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Baseada em consumo consciente, a Lâmpada Mágica propõe dar às crianças menos, e melhores, presentes

Cristine Gentil - 13 mar 2018 Marcio Bittencourt e Marcus Succar (à dir.) estão à frente do Lâmpada Mágica: por um consumo consciente, por crianças (e pais) mais felizes.
Marcio Bittencourt e Marcus Succar (à dir.) estão à frente da Lâmpada Mágica: por um consumo consciente, por crianças (e pais) mais felizes.
Cristine Gentil - 13 mar 2018
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Henrique ia completar 1 ano. Seus pais queriam comemorar a data com os familiares, que moram em Porto Alegre, mas desejavam voltar para casa, no Rio de Janeiro, apenas com a lembrança da festa e não com a bagagem cheia de brinquedos, quinquilharias que o garoto pouco usaria. Ao mesmo tempo, havia uma lista pequena e bem específica de itens que deixariam não só Henrique mas toda a família mais feliz: objetos para o novo quarto, uma cadeirinha maior e as passagens aéreas para a viagem. Os pais de Henrique encontraram na plataforma Lâmpada Mágica a solução ideal para o evento. Lá, parentes e amigos ajudam a custear cotas dos “sonhos” de crianças de 0 a 9 anos, invertendo assim lógica de presentear sem pensar na utilidade real daquilo, algo tão normal nas festinhas infantis.

A ideia, de acordo com Marcus Succar, 34, um dos fundadores do negócio, é que os pequenos tenham experiências de consumo melhores, mais significativas, menos descartáveis e que permaneçam na memória deles no futuro. O foco é estimular a consciência de escolha, como afirma o sócio:

“A criança não tem a essência do consumo, não precisa ganhar um monte de presentes para ficar feliz”

Ele prossegue: “Com a Lâmpada, estimulamos a qualidade da experiência e não a quantidade”. A lógica é similar à das plataformas de financiamento coletivo. Em essência, a Lâmpada faz isso, mas guarda alguns diferenciais. O primeiro é o público, essencialmente crianças de 0 a 9 anos, além de debutantes (que costumam ostentar desejos superlativos) e de poder ser usado para chá de fraldas.

Com a ajuda dos pequenos, os pais constroem uma página na plataforma apresentando três sonhos da criança. Em vez de uma porção de presentes, os convidados apoiadores, chamados de “gênios” (daí a “lâmpada mágica” do nome), contribuem com valores em dinheiro para realizar estes desejos. São sugeridas cotas de 30 e 360 reais, mas é possível participar com qualquer valor. O montante angariado em cada “lâmpada”, como são chamadas as campanhas, é entregue aos pais 15 dias úteis após o prazo final de arrecadação.

POR QUE TANTOS PRESENTES PARA UMA SÓ CRIANÇA MESMO?

O negócio tem relação direta com o passado de seu fundador. Marcus conta ter nascido em “uma família consumista”, mas diz que naturalmente se desviou da tendência. Quando a sobrinha mais velha nasceu, ele observava de forma crítica a quantidade de presentes que a menina ganhava. Levou o incômodo para a sala de aula, mais precisamente para a pós-graduação em Gestão de Negócios, na Fundação Dom Cabral, um complemento à formação de administrador. “Gosto muito de estudar economia colaborativa e empreendedorismo. Já era bem apegado ao tema consumo consciente, então, comecei a pensar em como poderia criar um negócio rentável e gerar impacto positivo para a sociedade”, conta.

Aliado ao desejo de interferir positivamente na cadeia de consumo infantil, havia a vontade de empreender. No íntimo, Marcus acendia sua própria lâmpada: sair do mundo corporativo, no qual trabalhava há nove anos, oito deles na área de telecomunicações, para ter um negócio próprio. Durante dois anos, engordou uma poupança para poder se sustentar quando a hora chegasse. A experiência como DJ, que acumulava com o emprego formal, já não saciava sua veia empreendedora. Sonhava com o “por conta própria” em tempo integral.

Marcus e os sobrinhos que o inspiraram a criar a Lâmpada Mágica.

Em 2015, saiu do emprego. Começou a planejar o negócio. Vendeu moto e carro, abriu mão de práticas de consumo mais supérfluas, fez contas e planilhas para investir e sobreviver das economias. Estudou o mercado, desenhou o site, desenvolveu o protótipo do negócio.

Colega do curso de Gestão, o engenheiro Marcio Bittencourt, 36, entrou na sociedade em julho de 2017. “Eu sou o coração do negócio, ele é a cabeça. Eu sonho mais, ele é mais ligado no business, coloca meus sonhos no caminho”, afirma Marcus. Os dois moram no Rio de Janeiro, sede da empresa. Em outubro do ano passado, a plataforma foi ao ar e o sonho do empreendedor também foi realizado.

As lâmpadas começaram a rodar nas redes dos amigos, depois, entre os amigos dos amigos. E, assim, de forma orgânica, o negócio vai criando raízes no ambiente virtual. Ao todo, foram 32 aniversários com sonhos realizados. E eles são tão variados quanto a imaginação infantil: de viagens a quarto novo, de ingresso para shows a casa na árvore. Caso os pequenos não tenham idade suficiente para definir suas prioridades, cabe aos pais escolherem sozinhos. E aí, vale a necessidade, como, por exemplo, um ano de fraldas descartáveis.

MENOS DESPERDÍCIO, E MAIS CONSCIÊNCIA, NA HORA DE PRESENTEAR

Os pais podem escolher entre quatro pacotes na plataforma. No básico e mais usado, não se paga nada para construir a página, que fica no ar por 15 dias. Basta preencher o formulário, colocar uma foto da criança e enviar o link para os convidados. Os outros três pacotes disponíveis variam de 49 a 999 reais, este último com direito a um animador, que faz a entrega do sonho realizado na própria festa.

A plataforma, em qualquer uma das quatro modalidades escolhidas, fica com uma porcentagem de 14,99% em cima do montante recebido, o que paga os custos operacionais e as transações via cartão de crédito. Em média, cada lâmpada gera em torno de 2.500 reais e os “gênios” costumam contribuir com valores entre 80 e 100 reais. Quando o valor supera o pretendido, o site sugere abrir uma poupança para a criança ou doar o excedente para alguma instituição ou projeto social indicados pela própria Lâmpada Mágica ou pelos pais. Desde o início da plataforma são levantados, em média, 7 000 reais por mês para custear as campanhas — o que gera um faturamento de cerca de 1 mil reais para a plataforma.

Lucia e sua guitarra, sonho conquistado por meio do site Lâmpada Mágica.

Lucia e sua guitarra, “sonho” conquistado por financiamento coletivo via Lâmpada Mágica.

O negócio já atingiu o break-even, mas ainda não consegue sustentar os sócios, que trabalham para melhorar a divulgação. Atrelada à bandeira do consumo consciente, a Lâmpada Mágica tem sido difundido em escolas (Marcus dá palestras sobre consumo consciente, nas quais fala da plataforma), nas casas de festas e nas salas de investidores. Eles sabem que leva tempo para amadurecer a ideia, difundir o propósito, os valores agregados à marca e torná-la tão conhecida quanto necessária. Por enquanto, o périplo tem dado certo. “É gratificante ver que as pessoas estão repetindo a experiência da Lâmpada em outras ocasiões e que os convidados que presenteiam também voltam para usar a plataforma em outras datas”, diz Marcus.

Entre as vantagens listadas pelos sócios, está a rapidez para presentear, a praticidade e o fato de não criar dúvidas se vai agradar ou não o aniversariante. Parentes e amigos que moram em outras cidades aprovam a alternativa, pois podem participar do sonho de uma criança da família, mesmo distante.

Se havia alguma resistência, diz Marcus, era dos próprios pais: “Eles tinham a sensação de estar pedindo dinheiro, rolava uma certa vergonha”. Aos poucos, no entanto, esta ideia é dissociada da realidade, sobretudo com a reação positiva dos convidados. Prevalece a expectativa de realizar de forma compartilhada um sonho infantil. Para Marcus Succar, o objetivo do negócio é firmar a Lâmpada Mágica como uma empresa que gera impacto social positivo. Ele fala mais a respeito:

“Meus sobrinhos acenderam uma chama em mim. Me encantei e quis fazer algo para estimular a geração deles a ter um consumo consciente”

E afirma: “Por enquanto, estamos sacudindo a água para criar uma onda”. Mesmo que com uma marolinha, o negócio  já traz reflexos. Hoje, clientes de todo o Brasil podem acessar o site para criar suas campanhas. A ideia é que, no futuro, a plataforma funcione também em outros países, iluminando o mundo com mais lâmpadas, mais consciência e menos consumismo.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Lâmpada Mágica
  • O que faz: Plataforma de financiamento coletivo para presentear crianças
  • Sócio(s): Marcus Succar e Marcio Bittencourt
  • Funcionários: 2 (os sócios)
  • Sede: Rio de Janeiro
  • Início das atividades: Outubro de 2017
  • Investimento inicial: R$ 100.000
  • Faturamento: R$ 1.000 em média, ao mês
  • Contato: [email protected]
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