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Já pensou em virar um artista digital? A Unhide School quer democratizar o acesso ao mundo da computação gráfica

Marília Marasciulo - 23 jun 2020
Milton Menezes, sócio da Unhide School.
Marília Marasciulo - 23 jun 2020
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Quando entrou na faculdade de Belas Artes, o carioca Milton Menezes “aceitou” a ideia de que jamais iria ganhar dinheiro. 

“Achei que seria um duro, que estava escolhendo fazer o que eu gostava e não sabia se iria dar grana”, lembra.

Ele descobriu que estava errado: trabalhar com arte pode, sim, ser lucrativo. Milton, 34, está à frente, com sócios, da Unhide School, uma escola online de arte digital com aulas que vão de técnicas de iluminação a design de personagens, animação e modelagem 3D, voltados a profissionais e iniciantes.

É a arte digital, por exemplo, que faz surgir personagens em lugares inusitados, paisagens pitorescas que parecem fruto de sonhos ou que permite retoques para deixar o belo ainda mais belo. 

“Existe muito mercado para arte digital. Acho engraçado quando falam que é algo “de nicho”, porque não é. Quando você vê uma série ou filme, não é só o ator, tem toda uma mágica ali por trás feita pelos artistas”

Segundo Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia da PwC (elaborada pré-Covid-19, é bom que se diga), só no Brasil o setor deve crescer 26% até 2021, gerando um faturamento de 43,7 bilhões de dólares. 

“A indústria é gigantesca”, diz Milton. Ao mesmo tempo, afirma que faltam pessoas qualificadas para atuar na área. “Muitos cursos ensinam como se faz uma ou outra coisa, mas poucos mostram como tudo isso se conecta.” 

ANTES DA UNHIDE, OS SÓCIOS TROUXERAM A LIGHTFARM DA NOVA ZELÂNDIA

Antes da Unhide, Milton e o sócio Rafael Vallaperde, 31, passaram três anos e meio na Nova Zelândia, trabalhando no estúdio Lightfarm, especializado na produção de conteúdos criativos por meio de arte digital para o mercado de publicidade.

“Conseguimos oportunidades na vida através da arte digital que não conseguiríamos em outros campos”, diz.

Ao fim desse período, a dupla foi convidada para integrar o quadro societário do estúdio e levar uma filial para o Brasil. O ano era 2014 e, mesmo em plena crise, conseguiram traçar estratégias agressivas, apostando no marketing de serem a primeira produtora multinacional do país.

 O braço brasileiro da Lightfarm atende mais de 200 clientes. Hoje, são 40 funcionários. No começo, porém, uma das dificuldades era justamente encontrar bons profissionais de arte digital. 

“Sentíamos que o sistema de ensino não estava funcionando, que não tínhamos escolas que preparam para o mercado”, diz Milton. 

REVELANDO “SEGREDOS” PARA MAIS GENTE GANHAR DINHEIRO COM ARTE DIGITAL

A ideia da Unhide School veio da percepção dessa demanda reprimida. 

No dia a dia da Lightfarm, volta e meia eles precisavam interromper o trabalho para explicar como resolver algum retoque ou ensinar algo que para eles seria básico.

Até que caiu a ficha: seria mais prático e interessante montar uma plataforma online que funcionasse como um negócio paralelo e ensinasse o que eles faziam no estúdio. 

“Uma escola que ensinasse o que a gente faz seria benéfico para todos: educamos pessoas que eventualmente podem voltar para nós [como profissionais]. Não havia ninguém no mercado comprometido em ensinar, o nome Unhide vem daí: estamos revelando um segredo de como fazer dinheiro com isso”

A ideia era entregar a expertise acumulada em anos de carreira de forma “mastigada” para jovens a fim de aprender, mas sem muita grana para investir em especializações caras.

PARA BOTAR O PROJETO DE PÉ, ELES RECRUTARAM MAIS DOIS SÓCIOS

Para botar de pé o projeto da escola de cursos online, em 2016, eles recrutaram outros dois sócios: a administradora Danielle Ohana (hoje, 30), amiga de infância de Rafael, e o gestor de projetos Ricardo Combat, 33, atual CTO da empresa.

Milton e Rafael seriam também os professores. Os cursos ficariam disponíveis para serem comprados de forma avulsa, ou na forma de um pacote de assinatura, como um Netflix. 

E em vez de hospedar a Unhide no site da Lightfarm, resolveram construir um site próprio, para ter melhor controle da plataforma. “Foi um investimento grande”, diz Milton. “Podíamos ter feito no YouTube, mas agora temos uma estrutura completa.” 

Tomaram também uma decisão ousada: todo o conteúdo seria exclusivamente em inglês. 

Na visão de Milton e Rafael (que descobriram isso “na marra”), a fluência no idioma significa até 50% do caminho para o sucesso na carreira.

DISPONIBILIZAR CONTEÚDOS APENAS EM INGLÊS FOI UMA DECISÃO ERRADA

A primeira versão da Unhide School, lançada no começo de 2017, era gratuita. O objetivo era entender se havia interesse da comunidade — e encontrar o jeito certo de ensinar. 

Logo, precisaram fazer ajustes. Começando por derrubar a restrição de idioma. Danielle conta:

“No início, éramos totalmente ‘perdidos’. A gente [só] fazia o que queria e o que achava que as pessoas iriam curtir. Mas uma das nossas missões era democratizar o acesso — e a parte do inglês foi crítica para isso”

Ajustaram o ritmo do ensino: começaram muito lento, depois aceleraram demais, até finalmente encontrar um equilíbrio. “Tivemos que aprender como ensinar”, diz Milton.

Ocorreram outros acertos naquela fase. Um deles foi a opção por usar também softwares livres, que não exigem do aluno uma licença extra para participar das aulas. 

Além disso, decidiram acertadamente abordar temas que transcendem o puro domínio técnico das ferramentas de computação gráfica. Por exemplo, como se “vender” no Instagram para fazer seu portfólio chegar a mais gente.

SÃO MAIS DE 300 HORAS DE CONTEÚDO E DOIS NOVOS CURSOS POR MÊS, EM MÉDIA

Hoje com cinco mil inscritos, a Unhide soma mais de 300 horas de conteúdos que vão desde técnicas de iluminação a design de personagem, animação 2D, modelagem 3D e pós-produção. Em média, produz dois novos cursos por mês. 

No site, há uma área com os portfólios da comunidade de usuários. E além de oferecer mentoria e feedback aos usuários, a escola mantém um grupo no Facebook para que os alunos troquem experiências e contribuindo para a colocação dos profissionais no mercado. 

A primeira versão paga foi lançada em 2018 e trazia duas opções: mensalidade (que custava então 50 reais) ou pagamento por curso (na época, 200 reais em média). Em 2009, porém, eles ajustaram o modelo, aboliram a possibilidade de compras avulsas e fixaram a mensalidade em 48 reais. 

Também no ano passado, naquele hoje distante tempo pré-Covid-19, a escola realizou a edição mais recente (a segunda) do seu festival, a Unhide Conference, evento sobre arte digital que atraiu 7,5 mil pessoas.

NA PANDEMIA, UM DESAFIO É A INSTABILIDADE DA INTERNET PARA SUBIR ARQUIVOS

O escritório da Unhide funciona — ou funcionava, até o começo da pandemia — no mesmo edifício da Lightfarm, no Rio de Janeiro, o que facilita(va) o vai-e-vem de Milton e Rafael: os dois seguem trabalhando na empresa, em jornada dupla.

Danielle diz que o time de dez pessoas da Unhide adotou o home office no começo de março. “A mudança foi brusca, mas já fazíamos um trabalho de gestão bem eficiente baseado na metodologia ágil que permitiu continuarmos organizados mesmo remotamente”. 

Além disso, diz, boa parte das reuniões já se davam online, mesmo antes da pandemia. 

“Ainda temos outros contratempos. Por exemplo, compartilhar arquivos — e os nossos são muito pesados — virou um desafio com a internet residencial que com frequência falha no serviço e não tem velocidade de upload boa”

Danielle conta que o time também precisou se adaptar para seguir produzindo novos cursos.

“Reestruturamos a forma de gravar para sermos 100% remotos e já lançamos três cursos com os professores em casa: Shader no Blender para Iniciantes, Photoshop Avançado e Matte Painting no Photoshop e Nuke.

O PRÊMIO DE UM CONCURSO RECENTE ERA UMA VAGA NA REDE GLOBO

O empreendedor conta que houve aumento na procura pela Unhide desde o começo da pandemia. “Nossos contests também têm batido recorde atrás de recorde de participação”, diz Milton.

Ele se refere aos concursos de arte digital que a Unhide promove para estimular a produção da sua comunidade. “Estamos agora mesmo com um contest em andamento, com o tema de Anime, Mangás, Tokusatsus e Games Japoneses no Brasil.”

Quem participa desses concursos concorre a prêmios. Recentemente, por meio de uma parceria com a Rede Globo, um contest de Motion Graphics Infográfico trazia o desafio de produzir um vídeo de até 60 segundos. O vencedor ganhava uma vaga de experiência remunerada na emissora.

Os sócios dizem que a escola ainda caminha para se tornar lucrativa.  “É um investimento de muito longo prazo, a gente não faz por grana”, diz Milton. O maior retorno talvez seja mesmo imensurável: capacitar pessoas, conectar empresas com bons profissionais e girar a roda do mercado de arte digital.

DRAFT CARD

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  • Projeto: Unhide School
  • O que faz: Plataforma online de ensino de arte digital.
  • Sócio(s): Milton Menezes, Rafael Vallaperde, Ricardo Combat e Danielle Ohana
  • Funcionários: 10
  • Sede: Rio de Janeiro
  • Início das atividades: 2017
  • Investimento inicial: R$ 200 mil
  • Faturamento: R$ 1 milhão (previsão para 2020)
  • Contato: [email protected]
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