Ao facilitar o acesso a bolsas de estudo, a Melhor Escola fatura e ajuda pais na escolha do colégio dos filhos

Ana Paula Machado - 19 jul 2018
Juliano Souza e Sergio Andrade contam que se inspiraram no modelo da Quero Educação para começar a faturar e, no fim, a empresa se tornou investidora do negócio deles.
Ana Paula Machado - 19 jul 2018
COMPARTILHE

Quem tem filhos em idade escolar sabe quanto a busca por uma boa escola é uma missão complexa. Há variáveis demais (localização, preço e boas referências) e a tarefa acaba virando um desafio de paciência, fazendo os pais irem de instituição em instituição para coletar informações. Juliano Souza, 38, sentiu isso na pele e — como é comum a muitos empreendedores — achou que se encontrasse uma boa solução para isso, ela poderia ser também um bom negócio. Junto com Sergio Andrade, 37, eles criaram a Melhor Escola, plataforma que agrega informações sobre colégios privados e públicos de todo país, além de trazer avaliações e depoimentos de pais, alunos e professores. E mais: acabou virando um canal reconhecido para encontrar bolsas de estudo. A startup já saiu no Draft, na seção Acelerados, em abril de 2016, mas desde lá muita coisa mudou.

Os fundadores se conheceram em São Paulo, quando faziam um curso pré-vestibular, mas àquela altura cada um queria trilhar um caminho diferente. Enquanto Sergio estudou Administração de Empresas na FGV, Juliano fez Engenharia Mecânica na USP. O que eles não imaginavam é que, já adultos e com filhos pequenos, acabariam empreendendo juntos. “Quando Juliano mudou de bairro e queria achar uma escola para o filho, que tinha 2 anos, ficou inconformado com o fato de não existir nenhuma ferramenta para ajudar nesse processo”, fala Sergio. Ele prossegue:

“Começamos a pensar em alguma solução porque percebemos que era uma necessidade ainda não atendida pelo mercado e que fazia diferença para os pais”

Nesta época, final de 2012, Sergio trabalhava com consultoria estratégica e Juliano acumulava experiências em multinacionais. Nenhum deles tinha qualquer ligação com a área da educação, mas encontraram uma referência para a iniciativa nos Estados Unidos, o Great Schools. “Acreditamos que era viável montar um sistema de rating similar aqui no Brasil, então, fomos procurar uma base de dados para colher informações das escolas brasileiras”, conta o empreendedor.

Na plataforma da Melhor Escola, os pais utilizam os filtros de cidade, rede de ensino e fase educacional para buscar e comparar instituições.

Para cadastrar as mais de 193 mil escolas (número atual do site), a dupla buscou informações do Inep, o Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais ligado ao Ministério da Educação (MEC). A partir deste banco de dados básicos (com número de alunos total e por sala, endereço, taxa de aprovação e estrutura), o portal começou a funcionar. E havia uma sacada: pais, alunos e professores são convidados a dar depoimentos, avaliações e outras informações, como valor das mensalidades, o que aumentava a qualidade da base de dados oferecido.

O processo de pesquisa de escolas no site é simples: basta filtrar a busca por cidade ou bairro, rede (privada, estadual, federal ou municipal) e fase de ensino. No resultado, as escolas aparecem elencadas, com destaque para a nota média que receberam por avaliações no site, endereço e valor de mensalidade, além de descontos (se houver). Clicando na instituição desejada, ainda é possível ter acesso a mais dados, como metodologia, fotos, depoimentos e estrutura.

COMO TRANSFORMAR UMA BOA IDEIA EM UM NEGÓCIO VIÁVEL

Fazer a roda girar exige paciência, muito trabalho e, claro, dinheiro. No início, o investimento foi pessoal, no valor de 120 mil reais, o que serviria para cobrir os custos da empresa nos dois primeiros anos de operação. O recurso foi distribuído entre a estruturação e a atualização do site, além de estratégias de divulgação.

Depois de inserir os dados básicos, a Melhor Escola filtra os colégios por nota de avaliações, valor de mensalidade, endereço e descontos.

No quesito propaganda, os sócios contrataram uma assessoria de imprensa, investiram em campanhas em sites de busca e nas redes sociais, mas Sergio diz que tiveram uma vantagem.

“Desde o início e até hoje, os acessos do site vêm muito da busca orgânica, quando os responsáveis estão procurando uma escola na internet e acabam nos encontrando. Aí, a engrenagem parece funcionar naturalmente: a pessoa acha uma escola no nosso site, de repente, faz uma avaliação de outra que já conhece, recomenda para um conhecido avaliar e assim vai.”

Mesmo neste embalo, os fundadores ainda mantinham seus empregos formais e se dedicavam ao Melhor Escola em paralelo, trabalhando de casa ou em espaços de coworking. O desafio era fazer com que o negócio gerasse alguma receita. O quadro só começou a mudar quando surgiu o primeiro investimento de fora, uma aceleração do programa Start-Up Brasil. Esse foi o momento dos dois arriscarem, conta Sergio:

“Como um dos requisitos para recebermos o investimento era estarmos totalmente envolvidos no projeto, decidimos abandonar nossos empregos”

O valor total investido pelo Start-Up Brasil foi de 200 mil reais, dividido em parcelas mensais ao longo de um ano e meio. Por meio desse mesmo programa, foi possível contar com parceiros que contribuíram de diferentes maneiras, como a programação e o design do site, por exemplo (trabalhos fundamentais e que nenhum dos sócios dominava).

Mesmo assim, o dinheiro injetado não foi suficiente para gerar lucro e fazer a empresa crescer. Foi, então, que os sócios conheceram a Quero Educação (startup que ajuda a conectar alunos de faculdades a instituições que oferecem bolsas de estudo) e se inspiraram no modelo de negócio deles para começar a monetizar a Melhor Escola. A fórmula era simples: ganhar uma comissão a cada aluno captado pelo site em escolas que oferecem descontos.

QUANDO OUTRA EMPRESA SERVE DE INSPIRAÇÃO E AINDA VIRA INVESTIDORA

Em 2016, o sistema de busca bolsas de estudo começou a funcionar diretamente na Melhor Escola e os sócios finalmente começaram a enxergar o caminho para um negócio sustentável e lucrativo. Neste ponto, a Quero Educação não apenas serviu de guia para a Melhor Escola, mas também se tornou investidora, injetando 350 mil reais no negócio. Com o aporte, Sergio e Juliano passaram a direcionar seus esforços para fechar parcerias com ainda mais escolas. O empreendedor fala da evolução do modelo de negócio e de como, hoje, funciona o acordo: “A instituição precisa estar disposta a isentar o aluno da primeira mensalidade ou da matrícula. É este o valor que fica com a Melhor Escola”.

Os descontos são exclusivos para quem acessa o site, ou seja, não adianta entrar em contato direto com a escola. Hoje já há 864 instituições parceiras espalhadas pelo Brasil ofertando 61 mil vagas com bolsas parciais. O percentual médio dos descontos oferecidos no site é de 38%, mas as bolsas podem chegar até 70%. “A média de economia anual que o programa de bolsas gera para as famílias é de 3,5 mil reais por aluno”, afirma Sergio.

O fundador conta ainda que as instituições são incentivadas pelo Melhor Escola a oferecer esses descontos: “Algumas nem trabalhavam com esse sistema antes, nós entramos em contato e sugerimos que criassem as bolsas para fazer essa parceria, o que pra eles é vantajoso porque estão ganhando divulgação”.

Juntando o serviço de pesquisa de escola e o programa de bolsas, o site tem atraído quatro milhões de acessos únicos por ano. Em 2016, quando recebeu o primeiro investimento da Quero Educação, a Melhor Escola foi avaliada em mais de 1,2 milhão de reais. Agora, depois de dois anos, quando recebe mais uma rodada de investimentos do mesmo parceiro (no valor de 500 mil reais), já alcança a casa dos 5 milhões de reais.

AGORA, ELES MIRAM METAS AMBICIOSAS E NOVAS FORMAS DE RECEITA

A Melhor Escola, que tem sede em Sorocaba, interior paulista, fechou o ano de 2017 com um faturamento de 233 mil reais. O objetivo dos sócios é mais do que dobrar esse número até o fim de 2019, chegando a 1 milhão de reais. Para alcançar tal objetivo, o investimento agora é agressivo em prospecção de parcerias.

Para isso, os empreendedores pretendem aumentar a equipe, que hoje tem 12 pessoas, e apostar mais na divulgação, com estratégias de marketing digital e assessoria de imprensa. “Também contamos com a divulgação da Quero Educação, que tem endereçado para nós muita gente que está procurando bolsas para o ensino básico, fundamental e médio”, diz Sergio.

Além da meta de crescimento, outro desafio é driblar a sazonalidade natural do mercado, oferecendo bolsas ainda mais vantajosas para quem estiver disposto a antecipar a matrícula do ano seguinte. E, para ajudar a engrossar o caldo do faturamento, a Melhor Escola também oferece um serviço de gerenciamento de dados para os colégios que estiverem interessadas em acrescentar novas informações, fotos e alterar o texto descritivo de seu perfil. O pacote mensal custa em torno de 200 reais. E assim, de escola em escola, Sergio e Juliano contribuem para que a decisão dos pais na escolha de uma instituição para os filhos fique mais simples e o negócio deles cresça mais forte e cheio de sonhos — como uma criança.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Melhor Escola
  • O que faz: Buscador de escolas e facilitador de bolsas de estudos
  • Sócio(s): Sergio Andrade e Juliano Souza
  • Funcionários: 12 (incluindo os sócios)
  • Sede: Sorocaba (SP)
  • Início das atividades: Dezembro de 2012
  • Investimento inicial: R$ 120.000
  • Faturamento: R$ 233.000 (em 2017)
  • Contato: [email protected]
COMPARTILHE

Confira Também: