Como falar de Carnaval e não pensar no estado brasileiro de Pernambuco? Ou mais especificamente na capital, Recife, onde acontece O Galo da Madrugada, aquele bloco que foi oficialmente reconhecido pelo Guinness Book como o maior do planeta, lembra? Ou, ainda, em Olinda, onde há música de gerar estouro em multidões, bonecos gigantes e foliões com fantasias para todos os gostos subindo e descendo as ladeiras. E o que falar do frevo? Ah! Esse dispensa apresentação, pois é, de longe, o ritmo que mais caracteriza o carnaval do estado.
Embora os festejos de carnaval aconteçam de forma mais intensa na Região Metropolitana do Recife, a maior festa popular do mundo também revela seus encantos e carrega tradições centenárias em outras regiões do Estado. Em Goiana, na Zona da Mata Norte, por exemplo, a cultura é pulsante e a cidade ferve durante os quatro dias de festa, com brincadeiras para folião nenhum botar defeito.
São mais de 90 grupos carnavalescos, com ritmos, danças e expressões como o Caboclinho, o Maracatu – de Baque Solto e de Baque Virado – e o Cavalo Marinho. Uma dessas expressões, entretanto, é bastante peculiar: a “Nação Africana Pretinha do Congo de Carne de Vaca”. Singular, a manifestação é exclusiva da cidade de Goiana e, este ano, comemora seus 90 anos em outubro.
E nada mais natural para a Jeep, cujo Polo Automotivo está instalado em Goiana há quase cinco anos, do que se envolver e apoiar todo esse movimento cultural. Por isso, pelo segundo ano consecutivo, a FCA cai na folia pernambucana com o projeto “Ciclo Carnavalesco”.
Para celebrar a nova idade da Pretinha do Congo e ajudar a resgatar a tradição da manifestação cultural, o Ciclo Carnavalesco vai desenvolver o projeto “2020 – 90 Anos de fundação – Qualificação e Reinvenção de uma brincadeira”. Além disso, também apoiará o gigante O Galo da Madrugada e a realização de Oficinas de Gaita e de Estandartes.
Para o diretor de Comunicação Corporativa e Sustentabilidade da FCA para América Latina, Fernão Silveira, com o Ciclo Carnavalesco, a Jeep pretende se inserir no tecido cultural, econômico e social da Mata Norte do estado, oferecendo condições para que as tradições da cultura popular se mantenham sempre vivas.
“O projeto é muito pautado no que a FCA acredita: olhar para as comunidades em que estamos inseridos, saber o que é relevante para elas e torná-las protagonistas. Queremos estar inseridos de uma forma que faça sentido e, considerando que Goiana é a capital nacional dos caboclinhos, faz muito sentido para nós investir na cultura pernambucana”, explica.
Caboclinho, Cavalo Marinho, Maracatu de Baque Solto ou de Baque Virado. Os ritmos, danças e brincadeiras existentes na Zona da Mata de Pernambuco são inúmeros. Diante das várias expressões culturais, entretanto, uma chama atenção por sua singularidade: “Nação Africana Pretinha do Congo de Carne de Vaca”. Exclusiva do município de Goiana, mais do que dar nome ao grupo, a agremiação intitula a própria brincadeira e, este ano, completa nada menos do que 90 anos.
A história conta que a Pretinha do Congo surgiu para mostrar que nas terras goianenses, cuja população era majoritariamente indígena, também existiam negros. De origem africana, a manifestação cultural era, originalmente, como o nome já revela, formada por moças mais novas e negras. Por cerca de 70 anos, a agremiação foi comandada por Dona Carminha, filha do fundador – Antônio Manoel dos Santos. Hoje, seis anos após a morte dela, sua neta, Rafaela Ribeiro, de 27 anos, junto com a mãe, Dona Iracema, estão à frente do bloco, que conta com 45 pessoas.
Diante da importância da Pretinha do Congo para a história da cultura pernambucana, a Jeep deu início, este ano, ao projeto “90 anos de fundação – Qualificação e Reinvenção de uma brincadeira”. O projeto tem como principal objetivo não deixar que uma tradição secular como essa, passada de geração a geração, vire folclore.
Para Rafaela, a iniciativa dará um novo fôlego ao grupo em meio a tantas dificuldades encontradas no meio do caminho para colocar o bloco na rua.
“Estava muito difícil por conta de questões financeiras. Mas esse projeto vai reanimar nossa agremiação. Se minha avó estivesse viva, estaria muito alegre”, diz, emocionada.
O consultor cultural Osmar Barbalho tem trabalhado lado a lado com as Pretinhas e afirma que já está havendo uma preparação para que elas comecem a “transitar” em meio às burocracias e saiam ainda mais fortalecidas. “Vamos organizar a questão fiscal, registrar uma nova diretoria e ensinar o caminho para que elas possam acessar políticas públicas já existentes. Isso vai significar a perpetuação delas”.
O projeto já vem dando frutos. Isso porque, este ano, a Pretinha do Congo já tem apresentação marcada para acontecer no Recife, capital de Pernambuco, o que, antes, não acontecia.
“Com nosso estatuto e documentos atrasados, não podíamos nem nos apresentar em outros lugares. Ficávamos restritos apenas a Goiana”, detalha Rafaela.
Além de ajudar a resolver questões burocráticas para que elas tenham acesso a políticas públicas, o projeto também dará nova cara às agremiações, com novos figurinos, e irá em busca do maior número de informações, tradição e letras de música da brincadeira, passadas de forma oral e cantadas há quase um século. “Tem muita música que a gente não lembra direito”, explica Rafaela, calculando que deve haver mais de 50 músicas criadas pelas Pretinhas do Congo.
“Vai ser muito bom resgatar todas as músicas. Será a perpetuação da cultura pernambucana e da história da minha família”, comemora.
Veja como a Jeep apoia a cultura em Pernambuco, neste texto sobre a Fenearte e neste sobre o São João Pernambucano.
Wildemir do Nascimento Silva nasceu em Goiana, Mata Norte de Pernambuco, em 1989. No mesmo ano e na mesma cidade, seu pai fundou a Agremiação Caboclinho Tupynambá. Os dois cresceram juntos e, hoje, com 30 anos de idade, Wildemir lembra que sua infância se misturou às cores e brilhos das fantasias, ensaios e espetáculos do grupo carnavalesco. Um aspecto, entretanto, chamava muito a sua atenção desde pequeno: o som. Mais especificamente da gaita.
“A música feita por esse instrumento é linda. Eu via os gaiteiros tocarem e, desde criança, sempre tive vontade de aprender”, relembra.
A gaita é o personagem musical principal nos Baques – como são chamadas as “Orquestras” das manifestações culturais Caboclinhos e Tribo de Índios. Nas palavras de Wildemir, a gaita é o “coração” da brincadeira.
“Se ela não existisse, seria como estar em uma orquestra sinfônica e não ter violino”.
O sonho de aprender a tocar o instrumento começou a ser realizado em 2018, quando ele tinha 28 anos e participou de uma oficina realizada pela Jeep para quem faz parte de um Caboclinho ou Tribo de Índios.
Entre os ritmos que Wildemir aprendeu estão Tesoura (ou Guerra), Perré, Macumba do Índio e Toque do Baião. Desde então, para quem sonhava em tocar gaita, mas só conseguia fazer parte do núcleo de dança das apresentações, as coisas mudaram bastante.
“Depois que participei da oficina, sou responsável por todos os ensaios com gaita. Agora, sim, eu faço o que gosto”, conta.
E o aprendizado não para por aí. É que, este ano, Wildemir participará da segunda oficina oferecida pela Jeep. “Desta vez, no módulo avançado”, diz, todo orgulhoso.
A oficina deste ano é um desdobramento da realizada pela Jeep em 2018, e, além do módulo avançado, também oferecerá um para iniciantes. Ao todo, 30 alunos serão contemplados. Para a realização das aulas, eles recebem uma gaita feita de material PVC e, ao final, um certificado de participação. As aulas serão iniciadas em abril e seguem até junho. Em agosto, recomeçam, e terminam em novembro.
Consultor cultural, Osmar Barbalho conta que Goiana é uma cidade em que sempre foi muito viva a cultura dos caboclinhos e, consequentemente, da gaita, mas que não estava havendo uma formação de novos gaiteiros, o que levantava o risco de a manifestação acabar se perdendo.
“Por isso, essa oficina é fundamental: é a manutenção da tradição dos gaiteiros e da cultura popular de Pernambuco e de Goiana”, explica.
Das 22 pessoas que participaram da oficina realizada em 2018, Osmar conta que três já tocaram no carnaval do ano passado como gaiteiros dentro das agremiações de que fazem parte. E se depender de força de vontade e de animação, Wildemir será o próximo.
“Estou bastante ansioso para ampliar ainda mais os ritmos que já sei. Desta vez, vou realizar o sonho de virar o gaiteiro oficial da minha agremiação”, diz.
Dos quase 40 anos que tem, fazia pelo menos dez que a agremiação Maracatu de Baque Solto Leão da Fortaleza, natural da cidade de Goiana, havia deixado de ter um bonito bordado por cima de um tecido aveludado em seu estandarte – que são como bandeiras para os grupos carnavalescos, representando suas identidades.
“Por causa da dificuldade financeira, usávamos produtos baratos e que pudessem ser colados. Mas ficava frágil e o estandarte durava apenas um carnaval”, conta o presidente do grupo, Erivaldo Francisco de Oliveira, conhecido como Peu do Maracatu.
A vida da agremiação, entretanto, mudou desde 2018, quando a Leão da Fortaleza fez parte da primeira Oficina de Estandartes realizada pela Jeep. Durante seis meses, a agremiação de Peu e outras 14 fizeram parte da oficina, ministrada pelo artesão pernambucano e Mestre do Bordado, Manoelzinho Salustiano.
Juntos, confeccionaram um estandarte “de respeito”, como brinca Peu, e com o qual a agremiação se apresentou durante o carnaval do ano passado.
“Pela primeira vez, nossa bandeira foi bordada na lantejoula número 8. Foi um sonho para nós e fortaleceu ainda mais nossa agremiação”, comemora.
O estandarte utilizado no ano passado será o mesmo para o carnaval deste ano. “Está firme e forte”, confirma Peu, que participará do segundo ano da Oficina de Estandartes promovida pela Jeep. Desta vez, como coordenador, ao lado do mestre Manoelzinho.
“Chegou a vez de ajudar outras agremiações a terem o sonho do estandarte novo realizado”, diz.
Uma grande novidade para este ano é que as agremiações carnavalescas que participaram da Oficina de Estandartes em 2018 desfilarão seus estandartes no bloco O Galo da Madrugada, que acontece no sábado de Zé Pereira, como é chamado o primeiro dia da folia.
Ao todo, 14 agremiações das cidades de Goiana, Itapissuma, Itambé, Itaquitinga, Aliança, Buenos Aires e Tracunhaém participarão da oficina este ano. O trabalho de confecção será iniciado após o carnaval e terá cerca de quatro meses de duração.
“É um trabalho lento porque precisa ser caprichado. Estandartes são verdadeiras obras de arte. Só sabe a importância de um quem tem uma agremiação”, conta o mestre Manoelzinho.
Além da dedicação, o trabalho envolve materiais de boa durabilidade, como linha, nylon e lantejoula.
“O estandarte é todo bordado, não tem aplique com cola não”, garante.
Manoelzinho explica que o objetivo da oficina é ensinar o corte, a criação do desenho e o bordado, ou, nas palavras dele, “ensinar a pescar, e não dar o peixe”. E nada de impor a própria vontade! Para ele, a cultura popular precisa ter a alma de cada agremiação. “Elas têm que ter liberdade porque carnaval é liberdade”.
Para o Mestre dos Bordados, esse é o grande objetivo da oficina: dar condições para que os grupos carnavalescos se mantenham vivos.
“É oferecendo a capacidade de poder criar que fará com que as agremiações se perpetuem por muitos e muitos anos”, diz.
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