“Surge uma misteriosa nova tecnologia, aparentemente do nada, mas fruto de duas décadas de pesquisa intensa e desenvolvimento por pesquisadores quase anônimos.
Idealistas políticos projetam visões de liberdade e revolução com isso; elites do establishment desprezam e desdenham. Na outra mão, geeks e nerds estão maravilhados. Eles veem o enorme potencial e passam noites e semanas pensando no assunto.
Em algum momento, companhias e indústrias começam a comercializar; os efeitos são profundos; e, mais tarde, pessoas se perguntam como uma ideia tão poderosa não era mais óbvia desde o início.
De que tecnologia estou falando? De computadores pessoais em 1975; da internet em 1993; e, acredite, de bitcoin em 2014.”
O texto acima foi escrito por Marc Andreessen e publicado no The New York Times no ano passado. Ele é criador do Napster e do Mosaic, o primeiro navegador da internet, também é sócio do Andreessen Horowitz, um dos maiores fundos de investimento do Vale do Silício, e não está sozinho na empolgação. Cada vez mais, pessoas do mundo inteiro apoiam o tom profético dos prognósticos quanto ao sucesso da moeda digital e no seu poder de mudanças. Na Grécia, enquanto os bancos estão fechados e ninguém sabe se o país vai quebrar ou não, é na moeda digital e criptografada que muitos gregos estão apostando — e colocando o seu dinheiro.
UMA CRIPTOMOEDA SEM FRONTEIRAS
Em 2008, um ano antes da moeda ser lançada, um artigo científico apresentou o conceito. O texto é assinado por Satoshi Nakamoto, cujo paradeiro é um grande mistério. Não se sabe se é o pseudônimo de uma pessoa ou um grupo (no ano passado, a Newsweek publicou uma reportagem de capa afirmando que Dorian S. Nakamoto seria o criador da bitcoin, mas ele negou e nunca se provou nada).
Em 2009, a moeda foi finalmente lançada. O Coindesk, um dos sites especializados no assunto, define a bitcoin como “uma espécie de moeda digital, criada e mantida eletronicamente, que ninguém a controla, que não é impressa, como notas de dólares ou euros, e que é gerada em computadores de todas as partes do mundo usando softwares que resolvem problemas matemáticos”.
Na cotação de hoje, dia 16 de junho de 2015, um bitcoin vale 274,96 dólares, ou 937 reais.
Muita gente trata bitcoins como commodity, ou seja: comprando e esperando valorizar, para depois revendê-las. Elas podem ser trocadas pelo dinheiro de seu país em câmbios digitais. No Brasil temos alguns, como Bitcoin to you, Bleutrade, BitInvest e Mercado Bitcoin. Outra curiosidade é que, diferentemente do dinheiro tradicional, as criptomoedas podem ser fracionadas infinitamente, o que facilita a realização de micropagamentos online.
Mas o que torna a bitcoin algo único é o fato de ser um dinheiro descentralizado, que não é controlado por nenhum banco ou governo — e que pode ser transferido por qualquer um a qualquer outro, independente de qual país estiverem. É quase como mandar um e-mail: basta que os dois indivíduos tenham internet e uma carteira virtual. Além disso, como conta Gustavo Guida Reis, CPO da BTCJam, uma startup de empréstimo de bitcoins: “Ela permite que pessoas sem conta bancária tenham acesso a serviços financeiros. Basta ter um smartphone com internet”.
ONDE NASCE ESSE DINHEIRO ONLINE?
A essência da bitcoin está no seu modo de criação, conhecido como mineração. Para gerar a moeda é necessário colocar computadores trabalhando em um esquema colaborativo peer-to-peer para resolver algoritmos matemáticos. Cada vez que uma conta é solucionada, é liberado um “bloco de bitcoins”. Não é simples. Esses algoritmos foram definidos para se tornarem cada vez mais complexos. Assim, a oferta não necessariamente cresce no mesmo ritmo da demanda, o que faz a moeda se valorizar. É uma forma da própria matemática autorregular a inflação — daí vem o lema Vires in Numeris, do latim “força nos números”.
Além disso, a bitcoin é limitada: só poderão existir 21 milhões no mundo (atualmente há 14,3 milhões). Como é cada vez mais difícil minerar, conseguir uma custa cada vez mais. São necessários mais computadores poderosos gastando mais recursos e energia para gerar a mesma moeda.
Todas as transações de bitcoins são feitas com uma tecnologia chamada Blockchain. “A bitcoin funciona em cima de uma espécie de livro de contabilidade (a Blockchain), que é público e contém absolutamente todas as transações já feitas. Desta forma, elas são auditáveis a qualquer momento e por qualquer um. Resolve-se, assim, um dos problemas primordiais das transações eletrônicas: a questão da confiabilidade. Se eu mando bitcoins para alguém, posso acompanhar a transação e ver que foi feita de forma correta. Não importa a distância nem o valor, ela será feita de forma quase instantânea e com um custo irrisório”, diz Reis.
Com isso, todas as transações de bitcoin são públicas e a carteira dos usuários pode ser vista, mas não manipulada, por qualquer um. É claro que nada disso é associado ao nome ou qualquer identificação da pessoa. A carteira do The Pirate Bay, o famoso site de pirataria, por exemplo, é identificada simplesmente como “129TQVAroeehD9fZpzK51NdZGQT4TqifbG”. Por isso, se diz que a bitcoin é “semi-anônima”. Ela funciona desse jeito para promover a transparência e evitar fraudes que desequilibrem o sistema.
BITCOIN NA CRISE GREGA
Em meio à crise grega, muitos bancos congelaram as contas. Nesse cenário, a moeda digital soa como opção interessante para parte da população.
Não é a primeira vez que a bitcoin chama a atenção em meio ao caos. Em março de 2013, o Chipre passou por uma intensa crise financeira, com bancos bloqueando contas. Naquela ocasião, pessoas também recorreram à bitcoin e a especulação da moeda aumentou rapidamente.
“O que ocorreu no Chipre e na Grécia é justamente o cenário característico das economias deficientes, onde há quebra de confiança nas estruturas do sistema monetário e no governo. O temor da população em relação ao crescimento da crise e o desemprego a direciona para as moedas alternativas, com o objetivo de resguardar o próprio dinheiro da ingerência do Estado”, diz Julieti Brambila, advogada e pesquisadora de moedas digitais.
Uma reportagem da Fortune mostra que cidadãos de outros países, como Espanha, Itália e Portugal, com medo de passarem por crise semelhante, também estão comprando criptomoedas.
“Como as transações são rápidas, baratas e independem de distância, bitcoins ajudam muito pessoas que vivem em países cuja economia não está funcionando perfeitamente. Isso se aplica à Grécia, que está em colapso, mas também a países como o Brasil com uma taxa de juros que passa dos 200% para o cheque especial”, diz Reis.
Mas nem só de crise vive a moeda. Hoje em dia, restaurantes, varejistas e grandes empresas como Overstock, Dell e Virgin Galactic estão aceitando a moeda nas suas transações online. A bitcoin abre uma infinidade de possibilidades para empresas inovarem financeiramente. Reis fala deste cenário:
“Nos Estados Unidos, vemos uma onda de startups financeiras propondo mudanças radicais na forma como o sistema bancário funciona”
Ele exemplifica com a sua própria startup, a BTCjam, que é capaz de precificar tomadores de empréstimos em qualquer lugar do mundo e permite que qualquer um, junto com outras pessoas, empreste dinheiro a qualquer indivíduo ou empresa em 120 diferentes países, cobrando juros ajustados pela plataforma.
Desde o ano passado, há rumores de que Uber, Airbnb e outras grandes startups estariam estudando a integração com a moeda.
O LADO NEGRO DA LIBERDADE
Por ser essencialmente livre, a bitcoin também traz, potencialmente, uma série de problemas. O principal deles está relacionado ao mercado negro. O Silk Road, um dos maiores sites de comércio de drogas ilegais, por exemplo, só recebia pagamentos em bitcoins.
Outro problema comum com a moeda é relacionado à lavagem de dinheiro. “Um meio de troca digital como a bitcoin impõe uma barreira quase intransponível, dificultando a atividade de combate a ocultação e lavagem do dinheiro sujo”, afirma a advogada Brambila.
Além disso, há ainda alguns problemas de segurança. Há formas muito seguras de guardar uma bitcoin, inclusive offline (por exemplo, armazenando no seu hardware ou imprimindo em papel, em forma de QR Code). No entanto, algumas empresas de câmbio digital, já tiveram problemas de segurança, sumindo com o dinheiro de terceiros. O caso mais notável é da Mt.Gox, que faliu e sumiu com o equivalente a quase 500 milhões de dólares em bitcoins. Uma recomendação a quem utiliza a criptomoeda é nunca deixar seu dinheiro parado em câmbios, por mais seguros que eles aparentem ser. O jeito mais conhecido de manter-se seguro é usar a Blockchain, que é a sua carteira virtual de bitcoin.
“Quando iniciei minha pesquisa acadêmica, a postura mais comum das pessoas era vincular bitcoins à ilegalidade e condutas transgressoras. Mas é um equívoco não considerar o potencial inovador da moeda. Ela é fruto da cultura open source e concatena com ideias de liberdade de mercados, bem como de transformação social”, diz Brambila.
Em novembro de 2013, um bitcoin chegou a valer 979 dólares. Desde então, a moeda perdeu muito de seu valor de mercado. E aí, vale a mesma regra do mundo offline: para uma moeda ser forte, ela precisa ser utilizada por mais e mais pessoas e empresas. Este é um caminho longo, cheio de altos e baixos, em que só o tempo dirá se a criptomoeda funcionará.
No texto citado no início desta reportagem, Andreessen fala sobre isso: “Mais do que um conto de fadas libertário ou um simples exercício do Vale do Silício, a bitcoin oferece a oportunidade de reimaginarmos como o sistema financeiro pode e deve funcionar em tempos de internet”. O empreendedor e investidor ainda cita uma frase de Milton Friedman, dita em 1999: “Uma coisa que ainda falta, mas em breve será desenvolvido, é uma forma confiável de dinheiro virtual confiável, um método na internet em que você poderá transferir fundos de A a B, sem que um precise conhecer o outro”.
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