Daniel Sanabria, João Victor Xavier, Kdu dos Anjos e Raissa Azevedo entraram na primeira Campus Party Minas Gerais como simples “campuseiros” e saíram oficialmente como empreendedores sociais. Após muita concentração e uma apresentação descontraída e cativante, eles venceram o Desafio FCA Futuro das Cidades. O grupo se formou ali mesmo, com o encontro dos colegas de faculdade Daniel, de 33 anos, João Victor, 24, e Raissa, 29, estudantes de Sistemas de Informação, com o Kdu, 26, que é artista e líder comunitário da vila Novo São Lucas (mais conhecida como “Favelinha”), uma das oito vilas que compõem o Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, uma das maiores favelas do país. Juntos, eles criaram em poucas horas a ideia do aplicativo “Rola um Trampo”, que permite conectar profissionais moradores da comunidade em busca de emprego a oportunidades de trabalho dentro da própria favela, que tem cerca de 50 mil moradores.
“Participar de um evento como o Campus Party já seria massa. Poder propor um desafio para os campuseiros, então, foi demais!”, conta Mateus Silveira, responsável pela área de Future Insights da FCA e um dos organizadores do desafio. A ação foi realizada pela FCA e pelo ISVOR (Universidade Corporativa da FCA) em parceria com a Central Única das Favelas (CUFA), Fundação Fiat e Fundação Torino, para criar soluções que ampliem a mobilidade e o acesso às oportunidades como trabalho, educação, saúde, lazer, socialização, arte, cultura e consumo, que a favela e a cidade oferecem.
Foram 49 inscritos, distribuídos em 19 equipes com até seis integrantes cada. “Decidi participar porque acredito que tenho que retribuir à sociedade todas as oportunidades que tive”, conta Rafael Ribeiro, estudante de Engenharia Mecânica e integrante da equipe vice-líder. “Pensar em uma solução para o problema da mobilidade em favelas é algo desafiador e motivador.”
O desafio foi idealizado a partir de premissas e aprendizados do projeto Futuro das Cidades, desenvolvido pela FCA desde 2014 e que busca mapear problemas potenciais e contribuir para o desenvolvimento de soluções de mobilidade para as cidades brasileiras. Empresas, academia, entidades da sociedade civil e do terceiro setor são mobilizadas para uma reflexão sobre o tema, de forma plural e complementar. “Para nós da FCA fez todo sentido trazer o propósito do projeto Futuro das Cidades – o bem-estar urbano – para dentro da Campus Party”, explica Mateus. “Decidimos focar na mobilidade urbana, que se tornou um dos principais palcos das mudanças sociais no Brasil desde as manifestações de 2013. E, como não podemos deixar ninguém de fora da discussão, propusemos trazer as favelas para o centro do debate sobre mobilidade e tecnologia. Por isso, decidimos identificar e convidar empreendedores das favelas, para frequentarem a Campus Party e, junto com outras cabeças, participarem do desafio FCA. Todo mundo junto e misturado para pensar soluções. Talvez tenha sido essa união de empreendedores das favelas com empreendedores da Campus Party e mentores, cada um emprestando seu olhar para o outro, a parte mais rica do processo”, avalia.
O processo começou logo na sexta-feira (11), com os campuseiros participando de um workshop para apresentação do desafio, com palestras sobre o projeto Futuro das Cidades e um retrato das favelas brasileiras. No dia seguinte, a programação teve início como uma imersão no Alto Vera Cruz para vivenciarem um pouco da realidade dessas comunidades. Alguns participantes ficaram lá para almoçar o famoso tropeiro da região. No início da tarde, os competidores começaram a desenvolver suas ideias, com ajuda de 22 mentores de diversas áreas do grupo FCA e de organizações parceiras. Por volta das 20h, o desenvolvimento foi encerrado e as equipes tiveram apenas 4 minutos cada para as apresentações das soluções aos olhos e ouvidos atentos dos concorrentes e do júri, que cuidadosamente selecionou os vencedores, com base na relevância do problema escolhido, adequação e ineditismo da proposta, aplicabilidade/escalabilidade do projeto e apresentação.
“A maior dificuldade foi o pouco tempo disponível para pensar, projetar e criar a apresentação em poucas horas”, disse Ernani Machado, empresário de 33 anos que ficou com o terceiro lugar. Para Brenda Maia, da equipe que ficou com a vice-liderança, o grande desafio foi “definir um só problema, pois com três membros do Jardim Teresópolis na equipe, percebemos que havia inúmeras questões de diferentes graus de dificuldade para serem resolvidos nas comunidades”. Ao todo, depois de 26 horas e diversas mentorias, os jurados foram surpreendidos com nada menos que 19 propostas. “Três foram premiadas”, diz Mateus Silveira. “Mas muita gente saiu ganhando com a troca de experiências a partir das mais diversas habilidades que se complementaram.”
Como prêmio pela vitória, a equipe do “Rola um Trampo” ganhou R$ 10 mil e a chance de apresentar a ideia ao board da FCA. A segunda colocada foi a equipe do “Indicaí”, que também é uma proposta de aplicativo para conectar empregadores e profissionais nas favelas. Além de Brenda e Rafael, a equipe foi formada por três moradores do Jardim Teresópolis, onde a FCA desenvolve o programa social Árvore da Vida: Kerssen Silva, Walace Jhonata e Webert Alvarenga. O terceiro lugar ficou com o Ernani Machado, empresário de 33 anos que sozinho desenvolveu uma ideia de app que pretende, nas palavras do autor, “mapear e integrar todas as comunidades do Brasil, fomentando emprego, mobilidade urbana e conhecimento das oportunidades na própria comunidade, como eventos, comércios e estabelecimentos públicos”. O time do “Indicaí” levou como prêmio um Mopar Trikke Elétrico e Ernani ganhou uma Bike Jeep.
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