isso, introduzir, e aí depois a pessoa comse motiva. É uma semente de perder o medo”, diz Saulo. Gabriela complementa a ideia:
“A ideia por trás das oficinas, principalmente com as crianças, é tirar essa coisa capitalista de ir lá, comprar o brinquedo, brincar um dia e depois esquecer dele e jogar fora”
Ela considera que as crianças hoje em dia são super ansiosas e diz que vê, nas oficinas, uma chance de mudar esse mecanismo. “Às vezes algo dá errado, aí a criança vai lá e tem que desmontar, fazer tudo de novo… Isso de ter que realmente montar, remontar, um brinquedo os deixa encantados, dizendo ‘Poxa, eu que fiz esse brinquedo!’”, conta.
Os kits do dadalab vão contra a corrente de educação infantil onde tudo chega muito rápido. Saulo enxerga na essência de seu negócio também o propósito de difundir o valor de um mundo menos apressado.
“A gente mostra que também tem valor parar, ver as coisas, prestar atenção… O mundo está com tanta velocidade o tempo todo que a gente não pára para nada. E ás vezes a gente só descobre coisas, tem ideias, pensando, sei lá, num palito!”, diz ele.
Homenagem ao dadaísmo, o nome da empresa remete a um laboratório mas também ao nonsense, à diversão e a liberdade para criar. Para que o dadalab surgisse, não houve um investimento inicial, no sentido tradicional. “As coisas foram acontecendo naturalmente, surgiu uma oficina, aí surgiu outra que pagou a próxima e o material para a próxima e assim por diante”, conta Gabriela.
TUDO COMEÇOU COM UM DJ DESMONTANDO BRINQUEDOS ANTIGOS
Há cerca de dez anos, enquanto trabalhava como produtor musical e DJ, Saulo começou a se interessar pela pela ideia de subverter a tecnologia para criar música. Ele começou a pesquisar e a desenvolver o circuit bending, uma técnica que consiste em desmontar antigos brinquedos, daqueles que fazem barulho, ou instrumentos musicais antigos que normalmente seriam jogados fora, e modificá-los para criar novos sons. Ainda hoje a oficina sobre essa técnica — uma das que mais sucesso fazem no dadalab.
Saulo tinha vontade de experimentar e sonhava ter “um monte de botão para mexer, para girar”. Com o circuit bending, é possível fazer um sintetizador, um instrumento musical fora do comum, com um brinquedo, como aqueles tecladinhos de criança, e dar uma segunda vida para equipamentos defasados, que já não têm uso. “Queria fazer música, um equipamento diferente, e foi um meio de achar um som fora do comum, com o que tinha, com ‘nada’”, diz Saulo.
A “sementinha” para o próprio dadalab começou a ser plantada no ano passado, quando ele foi convidado para dar uma oficina de circuit bending no Sesc Sorocaba. Logo em seguida veio o convite para uma residência de três meses na instituição para desenvolver mais a ideia. Nesse período, Saulo e Gabriela desenvolveram um laboratório de invenções mais voltado para crianças, e a cada aula inventavam coisas novas junto com as crianças. Eles perceberam, por exemplo, que a falta dos componentes era algo que todos os participantes sentiam, e tentaram sanar isso ao criar os kits. Com isso, desenvolveram o que é hoje o diferencial do negócio.
O mais legal do curso, eles dizem, muitas vezes é o final da aula: a hora de receber os comentários dos participantes e descobrir quais peças estão dando errado. “Aprendo muito com eles. As coisas que eles prestam atenção! Parece que têm umas sacadas muito doidas, que eu não pensaria. É gratificante saber que você deu uma força para alguém fazer o que gosta, se encontrar, ou não fazer o que gosta, falar nossa, eu odeio isso, quero fazer outra coisa, mas pelo menos ter essa experiência”, Saulo conta.
Entre os próximos passos do dadalab estão a venda do kit através do site, o desenvolvimento de oficinas de mini amplificador e mini guitarra e também começar a fornecer alguns workshops gratuitamente. Além disso, eles pretendem criar o “We dadalab”, uma plataforma onde as pessoas possam compartilhar o que fazem e desenvolvem por conta própria a partir dos kits.
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