Big data para melhorar a cidade, oficina de drones para crianças: a Holanda vê o futuro

Raquel Ferreira - 7 jun 2016
Drones fofinhos: crianças de 7 a 10 anos desenvolvem protótipos em workshops de engenharia criativa (cortesia: Setup)
Raquel Ferreira - 7 jun 2016
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Sensores de movimento, carros que transmitem dados de geolocalização, câmeras de vigilância com softwares de reconhecimento facial… Esses recursos ajudam a tornar as cidades mais seguras e eficientes. Mas para produzir um impacto real, a tecnologia deve fazer mais do que registrar o fluxo de pessoas e veículos. É preciso detectar tendências e comportamentos para antecipar problemas e fornecer soluções. “Cidades inteligentes foram o primeiro passo. Agora, nós queremos construir sociedades inteligentes”, diz o arquiteto e programador holandês Mark van der Net, fundador da Oscity. “Aplicar a tecnologia à sociedade é mais difícil, as pessoas simplesmente são mais complicadas do que luzes de trânsito.”

Para tentar captar esse “elemento humano”, a Oscity desenvolveu (entre outubro de 2014 e fevereiro de 2015) um projeto em parceria com a municipalidade de Amsterdã-Sul, uma das sete regiões administrativas da capital holandesa. A empresa filtrou as redes sociais com ferramentas de big data, mapeando os locais de onde as pessoas postavam com mais frequência, mensurando o volume de publicações e identificando as palavras mais usadas. A ideia é que análises desse tipo mostrem aos administradores quem circula por aqueles bairros, com quais temas e eventos se engaja e que opiniões tem a respeito. “Temos um vislumbre do que poderemos fazer com essa tecnologia no futuro: descobrir problemas e combatê-los de forma comunitária, sem depender tanto da iniciativa pública.”

Mark e mais oito profissionais holandeses estiveram em São Paulo como palestrantes do Festival Path, evento sobre inovação e criatividade que ocorreu entre 14 e 15 de maio. O objetivo do convite era que eles pudessem dividir seus conhecimentos e experiências em áreas como planejamento urbano, design e educação, em que a Holanda é referência mundial (com 12 universidades entre as 200 melhores do mundo segundo o Times Higher Education, o país ocupa o quarto lugar do ranking, atrás apenas de Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha).

Drones fofinhos

A educadora Eva Vesseur também fez parte da “missão holandesa” de palestrantes do Festival Path. Ela é diretora criativa e fundadora da The Education Office, consultoria que se dedica a estudar e atualizar a forma como as escolas funcionam. “De modo geral, o sistema educacional é muito inspirado em questões econômicas, com testes bimestrais, notas, lição de casa… Não há espaço para promover o desenvolvimento pessoal, a empatia, o trabalho em grupo, a compreensão de mundo… Eu acho isso assustador.”

Para reverter esse quadro, que tal um bando de “drones fofinhos”? Cuddly Drones (Knuffeldrones, em holandês) é um dos projetos promovidos pelo Education Office nas escolas da Holanda. O objetivo é engajar alunos de 7 a 10 anos no debate sobre a proliferação desses aparelhos e seus riscos à privacidade – e, em paralelo, estimular as crianças a desenvolverem protótipos em workshops de engenharia criativa. O resultado são sacadas originais, que jamais ocorreriam a um adulto. Há desde ideias mais lúdicas, como o “drone-karaokê”, que serviria para alegrar as pessoas à espera no ponto de ônibus, até outras mais sérias: uma das equipes de alunos planejou um drone para identificar e recolher o lixo de rua com auxílio da tecnologia de reconhecimento de imagem.

“Geralmente pensamos que os jovens e as crianças devem ser protegidos de temas polêmicos. Mas eles podem ver e ouvir coisas. E se você levá-los a sério, verá que eles conseguem pensar em soluções para problemas que nós nunca imaginaríamos”, diz Eva. Por outro lado, ela alerta para a importância de se capacitar os professores para lidar com as novas ferramentas. “As instituições de ensino têm impressoras 3D juntando pó no porão porque ninguém sabe como usá-las. Os professores costumam temer a tecnologia porque estão acostumados a saber mais do que os alunos – e isso nem sempre é verdade quando o assunto é tecnologia.”

A Education Office presta consultoria aos conselhos educacionais que administram as escolas de Amsterdam e acaba de ser selecionada num concurso promovido pela prefeitura à procura de boas ideias para reformular as instituições de ensino. O plano é criar uma escola contemporânea, do zero – a etapa de desenvolvimento do projeto será concluída até 2017. Segundo Eva, além de incluir a tecnologia na sala de aula e encorajar a discussão do lado polêmico das inovações, esse novo ambiente deve estimular o empreendedorismo entre os alunos, aproximando o universo estudantil e o mercado de trabalho.

Pedra flexível

Na busca pela inovação, os jovens não podem ter medo de errar. “Geralmente vemos o erro como um fracasso, mas errar é bom, porque significa que se está tentando algo novo. É melhor tentar dez vezes e conseguir acertar uma do que não fazer nada”, diz Jeroen van Oostveen, outro dos palestrantes holandeses que estiveram em São Paulo, em maio, no Festival Path.

Jeroen é diretor da Materia, uma rede global de 1 200 fabricantes que desenvolvem materiais criativos e sustentáveis para uso na arquitetura. Em vez do velho papel de parede, por exemplo, o catálogo sugere soluções como um revestimento feito de jeans reciclado e outro que se compõe de uma lâmina de pedra flexível, com apenas 0,3 milímetro de largura. “Concordo com aquela frase de Steve Jobs que diz que as pessoas não sabem o que querem – até que você mostre a elas”, diz Jeroen. “Na Materia, queremos tornar o impossível possível, com produtos ecológicos e de alta qualidade.”

Tecnologia e indústrias criativas são segmentos de excelência da Holanda. E se você quer mergulhar de cabeça nessas áreas, a boa notícia é que o país é super aberto a receber estudantes estrangeiros – hoje, são 90 mil, o equivalente a 12% dos alunos de ensino superior. Em algumas instituições, como a Delft University of Technology e a University of Twente (ambas no top 100 global das melhores universidades de engenharia e tecnologia), esse percentual de estudantes não-holandeses chega a 25%. Para saber mais, acesse o site da Nuffic Neso Brazil e descubra como tentar uma vaga para um dos 2 100 cursos de graduação e pós-graduação oferecidos em língua inglesa na Holanda!

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