Na infância, você adorava se esbaldar com uma tigela de cereal com leite? Mas daí o tempo passou e aquele hábito ficou no passado… Afinal, cereal é “coisa de criança”, né? E ainda por cima nada saudável.
Bom, está na hora de você conhecer a Abra Cadabra.
A empresa vende um “cereal sem cereal” com foco no público adulto. Como assim? O produto tem a cara daqueles cereais dos anos 1980 e 1990 (tipo uma rosquinha), mas é rico em proteínas, não leva açúcar nem glúten e ainda é low carb (segundo o fabricante, são 10 gramas de carboidrato na porção de 30 gramas do produto contra 24 dos cereais convencionais).
Em vez de trigo, arroz, milho e aveia na composição, o consumidor encontra tubérculos, leguminosas e whey protein (soro do leite); no lugar do açúcar e óleos refinados, entra um adoçante de plantas e frutas — os glicosídeos de esteviol — e óleo de coco extra virgem. Por enquanto, são dois sabores, Vanilla Dream e Double Chocolate (metade chocolate ao leite, metade amargo).
A missão da marca, segundo o fundador Robert Montgomery, é trazer diversão para a vida adulta com uma versão saudável daquele café da manhã ou lanche com gostinho de infância (o que explica o storytelling com a pegada de conto de fadas):
“A gente fala que o produto tem o conceito de infantil para adultos. A ideia não é só trazer o adulto para a infância, como também a criança para o mundo adulto, ajudando os pais a fazer seus filhos comerem de forma mais saudável, com argumentos que já vêm na caixa colorida, na proposta de ser algo divertido e mágico”
Lançada em dezembro de 2022, a Abra Cadabra já conquistou o segundo lugar na categoria produto mais inovador na Natural Tech/Bio Brazil deste ano; recebeu também o Selo Verde, na mesma feira, por suas práticas sustentáveis na cadeia de produção: a cada embalagem de cereal vendida, duas são recicladas pela empresa em parceria com o selo Eu Reciclo.
Formado em publicidade, Robert, 36, chegou a trabalhar por dois anos em uma agência, na época do estágio. Ainda na faculdade, fez um intercâmbio para a Califórnia e voltou faltando seis meses para se formar, quando estreou como empreendedor.
Junto com o irmão e um amigo, Robert se tornou sócio de um bar. Depois, ainda teve uma agência de festas e uma balada. Foram dez anos nesta toada, mas ele conta que os últimos tempos estava um pouco desanimado com esse mercado:
“Além do cansaço, veio a pandemia, que representou um baque para esse setor de entretenimento e eventos. Aproveitei essa brecha para mudar meus ares e decidi fechar a empresa”
Paralelo a tudo isso, Robert tentava ajudar o irmão, Christian, que era dependente químico, a se internar. “Nesse período da pandemia, a gente se aproximou um pouco”, diz. “Ficamos mais amigo e consegui convencê-lo a se tratar.”
Quando o irmão saiu da internação, começou a falar abertamente sobre a dependência no Instagram.
“Ele virou meio que um blogueiro, uma referência com esse canal. E muita gente passou a conversar com ele sobre isso, falar que também tinha o problema. Gente até que ele conhecia, mas nem imaginava que passava por isso.”
Robert percebeu que Christian não daria conta de conversar com todo mundo que o procurava, mas então os dois tiveram, juntos, a ideia de criar um aplicativo que funcionasse como uma rede colaborativa para apoiar outros dependentes.
Assim nasceu o Anonymo App e, com ele, a vontade de Robert de migrar para empreendimentos que tivesse mais relação com a saúde. Na mesma época, ele foi convencido pelo irmão a fazer uma aula de jiu-jítsu e se apaixonou pela arte marcial, a ponto de virar sócio de uma academia.
“Sempre pratiquei atividade física, mas nunca tinha feito arte marcial, achava que não tinha nada a ver comigo. Mas fiquei apaixonado e percebi que o jiu-jítsu ensina muito sobre resiliência, a questão de você se sentir confortável no desconforto… E isso faz muito sentido para o empreendedorismo”
Logo depois, quando ele já estava conectado à ideia de empreender com negócios que tivessem a bandeira da saúde, apareceu a proposta da Abra Cadabra.
Robert conta que uma noite recebeu uma ligação de um amigo, Zely, falando sobre o lançamento do Magic Spoon, um cereal saudável e pensado para adultos que ele tinha conhecido nos Estados Unidos.
A ideia era que eles dois criassem algo semelhante aqui no Brasil.
“Eu sempre tive um estilo de vida saudável”, diz Robert. “Apesar de trabalhar com entretenimento noturno, nunca bebi, comia bem e aquela proposta me interessou, até porque eu era um devorador de cereal na infância.”
A dupla começou a pesquisar esse mercado e viu que não tinha ninguém fazendo algo nessa linha por aqui. Mas nada poderia ser tão simples assim:
“Vimos que não tinha como fazer o cereal no Brasil, pois não havia tecnologia suficiente para o processo de extrusão de proteína, que deixa a bolinha do cereal com ar dentro, crocante. Então, começamos a entender essas limitações e avaliar a possibilidade de produzir lá fora ou importar uma máquina”
Os sócios começaram a participar de uma série de reuniões com gente da China e EUA, até entrarem em contato com o engenheiro industrial Rafael Alvarenga, 33, brasileiro que trabalhava em uma empresa fabricante de máquinas como as que eles precisavam.
Importar uma máquina seria inviável, cerca de 10 milhões de reais, mas com seus contatos, Rafael — que acabou virando sócio da Abra Cadabra — encontrou uma fábrica no Paraná capaz de adaptar seus equipamentos para produzir o cereal.
A seleção dos ingredientes saudáveis utilizados foi feita pelos sócios com a contribuição da noiva de Robert, a nutricionista Gabriela Ghiliardi.
“A gente foi selecionando os ingredientes a dedo mesmo, para conciliar essa questão de ser saudável, nutritivo e ao mesmo tempo saboroso”, diz Robert. “Entendi que se criássemos um cereal que minha noiva topasse comer, teríamos encontrado o caminho certo.”
O próximo passo seria começar a fase de testes, mas nessa época Zely perdeu o pai e precisou deixar a sociedade para reorganizar sua vida. Robert e Rafael decidiram seguir adiante:
“Eu falei: Rafa, vamos continuar, porque daqui a pouco se esse produto surgir nas prateleiras do mercado, vou ficar puto de não ter sido a gente a lançá-lo…!”
Mesmo sem se conhecerem pessoalmente, cada um dos sócios investiu 100 mil reais para a pesquisa e desenvolvimento do produto.
FORAM 18 MESES DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO ATÉ CHEGAR NA “FÓRMULA MÁGICA”, LANÇADA COM A PARTICIPAÇÃO DE CID MOREIRA (!)
Esse período de desenvolvimento e testes, diz Robert, foi um pesadelo.
“Foram bateladas de ingredientes jogados fora, de dinheiro rasgado, porque não estava dando certo… Até que na última tentativa, quando estávamos quase desistindo, conseguimos fazer o MVP do produto”
Naquele momento, eles produziram uma tonelada do cereal. Porém, na hora de experimentar, Robert achou que não estava exatamente com o mesmo sabor e textura que ele tinha aprovado antes. Isso porque a fábrica, por questões operacionais, tinha usado outro maquinário para a produção.
Com a campanha de lançamento engatilhada e embalagens prontas, os empreendedores decidiram seguir em frente mesmo assim.
E o retorno do público, dizem, foi positivo:
“Lançamos em dezembro de 2022 e validamos aquelas hipóteses de que as pessoas só pararam de comer cereal porque descobriram que era uma coisa ‘trash’, mas ainda assim era gostosa. Então, quisemos trazer essa memória afetiva, com um produto saudável que reconecta os consumidores com a criança que foram – e eles ficaram encantados”
O garoto propaganda do lançamento foi ninguém menos que o jornalista e apresentador Cid Moreira, que em dois vídeos da série “Cereal Mascarado”, ajudou a “desvendar” os truques dos produtos tradicionais no mercado, como o açúcar e aditivos químicos, além de apresentar a marca neste vídeo aqui.
“Como somos uma empresa que está começando, pedimos para ele se era possível fazer um preço melhor para a nossa campanha. Ele gostou da ideia, da inovação, e foi superparceiro. Topou fazer um preço especial.”
Depois, segundo Robert, o assessor de Cid Moreira mandou uma mensagem agradecendo porque o telefone do apresentador não parava de tocar para fazer outros comerciais com uma pegada mais leve e divertida.
A META AGORA É EXPANDIR PARA O VAREJO E LANÇAR NOVOS SABORES
Um dos desafios, como ocorre com vários negócios quando estão dando os primeiros passos, foi precificar o produto.
Hoje, o preço da caixa com 180 gramas custa R$ 39,90, enquanto um cereal tradicional saudável sai por volta de 15 reais. Robert, porém, refuta essa comparação justamente pela proposta da empresa de oferecer um “cereal sem cereal”.
“Apesar de ter o formato e o modo de consumo de um cereal, ele tem não tem açúcar, milho, é na verdade um produto de proteína, como se fosse um ovo mexido. Para se ter uma ideia, 30 gramas do produto equivalem a dois ovos mexidos em termos de proteína”
Hoje, segundo o site, a porção do produto tem 10 gramas de whey protein contra 1,5 grama de proteína dos cereais convencionais. A questão do preço, diz Robert, foi resolvida com a comunicação da Abra Cadabra:
“Nosso produto está mais próximo, nutricionalmente falando, de uma barrinha de proteína do que de um cereal matinal. Hoje, o consumidor paga R$ 6,65 pela tigela, o que fica muitas vezes mais barato do que uma barrinha.”
Além da questão do preço, outro desafio — que a marca trabalha no dia a dia, por meio de sua divulgação — é inserir o ritual de consumo do produto na rotina de adultos que há muito tempo não se debruçam mais sobre uma tigela de cereal.
“Elas tinham esse hábito na infância. Para comer saudável na vida adulta, adotaram opções sem graça, tipo um ovo, um shake, algo que vão consumindo no automático, sem prazer… Com o Abra Cadabra queremos mostrar que comer bem pode ser legal e divertido”
No começo de outubro, diz Robert, a Abra Cadabra lançou a “versão 2.0”, com algumas modificações na fórmula. O óleo de girassol foi retirado e a quantidade de adoçante, ajustada. “Com isso, conseguimos um produto mais crocante, com menos calorias e ainda mais equilibrado.”
Agora, a meta é abrir novos canais de venda e, se possível ainda neste ano, lançar mais dois sabores (que por enquanto permanecem em segredo). “Com esses novos sabores, vamos suprir todas as memórias afetivas que a gente tinha na infância.”
Os irmãos Bruno e Thiago Rosolem queriam levar mais brasilidade ao mercado plant-based, mas não sabiam como. Até que um hit de Alceu Valença trouxe a resposta: aproveitar uma matéria-prima desprezada pela indústria, a fibra do caju.
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