Abelhas: saiba por que elas são fundamentais e por que estão sumindo do planeta

Wilhan Santin - 23 jun 2015
Abelhas melíferas polinizam cerca de um terço dos alimentos que você consome diariamente, mas estão sumindo do planeta
Wilhan Santin - 23 jun 2015
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Um mistério tem intrigado pesquisadores, produtores rurais e ambientalistas na última década. No hemisfério Norte, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa, abelhas têm desaparecido de suas colmeias sem deixar rastros, abandonando a rainha, o alimento e as crias.

O fenômeno vem sendo estudado no mundo acadêmico como “desordem do colapso das colônias”, e já ganhou até uma sigla: DCC.

Pesquisadores buscam explicações para as causas do problema e maneiras de minimizá-lo ou evitá-lo. Abelhas são fundamentais para a polinização das plantas e contribuem muito para bons resultados na agricultura – abelhas melíferas polinizam cerca de um terço dos alimentos que você consome diariamente, numa relação de milhares de anos.

De acordo com a professora da UEL (Universidade Estadual de Londrina) Silvia Helena Sofia, doutora em Zoologia e especialista em abelhas, 75% das 124 principais culturas de alimentos do mundo dependem em algum grau da polinização por insetos.

A DCC, na realidade, não é um fato novo, explica Décio Gazzoni, pesquisador da Embrapa Soja. Há registros na literatura científica da ocorrência do fenômeno no século 19 nos Estados Unidos, por exemplo. “Sabemos que acontece em ciclos espaçados, entre 15 e 25 anos, com duração entre seis e dez anos. Mas, desde o início, ainda não se determinou a causa”, afirma.

A grande diferença da DCC para outras causas de mortalidade em massa de abelhas, como envenenamento ou falta de alimento para as colmeias, é que as operárias abandonam a colônia e as abelhas mortas não são encontradas nas redondezas. Além disso, a rainha é abandonada à própria sorte e acaba morrendo de fome.

“Sem encontrar as abelhas mortas, fica difícil saber o que aconteceu. Quando elas morrem perto da colmeia, por exemplo, facilmente conseguimos identificar o que houve”, diz Gazzoni.

Brasil ainda não tem registros significativos da desordem que afeta as colmeias pelo mundo, mas o setor já se movimenta para evitar o problema.

Brasil ainda não tem registros significativos da desordem que afeta as colmeias pelo mundo, mas o setor já se movimenta para evitar o problema.

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o problema ainda não foi registrado no Brasil. Entre os pesquisadores da Embrapa, também não há relatos até o momento da ocorrência da DCC em colmeias do país.

“Aparentemente, as espécies africanizadas, mais comuns por aqui, são mais rústicas e resistentes. A síndrome atinge as abelhas europeias”, destaca o pesquisador da Embrapa Soja.

O apicultor Leonides Kutiz, por exemplo, que trabalha com produção de mel há 32 anos em Ortigueira, no Paraná, diz ter ouvido falar da DCC apenas por meio da imprensa, e que nunca constatou o problema em nenhuma das 2.000 colônias que ele mantém, cada uma com até 100 mil abelhas africanizadas.

“Por aqui está tudo bem com a nossa produção. Somos 70 produtores na região e nenhuma foi afetada por essa síndrome. Fazendo o manejo de forma correta, conseguimos uma boa produção de mel sem mortalidade de abelhas”, diz Kutiz, que produz 50 toneladas de mel por ano — a maior parte para exportação.

INTERAÇÃO DE CAUSAS

Mas, afinal, o que pode estar causando o problema? Gazzoni e Sofia concordam que o mais provável é que seja uma reunião de fatores. Entre eles, a redução dos habitats naturais das abelhas, a proliferação de pragas e doenças que atacam esses insetos, como ácaros, fungos, bactérias e vírus, mudanças climáticas, estreitamento da base genética dos insetos, avanço de monoculturas e uso incorreto de pesticidas. Como resume o pesquisador da Embrapa:

“É um enigma, mas o conceito científico aponta para uma interação de causas”

“Não há dúvidas de que o número de polinizadores no mundo está declinando. Por isso, há um grande empenho científico nesta área. Vários estudos estão sendo feitos, por muito pesquisadores, para chegar a respostas conclusivas para todas as perguntas que temos sobre esse fenômeno”, complementa Sofia.

De fato, ainda há muito a ser estudado em relação às abelhas. Segundo a professora, há no mundo em torno de 20 mil espécies.

No Brasil, estima-se que haja 5.000 espécies. Porém, de todas as espécies de abelhas que habitam o planeta, apenas 2.000 são conhecidas pelos cientistas.

Em torno de 90% das abelhas que existem no mundo são solitárias ou têm nível de sociedade muito rudimentar. Em outras palavras, não formam colônias.

TRABALHANDO PARA MANTER VIVO O ZUM-ZUM DAS ABELHAS

Diante desse desafio para o qual ninguém ainda tem todas as respostas, é fundamental unir esforços entre apicultores, governo, academia e indústria para identificar as melhores maneiras de proteger o sistema natural de polinização.

Redução de habitats naturais, mudanças no clima, proliferação de pragas e avanço de monoculturas são algumas causas associadas à DCC.

Redução de habitats naturais, mudanças no clima, proliferação de pragas e avanço de monoculturas são algumas causas associadas à DCC.

A Monsanto ajuda a unir mais peças desse quebra-cabeça por meio da Beeologics, uma organização de pesquisa e testes de produtos biológicos que controlam pragas e doenças sem afetar as abelhas.

No trabalho de campo, pesquisadores pesam as colônias de abelhas e medem condições de temperatura, umidade e pluviosidade. Conheça mais aqui sobre a atuação da Monsanto nesta área.

A empresa integra ainda a HBHC (Honey Bee Health Coalition, ou aliança pela saúde da abelha melífera), um esforço de colaboração entre mais de 30 organizações e agências. Em 2014, esse grupo lançou um plano de trabalho com prioridades e ações específicas para preservação de espécies polinizadoras.

A Monsanto também já investiu US$ 1 milhão em pesquisa e desenvolvimento de meios de controle do ácaro Varroa, o parasita que é uma das principais causas da DCC. No Brasil, a Embrapa articula uma rede de pesquisadores em um grande projeto de pesquisa para proteger o sistema de polinização, que deve sair do papel em 2016.

São exemplos de trabalhos conjuntos para manter e aumentar as populações de abelhas melíferas pelo mundo, parte essencial do esforço pela saúde desses pequenos insetos que carregam enorme responsabilidade na oferta global de alimentos.

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