Caio Dib é jornalista recém-formado. Tem apenas 25 anos, mas já acumula 17 mil quilômetros rodados de ônibus por 58 cidades brasileiras atrás de boas práticas educacionais. Desde 2007 está envolvido em diversos projetos que interligam as áreas de Educação, Comunicação e Tecnologia. Sim, Caio é bastante precoce. O jornalismo é uma das ferramentas que utiliza para realizar suas pesquisas e projetos dentro e fora das escolas, como o Caindo no Brasil, um negócio social que potencializa as soluções criativas da Educação brasileira por meio de pesquisas e da realização de projetos dentro e fora das escolas.
Seus primeiros contatos com o jornalismo pelas vias da educomunicação (educação multimídia e colaborativa) aconteceram durante os três anos do ensino médio, que ele cursou em um colégio da elite paulistana, o Bandeirantes. E Caio fez bom uso dessa oportunidade. Em 2010 foi monitor do curso “Idade Mídia”, um projeto extracurricular que ensina os conceitos básicos do jornalismo para alunos do 2º ano do ensino médio. Pegou tanto gosto pela disciplina que no ano seguinte, em 2011, colaborou por meio de pesquisa e entrevistas com a publicação de um livro, o Idade Mídia – comunicação reinventada na escola, sobre o curso homônimo do qual havia sido monitor.
Com as vivências acumuladas ainda no colégio, a experiência da graduação em jornalismo foi um tanto frustrada. “Não via muito sentido na faculdade, tudo o que eu já tinha lido, tive que reler durante a graduação. Hoje, mais maduro, vejo que a faculdade é apenas mais uma ferramenta da sua jornada de aprendizagem.” Ainda assim, Caio procurou tirar o melhor proveito desses anos. Seu trabalho de conclusão de curso foi um e-book chamado Educação Reinventada: a tecnologia como catalisadora de uma nova escola, que pode ser baixado gratuitamente.
E, até o presente momento, podemos dizer que Caio já viveu uma bela jornada de aprendizagem, feita de muita observação, conversas — e pé na estrada. Ele define os últimos três anos como os melhores de sua vida. Foi neste período, depois de já ter trabalhado em algumas das maiores empresas da área de Educação, como Fundação Padre Anchieta, Abril Educação e Instituto Natura, que decidiu apostar em um projeto pessoal, o Caindo no Brasil:
“Percebi que ficava mais tempo dentro do escritório do que conhecendo e entendendo quem eram as pessoas que aprendiam e consumiam os produtos e serviços que eu ajudava a criar”
Entre setembro de 2013 e dezembro de 2015, foram mais de 100 palestras realizadas em eventos de referência de todo o Brasil e em outras partes do mundo para debater temas que envolvem Educação e Inovação. Neste quesito, vale destacar a sua primeira participação internacional em uma round table da Americas Society/Council of Americas, uma entidade com sede em Nova York. Na ocasião, Caio era o mais novo entre todos os diretores e CEOs de grandes organizações e corporações. Atualmente ele é um dos apoiadores da campanha YouthSpeak, um movimento global da AIESEC, uma ONG internacional de empoderamento de lideranças juvenis. Recentemente, esteve em um evento da organização sobre os Desafios Globais (GlobalGoals) estabelecidos pela ONU para falar sobre a Meta 4, por uma educação de qualidade.
Outra participação da qual se orgulha muito é a sua fala no TEDxUnisinos em 2013 sobre inovação na Educação. Ali, sua mensagem era clara e otimista: existe muita coisa boa acontecendo nas escolas brasileiras. “A ideia de que precisamos jogar tudo no lixo e começar tudo de novo é falsa”, diz ele.
AJUDANDO A CONSTRUIR NOVOS MODELOS EDUCACIONAIS
A jornada com o Caindo na Brasil (na qual investiu 15 mil reais, do próprio bolso) foi a mola propulsora para o desenvolvimento de seu negócio — focado em potencializar soluções criativas na educação — e abriu portas para uma série de outros projetos e serviços que viria posteriormente. O período inicial planejado era de três meses mas no fim a jornada durou cinco. No total, Caio passou por 58 cidades e conheceu 30 práticas educacionais de escolas públicas e privadas, de educação infantil à EJA (Educação de Jovens e Adultos), começando por Belém do Pará até a cidade de São Paulo. Treze dessas histórias são compartilhadas em um livro, que é composto por mais de 50 entrevistas e quase 100 referências bibliográficas comentadas, além de ensaios.
Nessas andanças ele pode conversar com gente de todo o tipo: comerciantes, funcionários de museus, educadores, diretores de escolas e alunos. Ouviu muitas histórias no caminho e conheceu personagens fantásticos como o senhor Manoel Andrade, da zona rural da cidade de Pentecoste, no Ceará. Quando jovem, Manoel fugiu da seca e foi para Pernambuco, onde conheceu a Universidade Federal do Ceará e teve a oportunidade de participar de uma roda de estudos. Acabou se formando em Química na Federal e, ao voltar para a sua cidade natal, decidiu montar uma roda de estudos com meninos que tinham deixado a escola.
Os encontros aconteciam em uma casa de farinha desativada. Dos sete meninos, seis acabaram o ensino médio e foram para a universidade. Esses mesmos jovens retornaram a suas comunidades e se estruturaram em uma cooperativa. Vinte anos depois, a iniciativa se estruturou em um programa, o PRECE (Programa de Educação em Células Cooperativas), que hoje atende mais de 500 alunos e conta com a parceria da Secretaria de Educação do Estado do Ceará. Caio percebeu que essas histórias tinham algo em comum — uma educação viva, voltada para a autonomia e para a vida, como ele diz:
“A educação acontece no plural, em todos os lugares, na escola, debaixo de um pé de manga, em uma casa”
Por outro lado, observou que as boas inciativas são, em sua maioria, protagonizadas por um único agente: um professor, um diretor, “e isso, não é nada bom porque não é sustentável. Precisamos criar tecnologias sociais para empoderar mais pessoas para que as boas iniciativas sobrevivam ao tempo”.
Por isso, trabalhar junto é preciso. Caio, que é um verdadeiro tecedor de redes, acredita que este é o caminho para potencializar iniciativas e o aprendizado e para “não morrermos na praia, cada um na sua bolha”. Um dos trabalhos no qual a Caindo no Brasil está envolvida neste momento é justamente a formação de uma rede de professores inovadores do ensino básico de São Paulo, a Rede Lab Makers, que deverá participar de um curso de educação maker este ano. A iniciativa é coordenada pelo Lab Educação, um negócio social que tem a missão de trazer fab labs para o Brasil.
Na carteira de parceiros-cliente da Caindo no Brasil também estão a empresa de conteúdo e inovação F451 e o Instituto Inspirare. Com eles, a empresa de Caio ajudou a criar a plataforma Aprender, que reúne uma série de referências e conteúdos para apoiar empreendedores na área de Educação. Caio afirma que é a precificação do trabalho em cada projeto varia bastante, mas diz manter como base o valor de 130 reais por hora de trabalho.
ENTRAVES PARA O USO DA TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO
Uma das expertises da Caindo No Brasil é o uso da tecnologia aplicada à Educação. Para Caio já existe um entendimento de que é preciso pensar no processo de aprendizagem para então definir quais são as melhores ferramentas para que seja criada uma nova cultura em sala de aula. “Há uns quatro, cinco anos, vários grupos defendiam que colocar uma lousa digital era a solução. Hoje, já vemos instituições públicas e privadas mais esclarecidas sobre o conceito de inovação, com uma visão mais ampla do que apenas adotar tablets, por exemplo”, diz.
No entanto, ainda há muito o que avançar nesta seara. Entre os maiores entraves para que isso aconteça, em sua opinião, estão a falta de estrutura nas escolas e a formação dos professores. “Os professores precisam ter a segurança de que a tecnologia não vai substitui-los, mas sim ajudá-los a fortalecer o aprendizado. Afinal, são eles quem vão guiar os estudantes, eles são os tutores, os facilitadores para a aprendizagem.” Caio defende uma formação que esteja aberta à cocriação, em que os professores estejam abertos a ouvir os alunos.
“Eu mesmo já me deparei com situações delicadas no projeto que toco na Escola Santi. Uma vez, propus um exercício de mapeamento das coisas que os alunos encontram no caminho de casa para a escola e vice-versa, usando o Google Maps e o Google Street View. Não emplacou, porque eles não se sentiram motivados. E aí, tivemos que repensar o projeto”, conta.
Algumas organizações privadas têm atuado junto a governos para ajudá-los nesta complexa missão que é a compra de inovação em educação. Um exemplo disso é o projeto Escola Digital, um portal para professores da rede pública que por meio de uma curadoria afinada categoriza conteúdos educacionais disponíveis na web para que as secretarias municipais e estaduais de educação possam adaptar aos seus currículos. Neste caso, a iniciativa leva a assinatura do Instituto Natura, Inspirare e Vivo Telefonica. Caio atuou como coordenador geral do projeto.
O BOM FILHO A CASA TORNA
O provérbio “o bom filho a casa torna” parece se aplicar perfeitamente à trajetória de Caio. Depois de anos, ele voltou a frequentar a Escola Santi, onde estudou do maternal até a 8ª série, desta vez como educador. Desde fevereiro de 2014 ele desenvolve com alunos do ensino fundamental 2 o Transform+ação, um projeto extra-curricular em que jovens são incentivados a realizarem mudanças que acreditem que sejam significativas em suas vidas.
A proposta, que hoje faz parte do guarda-chuva da Caindo no Brasil, é que os próprios estudantes encontrem os problemas ou possibilidades de melhoria no bairro do Paraíso, onde fica a escola. No geral, a ideia é propor um aprendizado experimental para que os alunos possam entender os problemas do entorno, e a partir daí, definir e estruturar projetos.
No ano passado, eles decidiram que fariam um folder com um mapa destacando os pontos positivos do bairro para entregar aos visitantes da Copa do Mundo. O projeto foi feito com o uso de um programa de diagramação open source, financiamento coletivo no qual arrecadaram 3.600 reais, e concluído em um mês. Já em 2015 ano, o projeto dos alunos culminou com a instalação de bicicletários em alguns estabelecimentos comerciais do bairro.
“Os alunos têm o protagonismo. Eles decidem o que vai acontecer na próxima aula. Agora estamos menos anárquicos, temos uma jornada de aprendizagem desenhada, com os desafios do mês e o cronograma, pois os próprios alunos pediram metas mais claras e curtas, prazos mais bem definidos e organização”, conta Caio.
PLANEJAR É TÃO IMPORTANTE QUANTO SEGUIR A INTUIÇÃO
Caio é filho de pais autônomos, sua mãe é psicóloga e o pai advogado. Ainda assim, não imaginava para si um futuro como empreendedor. Desde que começou a formatar o seu negócio deu alguns tropeços, o que não o intimidou. “Hoje sou muito mais atento ao planejamento dos próximos passos, mas devo dizer que ainda sou muito intuitivo e adepto da máxima ‘vai lá e faz’, e de acolher o erro”, diz. E uma das coisas que Caio aprendeu fazendo é que é preciso ter foco para ter mais impacto. “Se eu te mostrar um organograma de 2014, sinto vergonha. Era gigantesco e pulverizado, misturava o que era Caio Dib com o Caindo no Brasil”, conta.
No momento, ele está se preparando para sair da casa dos pais (muda-se esta semana, inclusive). Caio namora uma garota que conheceu por conta do Caindo no Brasil. Ela trabalha na AIESEC, onde cuida do desenvolvimento de alguns dos escritórios regionais da instituição e, nas palavras do Caio, “acredita muito na educação como ferramenta transformadora do mundo”. No seu tempo livre, o jornalista-educador diz que gosta mesmo é de ler. Muito.
Em paralelo, vai organizando cada vez melhor o seu negócio. Com este amadurecimento, o Caindo no Brasil hoje tem frentes definidas: a de pesquisa e de apoio a publicações, a consultoria e a cocriação de serviços e produtos. Para este ano, a ideia de Caio é fortalecer ainda mais as redes e aprimorar a medição dos resultados do trabalho. “Não pretendo escalar e ter uma cartela grande de clientes, mas atender poucos clientes de forma profunda e eficaz”, diz. Ao falar sobre o período de crise e retração na economia, Caio prefere o viés da transformação: “Teremos que ser mais criativos para encontrar novos caminhos, mas vejo com otimismo este ano”.
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Intitulado Solar Community Hub, projeto feito em parceria entre a Dell, Intel e FAS (Fundação Amazônia Sustentável) fornece acesso a internet, atendimento em telessaúde, monitoramento ambiental e propostas educacionais.