Hoje, quando a gente vê um evento que reúne moda, gastronomia e música em um mesmo ambiente ao mesmo tempo, não consegue imaginar o quanto esta ideia já foi radicalmente inovadora. E não faz tanto tempo assim. Em 2008, no Rio de Janeiro, um novo gathering de multicriadores começava a se formar para movimentar uma cena até então inexistente da cidade. Era o embrião formador d’O Cluster, projeto que, “muito além de um simples mercado” – seu slogan –, é um grande encontro para promoção de criativos que se baseia em um conceito simples e essencial: o da colaboração.
A idealizadora do projeto chama-se Carolina Hersenhut, tem 35 anos e é estilista. Antes de visualizar o negócio que lidera hoje, Carol construiu uma carreira consolidada no mundo da moda durante 18 anos. Passou por marcas como Patachou, Andréa Saletto e Leeloo, fez uma pós graduação em Paris, onde trabalhou na Printemps e nas Galerias Lafayette, mudou-se para Nova York e também passou um período na Central Saint Martins, em Londres. Aos 28 anos, já de volta ao Brasil, o espírito empreendedor gritou alto e Carol decidiu lançar sua própria marca.
Em um cargo de coordenadora da grife de moda jovem Leeloo e sem perspectiva de crescimento além deste posto na empresa, resolveu que era hora de investir em uma marca que tivesse mais a sua cara. “Comecei vendendo para amigas que gostavam do meu trabalho, em seguida montei um ateliê em Ipanema e, depois, uma loja”, conta. No segundo ano de existência da marca Branchée, Carol foi convidada por uma cliente para fazer uma capacitação em empreendedorismo de moda ministrada pelo Sebrae, em parceria com a Universidade Veiga de Almeida. Um dos objetivos do curso, além de formar os profissionais de moda, era proporcionar um encontro de gente do ramo para fomentar a indústria da moda carioca.
Assim, além de vender bem em atacado, em 2010 a Branchée entrou para o circuito principal do Rio e realizou dois desfiles no Fashion Rio. A pegada ladylike e autoral da marca agradou ao público, e as parcerias com outros artistas dava vitalidade a cada nova coleção. Assim, apesar de as coisas caminharem bem, o modelo de negócios tradicionais começava a se mostrar cada vez mais impeditivo na capital fluminense. Carol conta deste momento delicado, vivido entre 2011 e 2012:
“Os aluguéis do ateliê e da loja atingiram preços insustentáveis para uma marca pequena como a minha. Tive que tomar mais uma decisão que me exigiu muita coragem: fechar a loja”
Ao mesmo tempo em que essa porta se fechava, Carol estava cada vez mais ligada ao grupo de criadores que havia conhecido no curso do Sebrae. Eram 40 empresários, e ela liderava encontros periódicos nos quais esses estilistas refletiam sobre o mercado e aventavam novas formas de fazer negócios. Entre os principais pontos de atenção levantados por eles estava a falta de um espaço em que as marcas pudessem vender no varejo, reforçando assim o nome de suas próprias grifes. “A gente participava do Babilônia Feira Hype, que reunia periodicamente centenas de marcas com acesso direto ao público. Comecei a perceber que a minha grife ficava perdida ali dentro, porque o cliente não via o trabalho de branding que eu fazia com a loja, com os desfiles. Ele levava para casa apenas mais uma peça comprada em feirinha”, conta.
DE UMA MARCA DE MODA SURGE UMA MARCA DE EVENTOS
Carol começou a pensar em como seria interessante um evento que reunisse marcas afins, que tivessem uma boa sinergia umas com as outras, que pudesse conquistar um público fiel e assíduo. E viu que isso não seria possível em uma ação com 200 marcas, mas sim com 20. Percebeu, também, que não dava para restringir o evento à moda, mas sim proporcionar uma confluência entre várias áreas culturais; e que gerar reconhecimento e complementariedade na marca do vizinho era muito mais interessante do que gerar competitividade entre elas:
“A demanda da cooperação era uma questão em todos os segmentos culturais naquele momento, não só na moda. Era preciso um canal que tornasse possível canalizar e divulgar os criativos”
Em novembro de 2012, então, ela alugou um casarão em Botafogo para sediar o que seria a primeira ação que batizou de O Cluster pela ênfase na colaboração: participaram 25 marcas, 5 artistas plásticos, um DJ e uma chef de cozinha. Cada participante pagava um aluguel para usar o espaço e, com divulgação feita basicamente na rede de conhecidos e pelo Facebook, a primeira edição d’O Cluster reuniu cerca de 800 pessoas.
“No final do evento, que todo mundo amou, várias pessoas vieram me perguntar como expor e saber quando seria o próximo. Eu ri e falei: gente, não tem próximo”, conta Carol, que a priori queria realizar o evento também para desovar suas próprias peças que estavam acumuladas em casa desde que a loja havia fechado. A edição se pagou – não deu lucro nem prejuízo – mas a empreendedora viu, no dia seguinte, que havia um mercado gigantesco a ser explorado. Muito maior do que vender roupa.
Nos meses seguintes, Carol pode se replanejar: entender por que o evento tinha funcionado, o que tinha dado certo, o que poderia ser melhorado e o que era aquele modelo de negócios que ela estava vendo surgir tão naturalmente. Como O Cluster era gratuito, de acesso aberto ao público, tornou-se uma opção de lazer até para quem não queria comprar nada e só encontrar gente interessante ou provar boa comida.
Em 2013, após um ano e quatro edições, Carol abriu a empresa de produção O Cluster, oficializando o lançamento do negócio. Neste primeiro ano de investimento pessoal, Carol não foi remunerada e viveu de pequenas prestar consultorias de moda, enquanto reinvestia toda a renda na consolidação da empresa. Contratou, assim, três funcionários – um de comunicação, uma produtora e um operacional, além da assessoria de imprensa terceirizada. Os parceiros que trabalham no dia dos eventos pagam uma taxa que gira em torno de 700 reais. No início de 2014, já havia mais de 300 inscritos na lista de espera.
“Na época em que surgimos, começou na cidade um movimento de reapropriação do espaço público que ia exatamente na linha do que estávamos fazendo”, diz Carol. A empreendedora percebe o sucesso do seu negócio como uma demanda geral de toda a população carioca, que estava carente de um evento com livre acesso em um local fechado (isto é, com segurança). O formato atual tem periodicidade bimestral e conta com 50 criadores: geralmente são 38 estilistas e 12 marcas de gastronomia, arte e música. A empresa gira, dessa forma, fazendo um mês de curadoria e outro de produção. A 13a edição do evento aconteceu no dia 1o de novembro – e no dia 22 aconteceu uma edição especial, a primeira fora do Rio, em Belo Horizonte. Cada ação tem um faturamento total de 400 mil reais. Ao todo, mais de 50 mil pessoas já passaram por elas.
O QUE FAZER QUANDO O NEGÓCIO DÁ CERTO MEIO DEMAIS?
A demanda para participar dos eventos d’O Cluster não parou de aumentar. Então, Carol bolou uma solução para criadores que estavam fora do Rio ou muito distantes na lista de espera: lançar uma revista virtual que pudesse apresentar os trabalhos destes criadores a todos. Em agosto do ano passado, surgia a Revista Cluster, com colaboradores de moda, arte, design e gastronomia espalhados pelo mundo. Atingindo 20 mil impressões semanais, a revista leva informação mas, principalmente, opinião de gente envolvida com áreas culturais e criativas em artigos, entrevistas, reportagens e vídeos.
O formato de calendário (ou seja, com edições recorrentes e bimestrais) de algo que poderia ser apenas uma série de eventos fez d’O Cluster uma plataforma de encontro e venda que reúne público, mas também lança tendências e é um espaço de novas experiências no Rio de Janeiro. O evento também já se expande para outras cidades brasileiras. Carol tem uma relação próxima com as universidades cariocas, dando palestras sobre a importância da cooperação e da organização em rede para a economia criativa.
Para o fim deste ano, O Cluster prepara o lançamento de um livro que trará os 100 principais destaques criativos da cena carioca na atualidade. Carol está otimista com o futuro – a empresa começou a dar lucro este ano – e acredita fortemente no poder de inovar sempre, para nunca deixar o evento cair na mesmice. “Ter uma curadoria criteriosa, que posiciona sempre os players entre os seus pares, garante que o público tenha sempre acesso a novas marcas que vão certamente interessá-lo”, afirma. Muito além de um simples mercado, O Cluster segue fortalecendo sua própria marca, as marcas dos criadores que participam de suas ações – e, o que é mais interessante, um jeito de fazer negócio em que dividindo a coisa se multiplica.
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