Na intensa rotina de preparação para competir nas Olimpíadas de Tóquio, Eliane Martins treina, em média, duas horas por dia. E dorme, no mínimo, nove horas por noite. Religiosamente, às 21h30, a atleta, destaque na modalidade salto em distância, está na cama. E não acorda antes das 6h30. Longe de ser uma trivialidade, tanta dedicação ao sono é, antes de tudo, uma estratégia.
“O sono é tão importante quanto o treino e a alimentação. Eles andam lado a lado”, diz a atleta catarinense, de 35 anos, às vésperas de viajar para o Japão para participar de sua segunda olimpíada.
Mas garantir uma boa noite de sono é uma preocupação recente para a atleta, ligada à Federação Paulista de Atletismo. “Nem sempre tive esse cuidado. Quando a gente é novo, acha que se recupera mais rápido. Com o tempo e a experiência, descobri que, se durmo mal, fico quebrada, o treino não rende e demoro a me recuperar. Preciso descansar bem para render bem.”
O cuidado da atleta é elogiado pelo treinador Nelio Alfano Moura, que já treinou medalhistas olímpicos como Maureen Maggi e que também estará nos Jogos de Tóquio, que acontecem de 23 de julho a 8 de agosto. “Ela leva muito a sério a questão do sono, vai pra cama cedo, se desconecta. Faz tudo certinho e tem colhido frutos por isso.”
Para apoiar toda essa dedicação ao bem dormir, a startup de produtos premium para o sono Zissou presenteou a craque do atletismo com um travesseiro da marca e uma carta de incentivo.
“Nos dias de hoje, com a obsessão por produtividade e pela tecnologia, não damos ao sono o tempo que ele merece. Quando o assunto é a prática esportiva, isso é ainda mais fundamental. Se a fundação não estiver cem por centro, não há estrutura que segure uma casa em pé”, diz Amit Eisler, cofundador da Zissou. Durante a Copa do Mundo da Rússia, a empresa chegou a mandar um colchão para amenizar uma lesão do jogador da seleção brasileira Marcelo.
“Nós somos apaixonados por esporte e estamos na torcida pela Eliane”, diz Amit. “Por isso, decidimos enviar nossas energias positivas e um presente para a atleta.”
Medalhista de campeonatos sul-americanos e ibero-americanos em sua modalidade, Eliane não é a única esportista a destacar a importância fundamental do sono para a sua performance. Cada vez mais, outros atletas de elite, como o velocista Usain Bolt, a tenista Serena Williams e o jogador de futebol americano Tom Brady, exaltam as maravilhas de dormir bem para garantir um bom desempenho.
Bolt, um super campeão olímpico, já chegou a dizer, inclusive, que dormir era a parte mais importante de seu treinamento. Segundo o neurocientista inglês Matthew Walker, autor do best-seller sobre o sono “Por que Nós Dormimos”, o sono pode ser a melhor droga legal de aprimoramento de desempenho atual – e da qual poucos atletas estão abusando o suficiente.
Por isso, controlar os hábitos de sono dos atletas vem se tornando quase uma obrigação entre delegações olímpicas de destaque, como a equipe americana. Os preparadores dos Estados Unidos chegam a fazer um “plano de sono” baseado nas metas e treinos de cada esportista, além de planos para administração do jet lag na chegada ao Japão.
Por aqui, Nelio, que orientou dois atletas na conquista do ouro nos Jogos de Pequim, não fica atrás. Sua equipe monitora o sono dos esportistas por meio de um aplicativo em que os próprios atletas inserem informações sobre a quantidade e a qualidade do sono, entre outras métricas.
“Sem descansar bem, você não treina bem. Além disso, estudos mostram que a quantidade de horas que se dorme à noite pode reduzir em até 50% os riscos de lesão quando se comparam atletas que dormem de oito a nove horas por noite com outros que que dormem menos de seis horas”, diz o treinador. “E essa é uma das nossas maiores preocupações.”
O descanso, ele garante, é tão importante quanto o treino. Afinal, é à noite que o corpo se recupera e assimila as mudanças técnicas feitas nas práticas do dia. “As adaptações não acontecem durante a sessão de treino, e sim durante o período de recuperação, particularmente enquanto você está dormindo.”
Entre as recomendações que Nelio dá aos atletas para que durmam melhor estão cuidados que valem pra todo mundo: não levar o celular pra cama, evitar os eletrônicos à noite e dormir cedo. Eliane, diz o treinador, é uma das poucas que conseguem atingir a meta.
Apesar de ser uma atleta exemplar, a saltadora conta que também sofre com um problema bem mundano quando um evento importante se aproxima: a ansiedade.
“Antes de uma competição, não consigo dormir. Fico com medo de não acordar, de não chegar a tempo. No Pan de Toronto, minha barriga chegou a doer de tanta ansiedade.”
Ainda assim, a atleta conta que, por sorte, a insônia pré-prova nunca prejudicou seus resultados. Mas, por vezes, se estende para além da competição. “Quando vou muito bem, também fico sem dormir, só assimilando tudo o que aconteceu.”