E se em vez de receber em casa, todo mês, uma caixinha com uma obra literária, você assinasse um box com um livro de desenvolvimento pessoal?
O “em vez de” pode ser trocado por “além” no caso da TAG Livros, que desde agosto de 2020 conta com ambas as possibilidades.
Fundada em 2014, em Porto Alegre, e perfilada mais de uma vez no Draft (aqui e aqui), a empresa é nacionalmente conhecida por seu clube do livro com duas opções de assinatura: A TAG Inéditos (de best-sellers ainda não lançados no Brasil) e a TAG Curadoria (com obras selecionadas por personalidades como Clarice Falcão e Kalaf Epalanga, responsáveis pelas escolhas dos livros de novembro e dezembro de 2021).
Durante o primeiro ano da pandemia, no entanto, os sócios tiveram a ideia de lançar um produto com foco no público que busca desenvolvimento pessoal por meio de obras de não-ficção. Assim, nasceu a Grow Livros.
“O surgimento foi um tanto natural porque muitos assinantes nos sugeriam esse tipo de leitura e nós, como empreendedores, sempre consumimos esse conteúdo para ajudar no crescimento do negócio”
Quem fala é Arthur Dambros, fundador e VP da TAG. Estudando o assunto, ele e os sócios perceberam que muitas vezes era difícil para o leitor escolher o que consumir em meio a tantos títulos de desenvolvimento pessoal com viés meramente comercial ou de autoajuda barata, baseados em receitas de sucesso prontas.
Eles entenderam que pelo fato de esse mercado estar “poluído” havia uma oportunidade de auxiliar as pessoas nesta jornada, não apenas com curadoria, mas guiando a leitura e a forma de colocar o aprendizado em prática.
Desde seu lançamento, em agosto de 2020, a Grow conquistou mais de 3 500 assinantes com obras como: Pense de novo, de Adam Grant, Empatia assertiva, de Kim Scott, e Por que os generalistas vencem em um mundo de especialistas, de David Epstein. Ora o nome do livro é revelado para os leitores, ora eles ficam sabendo da escolha do clube apenas quando abrem a caixinha, assim como acontece no TAG Inéditos.
A princípio, os empreendedores pensaram em oferecer o clube da Grow para empresas, no modelo B2B. “A gente sempre acreditou muito nos livros como ferramentas de desenvolvimento pessoal e, por consequência, de desenvolvimento organizacional”, afirma Arthur.
Como muitos RHs têm verba para o desenvolvimento da equipe, eles acharam que seria vantajoso para as empresas contratar o clube de leitura em vez de palestras.
“Só que tem um ‘problema’: é preciso ler o livro. E a gente sabe que é mais difícil todo mundo da equipe parar e ler do que ver uma palestra”
Fora isso, tem ainda a questão do orçamento, pois o valor unitário do livro acabaria sendo muito caro para as empresas. “A gente viu que não conseguiria convencer o RH a botar a mão no bolso por uma coisa abstrata, por mais que soubéssemos que o aprendizado a partir do livro é algo real e concreto.”
Então, o time da TAG decidiu atacar no B2C, oferecendo o clube de leitura da Grow diretamente para os clientes. A ideia de trabalhar o produto no mundo corporativo, no entanto, ainda não foi descartada.
“Com a consolidação do B2C talvez seja mais natural acabar caindo nas empresas. Já temos algumas conversas em andamento, mas nada muito sólido. É um segundo passo”, conta o fundador.
A proposta da Grow, diz Arthur, é oferecer livros que mudem a forma de as pessoas pensarem, agirem e interagirem.
“Entendemos que conhecimento não é poder. Conhecimento só é poder quando você aplica, por isso construímos uma metodologia para o clube de leitura centrada em quatro pilares: filtrar, aprofundar, refletir e aplicar”
O primeiro pilar se refere à curadoria feita pelo time interno da empresa, que seleciona em meio a milhões de títulos disponíveis no mercado de desenvolvimento pessoal o que vale ser lido.
As etapas de aprofundar e refletir se dão por meio da revista impressa que acompanha o livro, com materiais para serem consumidos pré e pós-leitura, como pesquisas e artigos, também disponíveis na plataforma online (onde o assinante ainda encontra vídeos e podcasts sobre a temática escolhida naquele mês).
Na fase de aplicar o conteúdo, a Grow conta com mastertalks mensais com especialistas. São vídeos de cerca de uma hora com profissionais que contam como colocam em prática o que é visto nos livros, servindo de inspiração para os assinantes. Entre os convidados que já passaram pelas mastertalks estão Luis Justo (CEO do Rock In Rio), Paula Belizia (presente do EBANX), Rony Meisler (CEO do Grupo Reserva) e Tito Gusmão (fundador da Warren). Segundo Arthur:
“Percebemos que há um espaço nos livros de não-ficção para ter alguém te guiando, então nos propomos a fazer isso, explicando o que tem no livro, quando tem que ler, por que ler, no que prestar atenção… e, tendo em vista o que foi lido, como direcionar mudanças na sua vida e na sua carreira”
Não basta apenas entregar um livro, diz Arthur. “Queremos ser um impulsionador para a ação. Isso, aliás, já era a premissa da TAG. A experiência de comprar um livro na TAG ou na Grow em vez de adquirir em uma livraria tem que ser completamente diferente.”
A assinatura da caixinha com o livro da Grow, o guias de leitura e o acesso a todo o material online custa R$ 74,90 (plano mensal) ou R$ 64,90 (anual).
Segundo Arthur, o gênero de desenvolvimento pessoal atrai diferentes tipos de leitores, de arquitetos a médicos, passando por empreendedores e gestores de empresas.
“Em todas as áreas de atuação as pessoas buscam se aperfeiçoar. Recentemente, por exemplo, a gente recebeu o feedback de um enfermeiro que tinha virado líder em sua área, estava entendendo como lidar com tudo isso, e contou que a Grow ajudou nesse processo”, diz o fundador.
No começo da Grow, entretanto, a pegada dos livros era muito direcionada a negócios. E após o entendimento de que o público era mais amplo, houve uma mudança de estratégia. Arthur comenta:
“A gente chegou a mandar alguns livros de gestão ou títulos focados na história de determinadas empresas, mas percebemos que nem todo mundo se interessava. Então, há quatro meses mudamos nossa linha editorial, excluindo esse enfoque hard business para tratar só de aperfeiçoamento pessoal e profissional, coisas que dizem respeito mais a skills”
Sobre o hábito de leitura dos assinantes, o empreendedor diz que o foco é em dois públicos. O primeiro é aquele que já tem o desenvolvimento como algo constante para si, que está sempre consumindo coisas novas e viu na Grow uma forma de trazer referências diferentes.
O segundo público foi descoberto após uma pesquisa da Grow que constatou que 47% dos assinantes têm dificuldades em manter a leitura em dia.
“Essas pessoas assinam a Grow como uma forma de estabelecer uma meta e uma rotina de leitura e de desenvolvimento constante. Nesses casos, a gente funciona meio como personal trainer da leitura.”
Essa associação com um personal trainer não é brincadeira. A Grow criou uma metodologia própria, o Ignite, para “pegar na mão” do assinante que não está conseguindo ler e ajudá-lo a fixar este hábito, concluindo pelo menos um livro por mês. O programa também é vendido como um produto avulso para não assinantes.
A ideia surgiu em novembro passado depois que os sócios descobriram aquela porcentagem de 47% de leitores “ioiôs”. Depois de alguns testes, o programa foi lançado oficialmente em janeiro deste ano.
“Um erro que estamos consertando com o Ignite é ter depositado muito da experiência da Grow no pós-leitura. Se tu passar por toda a experiência do clube o aprendizado será muito bom, mas tem esse ‘se’ no caminho”, diz Arthur.
“Como leitores, a gente achou que todo mundo aproveitaria a experiência de ponta a ponta, mas vimos que precisávamos criar algo para o leitor que não está conseguindo ler ou se aprofundar no assunto”
O programa, baseado em pesquisas que dizem que levamos em média 21 dias para consolidar um hábito e cerca de 90 para transformá-lo em estilo de vida, oferece uma trilha com uma série de tarefas diárias para melhorar o hábito de leitura. Desde atividades simples como baixar um aplicativo para definir metas de páginas até incentivar o leitor a falar para um amigo que está lendo determinado livro e assim se comprometer a continuar.
“Depois desses 21 dias, temos ainda três outros módulos de conteúdos de formatura, com vídeos de 15 minutos cada, mostrando como fazer o pulo dos 21 para 90, ajudando o leitor a consolidar esse hábito, entender o que faz de um livro bom ou ruim, como escolher uma obra etc. São conhecimentos que vão fazer a pessoa seguir sozinha nessa jornada”, afirma.
Vale lembrar que o clube da Grow propõe para o leitor apenas 15 minutos de leitura por dia para concluir um livro em um mês. Por isso, tudo é medido. Na revista, o assinante encontra quanto tempo vai consumir lendo cada capítulo do livro e cada conteúdo extra.
O fundador da TAG conta que no início ele e o sócio tiveram receio de o público confundir a proposta do clube de leitura da Grow com autoajuda banal.
“A gente teve esse preconceito, inclusive pensando como nossa base da TAG interpretaria o que estávamos propondo antes de ver os livros. Mas eu hesito em não chamar os livros do clube de autoajuda. Afinal, quem lê um livro de não-ficção busca se ajudar de alguma maneira, adquirindo conhecimento”, diz.
E complementa:
“Em algum momento se criou uma fronteira entre buscar conhecimento, o autoajuda e o ‘autoajudesco’, que é uma coisa meio comercial, que fala o que tu quer ouvir, que às vezes não tem fundamento nenhum, que motiva ‘como ser foda nisso e naquilo’. Isso acabou banalizando um gênero que é muito bom”
A diferença do que a Grow oferece, segundo ele, é uma autoajuda com curadoria. “A gente cuida muito da seleção para garantir que o assinante está lendo algo de qualidade, que tem fundamento, feito e escrito por alguém que sabe o que está falando. E isso eu entendo como central para a experiência.”
Pelo número de assinantes conquistado em pouco tempo, o público já mostrou que aprova a seleção. Segundo Arthur, a Grow, sozinha, como produto da TAG, já conquistou um faturamento anual de 2,5 milhões de reais. A meta é fechar este ano com mais que o dobro de assinantes, batendo os 8 mil.
Entre outros planos, está lançar um grupo da Grow no Telegram, o que deve ser implementado ainda este mês.
“Já fizemos um grupo beta no WhatsApp e vimos que usar uma ferramenta que está mais no dia a dia das pessoas pode funcionar melhor para a interação e o senso de comunidade. A ideia é chamar a atenção do público para o livro no dia a dia, mandando no grupo pílulas sobre a obra.”
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Fundada em 2014, a TAG tem hoje 50 mil assinantes-leitores e faturou R$ 26 milhões em 2018. Agora, outras empresas testam novas propostas e ajudam a expandir um formato que já atrai grandes editoras, interessadas em incrementar a relação com seu público.