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Ao integrar canais de venda online e offline, a Neomode quer transformar a experiência de compra no varejo

Marina Audi - 13 nov 2018
Fabíola Paes conta como a plataforma permite que o consumidor adquira produtos no e-commerce e os retire na loja física. O cliente se livra do frete e da longa espera e as empresas aumentam a conversão.
Marina Audi - 13 nov 2018
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A vida dos varejistas não tem sido fácil. Ano após ano, eles viram a perda de tráfego nas lojas físicas, a queda nas vendas e, ainda por cima, dinheiro parado em forma de estoque. Em busca de uma solução, muitos apostaram no e-commerce. Investiram pesado na tecnologia, mas se depararam com novas dificuldades no modelo em que o centro de distribuição leva, em média, sete dias para entregar o produto para o cliente e o frete custa 15% do preço total. Uma saída para essa equação foi criada, em 2016, pela Neomode — plataforma transacional que integra o estoque das lojas físicas com o e-commerce, permitindo que esses produtos sejam vendidos online e retirados pelo consumidor na loja offline mais próxima dele.

A startup oferece uma solução SaaS omnichannel (conexão de todos os ambientes de venda de uma marca, seja o online, o offline, o telefone etc) mais rápida que os projetos convencionais do mercado, que levam cerca de dois anos de implementação e giram em torno doa 3 milhões de reais. A CEO da startup, Fabíola Paes, 35, fala:

“Nosso grande diferencial é a automação comercial, com o expertise que adquirimos na visualização do estoque da loja física para vender online”

Ela conta que o negócio conseguiu unir as duas coisas (loja física e e-commerce), pois criou uma camada extra de inteligência artificial sobre os sistemas de controle de estoque que o varejista já utiliza na loja, como ERP (Sistema Integrado de Gestão Empresarial) e gateway de pagamento (interfaces que servem para a transmissão de dados entre clientes, comerciantes e seus bancos).

São dois canais a mais de relacionamento e vendas: o App Commerce (aplicativo de vendas) e o Shopbot (misto de chatbot com robô-vendedor que apresenta produtos). Eles conectam, via APIs (interfaces que facilitam o intercâmbio entre informações com diferentes linguagens de programação), o estoque das lojas físicas para vender online, por geolocalização. “Em primeiro lugar, ajudamos a expandir ferramentas de vendas para os varejistas e marcas. O segundo benefício é que potencializamos a loja física. O nosso objetivo é trazer o tráfego do online para o offline, vendendo os estoques das lojas físicas”, diz a CEO.

Funciona assim: o consumidor pesquisa um produto pelo celular via app ou no ShopBot, ambos com identidade visual e personalidade do varejista, e a plataforma da Neomode indica ao consumidor qual loja física mais próxima tem estoque disponível e onde o produto pode ser retirado. Se a compra é realizada online, na mesma hora, o pedido é gerado dentro do caixa do varejista e a pré-venda chega automaticamente na loja, no sistema do ponto de venda. Daí é só separar o produto para entrega.

Para o consumidor, isso possibilita a compra online, sem pagamento de frete, sem ter de esperar pela entrega do produto e nem correr o risco de que a empresa não mande o pedido para o endereço indicado. “Assim ajudamos o varejista a transformar a loja física em um minicentro de distribuição”, diz Fabíola. Um detalhe importante para o varejista é que a visão que a startup tem do estoque é restrita — só quando o cliente clica no produto o sistema recebe a informação de positivo ou negativo, se tem ou não tem o produto disponível. Não há informação sobre quantidades, por exemplo.

SEM BARREIRAS: COMO INTERAGIR COM O CONSUMIDOR NO ONLINE E NO OFFLINE

A Neomode já atende clientes como L’Oréal, O Boticário, Lojas MM, Chilli Beans, Mercado Móveis, Dufry, entre outros. Todos seguem o mesmo modelo de cobrança. De início, a startup cobra, em média, 30 mil reais, referentes ao trabalho de integração da plataforma da startup com os variados sistemas que o varejista usa, o que costuma levar três semanas para ser executado.

À direita na imagem, a DUDA – o ShopBot (assistente virtual de atendimento e vendas) da Dufry, viabilizado pela Neomode e lançado no início de outubro.

Depois, mensalmente, os clientes pagam uma assinatura média de 5 mil reais para a sustentação das APIs de integração exclusivas da startup. E por fim, existe uma cobrança de percentagem sobre vendas de 1 a 3%, que Fabíola chama de “recorrente sobre vendas”. Segundo ela, esse índice varia de acordo com o segmento em que o cliente atua e a margem que o varejista tem. Por isso, as negociações são de cliente a cliente.

A Neomode faz todas as integrações e entrega o aplicativo, com a marca do lojista e pronto para teste. A listagem de produtos é importada do que já está cadastrado no sistema do e-commerce e, também, na loja física e vem, automaticamente, para o App Commerce e Shop Bot.

Não é preciso que o cliente faça nenhuma intervenção manual para atualizar nada na plataforma da Neomode. Entretanto, é possível cadastrar “na mão” banners de vitrine, cupons-desconto e notificações promocionais (push) para mandar para o celular dos consumidores. Em tempo real, elas chegam no smartphone do consumidor, com ofertas segmentadas e preditivas, como fala a CEO:

“À medida que o usuário navega no app, captamos o histórico e o perfil dele e indicamos produtos que tenham a ver”

Ela prossegue: “Somos uma grande ferramenta de CRM, pois conseguimos ajudar o varejista a ativar o consumidor de forma mais direcionada”. A empreendedora considera que o canal mobile traz o engajamento, já que o download do app é um convite para o consumidor interagir com a marca e resulta em fidelização, com taxa de abertura das notificações de 30%, bem mais do que a resposta ao tradicional e-mail marketing, que fica em torno de 2% .

Essa constatação interna bate com a percepção do mercado. Em 2018, a startup participou do Programa de Aceleração da Visa e, durante as mentorias no Vale do Silício, Fabíola e os sócios Carlos Balsalobre, 25, CTO, Daniel Koleski, 26, CPO, e Joao Felipe de Souza, 27, CIO, dizem que receberam feedback significativo de que a solução que criaram vai salvar as lojas físicas da extinção. “Existe uma tendência muito forte, no mundo todo, das lojas físicas fecharem por não conseguirem performar diante do e-commerce”, completa Fabíola.

DA TESE DE MESTRADO PARA O HACKATHON. E, DE LÁ, PARA O MERCADO.

A plataforma da Neomode é resultado da pesquisa e dissertação de mestrado de Fabíola. A carioca começou trabalhando como menor aprendiz na C&A e lá seguiu carreira como trainee, gerente de vendas até ser transferida para Curitiba, onde assumiu a Gerência Regional da Região Sul. Após 12 anos na empresa, ela foi para área de operações do Grupo O Boticário. Em 2014, ao perceber a virada do modelo de e-commerce para omnichannel, decidiu morar fora do país por um tempo, para estudar o que acontecia no varejo global. Ela diz: “Minha carreira foi sempre no varejo físico, até por isso criamos o software muito focado nas dores que eu vivenciei”.

Os sócios da Neomode Fabíola, João, Daniel e Carlos no Retail’s BIG Show 2017, o principal evento do setor varejista americano.

Na época, o Brasil não tinha quase nada focado em omnichannel e Fabíola, que já pensava em empreender na área, decidiu mergulhar a fundo no assunto. Ela convenceu um professor da faculdade de Engenharia da Computação da Universidade Federal do Paraná a ajudá-la a pesquisar arquitetura de tecnologias omnichannel.

Paralelamente, começou a dar aulas na Universidade Positivo. Depois de defender a tese de mestrado, em março de 2016, chamou seu melhor aluno, o Carlos, para ir com ela participar do hackathon promovido pela L’Oréal e fazer um MVP da plataforma.

Carlos tinha dois outros sócios, Daniel e João Felipe, que vinham do mundo do empreendedorismo digital. Os três trabalhavam como lançadores de startups na Ideia no Ar, um marketplace de serviços, e já tinham atuado em outra startup da área de medicina, a Docway. O quarteto recém-formado foi para São Paulo, venceu o concurso e levou, como conta Fabíola, o prêmio de 100 mil reais para desenvolver o projeto:

“Mais do que ganhar o hackathon, ganhamos o contrato da conta da L’Oréal para fazer o produto e percebemos que o modelo era replicável”

De volta à Curitiba, os vencedores formaram um grupo de trabalho em que se somavam competências complementares e iniciaram a construção das integrações. “O gatilho final para nos associarmos foi perceber que nós quatro juntos éramos um time complementar: eu tinha o conhecimento do negócio de varejo; o Carlos entendia de integrações e arquitetura de informação; o João tinha experiência em engenharia mobile; e o Daniel, em design, UX e produto.” Em setembro de 2016, eles oficializaram a abertura da startup, em outubro assinaram o contrato com a L’Oréal e começaram um teste piloto, que durou mais seis meses.

Desde então, a estrutura de tecnologia da Neomode passou por três grandes saltos de melhoria, a fim de otimizar, automatizar mais funcionalidades e deixar a plataforma mais rápida. Chegaram também sete outros sócios-investidores, que aportaram um total de 1 milhão de reais no negócio. Em 2017, Fabíola mudou-se para São Paulo para abrir oportunidades, mas a equipe toda e os demais sócios continuam em Curitiba.

No momento, a Neomode está muito perto do break-even, com faturamento acumulado de 650 mil reais, e se prepara para levantar uma nova rodada de investimentos no valor de 3 milhões de reais para fortalecer a equipe de tecnologia. Fabíola afirma: “Temos um time muito enxuto: são cinco engenheiros e 16 clientes robustos”. E continua:

“Queremos sair de 16 para 100 clientes nos próximos seis meses. Estamos preparados, mas precisamos de um pulmão de investimento para crescer e expandir Brasil afora”

A maior dificuldade do negócio, até agora, foi embarcar os varejistas na nova visão que conecta os canais. “Em geral, eles têm muito medo de integrar os sistemas, porque é algo realmente complexo. Temos de desmistificar um pouco isso e traremos mais segurança para os potenciais clientes à medida que os cases — e os resultados deles — estiverem no ar.” Com uma ferramenta que, no final do dia, é um gatilho para alavancar as venda, isso não vai demorar muito tempo para acontecer.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Neomode
  • O que faz: Conecta o estoque das lojas offline para vender online
  • Sócio(s): Carlos Balsalobre, Daniel Koleski, Fabíola Paes, João Felipe de Souza e mais sete investidores
  • Funcionários: 13
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2016
  • Investimento inicial: R$ 100.000 (do Prêmio Hackathon L’Oréal 2016)
  • Faturamento: R$ 650.000 (desde a fundação)
  • Contato: [email protected] ou (11) 97302-0981
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