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Bike Café: ou como um bom cafezinho pode financiar várias iniciativas de apropriação da cidade

Guilherme Maciel - 7 abr 2016 Cadu e Murilo, no começo do Bike Café, há quatro anos.
Cadu e Murilo, no começo do Bike Café, há quatro anos.
Guilherme Maciel - 7 abr 2016
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Cadu Ronca, 32, e Murilo Casagrande, 34, pedalaram muito para chegar onde estão. O Bike Café, marca de café criada por eles em 2013, começou um pouco tímida, mas desde o nascimento com o compromisso de espalhar mais bikes pela cidade de São Paulo e trabalhar em causas sociais – reverte 10% de seu faturamento para o projeto Pedala Zezinho, vinculado à ONG Casa do Zezinho, e outras iniciativas sociais.

Logo que surgiu, o Bike Café aparecia em um eventinho aqui, uma data especial acolá ou alguma feira ali do lado. Hoje, pode ser encontrado, em sacos para venda, no Aro 27 e no Alice Café (cafeterias, respectivamente, no bairros de Pinheiros e Bela Vista), na rua – em eventos públicos – ou até no casamento de um amigo mais descolado, nos quais eles servem diversas opções: Expresso, Coado, Latte, Capuccino, Moka, Drinks Alcóolicos e não Alcóolicos.

“Nossa missão é melhorar a relação das pessoas com a cidade em que vivem e com o café que tomam. Por meio de prazeres simples, trazer mais qualidade de vida de uma forma diferente”, diz Cadu. Murilo complementa, falando da conexão que vê entre os dois motes:

“O café e a bicicleta congregam pessoas. Então, vamos tomar um café, vamos dar um rolê de bike, têm mais ou menos a mesma conotação”

Mesmo nos momentos financeiramente mais complicados da empresa, congregar as pessoas por meio de um simpático convite para um cafezinho, sempre foi a marca do Bike Café.

O Bike Café faz eventos corporativos, mas também tem ido à Paulista aberta, aos domingos, vender café e drinks por lá.

O Bike Café faz eventos corporativos, mas também tem ido à Paulista aberta, aos domingos, vender café e drinks por lá.

Ter uma marca de café não é nada fácil. Para se produzir um café de qualidade, indicado para venda, é preciso ter uma produção com os manejos de plantação corretos e passar por um rigoroso julgamento do Coffee Quality Institute, organização criadora do The Q Coffee System, um índice de avaliação feito por especialistas em sabores de café, que atribuem uma nota para os paladares – acidez, amargor, doçura etc. Quanto maior a nota (de 0 a 100), melhor o café. Cadu se deparou com um café de alta qualidade no quintal de casa, literalmente. Uma pequena produção em Guaxupé, no sul de Minas, da família de sua mãe, é administrada por seu irmão agrônomo, especialista nessa cultura, e havia atingido a graduação de 84 pontos no Q Coffee System.

Coincidentemente, foi nesse momento – entre o final de 2012 e começo de 2013 – que Cadu e Murilo estavam pesquisando novas oportunidades para empreender e difundir mais a bicicleta em São Paulo. “Estávamos buscando uma bebida de qualidade na produção e aí foi a oportunidade: ter um café acessível, querer abrir um negócio”, conta Cadu.

Com os primeiros sacos de Bike Café prontos para venda, a dupla percebeu que teria que ir atrás de canais alternativos de distribuição. Lugares como a Aro 27, vendem pacotes do Bike Café. O de 250 gramas custa 20 reais, enquanto o de 1 quilo sai por 75 reais. Além disso, também é possível comprar diretamente deles, fazendo o pedido pelo Facebook e neste email.

Mas o mercado varejista – mercados, restaurantes, cafeterias –, que consideram super agressivo, não estava nem um pouco interessado em abrigar uma nova marca iniciante. O jeito foi… pedalar! Os amigos, e agora sócios, montaram uma bicicleta cargueira e foram para a rua interagir com os clientes: postavam-se em feirinhas gastronômicas e eventos, chamando a atenção de potenciais clientes, num momento em que a cultura de bicicleta estava florescendo.

O Bike Café foi um dos puxadores do movimento de “food bikes” que começou a pipocar em São Paulo a partir de 2013. O mercado de eventos, por consequência, foi um passo natural. Hoje o Bike Café faz cerca de 15 deles por mês, com uma entrada mínima de 100 cafezinhos. O custo para o contratante varia, mas em média é de 1 000 reais por quatro horas de evento e 100 cafés servidos, com diferentes preparos. “Mas já servimos 3 000 em um único dia”, diz Murilo.

Essa movimentação toda fez com o que Cadu e Murilo, em maio de 2015, “efetivassem” como sócio o mais dedicado voluntário do Bike Café, Roark Stuart Kelly, 33 – que apesar do nome é brasileiro (pai norte-americano), corintiano e barista. Hoje, Roark está à frente de toda a operação. “Trabalhei no Bike Café como voluntário, porque sempre achei tudo de alto nível, quebra a ideia que café é tudo igual, e estamos falando de um dos principais produtos do nosso país”, conta ele.

O DNA DA BIKE EM UM LEQUE DE INICIATIVAS

Estar na rua, ocupar o espaço público, humanizar a cidade com mais bicicletas e interagir com as pessoas tomando um cafezinho. Tudo isso foi um passo natural para Cadu e Murilo porque, dois anos antes de fundarem o Bike Café, eles haviam criado com outros dois colegas, André Rodrigues, 32, e Fabio Fernandes, 35, o Aromeiazero, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) — na prática, uma ONG que pode receber doações de empresas privadas.

A bicicleta foi o denominador comum para a criação do Aro, pelas diferentes visões que cada um dos quatro amigos tinham: Cadu era advogado de formação, mas já trabalhava com ONGs e projetos sociais; Murilo, publicitário, trabalhava com vendas, tinha experiência de empreender em casa, com seu pai, e trabalhava no terceiro setor também; André, designer, não pedalava, mas desenha bicicletas muito bem e trabalhava na Casa do Zezinho; e Fábio, educador físico, trabalha com os benefícios que uma vida de pedal traz para o ser humano.

O Bike Café faz eventos corporativos, mas também tem ido à Paulista aberta, aos domingos, vender café e drinks por lá.

A oficina Pedala Zezinho, na ONG de mesmo nome, é uma das iniciativas da Aromeiazero, financiada pelo Bike Café.

Cadu conta que o Aro, como chamam a iniciativa, surgiu em um momento de vida de quatro amigos que “estavam um pouco em crise, buscando outras oportunidades profissionais e queriam uma atuação transformadora com impacto positivo na sociedade”. Ele diz que ideia nunca foi abrir uma banca de camisetas ou um lava a jato:

“Não queríamos abrir um negócio. Queríamos mudar de vida fazendo algo em que a gente acreditava”

O começo do Aro foi bem conturbado, muitas ideias na cabeça, pouca receita entrando e muitos freelas paralelos. Naquele momento, nem eles mesmos sabiam direito para qual lado começar. “No começo, eu ia mais para o lado do ativista, artista urbano”, conta Murilo.

O primeiro projeto do Aro foi o Pedala Zezinho, em parceria com a Casa do Zezinho, a ONG que atende jovens de baixa renda no Capão Redondo, zona Sul da capital paulista. A ideia consiste em uma manhã de oficinas de bicicleta para as crianças atendidas pela ONG. “O mais interessante, para nós, foi conseguir a atenção daqueles jovens na puberdade durante quatro horas falando sobre bicicleta, atuação na comunidade, carreira”, diz Murilo.

Com o projeto testado e validado, o passo seguinte e natural foi uma aproximação do mercado de bicicletas, principalmente as empresas do setor, para buscar apoio e recursos e levar o Aromeiazero adiante. Foi aí que Cadu e Murilo perceberam que o buraco era um pouco mais profundo. Algumas portas estava fechadas e eles teriam que diversificar para sobreviver, como  conta Murilo:

“Mesmo com acesso às maiores empresas do mercado, ninguém dava dinheiro. Acendemos a luz amarela e fomos para outros setores: varejo, bancos, até rifa. Até hoje vendemos bicicletas como obras de arte. Sem parar de vender café”

Enquanto seguiam com o Bike Café (fonte de renda para a operação) eles uniam-se a novos parceiros. Isso os permitiu colocar projetos que uniam bicicleta e arte na rua, principalmente nas periferias: outros Pedalas (inspirados na experiência com a Casa do Zezinho) aconteceram em São Paulo e Salvador. E o Aro faz, ainda, o Bike Arte (um festival de rua com exposição e oficinas de customização de bicicletas); o Bike na Batata (evento, com apoio da Prefeitura e do Itaú, que celebrou a abertura do bicicletário); os cursos de formação para ciclistas entregadores (que podem ser avulsos ou in company); e o mais simpático dos projetos, o Bike Café.

O café do Bike Café, além de passado na hora também vendido em pacotes.

O café do Bike Café, além de passado na hora, também é vendido em pacotes.

“Começamos o café como uma ferramenta de captação do Aro. Já pagou o primeiro ano operacional, esse ano vai pagar mais coisas. Mas o mais interessante é que o Bike Café abre muita porta para a bicicleta, de lugares que não imaginávamos. Já recebemos proposta para participar do Salão do Automóvel”, conta Murilo.

Os sócios contam que, com as iniciativas do Aro, eles se consolidaram como uma referência de projetos na periferia. Mas não só isso: as relações com as empresas cresceram também, tanto que este ano Itaú será o primeiro parceiro institucional da OSCIP. Além dos projetos listados acima, está em aperfeiçoamento um novo, que eles consideram o grande projeto do ano: um galpão, na Vila Santa Catarina, zona Sul de São Paulo, que os sócios querem “transformar em um polo de reforma de bicicleta, treinamento, empreendedorismo com bicicleta”.

GANHA AQUI, COLOCA ALI

Sem muito alarde e sem muitos tropeços, o Bike Café se consolidou como a principal fontes de receita do Aromeiazero, faturando em média 8 mil reais por mês. Para 2016, a expectativa é de crescimento, mas sem uma meta pré-definida. Para Cadu e Murilo, a qualidade do que fazem é tão mais importante que o volume quanto é sensível o cheiro de cafezinho fresco saindo do bule. Murilo fala:

“Não temos a pretensão de acumular grandes riquezas. O resultado que buscamos é saber se o pessoal gostou, se seremos chamados novamente para o evento, se houve boas discussões na proposta que fizemos”

Mas não confunda despretensão com pouco trabalho — não é. Em quatro anos de empreendimento, eles viveram maus bocados e já acumularam lições valiosas. “Quando você começa a empreender, fica tão envolvido que toma um porre de tanto trabalhar. Depois vem a ressaca e a cura, que é voltar a ter uma vida social. Estamos nessa etapa”, diz, em meio a risadas, Murilo.

Olhando para trás, para os quatro amigos que pensaram em empreender em alguma coisa que impactasse o mundo, eles apontam a maturidade que o negócio atingiu. “Gosto muito da filosofia do hackear, o mundo, as coisas… A única coisa que te faz ser dono daquilo é fazer bem feito”, diz Murilo. E assim, entre várias pedaladas, o Bike Café vai espalhando sua simpatia por aí.

DRAFT CARD

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  • Projeto: Bike Café e Aromeiazero
  • O que faz: Vende café de bicicleta; dá oficinas e cursos ligados à bicicleta
  • Sócio(s): Cadu Ronca, Murilo Casagrande, André Rodrigues, Fábio Fernandes e Roark Stuart Kelly
  • Funcionários: 5 (os sócios)
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: setembro de 2011
  • Investimento inicial: NI
  • Faturamento: R$ 8.000 mensais em média
  • Contato: [email protected], [email protected] e [email protected]
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