Você já tomou café para despertar e cumprir tarefas ou uma lata de energético para focar em uma atividade que exigisse esforço mental? Então, já experimentou os efeitos de nootrópicos, substâncias que prometem melhor a função cognitiva. Esses suplementos podem ser naturais, como o café, ou sintéticos, como os energéticos.
Popularizados nos EUA, especialmente no Vale do Silício, os nootrópicos foram importantes para Josef Rubin, 35, durante um curso de gestão para o qual foi aprovado em Harvard, no ano de 2022.
“Cheguei em Boston uns três dias antes e começou a bater a síndrome do impostor. Pensei: ‘Poxa, eu sou o mais novo da turma. Vou ter aula com um monte de gente mais inteligente, serão oito horas de inglês direto por dia. Será que vou dar conta?’”
Para focar melhor nas aulas, ele apostou em um shot comprado em uma farmácia e diz que viu resultados práticos. De volta ao Brasil, Josef, co-CEO da Conquer, convidou a esposa — Vanessa Bento Rubin, 41, que até então trabalhava na área de P&D do Grupo Boticário — para pesquisarem juntos o mercado de nootrópicos. Com a consultoria de Desirée Cigaran Schuck, mestra e doutora em biologia celular molecular, o casal passou dois anos pesquisando até chegar à fórmula do seu próprio shot, o ZTX-14.
Vendido pela marca ZTX Labs, o produto — composto por bitartarato de colina, L-teanina, fosfatidilserina, taurina, vitaminas do complexo B, magnésio, quelato 10%, gengibre, menta, alecrim, chá branco, chá mate verde, chá verde, café verde e guaraná em pó — promete ser capaz de aumentar o foco, a concentração e a disposição, além de melhorar a memória de pessoas saudáveis.
Uma inteligência artificial treinada para “atuar como um diretor de marketing da empresa” sugeriu o nome do produto, lançado em junho deste ano. Segundo Josef, o estoque de 20 mil unidades do ZTX-14, que deveria durar até dezembro, esgotou em um mês. Agora, a marca lançou um segundo lote, com 80 mil frascos (cada unidade sai por R$ 8,95 no pack com seis frascos de 75 mililitros).
O empreendedor afirma que seu público consumidor é diverso:
“Tem desde gente que usa para se concentrar em um trabalho intelectual até uma senhora de 65 anos que faz crochê e toma para manter o foco nessa atividade manual”
A seguir, Josef fala sobre o processo de criação do nootrópico, os desafios enfrentados, o uso da inteligência artificial no dia a dia da empresa e os planos para o novo negócio:
Como você enxerga o mercado de nootrópicos hoje no Brasil? Ainda está engatinhando?
Não tem como dizer que esse mercado não existe no Brasil, porque todo mundo já tomou um cafezinho a mais para trabalhar .
Mas o fato é que essa bebida, apesar de ter propriedades nootrópicas, não foi criada com esse objetivo de aumento de foco, memória e performance cognitiva. É comum, aliás, quando uma pessoa bebe muito café, ter aqueles picos de energia, com taquicardia ou até uma tremedeira.
Fora o café — e os energéticos –, no mercado financeiro muitas pessoas usam medicamentos tarja preta que conseguem de forma ilícita para aumentar a performance cognitiva
Eles servem, na verdade, para pacientes com TDAH ou outros distúrbios de atenção graves, mas as pessoas utilizam de forma incorreta para render mais no trabalho. O que a gente quer com o ZTX-14 é oferecer algo muito mais seguro: um shot com energia limpa, sem picos e quedas — e com ingredientes naturais.
O nosso produto tem um terço de cafeína se comparado a um energético comum do mercado, não causa euforia e mantém a pessoa focada e concentrada no trabalho.
Como foi o processo para chegar à fórmula do shot?
A base da nossa pesquisa foram a ciência avançada e a nutrição. Para todos os componentes que a gente utiliza, existem estudos científicos prévios comprovando a eficácia e utilidade deles.
Os componentes que selecionamos não são novos; o que fizemos foi criar um blend para que as pessoas não precisem tomar oito ou dez suplementos diferentes, mas sim tudo concentrado no ZTX
Além dessas pesquisas nacionais e internacionais nas quais nos baseamos, fizemos um teste com 60 consumidores antes do lançamento e tabulamos os resultados, que foram muito positivos.
E agora, encomendamos um estudo próprio, conduzido pela Unisinos, comparando os efeitos do ZTX com um placebo. Em três meses, devemos ter os resultados para divulgar.
Existe alguma contraindicação ou efeito colateral para o uso do produto?
Não tem nenhuma contraindicação. A pessoa só precisa ser maior de 16 anos e não deve estar lactante, só porque a gente ainda não fez teste com lactantes. E recomendamos no rótulo consultar um médico, por um protocolo de segurança. Mas não há nada na fórmula que represente risco para a saúde.
Também não há registro de efeitos colaterais. Pelo contrário, o ZTX é muito mais seguro do que energéticos, que se consumidos em excesso apresentam malefícios para a saúde, segundo vários estudos divulgados recentemente.
Como a IA contribuiu para o processo de criação do nome do produto?
No momento em que decidimos lançar o produto, eu e a Vanessa começamos a pensar em nomes. Um deles era “Turbo”, mas a gente achou comum, ia parecer apenas mais um energético.
Naquele momento, eu tinha acabado de criar uma conta no ChatGPT e decidi conversar com a IA para ver se tinha uma sugestão melhor.
Passei todo o contexto do produto e o conceito, então perguntei se tinha algum filme que abordasse o tema do aumento de performance cognitiva. E uma das indicações da IA foi “Limitless”, de 2011
Lembrei que já tinha assistido a esse filme. Na história, o protagonista toma uma cápsula da inteligência e consegue tomar decisões melhores. Perguntei ao ChatGPT como se chamava a cápsula desse filme e ele respondeu NZT-48. Gostei do nome, me pareceu um elemento da tabela periódica.
Então, pedi várias combinações nessa linha para o meu suplemento. Ele gerou uma lista com 20 opções e, entre elas, estava ZTX. Achei um nome fácil de falar e memorizar e adotamos ZTX-14, pela fórmula ideal ter saído depois da décima quarta tentativa.
Só que ZTX, na prática, não significa nada. Então, mais uma vez, pedi ajuda ao ChatGPT: um significado para aquele nome. E dentre as sugestões, ele mandou “de Z [de zero] a X”, que tem tudo a ver com essa nossa história. Estamos criando algo do zero, que vai se multiplicar pelo Brasil para mudar a vida de muitos profissionais.
Vocês usaram a IA para mais algum processo?
Sim, usamos a IA em todo o processo de comunicação e marketing. No ChatGPT tem uma aba para criar sua própria inteligência artificial e a gente fez isso, fornecendo todo o contexto e dados necessários para criar um “diretor de marketing” virtual, que nos ajudou a definir as personas do produto, as estratégias de venda e até o texto no site.
Também usamos os insights desse diretor de marketing para os posts das redes sociais e tirar eventuais dúvidas. Para criar a parte estética, contratamos um designer — mas o briefing, quem criou foi a IA.
Mas a gente não utiliza a IA como um Control C + Control V. Sempre colocamos nossa experiência e conhecimento em cima daquilo que a inteligência artificial sugere
Digo que devemos acreditar no feeling que pode ser explicado, então usamos essa intuição que tenho empreendendo há anos, com a da minha esposa, especialista na área de pesquisa e desenvolvimento, para filtrar o que a IA sugere.
Quais foram, até aqui, os principais desafios ou derrapadas na jornada de construção da marca? E quais são os planos futuros para a empresa?
A principal derrapada foi ver o estoque acabar, pessoas querendo comprar o produto e a gente não poder vender. Para um empreendedor, isso dói muito.
E tem outras lições, de humildade, eu diria. Eu já tinha criado uma empresa grande, com 800 colaboradores, que vendi por 400 milhões de reais [a Conquer, adquirida pela Wiser em maio de 2024]. Eu era o CEO dessa empresa. Então, chega um momento em que eu só recebia tapinhas nas costas e sorrisos…
E foi até engraçado, porque com o ZTX Labs, uma empresa começando do zero, muitas vezes fui desrespeitado lidando com fornecedores: falavam mal do produto, diziam que o negócio não ia dar em nada
Sempre vi esses desafios com bons olhos, sabendo que isso é empreender de verdade. Tem sido um aprendizado e uma lembrança constante do que realmente é empreender no Brasil. Eu estava desacostumado; agora, estou levando umas porradinhas.
Para o futuro, a partir desse pequeno primeiro lançamento digital, pretendemos expandir de duas formas diferentes. A primeira, de canais: queremos estar com o produto em mil pontos de venda em três anos. E também expandir através de outros formatos do ZTX-14, como cápsulas e shots com outras funcionalidades.
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