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Chope artesanal por aplicativo? A MeuChope usa tecnologia para turbinar microcervejarias e ajudar você a beber melhor

Bruno Leuzinger - 8 maio 2023
Bruno Medeiros (à esq.) e Augusto Sato, os sócios da MeuChope.
Bruno Leuzinger - 8 maio 2023
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Em 2020, num dos primeiros meses da Covid-19, Bruno Medeiros circulava por Vila Velha, cidade vizinha à capital capixaba, Vitória, quando topou com uma cena que deve ter parecido uma miragem naquele momento pandêmico.

Numa quitanda fechada, uma chopeira com duas torneiras funcionava 24 horas por dia. Era como um “caixa automático” de chope: você encostava ali, lia o QR code com o seu celular, fazia o pagamento – e se servia ou enchia o seu growler. 

Além de consumidor de cerveja, Bruno é empreendedor de tecnologia. E aquela visão acendeu uma luz em sua cabeça: “Eu pensei: ôpa, isso é interessante, isso tem escala…” Por intermédio de terceiros, ele conheceu o cara por trás daquela operação, Augusto Sato.

Os dois ainda não sabiam, mas aquele encontro, mais do que “o começo de uma bela amizade”, era o início de uma nova jornada empreendedora. Bruno e Augusto hoje são os sócios à frente da MeuChope, uma startup de soluções para o mercado cervejeiro com foco no segmento de chope artesanal. Bruno afirma:

“A proposta da MeuChope, se for resumir, é facilitar para o consumidor ter acesso a diferentes produtos, estilos, e começar um pouquinho do que a Wine fez lá atrás, [um trabalho] de educação. A gente acredita muito nisso”

Em 2022, seu primeiro ano de operação, a empresa faturou mais de 2 milhões de reais. A MeuChope fornece uma válvula de chopeira autônoma em comodato para bares, restaurantes, eventos, cervejarias etc. e cobra pela ativação, mas a fonte de receita principal é uma taxa de intermediação de todas as vendas que passam por sua plataforma. 

“O nosso objetivo final é entregar tecnologia na ponta para empreendedores, pontos de venda, bares, restaurantes e cervejarias.”

EM SEU PRIMEIRO NEGÓCIO, ELE CRIOU UMA STARTUP DE CASHBACK, MAS O TIMING FOI ERRADO

Nascido em Macaé (RJ), Bruno cursou economia em Curitiba, na UFPR. E foi lá na capital paranaense que começou a sua jornada de empreendedor de tecnologia.

Em 2006, ele e um sócio fundaram a Compra3, uma startup de cashback quando esse conceito ainda nem existia direito aqui.

O Brasil vivia tempos de otimismo econômico, havia grana circulando e Bruno era bom de captação. O que faltou foi planejamento:

“A gente captou, sei lá, 2 milhões de reais num PowerPoint – e nem sabia o que fazer com aquilo”

Eles montaram um time, desenvolveram a tecnologia durante um ano e meio, e quando lançaram a solução, ninguém queria.

A B2W (Submarino, Americanas, Shoptime) monopolizava o e-commerce, uma barreira para desbravar esse mercado. Bruno e o sócio decidiram vender a Compra3, mas o timing foi cruel:

“Alongamos a negociação com o Grupo Abril, e quando estava batendo o martelo, com um valuation legal, veio a crise de 2008 e pediram pra congelar tudo…”

COMO BRUNO AJUDOU A ALAVANCAR UM APLICATIVO DE AGENDAMENTO EM SALÕES DE BELEZA

A Compra3 operou até 2013. Curitiba, então, fervilhava com candidatos a unicórnio: Olist, MadeiraMadeira, Contabilizei…

“Comecei a buscar times com equipes fortes na parte de produto, e que eu pudesse chegar para catapultar — e não o contrário, catapultar e depois correr atrás para entregar”

Após uns meses como diretor da Já Entendi, de treinamentos corporativos, ele ingressou como diretor comercial, na Agenda Beleza (hoje Beauty Date), um aplicativo de agendamento de horário em salões de beleza.

Bruno trouxe para o negócio o investidor americano Michael Nickalls, que tinha investido na Compra3, e também a Keune, marca holandesa de cosméticos para cabelo. 

Com grana em caixa, a Agenda Beleza adquiriu, no fim de 2015, a AZ Soluções, ERP na época presente em 22 mil salões:

“Éramos uma startup de sete pessoas e, da noite para o dia, viramos um projeto botando quase 400 mil [reais] por mês no bolso e com cento e poucos funcionários”  

O objetivo era ganhar capilaridade num mercado hiper pulverizado, com inúmeros salões pelo país, e plugar inteligência na ponta. Dessa vez, o timing e a estratégia deram certo. 

Bruno ainda tem participação na Beauty Date, mas nos anos seguintes foi se reposicionando como investidor (“Empreender em alto nível cansa, é risco atrás de risco”). Isso até a MeuChope cruzar seu caminho. 

AO CONHECER O SÓCIO E ELABORAR UM PLANO DE NEGÓCIO, ELE VIU QUE HAVIA ALI UMA STARTUP

Em 2020, Bruno e a esposa trocaram Curitiba por Vitória, onde ela tocaria, com o pai dele, uma empresa de locação de materiais para festas e eventos.

É aí que vem a Covid e a história chega lá naquele ponto do começo do texto. Quando os olhos de Bruno brilharam ao se deparar com o “caixa automático” de chope. A operação, aliás, já tinha esse nome, MeuChope. 

A ideia inicial era fechar um contrato com Augusto e levar as chopeiras com válvula autônoma para o Sul do Brasil, para instalar em bares, clubes, condomínios etc. Mas havia um porém.

“Quando me deparei com o mercado, me deu dez mil tipos de arrepios, falei: puta merda…! Porque se eu simplesmente levo a máquina, aí vem um cara de São Paulo com ‘dez milhas’ e um modelo de negócio por cima – e tira tudo”

Por outro lado, enquanto montava um plano de negócios, foi caindo a ficha do tamanho do boom das cervejarias artesanais e o apelo das marcas locais. “Nos Estados Unidos, nos últimos dez anos [a porcentagem] subiu de 2% para quase 21%. Tem quase 10 mil cervejarias lá.”

A grande indústria já vinha seguindo essa onda, com cervejarias comprando marcas e inventando novas formas de se relacionar com o público. E a pandemia acelerou outro movimento, a digitalização. Foi quando ganhou impulso, por exemplo, o Zé Delivery, e-commerce da Ambev.

“Até então eles não sabiam quem eram os tomadores, o perfil. Quando bota aplicativo na ponta e o cara começa a pedir em casa, a empresa começa a cruzar toda a informação.”

Por sua vez, as microcervejarias artesanais estavam completamente carentes desse tipo de solução:

“A gente tem mais de 1 500 cervejarias [no Brasil] que não têm essas plataformas. Não têm marketplace, tecnologia na ponta capaz de chegar no consumidor final… Pegam a Kombi deles e levam barris para eventos, mas não têm canal de venda”

Bruno então convenceu Augusto de que: 1) havia oportunidades gigantes na mesa; 2) a válvula autônoma seria uma frente de negócio; 3) a MeuChope era uma startup. 

“Falei: ‘A gente vira sócio, 50%-50%, eu capto dinheiro e você me entrega o negócio rodando, e aí temos um baita business’. Ele respondeu: cara, vambora.” 

SENTINDO QUE O NEGÓCIO IA ACELERAR RÁPIDO, ELES COMPRARAM DUAS EMPRESAS NOS PRIMEIROS MESES

Na virada de 2021 para 2022, Bruno acionou Michael Nickalls, seu investidor favorito, e logo conseguiu um primeiro cheque, de 1 milhão de reais (ao todo, a MeuChope já captou 7 milhões de reais).

“Em março, a gente percebeu que o negócio ia acelerar muito mais rápido do que a gente imaginava.” Naquele mesmo mês, a MeuChope fez seu primeiro M&A:

“A nossa tecnologia era terceirizada nas válvulas: em toda torneira vai atrás uma caixinha, ali está a inteligência. Quando percebemos que deveríamos ser donos da informação, a gente tinha que ser dono da tecnologia” 

Em breve fariam uma nova aquisição. As chopeiras autônomas da MeuChope não careciam de aplicativo (o pagamento era por Pix), mas essa demanda começou a aparecer entre os clientes.

Ter um aplicativo facilitava a recorrência e também simplificava a opção do freguês consumir por mililitro (e não copo), até pra provar o chope e ver se gosta.

“O cara precisa tirar o primeiro, saber se vai sair; depois ele já confia na marca, põe o crédito dele ali [no aplicativo] e aí abre a torneira muito mais fácil, com um clique”

A Sr. Moustache, outra marca cervejeira de Augusto, operava com um aplicativo, que funcionava bem. E assim, a dupla decidiu adquirir a software house fornecedora do app para absorver a equipe e a expertise.

“Em junho já estava rodando o aplicativo da MeuChope.” 

O TIME DE TECNOLOGIA ARREGAÇOU AS MANGAS E CRIOU NOVOS PRODUTOS

Nos meses seguintes, o time de tecnologia, turbinado pelo pessoal das duas startups adquiridas, arregaçou as mangas e criou novos produtos para a MeuChope.

“A válvula autônoma pega uma parte do mercado, mas a gente tem 1 milhão de PDVs que nunca serão autônomos. Só que esses caras precisam de tecnologia.” 

Segundo Bruno, o mercado começou a pedir uma válvula que não fosse autônoma e servisse para monitorar o volume de chope que passa pela torneira, para controlar perda e roubo.

“Quem já não foi no bar e o cara tira o chope, aí fica saindo espuma… O dono só vê no final: putz, eu entreguei um barril de 30 litros e só consumiu 15; pra onde foram os outros 15?”

Outra solução veio para automatizar as chopeiras de aluguel que as próprias cervejarias disponibilizam para eventos particulares – do churrasco da firma ao chá de bebê no salão de festas do condomínio.

“O cliente tira a torneira de qualquer chopeira, bota o nosso sistema, fecha e está automatizado. Em minutos ele começa a receber via Pix, PicPay e a nossa carteira [digital].”

A MEUCHOPE INSTALOU 60 TORNEIRAS EM UM FESTIVAL DE CHOPE ARTESANAL TOTALMENTE AUTÔNOMO

Por falar em eventos, em setembro a MeuChope realizou, em Vila Velha, seu próprio festival de cerveja artesanal, 100% autônomo.

Um “paredão de chope” foi montado no estacionamento de um shopping, com capacidade para 5 mil pessoas; no palco, do outro lado, rolava a cada dia um show diferente: sertanejo, funk, trap etc.

“Foi o nosso maior case. Pela primeira vez, os cervejeiros — ao invés de ficar atrás do balcão, servindo a galera, na correria — mandaram os barris, e a gente plugou todos. Sessenta torneiras funcionando, autônomas” 

O copo ecológico (sem o chope) custava 10 reais; um copo térmico, 80. A pessoa também podia trazer seu growler de casa e encher na torneira. Na hora de pagar pela bebida, era só sacar o celular e fazer um Pix ou usar a carteira digital MeuChope. 

Segundo Bruno, sem a necessidade de estar fisicamente no local e interagir com o público, teve cervejeiro que aproveitou pra participar de dois eventos simultâneos. E acompanhando as vendas pelo celular:

“Entendemos que a plataforma autônoma serve para isso, para criar braços, ampliar o acesso, tanto da cervejaria quanto do consumidor.”

A MISSÃO É AJUDAR AS CERVEJARIAS ARTESANAIS A CRESCER SEM ABRIR MÃO DA QUALIDADE DO PRODUTO

Se você chegou até aqui, deve saber que a diferença entre as duas bebidas é que a cerveja é pasteurizada, e o chope, não.

O frescor do chope se traduz em um produto mais saboroso, porém também mais delicado, que demanda refrigeração.

“Como não têm distribuição refrigerada, o que fazem as cervejarias artesanais, quando começam a crescer um pouquinho? Começam a pasteurizar, envasar e competir com a Ambev. Não precisa! Elas estão matando seu produto, adicionando custo e entrando numa área em que não vão ganhar nunca” 

Bruno enfatiza que o foco da MeuChope é, bem, chope. Com tecnologia, a empresa ajuda as cervejarias pequenas a se plugarem ao que ele chama de uma malha descentralizada de câmaras frias e a vender mais sem abrir mão das características do seu produto.

A startup trabalha hoje com cerca de cem cervejarias. Pelo aplicativo dá para geolocalizar chopeiras autônomas operando full-time, mas o que dá força à MeuChope são os eventos, que ajudaram a impulsionar o app (mais de 50 mil usuários) e sua carteira digital:

“A gente fornece tecnologia pro evento, gera milhares de cadastros, milhares de pessoas totalmente segmentadas, tomadores de chope que consumiram pelo menos um copo, e direciona isso pros pontos de venda, pras cervejarias parceiras” 

Esse é o caminho, diz ele, para abrir as portas de uma nova e promissora economia às cervejarias artesanais.

“Em cada estado onde a gente está, potencializamos as cervejarias do local. A tendência da MeuChope é se tornar a maior empresa nacional de distribuição e venda de chope – atuando localmente.

DRAFT CARD

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  • Projeto: MeuChope
  • O que faz: Soluções tecnológicas para o mercado de chope artesanal
  • Sócio(s): Augusto Sato e Bruno Medeiros
  • Funcionários: 32
  • Sede: Vitória
  • Início das atividades: 2022
  • Investimento inicial: R$ 7 milhões (investidor externo)
  • Faturamento: R$ 2 milhões (em 2022)
  • Contato: [email protected]
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