Se Will Pedrosa, 35, não tivesse perdido a carteira e procurado, sem sucesso, outra igualzinha nos shoppings de Brasília, talvez ainda fosse apenas um publicitário insatisfeito com os rumos da carreira. Para atender a sua necessidade, ele recorreu ao ímpeto de fazer com as próprias mãos um produto com a qualidade desejada. Decidiu costurar uma carteira de couro e, mesmo sem planejar, acabou tornando-se o empreendedor da Braveman Handmade Leather Goods, loja virtual de artigos de couro feitos à mão.
Veio do avô materno a habilidade para trabalhos manuais. “Ele tinha uma oficina, fazia aeromodelos. Eu fui desenvolvendo isso também, aprendendo a consertar brinquedos”, conta. O brasiliense que trabalhava como assessor no Ministério da Educação ainda diz:
“Quando perdi a carteira e não achei outra que gostasse, comprei uns retalhos de couro, estilete, prego, desenhei e costurei tudo. Levei uma semana para fazer”
Eis que, em um jantar, um conhecido viu a carteira e gostou. Depois, outro e outro. O primeiro lhe propôs sociedade. Os dois partiram rumo aos cortumes do Brasil para achar o melhor couro e, com ele, confeccionar carteiras. Nascia assim a empresa. O ano era 2013. Depois de meses de viagens e pesquisas, Will e o sócio, Felipe Kuhlmann, 31, também um publicitário brasiliense, produziram com as próprias mãos 50 carteiras. Com um investimento inicial de 16 mil reais, estruturaram o e-commerce. Venderam todas as carteiras em menos de um mês.
Após seis anos, o negócio permanece com “a missão de entregar produtos feitos para durar, com qualidade e que carreguem toda a tradição do manuseio do couro”. Do corte à costura, todo o processo é feito manualmente. E praticamente toda a venda é virtual. São Paulo é o maior mercado consumidor da Braveman, mas suas entregas já chegaram a países distantes, como Suécia, Alemanha, Japão, Cingapura e por aí vai.
POUCO A POUCO, O PRODUTO MADE IN BRASÍLIA FOI GANHANDO PROJEÇÃO
Para Will, a produção de Brasília ainda é vista com certo preconceito de maneira geral, mas a reação é diferente por parte das pessoas que admiram o design e a arquitetura de Oscar Niemeyer e companhia. Ele diz que, aos poucos, quando conhecem o nível de qualidade de muitas marcas locais, viram clientes fiéis. Aconteceu com a Braveman.
As vendas cresceram ano a ano, de 15% a 20%. Um boca a boca qualificado, o marketing digital eficiente e a entrada, no negócio de dois sócios-investidores, Bruno Nóbrega e Fernando Macedo, elevaram, a partir de 2016, o faturamento da empresa para 1,5 milhão de reais por ano. O portfólio de produtos foi ampliado. Cinco funcionários foram contratados.
Will e Felipe passaram, então, a se dedicar integralmente ao negócio. A empresa ganhou um showroom em Brasília, onde clientes podem ser atendidos com hora marcada.
Frequentemente, a Braveman é contratada por grandes marcas, como a rede de laboratórios Sabin, Bradesco, Land Rover ou Mercedes-Benz, para produzir séries personalizadas. A pergunta que fica é: como conseguem manter uma produção manual e dar conta de encomendas em todo o Brasil e fora com apenas cinco funcionários? “Sou louco por organização e método”, entrega Will.
O LADO POSITIVO E NEGATIVO DE VIRAR REFERÊNCIA
Recentemente, a Braveman foi selecionada para participar de um programa de internacionalização de microempresas brasileiras chamado Rota Global, iniciativa da Confederação Nacional da Indústria, subsidiada pela União Europeia. “Fomos a primeira a ser selecionada. Esperamos que, em três anos, a marca esteja operando nos Estados Unidos e na Europa”, diz Will orgulhoso. Segundo ele, a razão principal do sucesso da Braveman é respeitar o DNA da marca: “Prezamos pela qualidade. Essa é a raiz da empresa. Nasceu com esse propósito e continua assim.” Will ainda diz:
“Nossos produtos são feitos à mão, do primeiro corte até o último nó na agulha”
Ainda que a marca tenha agregado diversos outros produtos, a carteira (em especial, o modelo single pocket old indian) continua sendo a campeã de vendas. Sozinha, ela rende duas vezes mais que qualquer outra mercadoria. São produzidas cerca de 120 por semana e recebem, inclusive, número de série. Com design minimalista, as carteiras custam a partir de 245 reais e ganharam ainda mais destaque nas mãos de artistas.
Diego Bressani, fotógrafo brasiliense que deu muita força para a dupla de empreendedores desde o início do negócio, presenteou o ator Juliano Cazarré com uma carteira. Juliano gostou e se tornou amigo e embaixador da marca. Fez propaganda por conta própria. A carteira foi parar no bolso de outros atores, como Cauã Raymond, Caio Castro e José Loreto. Will fala a respeito:
“Foi acontecendo um boca a boca natural e a marca caiu no gosto de várias pessoas que são influenciadoras”
Depois da Braveman, ele conta que surgiram várias outras marcas que tentam copiar o modelo. No início, o empreendedor, que também é responsável pelo processo de criação, perdia o sono. Hoje, só aciona advogados em casos sérios de plágio. “Entendo que viramos referência”, diz.
Entre os outros artigos de couro vendidos pela empresa estão: pulseiras, organizadores, cintos, chaveiros, além de bonés. Também agregou uma linha de óculos de sol e de vestuário, fruto do encontro com marcas locais de Brasília — como a Rever e Bruma, respectivamente — que adotam a mesma política do “feito à mão e com qualidade ímpar”. Aficionado por café, Will também lançou uma série de blends especiais em parceria com a King, torrefação de seus parentes, com sede em Goiânia.
DE TANTO SE APERFEIÇOAR, O EMPREENDEDOR VIROU PROFESSOR
Will se apaixonou pela manufatura em couro. Fez a primeira carteira por intuição e, depois, ao estudar, viu que os fundamentos da costura estavam certos. Continua se aperfeiçoando. Fez cursos na Flórida, na Califórnia e, em Vancouver, no Canadá. De tanto receber pedidos para que ensinasse a confeccionar em couro, abriu recentemente uma plataforma online com quatro módulos de curso — um negócio pessoal, fora da marca Braveman.
O sócio Felipe foi o primeiro a olhar para a carteira de Will com olhos de empreendedor. Na época, tinha deixado as agências de publicidade para abrir uma empresa de desenvolvimento de aplicativos, sistemas e sites. É hoje o responsável pelo marketing e a pela parte administrativa da Braveman.
Nem tudo acontece sempre como o planejado, claro: “Todo dia surge um novo desafio. Tivemos muitas dificuldades em achar bons fornecedores, ampliar de forma sustentável a empresa, encontrar mercado”, diz.
No entanto, Will acredita que a marca está no caminho certo.“Nos alegra os feedbacks dos clientes sobre a experiência com a marca, ver que a Braveman inspira as pessoas e as conecta com a nossa mensagem”, diz o fundador, que nem imaginava que, ao perder a carteira, encontraria o caminho empreendedor.
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