“Você pode não entender por que é tão importante. Pode até não reconhecer totalmente a causa. Mas precisa continuar dialogando e se aliar a elas.” Esse é o posicionamento de Luis Gonçalves, Vice-Presidente Sênior e Gerente Geral da Dell, sobre a importância de haver mais mulheres nos cargos mais altos das empresas. Hoje, ele é parte de uma maioria esmagadora: 90% das posições de liderança corporativa são ocupadas por pessoas do sexo masculino. E ele sabe: ignorar esse dado é ignorar, também, o futuro. “É fundamental fazer um esforço contínuo para mudar esse cenário. Por isso, tento dar o exemplo.”
Não daria para pensar de outra maneira dentro da Dell: a empresa é referência internacional na busca pelo protagonismo feminino em ambientes corporativos, promovendo ações de conscientização, eventos de networking, palestras e a criação de grupos de discussão dentro e fora de suas dependências. No Brasil, um mercado empreendedor em ascensão, a companhia tenta alavancar projetos liderados por mulheres, especialmente nas empresas de pequeno e médio porte.
Recentemente, a empresa lançou o estudo Dell Women Entrepreneur Cities 2018, que avaliou 50 grandes cidades no planeta, a fim de ranqueá-las de acordo com seu preparo para garantir o sucesso de mulheres empreendedoras. Entre os critérios para avaliação estão: acesso ao capital necessário para abrir um negócio; índices econômicos dos países avaliados; acesso ao capital humano; acesso à tecnologia; e cultura empreendedora de cada região.
A partir desses critérios, 72 indicadores foram montados – e 45 deles passam por um recorte de gênero para entender o cenário econômico atual sob a ótica feminina. Os índices avaliados vão desde a utilização de internet para fazer transações bancárias até a possibilidade de tirar licença-maternidade. São Paulo, a cidade brasileira avaliada, está na 42ª posição. “A colocação engana”, afirma Luis. “Parece desfavorável a princípio, mas a verdade é que somos um mercado efervescente, com muito espaço para crescer.” A capital paulista foi a cidade mais bem colocada da América Latina.
O estudo mostra que a metrópole já cumpriu muitos dos requisitos básicos para ser um ambiente fértil para empreendedoras: possui uma economia forte e estabelecida, cujos efeitos reverberam no resto do planeta, recursos naturais abundantes, bom acesso à tecnologia e à internet e uma população definida pela diversidade, o que transforma a região em um mercado com demandas plurais e atrativas para o mundo inteiro. “A grande questão é encontrar formas de explorar o que já temos e converter essa atratividade em empreendedorismo de forma gradual e bem estruturada, mas também acelerada”, conta Luis, e prossegue:
“O empreendedorismo feminino vai fortalecer a economia e todos têm que participar desse processo: tomando consciência, dialogando e direcionando recursos para as mulheres que estão abrindo novos negócios.”
Há, no entanto, pelo menos dois complicadores para que isso aconteça. O primeiro é a burocracia: no Brasil, leva-se em média 136 dias para registrar uma empresa. O segundo é a dificuldade em realizar empréstimos pelos bancos, que exigem bens como casa ou carro próprios como hipoteca. Embora Luis acredite que os bancos devam flexibilizar suas condições para conceder empréstimos no futuro, a Dell também já destaca outra forma, mais ágil e direta, como novas empreendedoras podem fazer negócios: o crowdfunding. O estudo destaca o Catarse como plataforma por meio da qual projetos podem sair do papel com ajuda da tecnologia. Além disso, pedidos de financiamento coletivo também podem gerar engajamento e crescimento orgânico de público para quem não tem grandes recursos para começar. “Não se deve sustentar todo o negócio nesse modelo, mas é uma forma inteligente de conseguir um alcance que, sem essa tecnologia, não seria possível.” Em cinco anos, o Catarse já movimentou cerca de R$ 32 milhões em financiamentos.
Ainda segundo o estudo, a maior dificuldade das mulheres para ganhar autoconfiança e coragem para dar os primeiros passos no próprio negócio está em encontrar exemplos de quem já chegou lá. O Dell WE Cities aponta que, hoje, apenas 11% dos cargos de senador no Brasil são ocupados por pessoas do sexo feminino. Nos postos de gerência em empresas do país, elas são apenas 37% do total. Nas posições de alta liderança dos ambientes corporativos, apenas uma em cada dez cadeiras é ocupada por uma mulher – que ainda recebe, em média, apenas 76% do salário de um homem na mesma posição. É neste cenário que a necessidade de mudanças se revela mais urgente.
Para a Dell, isso significa criar espaços de aprendizado e diálogo entre mulheres desde cedo, levando programas de tecnologia e educação para escolas, para fazer com que meninas se interessem por ciências, matemática, computação e estatística. Luis fala dos planos da empresa: “Queremos formar uma geração que em 10 ou 15 anos vai chegar ao mercado de trabalho pronta para atender as necessidades do mercado da tecnologia. Será uma geração liberta de preconceitos, e temos que estar preparados para recebê-la em um mercado diverso em raça, orientação sexual e, também, em gênero”. Ele prossegue:
“Não haverá motivação para trabalhar em empresas machistas e onde a diversidade não é reconhecida”
Assim, diz, a diversidade será um posicionamento determinante junto aos consumidores e aos talentos que as empresas poderão atrair. Será uma maneira de colocar valores em prática e prestar contas à sociedade. Luis acredita que, depois de herdar características essencialmente masculinas durante décadas, as corporações passarão por uma reconstrução – e só assim serão capazes de se manter vivas.
Com perspectivas mais diversas para captar oportunidades, o crescimento prometido pelo Dell WE Cities ganha ainda mais potencial em São Paulo. “As mulheres são a maioria da população brasileira e têm uma atuação muito impactante na economia. Uma empresa não pode mais ignorar esse recorte”, diz o executivo. “Na Dell, precisamos nos manter sincronizados com os desafios da nossa era. Assim, não só damos o exemplo como tornamos a liderança e a convivência no trabalho mais ricas.”