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Após reinventar-se como gestor cultural, ele inspira gente a praticar yoga junto à natureza

Bruno Leuzinger - 24 jun 2016
Kluk Neto no Pico do Lopo, em Extrema (MG): yoga com potência e vigor físico (foto: Melina Ramos)
Bruno Leuzinger - 24 jun 2016
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Sabe aquela imagem do hamster correndo e girando na roda de exercícios, todo esbaforido, sem jamais chegar a lugar algum? É fácil pensar nela ao ouvir o relato de Kluk Magri Neto sobre o período mais estafante dos 13 anos em que trabalhou em um grande grupo de comunicação, em São Paulo. “O trabalho na área de finanças em uma empresa grande é muito exigente, e às vezes, a gente corre o risco de se esquecer de cuidar de outros lados da vida. Isso aconteceu comigo. Fiquei muitos anos sem tirar férias direito. E tem um momento em que você vira um ratinho de academia… É o que resta.”

Natural de Ribeirão Preto, interior paulista, formado em Economia pela Unicamp, Kluk tem 42 anos e, desde 1998, vive em São Paulo. Foi escoteiro em boa parte da infância e adorava acampar, principalmente na adolescência e durante a faculdade. “Acampava na Ilha Grande (RJ), na Praia do Sono (em Paraty, RJ), em cachoeiras de Minas e fazendas de amigos e parentes no interior… Tinha um contato com a natureza que foi ficando meio adormecido na vida profissional. São coisas que, se a gente deixa de vivenciar, fazem muita diferença na saúde, na qualidade de vida. É muito diferente estar no mato, nadando na cachoeira ou escalando, fora das quatro paredes.”

Em meio ao dia a dia corporativo, Kluk só precisava pegar o elevador para correr na esteira: a academia e o escritório ficavam no mesmo prédio. Após uma década envolvido com planejamento de negócios, sentiu a necessidade de respirar novos ares e redirecionar sua carreira. Queria trabalhar com gestão de programas culturais, de preferência com viés social. Mas tinha um receio. “Eu me perguntava: que valor teria a minha experiência na área financeira dentro do segmento de cultura? Eu não estava vendo que, sim, essas competências que você desenvolve numa área podem ser muito bem aproveitadas em outra.”

Mudança de hábito

Kluk sabe do que fala. Hoje, é o superintendente de cinco Fábricas de Cultura, centros culturais instalados na periferia paulistana (em regiões como Brasilândia e Capão Redondo) e administrados pelo instituto POIESIS. Todo o processo de transição profissional durou cerca de cinco anos. Após reposicionar-se na antiga empresa em um setor ligado a iniciativas culturais, fez contatos e, durante dois anos, integrou uma comissão que assessorava o secretário de Cultura do estado. Em paralelo, emendou um MBA em empreendedorismo social com um curso de gestão cultural coordenado pela Universidade de Girona, da Espanha.

Com a mudança profissional, ocorreu uma mudança de hábitos. “Comecei a praticar yoga e a perceber o efeito que a prática traz no seu dia a dia em termos de postura mental e emocional, em todas as situações da vida, não só no trabalho. O yoga te treina para entrar em um estado meditativo, superior ao mental, que faz você serenar até parar o pensamento.” A chave de tudo, explica Kluk, é a respiração. “Quando você está emocionalmente descontrolado, a respiração fica ofegante. Mas o movimento contrário também funciona: se você altera a respiração, ela atua no seu emocional e no seu mental.”

Ele passou também a programar trilhas com a turma do yoga, redescobrindo o prazer do exercício ao ar livre. E percebeu que o trekking era, à sua maneira, um meio de se interiorizar, de entrar num estado meditativo junto à natureza. Por outro lado, o modo como Kluk vê o yoga foge do senso comum. “As pessoas, às vezes, têm uma visão equivocada do yoga, acham que é só relaxante, para quem quer um tipo de atividade física mais leve. E isso não é verdade. Porque ele tem muita potência e vigor físico. Tem muito escalador, muito esportista que procura alta performance no desenvolvimento de suas atividades com a prática de yoga.”

Então, em 2013, ele teve uma sacada: criar um programa de TV para exibir esse lado “radical” do yoga com uma roupagem de esporte de aventura, mesclando a prática com o trekking e apresentando destinos de natureza perto das grandes cidades. Um piloto chegou a ser gravado, mas nenhum canal comprou a ideia. “Eu tinha investido um dinheiro na produção. Então, em julho de 2015, estava na Chapada Diamantina (BA) e pensei: vou pegar esses vídeos e criar uma plataforma on-line.” E assim surgia o Yoga Trekking, um projeto com a missão abertamente inspiracional de organizar roteiros pagos para trilhas e prática de yoga em grupo.

Imersões na natureza

As saídas começaram no fim de 2015, viagens de bate e volta, com grupos de aproximadamente 20 pessoas, que vão em seus próprios carros e encontram-se em um local combinado. “Subimos o Pico do Lopo, em Extrema (Minas Gerais, divisa com São Paulo); vamos a umas cachoeiras em Cubatão (SP), no pé da Serra do Mar, que são lindas e ninguém conhece…” Dependendo do caso, a prática do yoga pode ser no meio do mato ou na boca da trilha, se o terreno for pedregoso demais. “No Pico do Lopo, a gente faz lá em cima da montanha, numa paisagem maravilhosa, as pessoas estão praticando e olhando uma vista deslumbrante.”

Kluk dedica-se ao Yoga Trekking nos fins de semana e após o expediente no POIESIS. Em 2015, um projeto que ele encabeçou junto às Fábricas de Cultura gerou repercussão. Os centros (equipados com biblioteca, teatro e salas de aula para cursos de literatura, fotografia etc.) ganharam estúdios de gravação onde artistas da periferia podem produzir seus fonogramas. “Começamos a operar em fevereiro. Depois de três meses, a agenda já estava lotada até o fim do ano. Agora estamos fazendo uma parceria para distribuir esses conteúdos em redes digitais: Spotify, Deezer, Apple Store, Google Play. Vamos fazer essa ponte.”

Os próximos passos de Kluk são lançar o Baby Trekking, para famílias com crianças pequenas (“uma vivência adaptada, no remanso, no rasinho”), e expandir para outros territórios: em julho vai rolar o primeiro roteiro Yoga Trekking na Chapada Diamantina. “As paisagens são de imensidões exuberantes, com cachoeiras e cânions enormes… Aqui na cidade a gente fica muito isolado do elemento natural, vai sendo ‘envenenado’ e não se dá conta… Mas quando você põe um contraste sobre isso, e faz uma imersão na natureza, percebe como tem coisas faltando na sua vida que às vezes você nem sabia.”

 

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