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Amigos desde a adolescência, eles empreenderam juntos para conectar fotógrafos e atletas por meio da tecnologia

Anna Oliveira - 22 jul 2024
André Chaco (à esq.) e Renato Cukier, os fundadores da Fotop (foto: Agência Ophelia).
Anna Oliveira - 22 jul 2024
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Quando se conheceram em um acampamento, ainda na adolescência, André Chaco e Renato Cukier nem podiam imaginar que, daquele encontro surgiria não apenas uma grande amizade, mas alguns negócios.

Entre as empresas fundadas pela dupla está a Fotop, uma plataforma de venda de fotos que conecta fotógrafos profissionais aos participantes de eventos. E o curioso é que um dos clientes hoje é justamente aquele acampamento de férias.

 Foi assim: em um verão durante os anos 1990, os dois jovens paulistanos foram passar um tempo no resort serrano NR, na Serra da Mantiqueira, próximo a Campos do Jordão. “Os pais, quando não querem ficar com os filhos nas férias, despacham os filhos para lá”, brinca André, 47, mesma idade de Renato. “Hoje, eu despacho os meus também!” 

A partir desse encontro, começou uma amizade que, ao longo do tempo, foi reforçada por interesses em comum. Os dois gostavam de andar de bicicleta, de jogar paintball e de escalar — este último hobby, aliás, foi descoberto em uma viagem que os paulistanos fizeram juntos a Israel, em 1993. André conta:

“Era um programa permanente para jovens da comunidade judaica. Lá, além de conhecer a cultura, tivemos o primeiro contato com a escalada e adoramos” 

O que começou como lazer, contudo, se transformou no embrião da Fotop. É que, na volta de Israel, os amigos fizeram um curso de escalada e, tempo depois, Renato sugeriu criar um site de conteúdo sobre esse esporte de aventura. “O site entrou no ar em dezembro de 1996”, recorda.

Na época, Renato cursava administração na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e trabalhava com internet, enquanto André estudava odontologia na Universidade Santo Amaro (Unisa) — profissão que nunca chegou a exercer por conta dessa carreira paralela que deu origem à Fotop.

FÃS DE ESCALADA, ELES EMPREENDERAM PRIMEIRO A WEBVENTURE, UM SITE DE ESPORTES DE AVENTURA

Como Renato lembra, no início o site de escalada não tinha qualquer pretensão financeira no início. 

“Vimos que não existia nenhum site sobre isso e criamos um para nos aproximar do mundo da escalada, mas uma hora virou negócio” 

Isso aconteceu quando eles expandiram o conteúdo e, em 1998, viraram o Webventure, um site sobre esportes de aventura. Foi então que, ironicamente, os dois precisaram parar de escalar para dar conta das demandas do negócio (são as vicissitudes do empreendedorismo…)

Naquela época, eles foram chamados para integrar o UOL, abrigando o conteúdo sobre escalada e aventura no portal. 

“Acho que a nossa virada, o que transformou um hobby em negócio, foi colocar três banners na home do nosso site. Na época, publicidade na internet se resumia a banner”

(O portal Webventure hoje é um produto da Ticket Sports, na qual os dois são sócios.)

AO EMBARCAR NA COBERTURA DO RALLY DOS SERTÕES, ELES SE DERAM CONTA DO VALOR DA IMAGEM

Assim, a parceria dos amigos foi seguindo até que, em 2000, entrou em jogo um elemento que, hoje, é parte essencial do negócio da Fotop: as imagens. 

Renato explica:

“Nós começamos a cobrir o Rally dos Sertões com o objetivo de ser um conteúdo jornalístico, mas, para fazer cobertura online, não adianta ter só texto, precisa de foto”

Só que as imagens — produzidas, a princípio, de forma amadora por André — não ficaram apenas no site. Quando os pilotos viram uma pessoa tirando fotos, perguntaram se seria possível compartilhar as imagens e alguns até pediram para comprar. 

“Eu virei para o Renato e disse ‘cara, tem dinheiro aqui’”, conta André. O feeling estava certo: as edições seguintes do Rally dos Sertões foram a primeira fonte de receita oriunda do trabalho de fotografia. 

Àquela altura, eles precisaram profissionalizar o trabalho e contrataram um fotógrafo. 

(Hoje, é claro, esse número é bem maior: a Fotop – que até então não existia – tem mais de 32 mil profissionais cadastrados e mais de 800 mil eventos publicados na plataforma, além de mais de 600 milhões de fotos enviadas ao longo dos anos.)

AO FECHAR UM CONTRATO COM A NIKE, ELES PRECISARAM SE VIRAR PARA DAR CONTA DA DEMANDA

O desenvolvimento desse sistema de disponibilização de imagens em uma plataforma online teve um marco lá nos idos de 2004, quando a Nike procurou André para um projeto. 

A ideia era a seguinte: a marca esportiva estava organizando uma corrida de 10km e queria dar as fotos gratuitamente para os atletas. André recorda, aos risos:

“Voltei para o escritório, o Renato perguntou como foi a reunião, eu disse que foi boa, que iríamos anunciar a corrida da Nike, mas que tinha só um detalhe: eles precisam de um produto que entregasse as fotos para todos os corredores e eu falei que nós sabíamos fazer isso. Foi aí que o Renato me perguntou se eu tinha enlouquecido!”

Hoje, a Fotop utiliza uma tecnologia de inteligência artificial para identificar os participantes de um evento, o que facilita a entrega de uma foto.

Na época, porém, eles não dispunham de um recurso tão sofisticado, o que significa que foi necessário um trabalho hercúleo para desenvolver a plataforma para o evento da Nike. Um trabalho que não só deu certo, mas foi um sucesso. 

“Em resumo, o Renato fez um sistema no qual dava para as pessoas se encontrarem”, diz André. “Nós colocamos um número ‘exorbitante’ de uns oito fotógrafos para cobrir o evento, o que para os nossos padrões atuais não é nada. A Nike adorou, os atletas adoraram.”

A DUPLA RECORREU A UMA CONSULTORIA PARA RESOLVER A FALTA DE FOCO E ORGANIZAR A EMPRESA

Aos poucos, o que começou apenas como um site sobre escalada virou um negócio de conteúdo online sobre esporte de aventura e seguiu até se converter numa plataforma de venda de fotos que abrange não só a prática esportiva, mas diversos eventos. 

Para chegar nesse modelo, os sócios contaram com a expertise de especialistas do mercado. André recorda:

“Em 2012, passamos por uma consultoria. Nós estávamos super desorganizados como empresa porque tínhamos várias frentes diferentes: conteúdo, publicidade, venda de inscrição para eventos e venda de fotos. Faltava foco”

Depois da análise feita pela consultoria e de muita conversa entre os dois empreendedores, ficou decidido que os negócios seriam separados. 

“Decidimos ter uma empresa focada na venda de fotografia, deixar outra só para inscrição em eventos e manter a parte do conteúdo como um recurso de marketing, não mais como fonte de receita”, conta André. 

Renato completa: “A ideia era desvincular de um nome relacionado especificamente ao esporte para poder explorar qualquer mercado que tivesse a ver com fotografia”. E foi assim que, em junho de 2014, nasceu a Fotop. 

MUDAR O PÚBLICO-ALVO FOI CRUCIAL PARA TRAZER SUSTENTABILIDADE FINANCEIRA AO NEGÓCIO

Em 2024, a Fotop completou dez anos de operação nesse modelo de plataforma de vendas de fotos. 

Nesse período, alguns ajustes foram feitos, como a mudança de público-alvo, que hoje é principalmente B2C — o que, nas palavras dos fundadores, ajudou a trazer mais sustentabilidade para o negócio. Renato conta:

“Entendemos que seria muito mais estável ter receita vindo dos participantes num volume muito maior de consumidores pagando menos, como em uma maratona com 10 ou 15 mil corredores. Isso seria muito mais escalável do que ficar dependendo de poucas verbas de patrocinadores”

Dessa forma, aos poucos a Fotop foi transformando sua atuação.

“Hoje, ainda fazemos ativação com foto, como aconteceu em uma maratona no Rio de Janeiro patrocinada pela Adidas ou na tirolesa instalada no Rock in Rio, mas esse não é nosso foco de receita”, diz Renato. 

Outro ajuste importante foi dar autonomia para que os próprios profissionais cadastrassem eventos na plataforma, crescendo o número de coberturas, mas sem necessariamente onerar a operação interna da Fotop com a organização da estrutura em torno daquele trabalho. 

SUPERADO O BAQUE NO PRIMEIRO ANO DA PANDEMIA, A FOTOP VOLTOU A CRESCER

A grande sacada, segundo os dois amigos, foi oferecer uma plataforma que permitisse ao profissional gerenciar tudo com facilidade: do cadastro, a busca de outros fotógrafos para compor a equipe de cobertura do evento até a disponibilização das fotos para a compra individual dos participantes. 

Com isso, a inclusão de eventos menores passou a ser financeiramente interessante para André e Renato. O primeiro conta:

“Entraram muitos cadastros desse tipo, mas que continuavam sendo interessantes para nós porque não tínhamos mais relação direta com a organização deles. Assim, dobramos o faturamento em 2017, depois de novo em 2018 e mais uma vez em 2019”

Sem surpresas, esse fluxo de crescimento foi interrompido em 2020 por conta da Covid-19. Porém, a Fotop voltou a dobrar seus números em 2021, 2022 e 2023. 

Esse impulso pós-pandemia se refletiu, em 2022, no número recorde de 120 milhões de fotos enviadas naquele ano por fotógrafos cadastrados na Fotop.

PRESENTE EM OUTROS OITO PAÍSES, A EMPRESA ESPERA OBTER 15% DA RECEITA VINDA DE FORA DO BRASIL

Hoje, a plataforma atende todos os estados brasileiros, bem como outros oito países: Austrália, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, Irlanda, Itália e Portugal.

Para amparar essa expansão, a Fotop busca estar antenada às novas tecnologias. André afirma:

“Fomos pioneiros em usar reconhecimento facial nas fotos, o que ajuda na identificação dos participantes, e na leitura de número de peito, que é muito importante para eventos com numeração, como nas corridas de rua”

A plataforma disponibiliza ainda um sistema de edição de foto com ajuda de inteligência artificial, otimizando o trabalho dos profissionais. 

E, como na era das redes sociais, nem só de foto vive a humanidade, a Fotop também passou a trabalhar com o formato de vídeo. “Entramos com vídeo dos atletas completando o percurso em 2019”, diz André. 

As redes sociais, aliás, tiveram um papel importante na trajetória da Fotop. Afinal, hoje muitas vezes não basta viver uma experiência – a maioria das pessoas sente a necessidade de compartilhar esse momento com os outros. 

Da mesma forma, o celular deu a sua contribuição para o negócio da plataforma — o que pode soar estranho para alguns num primeiro momento. André esclarece:

“Muita gente diz que o celular é nosso maior concorrente, mas eu falo que é o nosso maior aliado. Porque, com o celular, a foto virou um negócio que todo mundo quer fazer, só que não necessariamente faz bem. Na hora que você oferece uma imagem melhor, o cara fala: uau!” 

Assim, ele complementa, “a imagem feita por um profissional especializado passa a ser um produto que as pessoas buscam e estão dispostas a pagar.”

É por conta desse desejo de ver e ser visto, de registrar um momento e de compartilhar experiências, que a Fotop continua crescendo. A meta para 2024 é dobrar o número de eventos cadastrados e obter 15% da receita vinda de fora do Brasil. 

Tudo sustentado pela inovação, pelo profissionalismo – e, é claro, por uma amizade de longa data.

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