Sobe, desce. Sobe, desce. Durante muitas décadas bastava que uma empresa de elevadores fizesse isso a contento para estacionar tranquila no topo do setor. A Atlas Schindler, líder de mercado no país, atua desde 1918 no negócio de elevadores, escadas e esteiras rolantes. Está, como praticamente a totalidade das empresas da velha economia, movimentando-se para transformar os métodos de pesquisa e desenvolvimento de produtos em veículos para a inovação que os tempos atuais exigem: digitalizada. A tarefa é complexa e já começou. Na semana em que assopra 100 velinhas, a Atlas Schindler apresenta o Cube, uma espécie de roteador que irá conectar o maquinário da empresa ao futuro.
Quem fala sobre tudo isso é o engenheiro Fabio Mezzarano, head de Operações das Américas, está na companhia há 23 anos, desde quando ela ainda se chamava Elevadores Atlas. Em 1999, Fabio acompanhou a fusão do Elevadores Atlas, uma das empresas do Grupo Villares, então em sérias dificuldades, com a suíça Schindler, em uma operação resultou no surgimento da marca Atlas Schindler — usada somente no Brasil.
À época, a Schindler trabalhava no segmento low end do mercado, com produtos mais básicos, enquanto a Elevadores Atlas, em um segmento de médio para alto. Fabio conta: “Tínhamos uma área de P&D interessante e com processos próprios, mas ficou claro para os acionistas que era difícil competir com quem fosse global”.
Depois da venda, a Atlas Schindler saiu de uma situação de dívida e foi eleita três vezes (2012, 2013 e 2016) como a mais rentável companhia do país — na última, com 76% de retorno sobre o patrimônio, segundo o levantamento Melhores e Maiores, da Exame.
O mantra de desenvolver continuamente P&D e TI era a principal engrenagem do negócio. P&D tocava a criação e evolução de produtos e TI responsabilizava-se pelo avanço de processos de manufatura ligados à automação e robotização. “A área de P&D em Interlagos, uma das cinco no mundo, onde fica a Torre de Testes dos elevadores, continua a ser bem importante. Desenvolvemos componentes mecânicos para todo o grupo e cuidamos da América Latina”, diz o executivo.
UMA NOVA REALIDADE, NESSE CASO, REQUER UM NOVO EQUIPAMENTO
Mais recentemente, entrou na equação uma terceira vertente de desenvolvimento, desencadeada por um fator externo chamado por Fabio de digitalização. O nome dela é Schindler Ahead, unidade de negócio responsável pela integração e aplicação de cloud computing, IoT, Big Data, Analytics e Machine Learning nos produtos da empresa.
A nova área criou uma plataforma digital de mesmo nome e o equipamento Cube, que se comunica com a internet e, automaticamente, manda os dados coletados dos produtos instalados para a nuvem, de onde as centrais de operação da empresa podem acessa-los e analisá-los.
Isso tornou o monitoramento remoto de performance e os serviços de manutenção preditiva viáveis. Um empurrão para que as cidades inteligentes saiam do papel.
Em termos gerais, o objetivo da solução Schindler Ahead é permitir uma gestão mais flexível dos elevadores, escadas e esteiras rolantes, maior disponibilidade de informações em tempo real sobre a performance dos equipamentos e o desenvolvimento de novos serviços inteligentes. A iniciativa é global e será oficialmente lançada no Brasil nesta quinta-feira (7), quando a Atlas Schindler comemora 100 anos de existência.
Em 2014, surgiram no Grupo Schindler as primeiras iniciativas de entender as novas tecnologias de forma mais específica, com profissionais dedicados e especialistas no assunto. O Brasil, por exemplo, ganhou o reforço de uma gerência de inovação voltada para desenvolvimento de novos processos administrativos (Sistema de Gestão Empresarial e Sistemas, Aplicações e Programas em Processamento de Dados), financeiros e aproximação com startups.
EM MEIO A ELEVADORES, APP E NOVOS SOFTWARES
Logo de início, foram criados dois aplicativos em conjunto com a agência de comunicação Brother Cast: Acompanhamento de Obras, que disponibiliza informações online dos equipamentos Schindler enquanto o engenheiro está na obra e esclarece in loco as dúvidas, e Atlas Schindler Kids, que, em forma de jogos, traz dicas de segurança para crianças.
Fabio fala também sobre dois outros projetos: uma pesquisa quantitativa feita através de um aplicativo com a startup Lean Survey para levantamento de dados em condomínios (confirmação de endereço, número de elevadores, empresa de manutenção); e o aplicativo Hot Spot, canal de comunicação interno do Marketing com a equipe comercial, desenvolvido pela startup ASAPP. O atual gerente da área, Diogo Babolin, tem uma equipe de seis pessoas que buscam soluções tanto com parceiros externos quanto por meio de desenvolvimento interno junto com TI e outras áreas de negócios.
Além disso, uma série de ideias em estágio embrionário, com grande potencial de mercado, estavam engavetadas porque faltavam tecnologias que as viabilizassem. A partir de meados de 2016, ficou mais evidente a real possibilidade de se fazer sensoriamento remoto dos equipamentos por meio da IoT. Primeiro, porque o transporte de dados via 4G era confiável. Depois, porque o custo de alocação de dados na nuvem baixara e se poderia dispensar um parque de Data Base próprio. Ele fala mais a respeito da busca da empresa por conectividade:
“A hora que deu o clique e vimos que era viável ir para a nuvem, decidimos acelerar”
A forma encontrada pela Schindler de fazer a conexão do mundo digital com seus produtos e processos, até então tocados por P&D e TI, foi montar um grupo multidisciplinar com expertises em produto, novas tecnologias, telecom e manutenção de elevadores. Esse grupo se tornou a nova unidade de negócios Schindler Ahead. Hoje, a coordenação fica na Suíça. Nas Américas, há braços nos Estados Unidos, México e Brasil. Aqui, trabalham, aproximadamente, 50 pessoas integral ou parcialmente, sob a direção de um gerente de projeto e todos se reportam matricialmente tanto para a organização local quanto para global.
Fábio conta que esta foi uma grande mudança cultural em termos de organização: “Tivemos três frentes de trabalho: dois tipos de treinamento – um de mindset e outro técnico, operacional – e uma frente de comunicação superimportante para minimizar barreiras eventuais e deixar tudo transparente”. A Atlas Schindler não divulga o investimento nesse projeto, por considerá-lo uma informação estratégica. Diz apenas que o retorno virá, basicamente, de duas coisas: receita advinda dos novos serviços e ganho de eficiência e produtividade.
Atualmente, todos os elevadores que saem das fábricas do Grupo Schindler estão prontos para a conectividade e já têm o Cube instalado. Cabe ao cliente a decisão de usar a interface ou não. Fabio conta o que está disponível ao mercado no momento: “Já monitoramos uma quantidade significativa de elevadores instalados. A atualização do software deles, por exemplo, já é feita remotamente, o que dá ganho de tempo e aumenta a disponibilidade operacional do equipamento”.
SE O ELEVADOR PARAR, SERÁ POSSÍVEL RECEBER INSTRUÇÕES DIRETO DA CENTRAL
Para o próximo ano, o plano é implantar pelo menos mais três serviços: Tele Alarm, solução que permitirá ao passageiro que está de dentro da cabine do elevador, com algum problema, conectar-se com a área de operações da empresa e receber orientações e esclarecimentos; Action Board, controle que permitirá aos administradores acompanharem a performance do elevador (checar vibração, velocidade, conforto, disponibilidade, número de viagens) durante seu funcionamento; e a manutenção preditiva pelo centro de operações da empresa.
Esse conjunto de funcionalidades inteligentes do Schindler Ahead custará aproximadamente 1% do valor de um novo elevador e Fabio conta que clientes e técnicos estão ansiosos: “Quando os colaboradores entendem o pacote de inovação, eles vibram!”.
A implantação de toda essa nova realidade operacional, porém, é bastante complexa. Exigirá integração do sistema atual que os técnicos usam na rua, o gerenciamento feito por iPhone, que traz a ordem de chamadas e informações relativas ao equipamento, além da instalação do Cube em equipamentos mais antigos e em uso.
Por exemplo, em elevadores com tecnologia microprocessada (quer dizer, comando eletrônico), o processo é simples, pois não há barreira tecnológica. Já nos elevadores de 30 anos atrás, os chamados eletromecânicos, cuja lógica está no circuito elétrico operacionalizado por dispositivos elétricos com função de produzir modificações súbitas, porém predeterminadas, terão de ser instalados sensores que se conectarão ao Cube. É tecnicamente viável, diz, mas o ponto a ser avaliado é o custo-benefício e a possibilidade de modernização.
Fabio afirma que a implementação das inovações teve um grande incentivo da alta administração do Grupo Schindler e, a seu ver, bastante aceitação dos níveis internos da organização. Ele pondera:
“Toda vez que ocorre uma mudança, há os promotores, os detratores e os que ficam em cima do muro para ver para onde as coisas vão”
Por fim, diz que é preciso saber trabalhar com todos esses grupos, e entender cada um deles. “O melhor enfoque é a transparência e a abertura na comunicação.” Questões vitais para a evolução e o crescimento de qualquer empresa secular.
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