Esse ano a Campus Party tem apenas quatro dias de programação, um a menos que no ano passado. Então, a sexta-feira começou já com um ar de “está acabando” para muita gente, que ia chegando ao final de suas hackathons, projetos, campeonatos de videogames etc.
Para aproveitar ao máximo o tempo lá, alguns dormem cada vez menos. Entre os sofás e corredores, já é mais comum ver pessoas andando descalças, com roupas mais largadas. É quase como uma festa do pijama.
Mas, ainda tem muito pela frente. Na verdade estava apenas começando a segunda metade do evento e muita coisa grande ainda aconteceria nesse terceiro dia de Campus Party Brasil.
Talvez um dos momentos mais importantes da sexta-feira tenha rolado à tarde, no palco das Startups, onde foi lançado o documento do movimento Brasil + Empreendedor, que visa pressionar os órgãos públicos e a sociedade a levarem o empreendedorismo nacional a outro nível. Já falamos sobre ele aqui.
A apresentação, capitaneada por Paola Tucunduva, trouxe vários importantes agentes do ecossistema, que ajudaram tanto a elaborar o documento quanto apresentá-lo oficialmente na Campus Party.
Eles definiram sete pilares de inovação, que são os mesmos usados pela Endeavor para eleger as cidades mais inovadoras do país. E é com esses conceitos e objetivos que querem alavancar o empreendedorismo no país:
Ambiente regulatório:
– Abertura e fechamento de empresas
– Legislação trabalhista
– Importação e exportação
– Sistema tributário
– Consciência ambiental
Acesso a capital:
– Reduzir burocracia e facilitar acesso ao BNDES, FINEP e outros
– Critérios claros e simples para investimentos públicos
– Atrair investimento de capital empreendedor estrangeiro
– Desenvolver fundos de investimento cooperando público e privado
Mercado:
– Criar diretórios e mesas de negociação
– Aumentar as oportunidades de interação entre empreendedores
– Disseminar capital intelectual
– Estimular parcerias
– Suporte para produtos com uma “marca Brasil”
Inovação:
– Integração do poder público com universidades e empresas
– Incentivar registro de novas patentes
– Fortalecer parques tecnológicos
– Incentivo ao investimento em ciências, tecnologia e inovação
Infraestrutura:
– Gestão de recursos naturais, reutilizáveis e recicláveis
– Incentivo a geração e uso de energias renováveis e eficiência energética
– Desenvolvimento de tecnologias de comunicação e informação
– Desenvolvimento de Infraestrutura inovadora para o empreendedorismo
– Melhorias de logística e mobilidade urbana
Capital humano:
– Oferecer educação empreendedora desde a base
– Oferecer educação empreendedora em universidades e escolas técnicas
– Criar um movimento “Empreendedor sem fronteiras”, para internacionalizar os empreendedores
– Dar incentivo às empresas e startups que investem em capacitação
Cultura empreendedora:
– Priorizar Visão de longo prazo, não imediatismo
– Abraçar risco, mais do que jogar seguro
– Incentivar ambição, não contentamento
– Apresentar empreendedorismo como opção de vida
– Incentivar o empreendedor a pensar globalmente, não localmente
– Incentivar a investir na próxima geração
Com esse documento oficialmente lançado, agora os 118 participantes do movimento Brasil + Empreendedor, junto com o Sebrae, irão trabalhar para levar tais ideias e pedidos a todos os órgãos públicos – desde a esfera municipal até a federal.
Também em busca de incentivar o empreendedorismo e alavancar a inovação brasileira, professores e empreendedores se encontraram no Palco Lua para o debate “Além de aula, cerveja e dominó, o que mais eu posso fazer na Universidade?”.
Lá estavam Sergio Risola, diretor e CEO do Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec); Genésio Gomes, fundador do programa Células Empreendedoras, que atua na disseminação do empreendedorismo entre jovens e professores; Lindália Sofia Junqueira, diretora de inovação da Estácio; Juliana Caminha Noronha, professora de Empreendedorismo e Marketing na Universidade Federal de Itajubá; e Miguel Andorffy, fundador da startup de educação Me Salva, mediando o debate. Genésio abriu o debate falando da diferença entre estudar e aprender:
“Estudar é muito chato e serve para muito pouco, enquanto aprender é algo que você quer fazer e vai dar utilidade ao conhecimento. No empreendedorismo, você precisa aprender, não estudar. E isso motiva os alunos”
Para ele, o segredo em incentivar os professores a levar o empreendedorismo para dentro das universidades está na extensão universitária, uma área transdisciplinar interessante aos profissionais e que é pouco explorada.
Juliana, que se apresentou como “alguém que carrega cadeiras”, disse que seu hobby favorito é desmontar salas de aula e quebrar os layouts tradicionais. “Eu explico aos estudantes que a mudança na educação virá por um conjunto de microrrevoluções e que a demanda deve ser deles. Sempre pergunto o que meus alunos o que eles gostariam que fosse diferente na universidade e então nós mesmos vamos e fazemos esse algo diferente.”
Risola, que está no Cietec desde 1997, diz que o país começou a acordar agora para o empreendedorismo. “Por mais de uma década as pessoas mal sabiam da existência do Cietec. Hoje, um terço dos projetos lá nasceram da USP. O importante é transformar os professores em empreendedores, e é esse processo de evangelização que eu realizo”, conta.
Para levar essa educação empreendedora para dentro da sala de aula, é necessário lidar com problemas reais, defende Lidália, que estudou na Singularity University:
“Quem inova não é a tecnologia, são as pessoas. A tecnologia é só um meio eficiente. Lá na Singularity nós trabalhávamos três conceitos essenciais para a educação empreendedora: hibridismo de conhecimentos, a necessidade de solucionar problemas reais, e aprender fazendo”
A conversa foi tão produtiva que, mesmo depois de acabar, plateia e debatedores pegaram uma mesa vazia ao lado do palco e sentaram-se lá para continuar a conversa, discutindo o que seria o empreendedorismo e trazendo mais aplicações reais para a discussão.
Algo que foi muito discutido nessa mesa foi o que de fato é o empreendedorismo. Chegamos a um consenso de que empreender não necessariamente significa criar uma empresa, mesmo porque o mundo precisa de funcionários intra-empreendedores. “É possível empreender organizando um churrasco, cuidando da família ou vestindo a camisa da empresa. O estado de espírito disposto a resolver problemas é o que importa”, dizia Juliana.
É assim que o Google, por exemplo, também trabalha para tornar a maioria dos seus funcionários empreendedores. A empresa, mesmo com seu porte gigantesco, utiliza metodologias de startups em busca de eficiência.
José Papo, program manager do Google Brasil, na equipe de relações com desenvolvedores e startups de tecnologia, apresentou como a empresa utiliza a metodologia de OKRs (objective and key results) em busca de inovação.
O sistema, basicamente, consiste em funcionários, times, departamentos e a empresa como um todo, definirem seus objetivos e resultados constantemente. No entanto, tem algumas características específicas:
– Ele é o mais enxuto e simples possível
– Apesar de simples, é extremamente disciplinado
– Ajuda muito na comunicação entre as pessoas, sabendo que até o estagiário do Google saiba o que o CEO planeja
– Parte da premissa de que, quanto mais aberta a informação, melhor
– Se organiza em reuniões semanais, nas quais os principais executivos do Google internacional apresentam seus objetivos;
– É extremamente focado em métricas;
– Nas reuniões, não há hierarquia. Qualquer um, desde que tenha base, pode e deve discordar nas discussões;
– Priorizam o foco acima de tudo
Um aspecto interessante dos OKRs é que eles funcionam tanto de cima para baixo quanto o contrário. O Orkut, por exemplo, foi um projeto de um funcionário, que criou no nível individual, mas logo foi parar no topo da cadeia, virando um OKR da empresa.
Além disso, é sempre o indivíduo que se avalia, com base em métricas objetivas. Essa avaliação é conversada semanalmente com seus líderes, mas não tem caráter de julgamento. E, ainda, OKRs não podem ser utilizados como análise de performance – as falhas são completamente perdoadas e utilizadas como meio de aperfeiçoamento.
José Papo finalizou a apresentação mostrando como a metodologia tenta, de forma objetiva, introduzir a máxima do Google: “Imagine o impossível, mas execute suas ideias”.
Impossível mesmo era ver um campuseiro desconectado. Se a pessoa não estiver olhando para o celular, é porque está no computador.
No entanto, durante 15 minutos, houve um momento de pânico para muitos deles, que ficaram sem internet. Foram os 15 minutos mais longos de suas vidas, e eles resolveram se encontrar em volta do OVNI (o aquário onde ficam as máquinas que distribuem a internet ao evento. A velocidade é de 50 Gbps, alegadamente o suficiente para alimentar uma cidade inteira). Lá, começaram, em forma de brincadeira, a protestar. Em pouco tempo a bagunça era generalizada, com gritos de “INTERNET, INTERNET” misturados a “NÃO, VAI TER COPAAA”.
O problema é que isso aconteceu justamente quando Adam Howard, um dos últimos magistrais da noite, iria entrar no palco. A bagunça atrasou a apresentação e colocou os organizadores em uma saia justa. Felizmente, o problema foi rapidamente resolvido. Segundo um dos técnicos da Telefónica, tudo aconteceu porque vândalos quebraram os cabos de fibra ótica da empresa.
A palestra de Howard foi inspiradora para qualquer um interessado em artes visuais e gráficas. O cara já trabalhou em centenas de produções hollywoodianas, supervisionando os efeitos visuais – desde Star Wars até o mais recente Birdman, concorrente ao Oscar deste ano.
Apesar de inspiradora, a palestra foi um pouco monótona, com Howard basicamente apresentando seu currículo o tempo todo. De forma simples, as lições que ele deixou foram as clichês e verdadeiras: “acredite sempre nos seus sonhos e lute por eles” e “lembre-se de sempre agradecer a seus mestres e mentores”.
Com uma dose a mais de inspiração e a internet de volta, os campuseiros voltaram a seus computadores e atividades, se preparando para o último dia de evento, que começa agora.
Na segunda-feira, além de contar o que aconteceu no sábado, vou fazer também uma análise geral dessa Campus Party.
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