O mercado têxtil e de confecção fatura em torno de 185,7 bilhões de reais por ano no Brasil, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção.
A cifra, porém, esconde alguns gargalos dessa indústria. Há alguns anos, um artigo no LinkedIn intitulado “Overproduction: Taboo in Fashion” já apontava que 30% das roupas fabricadas simplesmente nunca chegam a ser vendidas. Esse desequilíbrio entre oferta e demanda gera prejuízo financeiro e ambiental.
Nesse contexto, a produção sob demanda surge como uma alternativa. Fundada em 2020 pelo empreendedor Fabio Zausner, a retailtech Tudu vem crescendo nesse filão.
Em poucos meses de atividade, a empresa já vendeu 110 mil unidades de cerca de 200 produtos, entre roupas, canecas e material de papelaria, com um faturamento acumulado de 5 milhões de reais.
NO PORTFÓLIO SOB DEMANDA, GRANDES MARCAS E ARTISTAS INDEPENDENTES
No site da Tudu, o consumidor encontra dois tipos de produtos: os licenciados, com a estampa de personagens de heróis, princesas, filmes e séries; e os temas propostos por novos criadores — a empresa já tem parcerias com cerca de 60 deles. Fabio conta:
“Hoje já temos o maior conteúdo licenciado da Disney disponível no Brasil. Seguindo o mesmo modelo, fizemos contratos com a Marvel, a Netflix e a Sanrio. E também levamos a ideia para artistas independentes que toparam trabalhar e crescer com a gente”
O esquema on demand dispensa estoque e acaba sendo mais seguro para a Tudu do que o modelo tradicional. Após a realização do pagamento, a peça segue para a impressão, depois para um controle de qualidade e, por fim, é embalada e recolhida pela transportadora.
“O processo — separação, tratamento, impressão e secagem — é praticamente idêntico de uma estampa para outra, mas são feitas checagens no meio do caminho para individualizar o produto”, diz Fabio.
A empresa acompanha a entrega e dispara comunicados para o cliente (via Whatsapp e e-mail) das atualizações até o momento da entrega, estipulada em até 72 horas a partir do pedido.
ANTES DE EMPREENDER, ELE ATUOU NO MERCADO FINANCEIRO
Formado em administração pelo Insper, Fabio trabalhou por sete anos em fundos de investimentos, entre São Paulo e Nova York, até que resolveu dar um novo rumo à carreira.
Em 2013, ele se juntou à Phooto, empresa de impressão fotográfica onde começou no cargo de country manager, com 5% de participação no negócio. No final de 2018, Fabio adquiriu a companhia e se tornou CEO, posto que mantém até hoje.
Após oito anos atuando com produtos customizados de fotografias, ele viu a oportunidade de criar outros artigos sob demanda, e assim surgiu a Tudu.
O conceito se expandiu para a comercialização de camisetas, moletons, jaquetas, pijamas, quadros e canecas.
“Não temos estoque de nada, mas somos abertos para tudo — o ‘tudu’ vem daí. Apoiamos quem tem uma mensagem legal para passar. A única coisa que a gente barra aqui é disputa de ódio e gente chata”
A mensagem que o empreendedor queria passar ganhou vida na parceria com novos artistas, que encontraram uma forma de se remunerar com a comercialização de sua arte estampada nos produtos da Tudu.
EM UM ANO, 60 ARTISTAS FATURARAM COM O MODELO DA EMPRESA
A ideia de desenvolver collabs ou coleções fixas com os artistas independentes já rendeu mais de 100 coleções de camisetas, moletons e canecas de mais de 48 filmes, séries e personagens, em modelos para adultos, adolescentes e crianças.
“A Lua Soares é uma artista de 17 anos que este mês ganhou mais de 7 mil reais na Tudu. Ela desenha super bem, é apaixonada por pets e criou uma coleção que está bombando. Todo mundo que se identifica [com animais de estimação] está vindo atrás, e nós conseguimos coisas exclusivas que ninguém mais tem”
A Tudu se tornou uma opção interessante para os artistas, que podem ganhar sem assumir o risco de investir do próprio bolso para produzir suas peças.
A camiseta mais vendida no mês passado foi de uma criadora chamada Rosika, com frases divertidas como “Não me Jung porque tá Freud”.
Outro artista reproduzido é Renato Gave, com uma arte contemporânea inspirada em temas brasileiros.
“As estrelas aqui são os artistas”, diz Fabio. “Eles trazem um conteúdo que as pessoas se identificam e a nossa parte é fazer o backstage bem feito, garantindo que o processo funcione bem para todos.”
A PARCERIA COM A DISNEY ABRIU PORTAS PARA OUTRAS MARCAS
A esperada parceria com a Disney (maior detentora de licenciamento de produtos no mundo) demorou 13 meses para sair do papel e exigiu uma série de reuniões no escritório da companhia, em São Paulo.
“No começo eles não sabiam nem quem autorizaria uma proposta como a nossa. Na Disney sempre tem um responsável que cuida de uma categoria, como vestuário, decoração e papelaria — mas não havia uma categoria específica para o on demand”
Outro complicador na negociação foi a dificuldade em produzir amostras das milhares de estampas que pretendiam fazer. Seria inviável seguir o protocolo da Disney e dispor de amostras para tudo, então a Tudu investiu nas certificações solicitadas e na produção de artes customizadas com capricho.
“Para eles [Disney], o mais importante é o controle da qualidade — e foi o que oferecemos. Esse processo nos fez amadurecer para avançar com outras marcas como a Netflix, com quem também fechamos licenciamento.”
Atualmente a Tudu se prepara para lançar produtos de La Casa de Papel, The Witcher e Sex Education, além de uma série de conteúdos infantis.
A empresa ainda tem como parceiros licenciados a Sanrio, dona da Hello Kitty, e a Marvel, com destaque para estampas do Homem-Aranha, Loki e dos Vingadores.
CRIATIVIDADE, INOVAÇÃO E A IMPORTÂNCIA DO “DESPERDÍCIO ZERO”
O relatório Fios da Moda: Perspectiva Sistêmica para Circularidade, lançado pelo Instituto Modefica em parceria com o Centro de Estudos de Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas, estima que o Brasil produz 170 toneladas de resíduos têxteis por ano.
Apenas na região do Brás (bairro paulista conhecido pelo comércio de roupas), segundo o documento, são coletadas 45 toneladas de resíduo têxtil por dia.
Segundo Fabio, 80% desse material acaba destinado a lixões e aterros sanitários. O que significa que o modelo on demand ainda tem muito a crescer.
“Nós já estamos vendo as novas gerações priorizarem marcas com boas práticas ambientais e existe um consenso corporativo de que medidas ESG não podem ser só mais um modismo”
Para garantir um processo com baixo impacto no meio ambiente, a Tudu utiliza embalagens recicláveis com selo da FSC, utiliza tintas biodegradáveis feitas à base de água e trabalha com algodão sustentável com a licença BCI, que permite rastrear sua origem.
Fabio acredita que a mudança de comportamento do consumidor fará da produção de roupas sob demanda uma tendência.
Aqui no Draft, já apresentamos a Chico Rei, marca de camisetas com estampas criativas que também atua com produtos on demand.
A EXPECTATIVA É CRESCER PELO MENOS 20% AO MÊS
Fabio afirma que a Tudu vem sendo procurada por lojas interessadas em revender seus produtos. De olho nessa oportunidade, criou uma divisão B2B, a Tudu Business, sob comando da sócia Andrea Rocha.
O objetivo dessa nova unidade de negócio é atender, por exemplo, varejistas menores do ramo de vestuário que visam expandir seu portfólio sem investir capital.
Falando em investimento, até aqui a Tudu abriu mão de captar através de fundos. Porém, a expectativa é seguir crescendo pelo menos 20% ao mês. E, para escalar, o empreendedor sabe que vai precisar de aportes.
“Minha estratégia foi chegar em um serviço muito bom e deixar a captação para depois”, diz Fabio. “Preferi estar pronto para poder encontrar o investidor certo, que entenda a nossa cabeça, que é valorizar o artista e fazer ele também ganhar dinheiro, mantendo o foco no cliente.”
Até os 6 anos, Sioduhi se comunicava apenas em tukano, língua falada por seu povo, os piratapuya. Hoje, o estilista se baseia nas tradições indígenas para produzir roupas com fibras da Amazônia e um corante têxtil à base da casca da mandioca.
Depois de trabalhar em grifes, Adriana Meira decidiu montar seu ateliê em uma fazenda no sertão baiano. Hoje, a estilista desenha e borda peças inspiradas por religiões de matriz africana que cativam clientes como Preta Gil e Letícia Colin.
Anne Galante só conseguia se concentrar nas aulas quando tinha linha e agulhas nas mãos. Hoje, ao lado da irmã, Ana, ela empreende a Señorita Galante, que combina artigos de decoração, aulas de crochê e tricô online e projeto social.