Dizer que fulano “mora mal” é uma forma elitista e algo cruel para se referir a um morador de favela ou bairro periférico, ou simplesmente a alguém que vive longe de você. Infelizmente, também pode ser um diagnóstico preciso para definir a situação de um enorme contingente de brasileiros. Calcula-se que 40 milhões de pessoas no país vivam em moradias insalubres, com deficiências graves de umidade, ventilação e saneamento que trazem riscos diretos à saúde de seus ocupantes. É uma questão que costuma fugir do escopo de programas como o Minha Casa, Minha Vida, focado na construção de casas novas, e não na reforma daquelas que já existem.
Às vezes, a família moradora da favela ou periferia até tem condições e vontade de investir, um pouco que seja, para abrir uma janela ou revestir uma parede. Mas, por falta de alternativa e orientação, acaba confiando a obra a um pedreiro faz-tudo de habilidade duvidosa, que entrega um serviço mambembe. Gerenciar a compra de materiais, como cimento e tijolos, também dá dor de cabeça e frequentemente acaba em desperdício. E conseguir crédito junto aos bancos pode ser impossível para quem muitas vezes carece de um papel comprovando ser dono do próprio teto.
Foi para atacar esse problema que nasceu, em 2014, o Programa Vivenda, negócio social com sede em São Paulo. “Nós oferecemos acesso a uma reforma eficiente, de alto impacto social e baixa complexidade para a população de baixa renda”, resumiu Fernando Assad, sócio da Vivenda, durante o Demo Day do Braskem Labs, em novembro (a empresa foi uma das 12 participantes do programa de aceleração em 2016). “Desenvolvemos um modelo integrado que envolve planejamento, material, mão de obra e parcelamento, tudo acessível e de rápida execução.”
Formado em administração, Assad é fundador da Giral, consultoria que faz a ponte entre corporações e comunidades na implementação de projetos, e tem mais de uma década de experiência em gestão socioambiental. Ele toca a Vivenda em parceria com os sócios Igiano Lima, arquiteto, e Marcelo Coelho, historiador, ambos com extensa bagagem em urbanização de favelas trabalhando junto à Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). Os três traçaram o modelo de negócios da Vivenda, baseado em crédito, mão-de-obra, material e planejamento técnico, tudo negociado e entregue ao cliente num pacote só.
Desde 2014, a empresa contabiliza mais de 500 reformas executadas (cada reforma equivale a um cômodo), praticamente todas no Jardim Ibirapuera, na Zona Sul de São Paulo, onde a Vivenda montou sua primeira base. São obras rápidas, que duram em média seis dias, custam em torno de R$ 5 mil e podem incluir serviços de impermeabilização e aplicação de revestimentos, combate ao mofo, conserto de vazamentos e abertura de janelas para ventilação. O cliente se livra de incumbências como comprar o material, gerenciar os pedreiros ou retirar o entulho, e ganha a dupla tranquilidade de contar com um projeto técnico confiável e quitar a reforma em parcelas confortáveis.
“Temos dois modelos de venda. O direto ao morador, que paga o valor total da reforma, e o pago por terceiros, que doam para as famílias mais vulneráveis”, diz Assad. Nesse segundo modelo, um parceiro recorrente é o Instituto Phi. “Quando começamos, três anos atrás, era praticamente 100% subsidiado. Hoje é meio a meio, e a projeção para os próximos doze meses é que o subsidiado represente cerca de 10% das vendas totais.”
No início de 2017, a Vivenda inaugurou sua segunda loja, em São Miguel Paulista, na Zona Leste de São Paulo. Essa expansão faz parte da nova fase da empresa, que visa ganhar escala (a ambição é montar um ponto de venda em cada favela do país), e ocorre na sequência da participação no Braskem Labs 2016. Durante o programa, ao longo de quatro meses de capacitação personalizada, Assad recebeu mentorias sobre temas como finanças, acesso a capital, vendas e marketing, e teve oportunidades de aprofundar seu networking e manter contato com equipes de inovação da Braskem, numa imersão sobre os meandros da cadeia do plástico.
“Creio que o principal benefício de ter participado do Labs foi ter feito uma maior aproximação com algumas indústrias de materiais de construção que usam o plástico como matéria-prima”, diz Assad. “Estamos construindo uma estratégia para aquisição de materiais a preços mais competitivos, e tivemos a oportunidade de explorar, de forma mais detalhada, alternativas para fazer esse modelo acontecer.”
Acelerar empresas com soluções ousadas e modelos de negócio inovadores para ajudar a melhorar o país e o mundo são a proposta do Braskem Labs 2017. Aos potenciais candidatos a uma vaga no programa, a dica do empreendedor é explorar bem as possibilidades e a relevância da integração de seu negócio com a cadeia do plástico. “Havendo caminhos robustos nesse sentido, a Braskem consegue abrir portas imensas”, diz Assad.
Fique ligado: as inscrições foram prorrogadas e se encerram na quarta-feira, 24 de maio. Inscreva-se!