Quem tem filhos pequenos sabe o perrengue de entreter os baixinhos confinados em casa durante a quarentena. Com parques, circos e teatros vetados, mamães e papais precisam “fazer mágica” para ocupar o tempo da criançada em meio aos cuidados domésticos e ao home office.
O fechamento desses espaços de diversão motivou a empreendedora Grasiela Camargo, 41, a lançar, no começo de junho, o Clubinho Play, um serviço de streaming especializado em conteúdo infantil, com peças, apresentações musicais, atrações circenses, shows de mágica, contação de histórias e recreação — tudo online.
Grasiela é a fundadora do Clubinho de Ofertas, plataforma que há nove anos oferece ingressos com desconto para passeios focados nas crianças e na família. Com o distanciamento social e a suspensão da agenda cultural, seu trabalho “parou”. Nem todo mundo desse meio entendeu, de cara, o tamanho do problema.
“Muitas pessoas da área cultural acharam que isso tudo duraria 15 dias. Mas nós estávamos acompanhando esse movimento e sabíamos que não seria assim. Precisávamos pensar em algo para esse período”
O streaming já estava nos planos da Grasi, mas ainda não como algo estruturado. O aperto repentino a fez correr atrás de parceiros, embasando-se na credibilidade conquistada com o Clubinho de Ofertas para convencer artistas e produtoras a migrarem seus espetáculos, pelo menos temporariamente, para o online.
OS SITES DE COMPRA COLETIVA FORAM A INSPIRAÇÃO PARA O PRIMEIRO NEGÓCIO
Publicitária com passagens por pequenas agências e “butiques” de marketing, Grasi começou o Clubinho de Ofertas, seu primeiro negócio, junto com o marido, o jornalista Eduardo Marques. Há cinco anos, ela vem tocando sozinha a operação.
O Clubinho nasceu em 2011, quando a filha do casal, Júlia, tinha 3. A empreendedora conta que vivia procurando passeios para fazer com a menina.
“Naquela época, os sites de compras coletivas faziam sucesso e eu ficava sempre de olho, atrás de promoções de ingressos junto com outras mães. Percebi, então, que não havia um site de compras coletivas para atividades infantis — e resolvi investir nisso”
Entre investimentos diretos e indiretos, ela gastou 350 mil reais para colocar o negócio de pé. O dinheiro veio de uma herança familiar. A empreendedora injetou 100 mil reais no Clubinho; os outros 250 mil reais, ela usou para bancar as contas de casa, durante o primeiro ano, em que não fez retiradas da empresa até que ela se consolidasse.
A FILHA FOI A “COBAIA” PARA A MONTAGEM DO CLUBINHO DE OFERTAS
Para Grasi, o propósito do Clubinho de Ofertas é incentivar a educação das crianças, que segundo ela aprendem valores importantes e desenvolvem habilidades sociais e psicológicas por meio das histórias contadas nas peças e shows.
Júlia, a filha, hoje tem 12 anos. E, segundo a mãe, aproveitou muito o Clubinho. Além disso, serviu como “cobaia” para o negócio:
“Agora ela está naquela fase de achar que alguns conteúdos são muito infantis… Mas acompanhar as atividades oferecidas pela empresa foi importante para o processo de formação cultural dela — e mostra que o negócio cumpre o seu propósito”
Com o tempo, a empresa prosperou. Começou atuando no Rio de Janeiro, expandiu para a vizinha Niterói, São Paulo e Campinas. Em 2015, Grasi mudou o modelo de negócio de site de compras coletivas para “bilheteira online” com descontos. Dois anos depois, passou por uma aceleração na ACE.
Em 2019, 40 mil pessoas compraram ingressos pelo Clubinho de Ofertas, que faturou 1,1 milhão de reais. Recentemente, em janeiro de 2020, a empresa fechou uma parceria para ser a bilheteira oficial da unidade carioca do parque temático Estação Turma da Mônica.
Mas aí veio a pandemia…
PARA ENCARAR A CRISE, FOI PRECISO GESTAR UMA “EMPRESA IRMÔ ÀS PRESSAS
O Clubinho reagiu à Covid-19 abrindo a possibilidade do cliente comprar ingressos para usar depois da quarentena. Mesmo assim, as vendas, previsivelmente, minguaram.
Grasi teve de bolar outra estratégia. Ela se vale de uma comparação com a maternidade, o mote de sua jornada empreendedora:
“Sempre disse que só teria outro filho se a Júlia precisasse. Aquela coisa ‘de novela’, precisar de um doador compatível para um transplante… Foi mais ou menos isso que aconteceu: o Clubinho de Ofertas precisou de um ‘irmão’ e, por isso, criei o Clubinho Play”
O novo negócio ainda está engatinhando, nas primeiras semanas. Foi um “parto” difícil, diz a empreendedora: em apenas dois meses, ela pesquisou o mercado de streaming, definiu o modelo de negócio e lançou a nova plataforma.
Ela conta que houve resistências. “Alguns produtores achavam que, se as pessoas vissem a peça gravada, não teriam interesse de assistir ao vivo depois”, diz. “Mas, conversando com nosso público, percebemos que o vídeo fazia os pais e as crianças se interessarem ainda mais pela montagem.”
O SHOW NÃO PODE PARAR. NO STREAMING, A EMPREENDEDORA MIRA AS LIVES
Além dos conteúdos gravados que já existem na plataforma, a empreendedora mira o formato das lives, que viraram febre durante esses tempos de Covid-19.
“Com essa interação, a gente consegue trazer um pedacinho da experiência do teatro e do show para a casa das pessoas”, diz a empreendedora. “É legal porque dá voz para as crianças. Elas não apenas veem o vídeo, mas aparecem nele e mostram sua opinião.”
A primeira live, um teste ainda dentro do Clubinho de Ofertas, rolou em maio, no Dia das Mães, com um show dos Beatles para Crianças.
“Estamos montando um calendário para julho. E queremos trazer não só espetáculos teatrais, mas também apresentar atrações por meio das lives, como fazendinhas com animais, por exemplo”
A próxima live do Clubinho Play será uma montagem centrada na Emília, a boneca-de-pano do Sítio do Picapau Amarelo, no domingo que vem, 21 de junho.
“Essa peça estava em cartaz no Teatro J. Safra, em São Paulo, e os atores repensaram a história para que cada um pudesse atuar e interagir da sua casa.”
NO NOVO NEGÓCIO, FOI PRECISO REPENSAR O MODELO DE COBRANÇA
Adaptar o modelo de cobrança foi outro passo. No Clubinho de Ofertas, o pagamento era por ingresso vendido; a plataforma ficava com uma comissão de 30%. O Clubinho Play, por sua vez, funciona no modelo de assinatura. O custo para o cliente é de 24,90 reais por mês (com opções de planos semestral e anual).
A empreendedora frisa que a mensalidade custa menos do que uma meia-entrada de teatro (e no momento ainda existe uma opção de teste grátis, por dez dias):
“Desse valor, 40% é custo operacional para manter a plataforma. Dos 60% restantes, 30% ficam com a gente e também são reinvestidos em divulgação; os outros 30% são divididos entre os [produtores de] conteúdos de acordo com a audiência”
Os profissionais de entretenimento, portanto, são remunerados conforme o “ibope” de seus espetáculos, como já ocorria no Clubinho de Ofertas.
Com a nova plataforma de streaming, Grasi dá uma força para que esses artistas e produtores continuem a ter renda durante a pandemia.
UM CUIDADO IMPORTANTE É EVITAR REPETIR ERROS DO NEGÓCIO ANTERIOR
Ao longo dos seus nove anos, o Clubinho de Ofertas chegou a ter oito funcionários. Hoje, por conta da pandemia, a equipe está reduzida à fundadora e a mais uma colaboradora da área comercial, responsável pela captação de clientes e parcerias.
“Quero voltar a ter um time maior, mas precisamos ter mais receita. Quando isso acontecer, pretendo contratar, prioritariamente, mães ou pessoas que tenham uma ligação forte com esse universo infantil”
Agora, com o Clubinho Play, a empreendedora toma cuidado para evitar os erros do primeiro negócio:
“Errei na hora de delegar e não acompanhar o que vinha sendo feito”, diz Grasi. “E acho que nas contratações negligenciei um pouco a cultura da empresa, olhando apenas para a expertise do candidato sem levar em conta se ele estava adaptado ao nosso modo de atuar.”
No Clubinho Play, ela planeja fazer mais testes. “Na aceleração da ACE, aprendi que é preciso experimentar muito antes de tomar decisões.”
A APOSTA É CATIVAR, COM O NOVO SERVIÇO, A BASE DE CLIENTES CONSOLIDADA
Um negócio não exclui o outro. Grasi crê que as atividades online do Clubinho Play darão gás para que novas compras sejam realizadas no Clubinho de Ofertas, quando a quarentena acabar. Enquanto isso, os artistas descobrem maneiras de se reinventar para manter a plateia cativa.
Como toda mãe, hoje ela divide a atenção entre seus dois “rebentos” (além da filha). Mas, sem descuidar do Clubinho de Ofertas, entende que o momento é de estimular o Clubinho Play:
“Sabemos que mesmo depois da pandemia os pais ainda vão ter receio de levar os filhos para atividades em ambientes fechados. Por isso, nosso foco agora é tornar o Clubinho Play conhecido”
Nesses próximos passos, ela confia na base de “clientes fiéis” conquistados ao longo de quase uma década:
“Estamos apresentando aos nossos clientes o novo negócio. Tem gente que se interessa e pergunta onde estão acontecendo essas atividades. E eu respondo: ‘Na sua casa mesmo! É só ligar e dar play’.”
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