A Softplan abriu mão do “gestor onipotente” e criou um ambiente mais horizontal para favorecer a inovação

Maisa Infante - 11 abr 2019
Guilherme Brasil, CTO da Softplan
Maisa Infante - 11 abr 2019
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“Para não morrer, é preciso ter capacidade de se adaptar o mais rápido possível a qualquer coisa que venha pela frente, seja um novo modelo de negócios, mudanças econômicas e de mercado.” É este o mantra de Guilherme Brasil, 42, CTO da Softplan. Com sede em Florianópolis, a empresa de software está há 28 anos no mercado e tem um faturamento anual de 300 milhões de reais.

Há dois anos, a companhia percebeu que precisava transformar o jeito de trabalhar para acompanhar o desenvolvimento do mercado. Assim, iniciou um processo de horizontalização das relações de trabalho, oferecendo mais autonomia e liberdade para os gestores e funcionários — e criando condições para levar mais inovação aos produtos do portfólio.

Com 20 anos de experiência na área de tecnologia e software em empresas como Datasul e TOTVS, Guilherme havia chegado recentemente à Softplan, quando ficou responsável por gerenciar esse processo nas três unidades de negócios (Construção Civil, Gestão Pública e Justiça) e engajar todos os 1 800 colaboradores. “A inovação não deve vir de uma área específica, mas sim da empresa como um todo, fomentada por um grupo que pensa sobre novas perspectivas de negócios”, diz.

A estratégia foi derrubar barreiras e criar um ambiente mais horizontalizado, dividindo o trabalho em células. A Softplan se dispôs a confiar aos funcionários algumas informações relevantes que, antes, ficavam restritas aos gerentes, como os produtos mais rentáveis e as margens das operações.

“Quando isso começou a acontecer, houve, inclusive, uma pressão maior porque eles passaram a ser cobrados independentemente da hierarquia. Criamos um ambiente onde as pessoas podiam tomar mais decisão por terem mais informações nas mãos.”

NEM SEMPRE A LIBERDADE AGRADA A TODOS

O CTO conta que as ideias surgiram aos montes e, a princípio, geraram uma colaboração caótica porque todo mundo queria falar com todo mundo. O resultado foi que, logo depois das mudanças, a primeira avaliação interna do modelo de trabalho feita pelos funcionários piorou. “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades. As pessoas pediam mais autonomia e transparência, mas quando se depararam com isso, ficaram assustadas.”

Para alguns funcionários, essa nova forma de trabalhar não agradou e houve pedidos de demissão. Outro movimento que passou a ser comum dentro da empresa é o de os próprios colaboradores pressionarem os colegas durante a execução de certa atividade.

“Como invertemos a lógica gerencial e o gestor passou a mostrar para o time o que ele estava produzindo de resultado, a equipe mudou a forma de enxergar o trabalho. Quando via que um membro não conseguia ajudar na tarefa, questionava sua participação.” Neste caso, o gestor precisava mediar a situação, ouvir, saber fazer as perguntas certas e analisar cada caso. Guilherme diz:

“Temos a falsa ilusão de que o gestor onipotente e onipresente vai conseguir tomar as decisões certas. Mas descobrimos que as melhores medidas vêm das pessoas que fazem aquilo no dia a dia”

Ele conta que tudo é uma questão de ajustes. Já houve duas situações: tanto de funcionários que não tinham mais fit com a empresa, quanto de pessoas que não tinham fit com determinado time, mas mudaram de equipe e passaram a executar um ótimo trabalho.

PARA ENGAJAR, É PRECISO OFERECER AS FERRAMENTAS CERTAS

Não basta um ambiente de trabalho mais horizontal para engajar funcionários em processos inovadores. É preciso, também, contar com ferramentas que estimulem a participação.

As mudanças na forma de trabalhar da Sofplan se refletiram na sede da empresa, que ganhou um ar mais moderno.

Dentro das áreas de desenvolvimento de software, a Softplan passou a usar o conceito T-Shaped Professional, pelo qual se valoriza profissionais que tenham uma especialidade técnica, mas que conhecem um pouco de todo o processo e participam de todo o ciclo de produção.

Na prática, um especialista em codificação, por exemplo, também vai estar presente nos testes e validações. “Essa dinâmica gerou mais empatia, além de excelentes resultados com menos recursos.”

Outra forma de estimular a colaboração foi a criação de um concurso interno de inovação, o Connected Spaces, que visa a fomentar a competição interna de ideias inovadores.

O prêmio foi uma viagem de dois meses para o Vale do Silício, onde os intraempreendedores puderam estudar novos modelos de negócios. Os dois funcionários que venceram a competição tinham ideias complementares e se juntaram para dar forma a um novo produto: o Intellead, uma plataforma de inteligência de dados para desenvolver métodos mais eficazes de se fazer o marketing digital dos produtos da Softplan.

O resultado deu tão certo que esse projeto se tornou uma nova empresa, que presta serviços de tecnologia em marketing e vendas para outros empreendimentos na área da construção civil. E a Softplan, onde tudo começou, virou sócia desse novo negócio.

COMO FOI INOVAR O PRIMEIRO – E PRINCIPAL – PRODUTO DA EMPRESA

O primeiro produto criado pela Softplan foi o Sienge, um programa de gestão para o setor de construção civil focado em empresas de médio porte que foi programado pelos próprios sócios. Quase 30 anos depois, eles entenderam que o programa precisava ser completamente transformado e, dentro desse processo de inovação interno atual, surgiram dois novos produtos: o Sienge Go! e o Sienge Platform.

Cerca de 200 pessoas trabalharam no desenvolvimento do Sienge Go!, software de gestão para pequenas empresas que é a evolução do primeiro produto da Softplan: o Sienge. Na foto, parte do time.

O Sienge Go!, comercializado por meio de assinaturas, foi construído para ser uma consciência digital que “fala” a língua do dia a dia dos pequenos empresários.

Segundo Guilherme, mais de 200 pessoas, entre colaboradores internos e externos, estiveram envolvidos neste processo, inclusive um antropólogo. “Fomos buscar na antropologia a explicação do que faz a diferença na vida de quem usa o nosso software.”

O Sienge Go! é um sistema de gerenciamento de obras guiado por uma inteligência artificial. A partir dos dados inseridos, o sistema consegue oferecer respostas muito práticas. Quando o usuário pergunta: “Vai faltar dinheiro no fim do mês?”, o programa responde: No fim do mês seu saldo vai ser negativo em 30 mil reais. Quando o empresário deixa de checar a contabilidade, o programa manda avisos: Você não checou a margem de lucro nesta semana.

Já o Sienge Platform é um programa para médias e grandes empresas de construção que permite a conexão com outros softwares e aplicativos. “Queremos que seja uma plataforma para fazer a transformação digital dessas companhias e levá-las para outro patamar.”

Tem sido empolgante e desafiador estar à frente desse processo, diz Guilherme. “Foi o período em que mais aprendi. Recebi tantas ideias diferentes e provocações que fui realmente forçado a andar muito rápido.” Velocidade, de fato, é um dos atributos essenciais para as empresas que buscam triunfar nestes novos tempos.

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