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Com 40 mil downloads, app da Hemoliga busca revolucionar a doação de sangue no Brasil

Marcus Couto - 12 dez 2016 Marcus Couto - 12 dez 2016
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O projeto da Hemoliga nasceu da percepção de que algo ia mal nos sistemas de informação dos hemocentros brasileiros. Certa vez, o norte-riograndense Thiago Azevedo foi realizar a sua doação de rotina, e na recepção do hemocentro apresentou o documento de identidade, que foi prontamente registrado no sistema. A doação transcorreu normalmente, mas, 15 dias depois, ele recebeu uma ligação da mesma unidade, pedindo que ele fizesse uma nova doação, pois o estoque estava baixo e eles precisavam renová-lo. O problema é que um homem precisa fazer um intervalo de no mínimo 60 dias antes de doar novamente. No caso de uma doadora mulher, esse tempo é de 90 dias. Para Thiago, aquela foi a prova de que, por algum motivo, sua ida anterior ao hemocentro não havia sido registrada corretamente. E, segundo ele, esse não foi um caso isolado.

“Para mim, essa foi uma demonstração clara de que o sistema de informação do hemocentro não era eficaz”, diz Thiago. “Notei isso em outra oportunidade, também. Então comecei a perceber que a comunicação poderia ser aperfeiçoada, pois isso contribui para o fato de o Brasil não estar na lista de países com reservas seguras de sangue.” O fundador da Hemoliga lembra que a porcentagem mínima de doadores para que um país seja considerado pela Organização Mundial da Saúde como detentor de reservas seguras é de 3%. “No Brasil, ainda estamos na casa do 1,8%.”

A solução encontrada por ele foi o desenvolvimento de um sistema completo e interligado, acessível por meio da internet e por aplicativos de smartphone, que pudesse ajudar a melhorar os níveis de doação de sangue no Brasil, auxiliando os hemocentros a se organizarem e abrindo um canal de comunicação mais eficaz com os doadores. Nascia aí o projeto da Hemoliga, em novembro de 2013, em parceria com outro doador regular de sangue, Thiago Luccas. O sistema foi lançado oficialmente em abril de 2014 durante uma cerimônia em Natal, no Rio Grande do Norte. Desde o lançamento, o app foi baixado mais de 40 mil vezes, e o site da Hemoliga recebeu mais de 120 mil visualizações em 113 países. O projeto foi finalista do Festival Acelera Startup, realizado pela FIESP, um dos maiores eventos de empreendedorismo da América Latina, e participou do evento Next Level Apps a convite do Google.

Ao acessar o app, disponível para as principais plataformas de smartphone, o usuário encontra uma série de opções. Na primeira tela, fica disponível uma lista de estados brasileiros, organizados em ordem alfabética. A Hemoliga possui informações de hemocentros em três regiões (Nordeste, Sudeste e Norte) e sete estados brasileiros (RN, SP, AM, PA, BA, PB e RJ). Quando o usuário escolhe um estado com dados disponíveis, é exibido um ícone, no formato de uma gota vermelha, que representa o volume de estoque para um determinado tipo sanguíneo. A lista completa pode ser acessada com um toque. Assim, é possível visualizar o difícil panorama enfrentado por esses hemocentros. Muitos tipos sanguíneos aparecem com níveis críticos de disponibilidade.

“Existem vários mitos em torno da doação”, diz Thiago. “Muita gente não doa por acreditar que o sangue pode afinar, ou por não acreditar na segurança do sistema. São barreiras que ainda precisam ser superadas. Quanto mais a sociedade puder ter informações e esclarecimentos sobre o tema, esse número vai aumentar em uma velocidade maior.” O aplicativo da Hemoliga possui uma aba de “Regras”, em que lista todos os requisitos básicos para doar sangue, entre eles “estar em boas condições de saúde”, “pesar no mínimo 50kg”, e “estar alimentado”. Alguns impedimentos temporários, como resfriados, gravidez e tatuagem nos últimos 12 meses também são explicados, junto a uma série de impedimento definitivos: uso de drogas ilícitas injetáveis, malária ou evidência clínica ou laboratorial de doenças infecciosas transmissíveis pelo sangue, como as Hepatites B e C, AIDS (vírus HIV), doenças associadas aos vírus HTLV I e II e doença de Chagas.

Além dessas informações, o app da Hemoliga oferece também uma aba em que os hemocentros podem registrar campanhas ativas de doação, além de enviar aos usuários notificações, que facilitam a comunicação. “Hoje, todo mundo tem à mão um celular com acesso à internet”, diz Thiago. “Antes, em algumas situações, os hemocentros usavam até cartas para se comunicar com os doadores cadastrados. E a maior parte da comunicação era feita por telefone, não por e-mail. Existem exemplos de hemocentros com mais de 1 milhão de cadastrados. Agora imagine a estrutura do departamento responsável por contactar esses doadores por telefone, na necessidade de um determinado tipo de sangue.” Com o sistema da Hemoliga, isso pode ser feito com um simples comando. Os hemocentros parceiros recebem acesso a uma plataforma onde podem lançar suas campanhas e enviar mensagens de forma personalizada para grupos específicos, a partir de filtros como idade. “Essa foi a principal contribuição”, afirma Thiago.

Agora, a equipe por trás do sistema busca expandi-lo para outros estados e regiões brasileiras. “Desde o lançamento, em 2014, também recebemos contatos de outros países interessados na tecnologia, a maioria vizinhos da América do Sul”, diz Thiago. O exemplo também inspirou alguns hemocentros brasileiros a desenvolver seus próprios sistemas, e a melhorar a comunicação com os doadores. “Todo esforço e apoio que conseguirmos em prol dessa causa é bem-vindo”, diz Thiago. “Ainda há muito o que fazer.”

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