Fundado em 2017, o SmartSíndico é um aplicativo para a gestão de condomínios para Habitações de Interesse Social (HIS), como os empreendimentos do programas Minha Casa Minha Vida, CDHU e Cohab. Guilherme Ribeiro, 44, e Cássio Thut, 55, são o CEO e COO da startup, que também conta com outros três sócios investidores.
A ideia de focar nas HIS veio justamente pela escassez de produtos oferecidos para esse mercado e pelo grande volume de empreendimentos do tipo no país. Guilherme fala a respeito: “É um público que não conseguia contratar uma boa administradora por causa do preço ou porque não havia quem atendesse a região”.
Ele também conta que este é um tipo de habitação que tem suas peculiaridades, entre elas o fato de serem condomínios divididos em vários blocos baixos, onde as contas costumam ser divididas pelo número de apartamentos e não pela fração ideal (quando a taxa de condomínio é cobrada de forma proporcional ao tamanho das unidades), e de a maioria dos moradores não possuir conta em banco. “Criamos uma solução completa de gestão financeira. Se o condomínio não é bancarizado, é possível fazer um controle manual e realizar as operações em dinheiro.”
O DESAFIO É FAZER OS MORADORES INSTALAREM O APP
Por meio de uma assinatura mensal — paga pelo condomínio — o síndico tem acesso a todos os recursos oferecidos pelo aplicativo e pode usá-lo para fazer a administração do empreendimento e para se comunicar com os condôminos. O preço depende do número de apartamentos. O SmartSíndico cobra 7,90 reais por apartamento, valor que pode ter descontos a depender da extensão do contrato.
Os moradores não são obrigados a instalar o aplicativo e esse ainda é um grande desafio porque a adesão é baixa. Segundo Guilherme, apenas 10% dos moradores utilizam o sistema, que tem versões para computadores e celulares com sistema operacional Android.
Eles trabalham para que essa porcentagem aumente, porque quanto mais moradores utilizarem, mais transparente e eficiente ficará a administração. Além de resolver a gestão, o aplicativo também tem funcionalidades para facilitar a vida em condomínio, como espaço para reclamações, sugestões, avisos e dicas. Guilherme diz:
“Um grande erro nos últimos anos foi criar grupos de WhatsApp. Mensagens em horários inapropriados ou com assunto sem relação ao condomínio acabam gerando desentendimentos”
Ele prossegue: “Então, criamos um sistema de mensagem próprio. O que for enviado por ali fica registrado. Funciona como um livro de ocorrências do condomínio”. Nessa funcionalidade, o contato entre os moradores possui alguns filtros para evitar o envio de spam. “O síndico pode se comunicar com todos, mas evitamos criar grupos muito abertos. Foram regras que se mostraram mais interessantes no dia a dia.”
Outra vantagem, segundo o CEO, é a autonomia na gestão e a flexibilidade de horários. Os dados mostram que o aplicativo é mais usado à noite e aos finais de semana, quando o síndico tem mais tempo para exercer sua função.
NÃO BASTA ADMINISTRAR, É PRECISO OFERECER QUALIFICAÇÃO
Hoje, o maior cliente do SmartSíndico é o poder público, que contrata o serviço para implantar em condomínios que acabam de ser entregues, como conta Guilherme: “Temos um atestado de que somos a única empresa capaz de prestar esse serviço no Brasil. Como só nós temos esse know how, podemos ser dispensados de licitação”.
Ele diz que ao entregar um condomínio do Minha Casa Minha Vida da faixa 1 (para famílias com renda bruta de até 1.800 reais), por exemplo, o governo precisa fazer um trabalho chamado pós-ocupação. “Ele prepara e qualifica aquelas famílias para viverem em comunidade. Isso inclui oferecer informação e capacitação sobre a vida em condomínio. Tradicionalmente, isso é feito com minicursos e palestras, que esbarram, segundo o empreendedor, no obstáculo da frequência, ou seja, muita gente não vai assistir as aulas.
Quando esse trabalho termina, a administração é entregue aos moradores, que podem assumir a gestão ou contratar uma administradora. Nesta transição, os problemas mais comuns são os moradores não conseguirem gerir sozinhos o local ou não terem dinheiro para contratar uma administradora; além da perda do trabalho educativo e de conscientização, já que as pessoas se mudam e chegam novos moradores.
Guilherme acredita que a solução da startup ajuda a resolver esses dois problemas. No caso da gestão, o aplicativo permite que o próprio síndico faça a administração por um preço que, de acordo com ele, pode ser até 1/5 mais baixo do que o praticado pelo mercado tradicional: “Temos diversos tutoriais e canais de suporte por e-mail, Messenger ou WhatsApp. A partir do momento em que o síndico instala o aplicativo, o nosso suporte já entra em contato e se oferece para ajudar”. O app também tem um chatbot para responder, em tempo real, as dúvidas sobre administração.
Para resolver a questão da manutenção do trabalho educativo, o SmartSíndico desenvolveu uma série de micro aulas em vídeo que esclarecem dúvidas do dia a dia como: “Preciso recarregar o extintor de incêndio? O que faz um subsíndico? O que fazer se o vizinho fizer barulho de madrugada?”.
Esse conteúdo fica disponível para os moradores a qualquer momento, o que configura um ganho no trabalho de pós-ocupação. “Com o aplicativo, conseguimos conduzir uma transição mais tranquila. O custo é acessível e ainda mantemos todo o histórico do trabalho feito anteriormente”, diz Guilherme.
ELES CONHECIAM O MERCADO ANTES E ACHAM QUE PERDERAM TEMPO
Guilherme começou na área imobiliária aos 17 anos trabalhando em uma administradora da sua família. Depois, passou pela Fernandez Mera e pelo Grupo Regus e ainda teve uma imobiliária. Cássio, COO da empresa, também tem experiência nesse mercado. Teve sua própria administradora e durante anos participou de dois dos consórcios que ganharam a licitação para atender a CDHU, o que lhe deu muita experiência no trabalho com as Habitações de Interesse Social.
Em 2004, os dois foram contratados pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para estudar e propor um modelo de como administrar condomínios de baixa renda. Fizeram dois anos de estudo até implantar alguns programas pilotos junto ao governo do Estado de São Paulo para administrar milhares de unidades. Foi uma experiência que durou entre 2010 e 2017 e abriu os olhos da dupla para algumas questões do mercado.
A primeira delas, conta o CEO, foi a falta de escalabilidade do modelo tradicional de administração. “Em 2016, percebemos que havia um mercado peculiar, mas que essa forma de trabalhar indo até os condomínios, imprimindo e entregando boletos e fazendo os treinamentos presenciais não tinha como crescer.”
Também fizeram uma pesquisa com milhares de famílias de baixa renda e identificaram que havia uma grande penetração de smartphones. “Foi quando percebemos que poderíamos ganhar escala através do digital e começamos a desenvolver o aplicativo.” O investimento inicial no negócio foi de 200 mil reais.
Hoje, o SmartSíndico está em 700 condomínios em 22 estados do país. “Estamos em todos os estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Faltam ainda alguns no Norte e Nordeste.” Toda a operação é tocada pelos sócios e mais dois funcionários, além de alguns parceiros contratados em casos específicos. “Isso é a escalabilidade. Não precisamos ir fisicamente ao condomínio, já que automatizamos todos os processos. Uma administradora tradicional para 700 condomínios precisaria ter mais de 100 funcionários”, diz o empreendedor. O faturamento da empresa está em torno de 80 mil reais mensais.
Entre ter a ideia e colocar o aplicativo no mercado, houve um ano de desenvolvimento e planejamento. Depois da experiência de implantação, Guilherme diz que poderiam ter sido mais ágeis:
“Uma startup não tem que planejar tanto. A gente deveria ter lançado mais rápido, errado mais no começo e, provavelmente, hoje estaríamos com um aplicativo mais avançado”
Ele também conta que, se pudesse fazer algo diferente, não teria lançado o app com as funcionalidades financeiras, que são as mais complexas. “Nos preocupamos em resolver a dor inicial do síndico, que era a gestão financeira e a administração, mas isso é muito complexo de fazer. Colocar planilhas financeiras e detalhes interativos no celular foi um grande desafio.”
Ele continua: “Se fosse hoje, eu teria lançado funcionalidades olhando, em primeiro lugar, para os moradores e, ao longo do caminho, teria lançado funções administrativas e financeiras”. Tudo isso faz parte do processo de aprendizado de quem se arriscou a inovar em um mercado tradicional.
Embora possa ser utilizado por qualquer condomínio, o foco do SmartSíndico continua sendo as Habitações de Interesse Social. Eles querem ganhar mais escala, contratar mais pessoas, investir mais em marketing e acelerar o desenvolvimento de novas funcionalidades. O CEO afirma: “Queremos criar algo cada vez mais participativo. O condomínio é uma democracia onde a comunidade se constrói e até define as próprias regras”. Ele ainda diz:
“Historicamente, poucas pessoas vão para uma assembleia de condomínio porque sempre foi um processo chato. Com o aplicativo, conseguimos tornar isso mais colaborativo”
O objetivo parece estar se concretizando. Daqui dois dias, a startup participa do DemoDay BrazilLAB junto com outras cinco startups. Na ocasião, elas apresentarão suas soluções para gestores públicos de todo o país, que irão avaliar e eleger os três vencedores desta edição.
Para além das habitações voltadas à famílias de baixa renda e com foco em iniciativas governamentais, os empreendedores também estão de olho nos condomínios pequenos que estão insatisfeitos ou não têm uma administradora. Porque todo mundo quer, e merece, ter tranquilidade na hora de lidar com esse tipo de questão tão burocrática.
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