Tem gente que não empresta livro nem a pau. Se você é daqueles leitores vorazes e apegadíssimos à sua biblioteca, sabe perfeitamente bem disso. Mas recomendar um bom livro a alguém querido é sempre um prazer. Agora, imagine receber em casa, todo mês, uma edição exclusiva de um livro surpresa escolhido não por uma prima ou um amigo, mas por um escritor de verdade, talvez até um Prêmio Nobel…
Essa é a experiência oferecida pela TAG. Instalada numa casa de dois andares em Porto Alegre, a empresa vem desafiando a máxima de que “brasileiro não gosta de ler” e, nos últimos 24 meses (desde que foi retratada no Draft em 2016), quintuplicou o seu número de assinantes.
A TAG nasceu em 2014, da cabeça de Arthur Dambros, Gustavo Lembert e Tomás Susin, ex-colegas de administração daquela geração que cresceu devorando Harry Potters. Inspirados pelos clubes de assinatura de vinhos e cervejas, combinaram o gosto pela leitura com a vontade de empreender para criar um negócio sabidamente ousado, um clube de assinatura de livros sem paralelo hoje no mundo.
O mercado editorial brasileiro possui um case interessante nessa área. O Círculo do Livro existiu entre 1973 e 2000 e chegou a contar com 800 mil sócios, mas tinha por trás dois conglomerados de mídia, o Grupo Abril e a alemã Bertelsmann.
“Quando nos perguntamos lá em 2013 por que não havia um clube de assinatura de livros e como ele seria se existisse, o Círculo do Livro foi a nossa primeira referência e lembrança”, diz Arthur. “Temos edições nas nossas bibliotecas pessoais, nossos pais faziam parte do Círculo, então chegamos a ler os livros por rebote. Foi uma fonte de inspiração bastante forte, que remodelamos para chegar à ideia da TAG.”
Hoje, cada assinante paga R$ 55,90 por mês (no plano anual) ou R$ 62,90 por mês (no plano mensal), mais taxa de entrega, e recebe todos os meses os kits contendo um livro surpresa, escolhido por um curador convidado, box colecionável, revista com cerca de 30 páginas sobre o autor e a obra, marcador de páginas e um mimo surpresa (como a agenda literária, enviada no kit de dezembro de 2017); a qualquer momento, é possível cancelar a assinatura.
O número de funcionários decolou nos últimos dois anos, de dez para cerca de 70, que trabalham para que os mais de 25 mil leitores que já fazem parte do clube recebam as caixinhas em suas casas todos os meses. Um ponto importante da virada que fez a empresa deslanchar recentemente se deu em janeiro de 2017. Até então, os livros da TAG eram iguais a qualquer exemplar da mesma obra à venda nas livrarias; a diferença estava na revista, no mimo e no box colecionável.
A partir daquele mês, a TAG passou a encomendar e enviar apenas edições de luxo, com capa dura e projeto gráfico exclusivo. A estreia do novo formato foi com Vida e proezas de Aléxis Zorbás, do grego Níkos Kazantzákis, indicado pelo médico e autor best-seller Patch Adams. Sobre Adams, Arthur lembra uma história saborosa do comecinho da empresa, quando a galera ralava para conseguir um contato e viabilizar a abordagem aos curadores (hoje, as editoras costumam encurtar o caminho):
“Já vínhamos tentando o contato e não conseguíamos. Então ele deu uma palestra aqui em Porto Alegre e disse que não respondia e-mail, mas que se mandássemos uma carta, ele responderia. Escrevemos ao seu Instituto Gesundheit, nos Estados Unidos, e esquecemos disso. Uns quatro meses depois, recebi um cartão da Frida Kahlo. Parece piada, mas era muito ‘letra de médico’, e ele de fato é médico… Não entendia nada, mas consegui ler o finalzinho: With love, P. Adams. Pensei: bom, sei de quem é. Depois deciframos o resto, ele elogiava o projeto e recomendava livros.”
O timaço de curadores é eclético e de altíssimo calibre. Mesmo a versão resumida da lista exige um parágrafo robusto, então respire fundo: Luis Fernando Verissimo, Marina Colasanti, Ruy Castro, Heloisa Seixas, Luiz Ruffato, Adriana Lisboa, Sérgio Rodrigues, Maria Rita Kehl, Daniel Galera, Heloisa Buarque de Hollanda, Jorio Dauster (diplomata e tradutor de Philip Roth e Ian McEwan)… Sem falar no peruano Mario Vargas Llosa, vencedor do Nobel de Literatura de 2010, que recomendou o clássico O leopardo, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, enviado em maio de 2017, e na premiada autora feminista nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie.
Eventualmente, os livros indicados não estão nas mãos de nenhuma editora. Era o caso de As alegrias da maternidade, de Buchi Emecheta, escolha de Chimamanda Adichie: a autora nunca havia sido publicada no Brasil. Por sinal, o livro de Emecheta (nigeriana como Chimamanda, a curadora daquela edição) está entre os que mais agradaram até hoje os assinantes da TAG; outros títulos bem avaliados são Stoner, do americano John Williams (indicação da escritora gaúcha Letícia Wierzchowski), e O alforje, da autora iraniana Bahiyyih Nakhjavani (escolhida pelo argentino Alberto Manguel), que os associados receberam em fevereiro deste ano.
“Monitoramos as avaliações pelo nosso aplicativo”, diz Arthur, referindo-se ao app disponível apenas para assinantes. “Nele, você pode marcar o que leu, o que não leu, se abandonou o livro e que nota deu.”
Agora em março, a empresa lança uma nova linha de assinatura, a TAG Inéditos. Nesse caso, a curadoria será feita internamente e o foco, voltado para best-sellers – o objetivo é garimpar o próximo A menina que roubava livros ou O caçador de pipas, traduzir e publicar no Brasil em primeira mão para os associados. O plano terá preços mais em conta (com o acréscimo da taxa de entrega): R$ 39,90 no anual ou R$ 44,90 no mensal.
“O kit TAG Inéditos inclui o livro numa edição exclusiva em brochura [e não em capa dura, como no kit TAG Curadoria], marcador de página personalizado e um pôster ilustrado”, diz Arthur. “Todo mês, vamos contratar um artista diferente para fazer uma ilustração relacionada àquela obra, e o verso trará um infográfico explicando o livro, com informações sobre o autor, sinopse, os highlights de leitura…”
Ampliar o leque de leitores diversificando o espectro de títulos faz parte do esforço estratégico. Assim, a TAG quer seguir crescendo, aprofundando as descobertas de obras inéditas por aqui e ajudando a democratizar esse hábito que só quem tem sabe a delícia que é: o de se deixar levar por um (ótimo) livro.